Espaço de atividade literária pública e memória cronista

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

Uma Visão sobre o concelho de Felgueiras (Distrito do Porto - Portugal)

 

 (Trabalho feito a pedido de um amigo, com adaptações do texto inserto no livro "História de Coração". No caso para envio para uma estação emissora de rádio de âmbito nacional e futuramente para uma publicação impressa) 


Panorâmica morfológica e humana do concelho de Felgueiras:

= Visão ligeiramente historiadora, em contexto de leves evocações, como que dando uma vista de olhos, apesar de sucinta, pela ambiência concelhia. =


Felgueiras insere-se na área de afinidades de Entre Douro e Minho, embora administrativamente esteja incluída na Província do Douro Litoral e Distrito do Porto, na sua zona Nordeste, e em plena região do Vale do Sousa, na respetiva parte superior, com ligações à região do Tâmega, conforme (a partir da legislação de fusão regional publicada em 2008 e instalada em 2009, dos novos regimes de quadros legais das associações de municípios), atualmente inclui espaço intermunicipal com denominação de comunidade do Tâmega e Sousa.

Localização esta que se remete numa transição entre o Litoral e o Interior, no limite das áreas distritais de Porto e Braga, qual limiar fronteiriço de Douro e Minho, porém com maior dependência à área metropolitana do Grande Porto. Com raízes e tradições de certa maneira comuns a toda a ampla região do Noroeste de Portugal, bem como em determinadas particularidades à fraternal Galiza, onde demandavam os percursos do Caminho Português de Santiago que por estas bandas deixaram influências da antiga passagem, de que restaram algumas dedicações de paróquias cujo Santo Padroeiro é S. Tiago Maior.

Como “cidade sede de concelho do distrito”, Felgueiras tem seu nome na toponímia da cidade do Porto, constando honrosamente entre as denominações toponímicas do burgo portucalense nas chamadas Rua de Felgueiras e Travessa de Felgueiras, dentro da capital do Distrito. Honra que data desde 1959, ano em que teve lugar a respetiva deliberação, ao tempo a distinguir «o concelho com o mesmo nome, do Distrito do Porto», situando-se as artérias em apreço na portuense freguesia de Ramalde, no BCE (Bairro de Casas Económicas) da Boavista-Vilarinha, sendo arruamentos do interior desse também conhecido por Bairro da Vilarinha, junto à avenida da Boavista.

Quanto à denominação da região genuína do concelho, o nome local da zona, Felgueiras, é derivado do latino “filicarias”, o qual significava terras onde há (havia) fetos, nome esse mais tarde circunscrito à povoação central, de que resultou a vila e posterior cidade, que ficou como sede concelhia, passando posteriormente a ser generalizado ao concelho. Sendo esse termo associado, conforme antigas referências documentais, a Felgarias Rubeas, relativo de terrenos cobertos de fetos que, quando secos, toma(va)m cor avermelhada, rúbea, rubra acastanhada, transformando primitivamente a zona em felga. Evoluindo, no tempo, posterior conhecimento por Felgerias, Felgueyras, até Felgueiras.

Entretanto, passou Felgueiras por diversas fases de constituição de seu território, consoante as alterações administrativas, sabendo-se dos factos históricos noticiosos da existência de antigos Julgados e Concelhos em parcelas depois incluídas na totalidade posterior, passando pela antiga constituição de um próprio concelho do mesmo nome mas de menor tamanho, como ainda inclusão noutro concelho, de permeio, até à fixação em 33 freguesias englobadas com a reforma administrativa acontecida no período liberal. Ora, só em pleno séc. XIX, com a inclusão de freguesias provindas de concelhos extintos, em 1852, como transferências doutros, em 1853, e por fim com a criação da Comarca de Felgueiras, em 1855, o concelho teve limites fixados.

Na atualidade, Felgueiras é um dos 18 municípios do Distrito do Porto, que até 2013 era composto por 32 freguesias (depois que perdeu uma, quase no final do século XX, em 1998, para a criação do novo concelho de Vizela) e no princípio do século XXI com uma população total à volta de cinquenta e oito mil habitantes (mais precisamente 58. 084 habitantes. segundo dados do Instituto Nacional de Estatísticas (INE), pelos Censos de 2011 (notando-se um ligeiro decréscimo nos últimos dez anos, visto o número populacional ter sido de 58. 553 no Censos de 2001), enquanto abarca área de cerca de 116 quilómetros quadrados, num número mais preciso de 115, 7 Km2, pelos números de 2010 do Instituto Geográfico Português (IGP).

