Espaço de atividade literária pública e memória cronista

terça-feira, 12 de março de 2013

Ciclista Albino Mendes – Um Felgueirense saliente do passado

 

Nas constantes deambulações pela tentativa de memorização de tudo o que tenha valor significativo com chancela felgueirense, entre outros parâmetros, demos há tempos com o conhecimento sobre um antigo desportista felgueirense de valor nacional, nada lembrado ao nível da sua e nossa região, no concelho de Felgueiras. Tal o caso de um ciclista que no passado alcançou estatuto de participante na alta roda do ciclismo português, de nome Albino Mendes. Um Felgueirense, natural da freguesia de Airães, que alinhou na equipa de ciclismo do Académico do Porto, ao lado de famosos corredores como Alberto Carvalho e Manuel Castro, por exemplo (dois ciclistas que depois chegaram a representar o F. C. do Porto) e entretanto atingiu ponto alto de sua carreira quando em 1964 participou na Volta a Portugal em bicicleta.

De seu currículo, segundo o pouco que conseguimos descobrir, sabemos que Albino Mendes começou a correr a sério na equipa de ciclismo do Grupo Desportivo MIT, da Metalúrgica da Longra, competindo inicialmente no desporto corporativo e depois como Amador em provas federadas da Associação de Ciclismo do Porto, tendo em 1962 vencido o circuito de Ermesinde. Seguiu por fim para o Académico do Porto, na peugada do vizinho felgueirense Joaquim Costa, também iniciado na equipa Longrina (e entretanto instalado na equipa dos Independentes do Académico, embora à época a cumprir serviço militar que lhe cortou a corrida). Tendo o Albino Mendes depressa evoluído e assim tido entrada na principal equipa academista, a pontos de em 1964 ter sido escalado para fazer a Volta a Portugal com a cruz do Académico ao peito.


= Mapa da Volta de 1964 (recorte de jornal): Prova com inicio a 14 de Agosto, na pista do estádio das Antas, no Porto, seguindo depois até  Lisboa durante 17 dias, num total de 2. 396 km, e ao longo de 20 etapas. Volta em que triunfou individualmente Joaquim Leão, do F.C. Porto, clube também vitorioso na classificação por equipas, num numeroso pelotão de concorrentes em representação das formações do Louletano, Benfica, Ginásio do Tavira, Sporting, F. C. Porto, Baixa da Banheira, Sangalhos, Ovarense, Recreio de Águeda, G. D. Cedimi, Águias de Alpiarça, Académico do Porto, Flândria (Bélgica) e Green Fish (Espanha). =

Recorde-se que já, nestes e outros locais, entre apontamentos que temos desenvolvido, demos lugar à recordação das carreiras desportivas de ciclistas felgueirenses cuja fama outrora passara as nossas fronteiras, como foi o caso de Artur Coelho, natural de Margaride, e mais tarde residente em Vizela, o qual de 1955 a 1961 alinhou com a camisola do F. C. Porto (e chegou a ter também a camisola amarela nalgumas Voltas a Portugal e inclusive venceu a Volta do 9 de Julho de S. Paulo, no Brasil), mais Joaquim Costa, natural da Refontoura e residente em Varziela-Felgueiras (Joaquim Luís Costa, que entre 1960 a 1962 correu pelo Académico do Porto, ostentando a camisola branca do clube do Lima, ao serviço do qual alinhou nas Voltas a Portugal de 1961 e 62,  até ter ido para a guerra do Ultramar). Estranhamente não nos era familiar o facto de haver aqueloutro ciclista que seguira as pisadas de seus antecessores conterrâneos, o Albino Mendes. Nome que ouvimos falar em 1964, no acompanhamento dessa Volta, por sinal seguida com muita atenção pelo autor destas linhas perante o bom desempenho aí verificado na evolução de alguns de nossos ídolos dos pedais, vencida que foi tal prova-rainha portuguesa pelo F. C. Porto (individualmente pelo ciclista azul e branco Joaquim Leão e coletivamente pela equipa do F. C. Porto, também), desconhecendo, porém, a particularidade de Albino Mendes ser oriundo destas paragens da terra do pão de ló. Em mais uma das curiosidades usuais de Felgueiras, que nunca, antes como sempre, costuma dar grande relevo aos seus filhos que mais se vão salientando da normalidade. Nem nunca lemos esse nome, aliás, com lembrete de ser felgueirense, em qualquer publicação oficial. Havendo o mesmo, por fim, falecido ainda na flor da idade, deixando fisicamente este mundo muito cedo.


= Lista dos Concorrentes da Volta a Portugal em bicicleta de 1964, em que participou Albino Mendes, pelo Académico (como se pode ver, por este recorte do site “Memórias da Volta”). Verificando-se que o felgueirense está entre os ciclistas que não concluíram essa Volta, sendo um dos eliminados da prova (chegado fora de tempo de controle numa das etapas da corrida). Aliás, foram muitos os que estiveram nessas condições, havendo partido do Porto 101 ciclistas e desses apenas terminaram em Lisboa 60, à média de 39,404 km / h. =


Recordamo-nos que, na época (sendo ainda criança, como pequeno adepto, à distância), confundíamos dois nomes, dos que andavam no pelotão dos corredores que passavam pelas estradas e eram nomeados nos jornais e na tv, por os não conhecer pessoalmente mas deles ouvirmos referências: tais eram os casos de Albino Alves, um ciclista que então alinhava no F. C. Porto (e ombreou nalgumas provas ao lado de consagrados colegas do esquadrão das Antas, como Mário Silva, Joaquim Leão, Sousa Cardoso e demais) e o Albino Mendes, do Académico do Porto...

Veio-nos há pouco tempo, efetivamente, a oportunidade de tomarmos melhor conhecimento disso, do facto ora em equação, no presente. Através de informação do amigo sr. Joaquim Luís Costa, enquanto homem ligado ao desporto das bicicletas, que nos referiu, quanto a Albino Mendes, o Albino de Airães: - «Como ciclista amador era um ciclista valente; ganhou algumas corridas, depois como ciclista na categoria de independentes não teve tempo para se mostrar uma vez que o clube (Académico) acabou com o ciclismo em 1965,e penso que o serviço militar fez o resto…»

   
 = Equipa de ciclismo do Académico na Volta a Portugal de 1964. O terceiro ciclista da esquerda é o Felgueirense ALBINO MENDES - o Albino de Airães, que nos deixou ainda muito novo.=  

Atenta a realidade de haver tradições ciclistas em Felgueiras, como se vê, e na atualidade até existir diversas equipas de cicloturismo, modalidade de lazer e manutenção parente do ciclismo de competição, com praticantes na região através dum grupo cicloturista felgueirense sediado na Longra e coincidentemente um outro em Airães, acresce maior interesse na curiosidade de tais existências históricas, dignas de menção.

Armando Pinto 

»»» Clicar sobre as imagens, para ampliar ««« 

Obs.: Caso haja quem possua imagens fotográficas e dados biográfico-curriculares deste ciclista felgueirense, em apreço, podem essas informações serem enviadas para a caixa de comentários deste blogue, no local abaixo deste artigo, ou para o endereço do nosso e-mail pessoal, de modo a complementar o respetivo conhecimento informativo. 

Tendo o autor em mãos diversos trabalhos histórico-literarios sobre Felgueiras e Felgueirenses, com ideia de publicação em livro - isto é quando houver possibilidades de poder haver ajudas oficiais ou patrocínios, obviamente, que tornem realidade tal desiderato – pedimos colaboração, por este meio, a quem eventualmente possa ter mais fotografias e informações sobre este felgueirense, a fim de podermos completar a parte que toca sobre o tratamento memorial relativo ao mesmo, no caso, em epígrafe. 

A. P.


A propósito: Confira-se artigos anteriormente dedicados aos outros dois ciclistas referidos (clicando sobre os links)
e




sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Homenagem Felgueirense… em mais um artigo no Semanário de Felgueiras.

 

Associando-nos a uma homenagem de cariz felgueirense, levada a efeito pela Câmara Municipal de Felgueiras, marcamos presença por este meio, também, no sentido da valorização que merecem atos destes. Tal qual se espera que igual tratamento venha ainda a acontecer para com a memória do autor da Casa das Torres (Luís Gonçalves, recorde-se), cuja homenagem por que pugnamos ainda se não realizou como deve ser…

 

Ora, para já, reservou o atual executivo municipal, para esta altura, uma homenagem pública a um cidadão felgueirense que se distinguiu em sua função ao longo da vida, num reconhecimento também derivado na proximidade de recente conta aniversária significativa, por ter completado 100 anos esse felgueirense que é o Sargento Músico Manuel Ribeiro da Silva. Aliando-nos a esse reconhecimento, escrevemos então um pequeno artigo de complemento à informação oficial alusiva. 