Posteriormente, por decisão do governo central do país, “a régua e esquadro” desde Lisboa, sem que os representantes do concelho de Felgueiras (quer o presidente do Município e restantes autarcas locais da Câmara e Assembleia Municipal, quer os das Juntas e Assembleia de Freguesia, desse mandato, gente de diversos partidos e coligações), se manifestassem oficialmente, houve alteração com a junção de diversas freguesias, no chamado reordenamento territorial da reorganização administrativa que criou a chamada União de Freguesias (atualmente ainda com algumas indefinições na legislação institucional), derivando daí que nesta nossa região foi instituída, a partir de 2013, uma apelidada união das freguesias de Pedreira, Rande e Sernande, totalmente atípica; tal qual a cidade da Lixa foi dividida, passando a haver uma união de duas freguesias da antiga Lixa e uma outra agregada com Caramos; e ainda a maior do concelho ficou mesmo maior ainda com a junção de várias freguesias em volta de Margaride, num longo território disperso.

Atualmente, a partir de 2013, por ora Felgueiras tem 20 unidades administrativas, entre 8 uniões de freguesias e 12 freguesias separadas (freguesias sem alterações).

Segundo dados no início dos anos 2000, a referida população distribuía-se por escalões etários de modo significativo, demonstrando existir elevado índice de população ativa, cuja ocupação maioritária se divide entre a indústria e a agricultura, além de outros setores em menor escala, com relativa importância de população flutuante derivada à implantação industrial.

O concelho de Felgueiras é limitado a Norte por terras dos concelhos de Fafe e Guimarães, a Sul por terrenos de Lousada e Amarante, a poente por zona de Vizela e a Nascente por parte do concelho de Celorico de Basto. Tem sede concelhia na cidade de Felgueiras, cuja área se alonga pela freguesia de Margaride mas abrange também parcelas das de Várzea, Moure, Sendim, Lagares e Varziela. Isto como cidade e mesmo como união de freguesias, atualmente, em área maior.

O concelho é constituído por quatro centros urbanos: Além da cidade-sede do concelho, Felgueiras possui outra cidade, a Lixa (que incluía partes de Borba de Godim, Vila Cova da Lixa e Macieira da Lixa, pois com a mudança de 2013 Macieira ficou unida com Caramos); mais duas vilas, a de Barrosas (em parte de Idães, de Felgueiras; e englobando uma parcela de Santo Estêvão de Barrosas, do concelho de Lousada); mais a da Longra (que, além da antiga área mais urbana de Rande, onde se situava a inicial povoação da Longra, como vila incluiu também mais partes das antigas freguesias de Rande, Sernande, Pedreira e Varziela – situação que entretanto ficou indefinida, ou seja deixando a parte de Varziela de ser considerada na área da vila da Longra, sendo agora Varziela unida com Margaride e outras, da União de Freguesias de Margaride, Lagares, Moure, Várzea e Varziela); enquanto crescem áreas urbanas de complemento a zonas rurais por boa parte do restante território.

= Vista aérea da Longra, em 2005 =

A área do concelho, em vias de comunicações, é atravessada pela autoestrada A11 e pelas principais Estradas Nacionais números 101 (Guimarães-Felgueiras-Amarante), 101-3 (Felgueiras-Lagares-Vizela), 101-4 (Lixa-Pinheiro), 207 (Agrela/Paços de Ferreira-Lousada-Longra-Felgueiras-Fafe-Póvoa de Lanhoso), 207-2 (Longra-Caíde), Variante à 207 (Longra-Várzea- EN101) e Variante à 101 (exterior à cidade de Felgueiras, até à 101), além de outras de classificação regional e local.

Não será terra de promissão, mas o concelho de Felgueiras é algo especial na capacidade do seu povo e nas potencialidades desenvolvidas. Apesar de em princípios do século XXI, ainda se notar número significativo de iliteracia em parte de sua população, não tanto já num analfabetismo que existiu até anos atrás, mas sensivelmente no espírito de falta de evolução instrutiva, entre factos evidentes em compreensão de análise textual e entendimento auditivo, por exemplo. Contudo supera as insuficiências na sua veia empreendedora, sendo o concelho de Felgueiras saliente pela produção de sensivelmente cinquenta por cento da exportação nacional de calçado, pela produção de um terço dos melhores vinhos verdes da própria região demarcada, pelos atraentes bordados saídos de dotadas mãos, pelo património existente, pelas suas tradições populares e religiosas, como pelo raro encanto de seus recantos paisagísticos.

Antecedentes e Percurso Histórico:

Esta área geográfica sentiu através dos tempos as transformações do noroeste minhoto-duriense e viveu também os momentos comuns à grei nacional. Como passamos a descrever, em leves traços retrospetivos.