Desse escrito, mais um dos que lavramos para o Semanário de Felgueiras, na habitual crónica, desta vez sobre a vida e obra do homenageado em apreço, coincidindo com o dia da homenagem respetiva - partilhamos a respetiva coluna. Quanto ao que é publicado hoje no Semanário de Felgueiras, à página 12 da edição impressa desta sexta-feira 22 de Fevereiro. 


(Clicar sobre este recorte digitalizado, para ampliar e ler) 

Do mesmo, para fácil leitura, colocamos o texto revertido conforme o original:

Homenagem ao maestro felgueirense Manuel Ribeiro da Silva 

Vai Felgueiras, através da representatividade autárquica, prestar agora uma justa homenagem a um dos seus ilustres filhos, o maestro Manuel Ribeiro da Silva.

 

Tão justo reconhecimento será consagrado pela Câmara de Felgueiras, com a atribuição da Medalha de Mérito Municipal. Numa cerimónia a decorrer nos paços do concelho, esta sexta-feira (dia da publicação da presente edição do S F), com honrosa presença de D. António Taipa, Bispo Auxiliar do Porto. 

Diz um texto oficial alusivo ao significado da ação em apreço, que «a condecoração surge no âmbito de proposta, apresentada na última reunião de Câmara, e tem como objetivo reconhecer publicamente uma pessoa ligada à cultura que, através do seu mérito, levou o nome de Felgueiras mais longe. Nascido há 100 anos, em Felgueiras, Manuel Ribeiro da Silva fez um percurso notável enquanto instrumentista, maestro e compositor, demonstrando sempre um grande talento e profissionalismo. Concluiu a sua carreira militar como Sargento Ajudante Músico. Notabilizou-se como compositor, sendo de sua autoria várias marchas militares, rapsódias e números ligeiros que ainda hoje são tocados por inúmeras bandas filarmónicas de Portugal.» 

Tão apreciado currículo merece mais ser completado diante de algumas facetas e distinções de sua vida e obra, a começar por ter sido de sua lavra a autoria da versão final do Hino-Marcha dos Bombeiros de Felgueiras. Com efeito, ao tempo, esse professor de música e compositor, em virtude de haver colaborado (com Aniceto Ferreira) na partitura inicial do referido hino e mais tarde por ter feito os arranjos definitivos daquela mesma peça dedicada à corporação dos BVF, teve direito a figurar na exposição comemorativa do centenário dos Bombeiros felgueirenses, com a marcha “Bombeiros Voluntários de Felgueiras”, de sua autoria, para Clarim e Banda em conjunto.

 
= Partitura do Hino dos BVF - Marcha com clarins...= 

Nascido a 2 de Fevereiro de 1913, em Margaride, iniciou sua aprendizagem musical pela idade escolar, aos 7 anos, com Aniceto Pinto Ferreira; enquanto logo aos 10 anos ingressou na Banda de Música de Felgueiras como executante em Sax-Trompa; e pouco depois em Trompete. Posteriormente deu rumo à sua vida ao ingressar na carreira militar como voluntário, aos 17 anos, tendo assentado praça no Regimento de Penafiel, na classe de aprendiz de música da banda daquela unidade, onde depressa progrediu. Assim, aos 18 anos foi promovido a 1ºcabo músico, aos 20 ascendeu a furriel músico, aos 22 a 2º Sargento, aos 24 a 1º Sargento músico e, finalmente, promovido a Sargento ajudante músico-Subchefe de Banda Militar. Entretanto foi 1º Trombone em várias Companhias Internacionais de Ópera e Zarzuela, na cidade do Porto. Até que em 1960 pediu a sua aposentação do Exército. 