Para se não recuar em demasia no tempo, mas avançando cronologicamente nesta resenha histórica uma visão ampla de longa existência, pode adiantar-se que após os diversos estádios de povoamento com estadas de diferenciados povos, de que perdurou com maior ênfase sobretudo a génese lusitana e as marcas da romanização, foram porém os Godos que influência mais marcante tiveram na consolidação da identidade profunda, como se comprova pelas réstias toponímicas deixadas, em toponímia geográfica, nos nomes das terras, através das raízes genealógicas dos antepassados destes sítios.

São paradigma no caso os topónimos de origem germânica derivados dos primeiros colonos definitivos, fidalgos godos romanizados, que legaram seus nomes às quintas originárias dos primitivos povoados, as “villas” rústicas florescentes da exploração do território, de cujas denominações na evolução através do tempo resultaram nomes de lugares e sucessoras freguesias. Entre o que se nota desse rasto, em variedade de referências provindas de antigas villas romano-godas, que deram origem a nomes próprios de atuais freguesias, como Aião, Airães, Friande, Godim, Idães, Margaride, Moure, Rande, Regilde, Revinhade, Santão, Sendim, Sernande, Unhão... Havendo ainda notícias de nomes de primitivas paróquias, de tempos de suevos e visigodos.

Naturalmente que outros nomes tiveram diferentes origens, em diversas peripécias semânticas. Por exemplo, os topónimos (nomes de lugares e / ou freguesias) derivados de pedra são muito frequentes na Galiza e em Portugal. Conforme estudos vários sobre a toponímia galaico-portuguesa, os mais antigos topónimos reportados a pedra, às pedras ou ao carácter pedregoso de um sítio, tal como em Pedreira, foram anteriores ao latim. Ainda pré-latino é o nome de Várzea, provindo do topónimo pré-romano Varcena, com significado a apontar para campina cultivada, em vista do solo fértil que aí campeava. Posteriormente, de afinidade linguisticamente ao latim, houve outros casos pós-latinos (românicos ou medievais, ou já galaico-portugueses e mesmo portugueses), como se nota no nome do lugar de Pedra Maria, que «é um vestígio evidente de um ancestral culto das pedras», alusivo à fé derivada de falado aparecimento de uma imagem num penedo. E em diversas freguesias, nomes de lugares, ainda, indicam uma toponímia antiga a fazer eco de uma atividade, como Vinha, por exemplo. Já Vinhó, diminutivo de Vinha, tem sempre termo de comparação relativamente perto, como acontecia no nome da Fonte da Vinhó que, em tempos passados, existiu em Rande junto a um campo de vinha da Casa da Quinta. E, a calhar a talhe, por se referir o nome Quinta, esse é um nome exemplar de quanto o antigo mundo rural teve peso na toponímia nortenha do país e particularmente nesta região felgueirense, em apreço. Como uma substancial parte dos topónimos se refere a um estilo de vida centrado em atividade agrícola, relacionada a propriedade maioral do sítio respetivo, a antiga quintana, posterior quintaa e depois também Quintã, relacionam importante Quinta, na evolução semântica de lugar assim denominado, na fragmentação em sub-unidades das pioneiras villas.

Desses antigos povoamentos dão conta alguns restos encontrados em escavações arqueológicas, sobretudo de antigos povoados de que existem testemunhos por vestígios encontrados, entre outros casos, no monte do Senhor dos Perdidos, em Penacova; no monte de Aparecida, em Pinheiro; no alto de Cimalhas, na fronteira de Sernande, Rande e Varziela, de antigo habitat (cujas réstias estão soterradas, depois de escavações operadas aquando do rasgamento dos acessos à autoestrada A11 e num arruamento do alto da Longra); bem como em Sendim, no monte do Crasto e nas ruínas de antiga villa romana.

Apressando o passo, neste processo noticioso de comunicação resumida do passado identificativo da região, chegara entretanto evolução populacional, em tempo de fixações de propriedades (das petras fixilis e terminus fixus, marcos divisórios do código visigótico, dentro de contexto de delimitação), nas áreas coutadas de privilégios senhoriais e consequentes foreiros dependentes, visando promoção de povoamento e difusão de amanho das terras, por via do desbravamento de montes e vales. Chegando ao desmembramento dos primitivos domínios de explorações e a intensificação do povoamento em herdades parceladas com os então casais derivados das antigas villas, nos entretantos das instituições dos fundamentos regionais. Antecedência de um meio rural, em torno de antiga realidade feudal em transformação evolutiva, de permeio aglutinada em lugarejos, até que no século XII começaram a ser instituídas as paróquias, interligadas às freguesias rurais, desenvolvendo-se diversos ciclos do percurso dos povos locais. História afim a toda a faixa banhada pelos fios de água do Sousa incipiente, rio provindo de veredas dos lados de S. Vicente de Sousa, cuja memória coletiva mesmo que distante no tempo e podendo parecer prosaicamente obscura, sem surrealismo será de apreciar como poema, pois a poesia, ainda que por vezes possa ter pouca clarividência, terá sempre beleza e encantamento na sua verdade, como a cronologia, quando pura e com vigor.

Ainda antes da nacionalidade, toda a região esteve incluída nos vastos domínios da Condessa Mumadona, inventariados por escritura testamentária no ano 1059. Ganhando contornos administrativos no período senhorial dos Sousãos, cujo solar principal estava implantado em terra que por esse motivo manteve a denominação originária na sua toponímia, entre S. Veríssimo e S. Vicente de Sousa. Sendo a família Sousa donatária do vasto território banhado pelo rio Sousa, curso fluvial com nascente precisamente em Sousa, havendo assim recebido o nome original como tal. Nesse período feudal a zona estava administrativamente dividida, havendo terras ligadas à Honra do Unhão e mais tarde ao seu Julgado, outras ao Julgado de Felgueiras, posteriormente transformados em concelhos, como também algumas estiveram adstritas ao Couto de Pombeiro e houve ainda antigo Couto do convento e depois Priorado de Caramos, além de outros Coutos circunscritos a antigos lugares, que deram origens a freguesias.

Em 1836 foram, contudo, os seculares concelhos de Felgueiras e Unhão dissolvidos, e com a sua extinção mudaram suas freguesias, junto com outras de mais concelhos extintos, passando toda a área a ser englobada pelo então novel concelho de Barrosas. Esta transformação foi, porém, pouco duradoura pois, volvidos escassos meses, depressa se separaram algumas freguesias, para reunificação em restaurados concelhos de Felgueiras e Lousada, permanecendo no município de Barrosas até ao seu final, na curta existência de quinze anos, escasso número de freguesias. Passando estas a integrar de vez o concelho de Felgueiras em 1853 (como antes se aflorou), enquanto outras que ainda andaram dispersas algum tempo mais por diferentes administrações foram, depois, unidas a Felgueiras em 1855, com a criação da sua Comarca, quando o concelho de Felgueiras atingiu o máximo de 33 freguesias.

Da união que faz a força, ficando então o concelho íntegro, resultaram diversas manifestações comunitárias reveladoras dos novos laços de unidade, como por exemplo foi instalada a Irmandade da Misericórdia de Felgueiras, tal como houve reestruturação da Irmandade do Imaculado Coração de Maria, com passagem da sua sede para o “Monte das Maravilhas” onde ficou instalada como Confraria do SS Coração de Maria e Santa Quitéria, para cuja solenidade de inauguração da então nova estrada (das capelas, agora tida por antiga, de acesso a pé) foram as representações de todas as paróquias com andores dos respetivos Oragos, mais estandartes e cruzes paroquiais. Bem como, anos mais tarde, em 1898, nasceu a Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Felgueiras.

Tendo o concelho ficado completo em 1855 (na sequência das reformas do período liberal e fases seguintes de reorganização administrativa) era essa uma referência assinalável. Tal como entre factos e fastos havia outras datas importantes, como ocorre a 14 de Outubro a data da outorga em 1514 do Foral de D. Manuel I a Felgueiras - embora esta sem corresponder à totalidade concelhia, pela dispersão antiga das divisões administrativas, lembrando-se que também o antigo concelho do Unhão teve Foral (em março de 1515) e igualmente o Alfoz do Couto de Pombeiro tivera Carta Régia, além de ter havido uma circunscrição de Caramos, como ainda o efémero concelho de Barrosas. Por tudo e apesar disso, outras ocorrências memorandas concorreram no seguimento da lei da República, a partir de 1911, da criação dos feriados municipais, estabelecendo que todos os concelhos deveriam ter um feriado municipal, pois, efetivamente, não havia unificação por todos os concelhos (tal como em Felgueiras acontecia ainda com Barrosas, onde era guardado feriado na segunda-feira das festas do Espírito Santo; e em Várzea com a festa do 23 de Abril, por exemplo). Assim sendo, foi decidido que o dia do concelho de Felgueiras passasse a ser, em homenagem ao benemérito concelhio Agostinho Ribeiro, conforme foi aprovado para tal, a data de 13 de outubro referente à inauguração em 1912 do hospital com o nome do mesmo Agostinho Cândido de Sousa Ribeiro. Porém, em 1957, sucedeu ter havido alteração de modo que fosse correspondente à festividade mais abrangente, ao tempo. Então  houve definição oficial que, para todo o concelho de Felgueiras, passasse a ser o dia da Festa de S. Pedro, a 29 de Junho, por ser o dia da romaria mais antiga tradicionalmente ocorrida na região, desde eras remotas realizada numa ermida que existiu no alto do Monte Columbino, depois passado a ser conhecido por Monte de Santa Quitéria. Ficando a ser Feriado Municipal o dia 29 de Junho oficialmente em todo o território de Felgueiras.