Na Orquestra Sinfónica do Porto desempenhou lugar de 1º Trombone durante 33 anos, desde a sua respetiva fundação em 21/6/1948 até Abril de 1981, tendo executado muitos concertos (nas suas palavras, em informação a um jornal felgueirense, cerca de 1.700). Em cujas andanças teve contactos e atuou sob regências de afamados homens da música, tais como Ino Savini, Padre Luís Rodrigues, Markewitch, Dobrowem, Klemperer, Pedro de Freitas Branco, Silva Pereira, Gunter Gamba, Álvaro Cassuto, José Atalaia, etc. Havendo ainda atuado com a mesma orquestra em 19 temporadas internacionais de ballet nos mais importantes teatros de Lisboa e Porto. Como compositor, escreveu cerca de 35 marchas militares e de concerto, algumas das quais premiadas em concursos, como: Lutar e Vencer-1º prémio; Desfilando e Região Militar de Lisboa-2. ºs prémios; mais 7 rapsódias populares executadas de Norte a Sul de Portugal e no estrangeiro; bem como cerca de 40 números ligeiros, hinos, arranjos e outros. Tal como teve também 3 prémios em concursos de Marchas de S. João no Porto. Sendo de referir, por fim, que suas obras se encontram registadas na Sociedade Portuguesa de Autores, das quais algumas foram inclusive gravadas em discos de vinil, casssetes e CD’s. 

 

 Armando Pinto 

 »»»»» Clicar sobre as digitalizações «««««


sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Artigo no SF: Sobre tempo da Quaresma, nas recordações das Candeias e Cinzas…

 

Passado o ambiente Carnavalesco, lembramos a imediata e presente quadra da Quaresma. Após os festejos do Carnaval que tiveram na Longra, mais uma vez, um dos seus expoentes, como é já tradição, realizado que foi desta feita pelo 17º ano consecutivo, como organização oficial do Corso de Carnaval Longrino. Curiosamente com a atual organização a teimar em atrasar um ano as suas contas, sabendo-se que tal desfile começou em 1997 e, como tal, esse primeiro ano também conta na soma das edições entretanto concretizadas. E como, aliás, a ideia e a respetiva concretização dessa 1ª vez foi da mesma autoria das organizações dos pioneiros anos seguintes, nem se entende essa teimosia ou então desconhecimento dos factos históricos. 

Posto isso, passamos ao tema da época quaresmal vigente, que serviu de mote a mais um artigo publicista, na crónica que escrevemos e foi publicada no Semanário de Felgueiras. De onde partilhamos aqui a respetiva coluna, do que está no mais recente número do mesmo jornal S F, à página 12 da edição impressa desta sexta-feira 15 de Fevereiro.

  
(Clicar sobre este recorte digitalizado, para ampliar) 

Do mesmo, para mais fácil leitura, colocamos o texto conforme o original: 

Na Quaresma do tempo… 

Chegado Fevereiro, no mando da tradição com tempo até muito próprio, pois sendo “chuvoso faz o ano formoso”, o ambiente cinzento do panorama ambiental mistura-se com a época de trevas quaresmais, após o Carnaval. Começado que foi o mês logo pela conta das Candeias, na passagem do dia de Nossa Senhora das Candeias. Como tradicionalmente se designa essa data litúrgica da apresentação do Senhor ou da Purificação de Nossa Senhora. Uma época que, devido ao Carnaval ser uma festividade de data móvel, calhando tanto no início, como a meio ou final do mês, se confunde com essa fase, derivada como terá sido de festividades populares de tempos recuados. Sabendo-se disso por se haverem realizado durante a romanização as Lupercais, antes das Calendas de Março, celebradas em honra de Pan, deus dos pastores - relacionando-se a denominação com Lupercus (do latino lobo). Ora esta festa anual estava associada a orgias e outras boémias, durante a quadra do entrudo, pelo que o Papa Gelásio instituiu, em sua substituição, a festa da Purificação ou da Candelária. Não tendo sido, porém, completamente extintos os festejos com os desmandos abusivos do Carnaval, passou depois essa festa religiosa a cingir-se ao dia, como ficou mais conhecido, de Nª Sª das Candeias. 

Na importância dada à ocasião, está associado um velho ditote popular, afiançando: Em dia das Candeias “se (havendo dia chuvoso) Nossa Senhora estiver a chorar, está o inverno a acabar; se (perante tempo de sol) estiver a rir, está o inverno p’ra vir”, diz a voz popular. Isto segundo o calendário rifoneiro, das fases descritas através de rifões com que a sabedoria popular impregnou os elementos naturais do quotidiano social. 