Em 1998 o território concelhio foi encurtado, porque então Felgueiras perdeu a freguesia de Santo Adrião de Vizela, para a criação do novo concelho de Vizela (mantendo-se, contudo, de Felgueiras as de S. Jorge de Vizela e Santa Comba de Regilde, que inicialmente estiveram na proposta da mesma aprovação da Assembleia da República).

Cidadania Munícipe:

Como pela boca se chega também ao coração, entre umas e outras potencialidades e realidades, não se pode esquecer a gastronomia, quer dos pratos típicos da cozinha tradicional, como a doçaria típica. Pois mesmo as festas e romarias também sempre foram associadas a isso, pelo sabor da comemoração à mesa, bem como pelo petisco de dar motivo a convívios, tal como na sobremesa a tudo o mais. Havendo naturalmente o assado tradicional, de galo e galinha de campo ou frango mais tenro, e cabrito, como coelho, com batatas e arroz de forno, mais o cozido à portuguesa, bacalhau de diversas formas conforme o gosto, com realce para o moderno prato do Bacalhau à Felgueiras; enquanto nas sobremesas há o serrabulho doce e o leite-creme, as rabanadas, e os doces de mesa, tais como pudins, barriga de freira, rolos, entre doces variados… mais na doçaria típica o incontornavelmente histórico Pão-de-ló de Margaride, as cavacas, o pão pôdre, e ainda os doces das romarias, como os cacetes e os rosquilhos.

De relevo na vivência comunitária, entre diversas realidades, existem algumas agremiações cativantes no sentimento coletivo Felgueirense, de que servem de exemplo as seculares instituições criadas nos tempos da junção das freguesias, como se aludiu anteriormente, e também outras mais recentes. Nos tempos que correm, enquanto o clube mais representativo, o Futebol Clube de Felgueiras, depois de especial carreira fulgurante, passou por fase obscura até que foi extinto, no início deste século XXI, ao passo que o clube sucessor, denominado Clube Académico de Felgueiras, inicialmente assim chamado, voltou depois a ter o nome antigo, com um pequeno acrescento, ficando a ser “Futebol Clube de Felgueiras 1932”, em homenagem referencial ao ano de início do futebol em Felgueiras, passando a angariar coletivamente o carisma do antigo; e, enquanto e além disso, não abundando grupos culturais e recreativos de âmbito concelhio; o trabalho associativo ganhou algum fôlego no surgimento, por exemplo, do Rotary Clube de Felgueiras, a ação social pôs-se mais em campo através da ramificação das Conferências Vicentinas, e, felizmente, nalgumas freguesias distinguem-se Associações de carisma.

Em diferente aspeto justifica retenção de mais-valia o caso de que está instalada no concelho a Comunidade das Irmãs Vicentinas, mais propriamente chamadas Filhas de Caridade da Ordem de S. Vicente de Paulo distribuídas por dois conventos, dos quais ainda existe e elas permanecem presentemente no monte de Santa Quitéria, enquanto na casa da Misericórdia do Unhão estiveram entre 1933 até 2015. Onde as mesmas exerceram e têm funções de educação dirigindo externatos com infantário, pré-escolar e escolas de ensino básico, além de apoio sócio-caritativo à comunidade da região. Assim como presentemente há a casa dos também Vicentinos Padres Lazaristas da Congregação da Missão junto ao santuário de Santa Quitéria, depois de longas décadas de frutuoso labor em caminho vivido por Jugueiros, Pombeiro e Lagares. E em Lordelo, na Casa da Mata, existe também a Comunidade dos Padres Carmelitas Calçados, da Ordem de N.ª S.ª do Carmo, que prestam relevantes serviços pastorais na região, incluindo administração paroquial nalgumas freguesias.

Personagens Felgueirenses Ilustres:

Da grande família Sousa, importante e dominante da região nos tempos próximos à fundação do país, foi descendente o Sousão D. Gomes Aciegas, possível fundador do Mosteiro de Pombeiro. Outro, considerado como Felgueirense, por ser oriundo da original família da Casa de Sergude de Sendim, tem sido associado localmente o navegador quinhentista Nicolau Coelho, comandante da Nau Bérrio, uma das embarcações da armada de Vasco da Gama que descobriu a rota marítima para a Índia, sendo mais tarde Nicolau Coelho um dos capitães da frota de Pedro Álvares Cabral que descobriu o Brasil. Felgueirense de certidão, natural de Pombeiro, foi o escritor e historiador do séc. XVII Manuel Faria e Sousa, que viveu na corte espanhola do reinado Filipino. Da antiga Honra do Unhão era toda a genealogia dos Condes primitivos da família Sousã, iniciada com D. Gonçalo de Sousa (no tempo de quem foi construída e sagrada a igreja românica do Unhão, em 1165 da era romana). De Rande e naturalmente também de Felgueiras é o aviador Francisco Sarmento Pimentel, participante do derrube da Monarquia do Norte, em 1919, mas conhecido sobretudo por ter efetuado a primeira travessia aérea de Portugal à Índia, em 1930. Tal qual Felgueiras se honra do eminente psiquiatra Dr. António Magalhães Lemos, natural de Margaride. De Lixa-Felgueiras era o Dr. Eduardo Freitas, autor da primeira monografia histórica escrita sobre o concelho de Felgueiras. Nasceu igualmente na Lixa e no concelho, mais propriamente em Borba de Godim, uma das freguesias da então povoação (depois vila e por fim cidade) da Lixa, o filósofo Dr. Leonardo Coimbra, que foi ministro da Primeira República. De Rande, também o celebrizado mestre de canto gregoriano e compositor de música litúrgica, Padre Luís Rodrigues. Como de Varziela Armando "Lucas Teixeira", antigo Religioso Beneditino, célebre executor de iluminuras de vulto e depois poeta secular, de grande engenho reconhecido internacionalmente. E, fazendo jus a enfileirarem com os mais ilustres Filhos de Felgueiras, contam-se ainda outros nomes dignos de menção, como o antigo Par do Reino que foi Rebelo de Carvalho; o célebre lutador pela criação da Comarca Dr. Costa Guimarães; o Conselheiro Dr. António Mendonça, antigo e prestigiado Presidente da Câmara Municipal de Felgueiras, deputado monárquico e ilustre homem de Letras proprietário do jornal “Semana de Felgueiras; Guilhermina Mendonça, conhecida por “Menina de Rande”, considerada popularmente como santa logo à sua morte em 1912 (cuja biografia narramos no “Memorial Histórico de Rande e Alfozes de Felgueiras”); mais os grandes beneméritos que foram Agostinho Ribeiro e António Fonseca Moreira; o Dr. Luís Gonzaga da Fonseca Moreira, marcante Presidente da Câmara, empreendedor de obras municipais de apreciável alcance; Dr. Miguel Costa Santos, Lente da Escola Médico-cirúrgica do Porto; Dr. António Costa Santos, Desembargador e Presidente da Câmara de Deputados; Dr. Alexandre Mendonça, que viveu em Airães e foi Juiz Conselheiro do Supremo Tribunal de Justiça; José Xavier, pioneiro da indústria concelhia, além de empreendedor de realizações associativas; Dr. João Brandão, presidente da Câmara de Felgueiras do período de implantação da República e deputado republicano; o missionário Padre António Correia dos Reis Coelho, da Pedreira e antigo procurador do Arcebispo de Goa, na então Índia portuguesa; também Manuel Sampaio, de Varziela e autor de alguns estudos monográficos de história local antiga; Américo Martins, protótipo de empresário de sucesso em tempos idos; o fundador do Futebol Clube de Felgueiras, Verdial Horácio de Moura; mais o famoso ciclista Artur Coelho que, correndo pelo Futebol Clube do Porto, foi vencedor em 1957 da importante prova ciclista 9 de Julho-Volta a São Paulo (Brasil) e integrou a seleção portuguesa de ciclismo participante na Volta a Espanha em 1957 e 1958, além de por várias vezes ter sido Camisola Amarela da Volta a Portugal, prova-rainha portuguesa em que também venceu diversas etapas; o atleta José Sampaio Peixoto, do Unhão, o qual, correndo pelo Académico do Porto, alcançou marca de recordista ibérico de atletismo, em 1945; D. Armindo Lopes Coelho, Bispo Diocesano do Porto; D. João Miranda Teixeira, querido vulto de Bispo-Auxiliar do Porto e entretanto temporariamente Administrador Apostólico da Diocese; assim como, apesar de não ser natural do concelho mas sim Felgueirense de coração, o paradigmático Autarca Dr. Machado de Matos – entre outros personagens distintos.

Monumentos e Valores Artísticos

Há espalhados pelo concelho diversos testemunhos do passado, consubstanciados em monumentos e outros valores artísticos.