Passados dias das Candeias e Carnaval, chega o tempo da Quaresma, iniciado na quarta-feira de cinzas. E eis-nos então neste período que, pese tantas transformações operadas na vida normal da sociedade comum e com a religiosidade a ficar algo aquém de antigos hábitos, permanece na memória duma época de afeições, dum tempo romântico aos olhos de nossas recordações. Tal as lembranças que afloram, ao autor destas linhas, sobre tempos da missa das Candeias mais a das Cinzas e, por extensão, do afago de nossa mãe… 

Um destes dias, numa daquelas ocasiões em que nos deixamos levar por pensamentos, nas asas do tempo – em devaneios, até que… zás! – demos connosco a pensar em tempos de infância, quando ia pela mão de minha mãe à igreja e à sua beira ficava, lá no meio, enquanto ela me sussurrava ao ouvido orações, que me entravam com encanto no mais íntimo do ser. Ali, com ela a rodear-me em seus braços, enquanto me ensinava a orar – além de assim, também, me ter à sua beira, para não estar junto aos outros moços, alguns por acaso normal sempre com os sentidos noutros lados e modos. E dei comigo a experimentar como sinto falta, agora, de me achar bem junto à minha mãe, de como tenho saudades dela. Já passaram muitos anos, desde que perdemos sua presença física. Mas parece que foi ontem ainda que nos sentíamos abraçados no encosto de seus sussurros carinhosos, ali na igreja, como nos ensinamentos de vida que nos foi dando. E lá veio à mente as missas das candeias e das cinzas, por serem dum tempo marcante, decorrendo o inverno, como agora. Íamos logo pela manhã cedo, com o corpo a tentar espantar o frio, ainda a noite dominava o horizonte de breu, perante o caminho alumiado por lanternas, tal a escuridão (também coisa que volta ao panorama, nos dias que correm com as poupanças atuais em luz pública, enquanto nas altas esferas do poder continua um forrobodó…); e, então naquele tempo, chegados ao templo, resplandecia um ambiente de luz das muitas velas e lâmpadas espalhadas, mais um odor de incenso que se elevava no ar. Ficando-nos, para sempre, na retina memorial, essas manhãs, em tais dias, daqueles que tivemos nossa mãe a envolver-nos… ternamente. E, no caso das Candeias, aflorando o caso do dito popular, até parecendo, apesar da penumbra do alvorecer da manhã, sem ter rompido ainda o sol, que nossa senhora sorria…! 

Armando Pinto

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Carnaval da Longra – Felgueiras / 2013!


Pela 17ª vez, em dezassete anos consecutivos, realizou-se mais uma vez, este ano, o tradicional Carnaval da Longra. Corso Carnavalesco, este, que tem sido organizado oficialmente desde 1997: primeiro através de organização da Direção da Associação Casa do Povo da Longra, depois do Grupo de Teatro e do Rancho da mesma Associação, e, por fim, após a Longra ter passado a vila, desde 2004 tem havido realização em parceria conjunta de algumas Juntas de freguesia da área da vila e outras organizações sócio-culturais.


Sem necessidade de muita legendagem literária, pois as imagens praticamente falam por si, bem como da importância que este cortejo já detém; e continuando sempre com a ideia de registo; guardam-se aqui e agora algumas fotos do mesmo desfile, na versão de 2013.

















Armando Pinto 

© == Direitos da autoria deste blogue == 

»»»»» Clicar sobre as imagens, para ampliar «««««

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Memórias e tradições do dia das Candeias


Candeias do Tempo…! 

Chegado Fevereiro, no mando da tradição com tempo até muito próprio, pois sendo “chuvoso faz o ano formoso”, logo entra a conta das Candeias, a 2 de Fevereiro, na passagem do dia de Nossa Senhora das Candeias. Como tradicionalmente se designa essa data litúrgica da apresentação do Senhor ou da Purificação de Nossa Senhora Mãe de Deus.

Uma época que, devido ao Carnaval ser uma festividade de data móvel, calhando tanto no início, como a meio ou final do mês, se confunde com essa fase, derivada como terá sido de festividades populares de tempos recuados. Sabendo-se disso por se haverem realizado durante a romanização as Lupercais, antes das Calendas de Março, celebradas em honra de Pan, deus dos pastores - relacionando-se a denominação com Lupercus (do latino lobo). Ora esta festa anual estava associada a orgias e outras boémias, pelo que o Papa Gelásio instituiu, em sua substituição, a festa da Purificação ou da Candelária. Não tendo sido, porém, completamente extintos os festejos com os desmandos abusivos do Carnaval, passou depois essa festa religiosa a cingir-se ao dia, como ficou mais conhecido, de Nossa Senhora das Candeias. 