Salienta-se contudo dos demais o beneditino Mosteiro de Santa Maria de Pombeiro, do qual se salienta a igreja de valiosa traça, embora com aposição misturada de diversos estilos pelas alterações sofridas ao longo dos séculos. Há depois, como antes se referiu noutro prisma, a estação arqueológica do Monte do Senhor dos Perdidos, ainda rudimentarmente explorada e entretanto abandonada; tal como o que está soterrado no alto de Cimalhas, na fronteira de Sernande com Rande e Varziela (cujas escavações, de antigo povoado da Cimalha, tiveram lugar no início do séc. XXI derivado à construção de novos acessos viários, onde se descortinaram vestígios dum antigo caminho divisório das paróquias e foram encontradas parcelas de cerâmica, contudo o resto depois ficou enterrado); como há ainda algo da antiga cidade de Eufrásia, em pequenos vestígios de ruínas, com restos da velha villa romana de Sendim. Existem também pequenos tratos de caminhos romanos em Caramos, Pombeiro e Vila Fria; e uma calçada medieva, numa parte de caminho lajeado medieval, na Calçada de Rande; em todos estes casos de antigo itinerário do Caminho de Santiago para Compostela, que teve assim passagens pelo concelho de Felgueiras. De relembrar ainda a antiga existência de estátua de um guerreiro Lusitano em S. Jorge de Riba-Vizela.

Outros marcos do passado representam diversas casas senhoriais dispersas pelo território concelhio, solares antigos sucedâneos de antanhas villas romanas e ancestrais fortalezas, de que se salientam a Casa de Sergude, em Sendim, a Casa de Simães, em Moure, a Casa de Rande e Casa da Torre, em Rande, a Casa do Coto, em Varziela, a Casa de Junfe, no Unhão, a Casa da Porta, na Pedreira, a Casa do Mosquete, em Lordelo, etc.

E as igrejas românicas, como a de Lordelo (em ruínas), a de Vila Verde (recuperada); e as que restaram sempre eretas, com traços originais desse estilo na região, ou seja as de Unhão, Sousa, Borba de Godim, Airães e Santão; além do pequeno templo de Padroso contendo escassos restos das características do românico rústico; são exemplares arquitetónicos apenas suplantados em antiguidade por dólmens existentes na Refontoura e em Regilde, mais vestígios de Castros, como os de Caramos e Lagares; por entre apreciável número de valores patrimoniais. E, entre outros possíveis exemplares, algumas construções religiosas como o santuário do Bom Jesus de Barrosas, o Calvário e Capela do Encontro em Caramos e, especialmente, o santuário de Santa Quitéria. Além de nichos de Alminhas em sítios estratégicos de diversas freguesias, bem como posteriores Nichos-capelas de Nossa Senhora monumentais de dedicação a Nossa Senhora de Fátima, mais os cruzeiros paroquiais.

Lenda de Santa Quitéria:

Em diferente feição, mas antiga por demais, há a lenda de Santa Quitéria, martirizada e sepultada em planalto que ganhou seu nome posteriormente. Segundo tradição milenar foi morta no Monte Pombeiro, como aquele ermo era antigamente chamado. Onde séculos mais tarde foram descobertos restos mortais que poderão ser da santa e de seus companheiros de martírio. Em cujo local foi então erigida a igreja em honra de Santa Quitéria, substituindo antiga ermida dedicada a S. Pedro. E, pelos milagres ali operados, o lugar passou a ser também conhecido por Monte das Maravilhas. Sintomático desta lenda é o facto de no sítio onde parou de rolar a cabeça da santa, depois de degolada, ter jorrado uma fonte, desde eras remotas conhecida por Fonte de Santa Quitéria, cuja água começou a ser tida como milagrosa (ainda que na transição do século XX para o XXI tivesse, por vezes, ficado imprópria para consumo, por erros humanos).

Pela proximidade desse fontanário a uma das vias concelhias dos Caminhos de S. Tiago, no caso o itinerário que passava em Sendim (motivo revelador da dedicação daquela freguesia a S. Tiago, tal como se verifica noutros pontos, como por exemplo em Rande onde a origem da proteção do Orago é similar), realizando-se antigamente à beira dessa fonte do sopé do monte de Santa Quitéria uma festa em honra de S. Tiago, a mesma bica de água chegou a ser conhecida também por esse nome, como fonte de S. Tiago; tendo no entanto com o decurso do tempo perdurado o nome original de Fonte da Santa. Diz o povo, na sabedoria popular, que quem dela beber jamais deixará Felgueiras, apaixonando-se por esta terra.

Segundo ideias eruditas, a local lenda de Santa Quitéria poderá ser derivada ao género de cristianização dos montes, cabeças e cabeços, relacionando-se o facto da mesma “santa da cabeça”, decapitada, ter sido sepultada no lugar da “cabeça da santa”, estando no monte, cabeço ou cabeça. Importa que perdurou e tem mística. E, como é por demais sabido, a tradição tem muita força. Pois, como dizia S. Crisóstomo, onde há tradição não se procure mais provas!