Em dia das Candeias “se (havendo dia chuvoso) Nossa Senhora está a chorar, está o inverno a acabar; se (perante tempo de sol) estiver a rir, está o inverno p’ra vir”, diz a voz popular. Isto segundo o calendário rifoneiro, das fases descritas através de rifões com que a sabedoria popular impregnou os elementos naturais do quotidiano social.

= Nossa Senhora das Candeias ou Rainha da Paz – como em Rande está representada na estatuária paroquial (vendo-se a imagem de Nª Senhora sobre andor, aquando de procissão da festa de S. Tiago de Rande).= 

Eis-nos então neste tempo, de início de Fevereiro e em plena Candelária. As candeias, que, pese tantas transformações operadas na vida normal da sociedade comum e com a religiosidade a ficar algo aquém de antigos hábitos, permanece na memória duma época de afeições, dum tempo romântico aos olhos de nossas recordações. Tal as lembranças que afloram, ao autor destas linhas, sobre tempos da missa das Candeias e, por extensão, do afago de nossa mãe… 

Um destes dias, numa daquelas ocasiões em que nos deixamos levar por pensamentos, nas asas do tempo – em devaneios, até que… zás! – demos connosco a pensar em tempos de infância, quando ia pela mão de minha mãe à igreja e à sua beira ficava, lá no meio, enquanto ela me sussurrava ao ouvido orações, que me entravam com encanto no mais íntimo do ser. Ali, com ela a rodear-me em seus braços, enquanto me ensinava a orar – além de assim, também, me ter à sua beira, para não estar junto aos outros moços, alguns por acaso normal sempre com os sentidos noutros lados e modos. E dei comigo a experimentar como sinto falta, agora, de me achar bem junto à minha mãe, de como tenho saudades dela. Já passaram muitos anos, coisa de um quarto de século, desde que perdemos sua presença física. Mas parece que foi ontem ainda que nos sentíamos abraçados no encosto de seus sussurros carinhosos, ali na igreja, como nos ensinamentos de vida que nos foi dando. E lá veio à mente a missa das candeias, por ser dum tempo marcante, decorrendo o inverno, como agora. Íamos logo pela manhã cedo, com o corpo a tentar espantar o frio, ainda a noite dominava o horizonte de breu, perante o caminho alumiado por lanternas, tal a escuridão (também coisa que volta ao panorama, nos dias que correm com as poupanças atuais em luz pública, enquanto nas altas esfera do poder continua um forrobodó…); e, então naquele tempo, chegados ao templo, resplandecia um ambiente de luz das muitas velas e lâmpadas espalhadas, mais um odor de incenso que se elevava no ar. Ficando-nos, para sempre, na retina memorial, essas manhãs das Candeias, em tais dias, daqueles que tivemos nossa mãe a envolver-nos… ternamente. E, até parecendo, apesar da penumbra do alvorecer da manhã, sem ter rompido ainda o sol, que nossa senhora sorria…! 

© Armando Pinto

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Exaltação ao Padroeiro dos Escritores e Jornalistas – in Semanário de Felgueiras


«Anime-se (cada um de nós) e transforme os problemas em matéria para seu progresso e maturidade». Tal qual devemos «fazer tudo por amor, nada por força». Bem como é também celebre a sua frase: «A verdadeira piedade não destrói, mas enobrece e embeleza». Assim escrevia S. Francisco de Sales, entre as mensagens que em seu tempo transmitiu e como máximas palavras ficaram conhecidas. Da autoria desse santo que, em virtude de sua Obra - tendo deixado ensinamentos que, de acordo com o papa Bento XVI, «são estrada para a verdadeira obediência» - é considerado patrono dos literatos. Pois a "sua escrita. ao bom gosto dos melhores clássicos, assenta muito no uso de exemplos da natureza e da vida, que a embelezam, dando-lhe um fino recorte literário" (como o apresenta, nesta última frase, o jornal diocesano "Voz Portucalense" em seu número também hoje chegado a público).


É precisamente este “conhecedor do coração humano, como foi São Francisco de Sales”, que procuramos exaltar em mais um artigo publicista, dando a conhecer sua figura, na crónica que desta vez escrevemos no Semanário de Felgueiras. De onde partilhamos aqui a respetiva coluna, desta vez (por motivos técnicos) em imagens fotográficas, do que está publicado no mais recente número do mesmo jornal S F, à página 12 da edição impressa desta sexta-feira 25 de Janeiro.


(Clicar sobre este recorte captado em imagem, para ampliar) 

Disso, para leitura, colocamos o texto conforme o original: 

S. Francisco de Sales: Padroeiro dos jornalistas e escritores 

Não tem sido muito difundido e será pouco conhecido, mas há um santo patrono dos jornalistas e escritores, de quem se dedica à escrita, por assim dizer: S. Francisco de Sales, cujo dia litúrgico lhe é dedicado a 24 de Janeiro. 

Passou assim ontem (quanto à atualidade da publicação desta edição) esse dia dedicado ao santo orago dos publicistas e entusiastas pelos registos literários. Um santo que mereceu tal consideração pela sabedoria dos seus escritos, com saliente dimensão em quanto encerra o legado das suas obras. 

Considerado um líder da Reforma Católica, também chamada de "Contra-Reforma", tornou-se famoso pela sua sabedoria e ensinamentos. Tal como consta da própria biografia: «Em 1609, seus escritos (cartas, pregações) foram reunidos e publicados com o título "'Introdução à vida devota" ou "Filotéia", que é a sua obra mais importante e editada até hoje. Outra obra que também é ainda editada é o "Tratado do Amor de Deus", fruto de sua oração e trabalho. Estes dois livros são considerados clássicos espirituais. Além desses tomos, a coletânea de cartas, pregações e palestras alcança 50 volumes. Derivando disso que a popularidade e o valor destes escritos fez com que fosse considerado padroeiro dos escritores católicos». 

Nascido a 21 de Agosto de 1567, em Castelo de Sales, na Saboia, veio a falecer a 28 de Dezembro de 1622, em Lião. Desde então logo venerado nos meios católicos, foi oficialmente beatificado no mesmo ano e, depois, canonizado em 1655, por reconhecimento ao tempo do Papa Alexandre VII. Em 1867 foi declarado Doutor da Igreja pelo Papa Pio IX. Até que foi declarado em 1923, pelo Papa Pio XI, patrono da imprensa católica. Daí que, extensivamente, tenha sido escolhido para englobar sob sua proteção toda a função literária, nos campos do jornalismo e da literatura.

= S. Francisco de Sales representado com solidéu episcopal a cobrir parte da calvice e com uma murça (pequena sobrecapa usada nas vestes sobre a sobrepeliz), tal como a cruz peitoral, mais os símbolos de escritor com que normalmente aparece na iconografia.= 

Ora, a memória litúrgica de São Francisco de Sales, como padroeiro dos jornalistas e escritores, celebra-se desde 1969 a 24 de Janeiro. Tratando-se dum personagem saliente num dos períodos mais conturbados da história da Igreja e da história da Europa. Foi Bispo de Genebra, na Suíça, a pátria mãe do mais exacerbado calvinismo. Tendo vivido, efetivamente, no período da chamada Reforma (1567-1622), «sabendo então contrapor a um certo pessimismo de influência calvinista um sentido da valorização da dignidade do homem, um otimismo humanista de fundo evangélico sabiamente conjugado com os ideais renascentistas que valorizavam a condição e a pessoa humana como sede da sabedoria. É essa dimensão da presença do divino na condição humana que conduziu a uma das mais conhecidas facetas da sua personalidade: a bondade, a paciência, a simplicidade. A doçura, dizem os livros ascéticos. Uma especial capacidade de convicção levava a que os seus sermões e os seus escritos se viessem a tornar paradigmas de uma arte de convencer, que tinha muito do vigor oratório dos grandes pregadores do seu tempo (ao estilo do gosto retórico da época), mas sobretudo nascia da fundura de uma fé forte e dinâmica e de um estudo da perceção dos sinais de Deus no coração dos homens, e os sinais da humanidade que levam à descoberta de Deus. É neste sentido (de atenção ao humano, de respeito pela pessoa, de elevação dos seus valores e convicções) que o exemplo de São Francisco de Sales deve ser modelo para o jornalismo moderno, mesmo para os profissionais que não são crentes: a capacidade da descoberta nas complexas e contraditórias atitudes dos homens e da emergência dos problemas de convivência humana na interação criativa entre o homem e a natureza, na preservação dos recursos comuns...» 

S. Francisco de Sales, iconograficamente, é apresentado no imaginário sacro perante fisionomia de calvo e com barbas, sem mitra e com sobrepeliz, tal como por vezes ainda uma murça e uma cruz peitoral, tendo um livro na mão. 

Armando Pinto 

»»»»» Clicar sobre as imagens «««««