Outras curiosidades Felgueirenses:

O nome de Felgueiras tem sido conhecido desde longas eras pelo fabrico tradicional de um doce regional típico, o Pão-de-ló de Margaride. A fama desta especialidade de doçaria antiga, que data de meados do século XIX, pelo menos, desde que foi expandida por Leonor Rosa da Silva, fez com que a principal casa doceira de Felgueiras fosse oficialmente nomeada como fornecedora da Casa Real, por uma carta dos Duques de Bragança em 1888 e posterior Alvará do rei D. Carlos em 1893. Tendo depois surgido outras pequenas fábricas derivadas, algumas de nomeada, por sinal.

No último quartel do século XX, porém, o nome do concelho de Felgueiras passou a ser também conhecido como zona portuguesa mais industrial do fabrico de calçado. Este sector industrial suplantou de facto as anteriores ocupações fabris locais, iniciadas com a metalo-mecânica na Longra em princípios do século XX, quando as bases agrícolas começaram a ter alternativa com aquela ocupação, que desempenhou importante papel na economia da comunidade Felgueirense. Instalação industrial depois seguida pela indústria têxtil implantada a meio do mesmo século nos arredores da então vila de Felgueiras, além de outras de menor consistência produtiva. Assim como Torrados e Lagares foram centro da produção de calçado mecanizado, a partir que começou a ser feito em série; embora antes, quando o fabrico era manual, houvesse mestres abancados por quase todo o concelho.

Sintomático da importância de fabrico do calçado, atendendo a que antigamente a zona com mais fábricas desse sector era São João da Madeira, enquanto depois Felgueiras passou a ombrear com essa zona da Beira Litoral e acabou por a suplantar, as duas cidades foram geminadas, por esse facto, em acordo celebrado entre ambas as respetivas autarquias, em 1996.

Também, pelas ligações de Felgueiras ao mundo, através dos laços de união mantidos pelas gentes Felgueirenses com outros povos, houve já alguns compromissos selados entre Felgueiras e algumas cidades estrangeiras, para favorecer possível intercâmbio de solidariedade e ações de âmbito cultural e social, como foram os casos entretanto acontecidos de geminações entre a Câmara Municipal de Felgueiras com Point Saint Maxence (França) em 1993, Boa Vista (Cabo Verde) e Santa Cruz de Cabrália (Brasil) em 1996 e S. Vicente (Cabo Verde) em 1998. Além de pré-acordos, ao que aconteceu em 1988 com Porto Seguro, do Brasil; e com Nueil-les-Aubiers, de França, em 2007.

Em questão de vizinhança, estreitando laços mais ao perto, Felgueiras está incluída na Comunidade Intermunicipal do Tâmega e Sousa, junto com Lousada, Paços de Ferreira, Paredes, Penafiel, Castelo de Paiva, Amarante, Baião, Celorico de Basto, Marco de Canavezes, Cinfães e Resende, emparceirando assim nessa atual comunidade urbana, composta pela união dos municípios das antigas associações do Vale do Sousa, do Tâmega e do Douro Sul, numa fusão de proximidade entre concelhos, com relativas ligações ambientais e patrimoniais de tal conjunto destes 12 municípios do verdejante interior nortenho.

Enfraqueceu porém a importância de Felgueiras no ponto de vista de serviços públicos, quanto a casos como a justiça (tribunal) e sobretudo a parte de fornecimento elétrico (EDP) e a saúde, passando nuns casos a depender de Penafiel, noutros de Amarante e até de Lousada na saúde, pois, com o Agrupamento de Centros de Saúde (ACES) de Tâmega e Sousa, ficou a sede em Lousada, presentemente, nos tempos que correm dos anos deste início do século XXI. Sem esquecer o encerramento de estações de correio muito antigas, como eram a da Longra e a de Vila Verde, ficando apenas alguns postos de correio nalgumas sedes de Juntas de Freguesias, além das estações de Correios das cidades de Felgueiras e Lixa que se mantiveram.

Saliente contudo, na vida local, para a riqueza transformadora necessária ao quotidiano regional, em Felgueiras, houve sempre a agricultura, de cujas colheitas viveram as pessoas toda uma vida em sucessivas gerações, agora em vias de transformação. Nesta área salienta-se a cultura do vinho verde por todo o concelho, néctar característico desta terra inserida na sua região demarcada. De cuja associação é derivada a criação de instituições representativas, como a AFAVI e a Confraria do Vinho Verde.

Caracterização Geral de Felgueiras

O concelho de Felgueiras, com efeito, expande características de área de transição Minhota-Duriense, bem patentes no verde dos terrenos, predominando ruralidade, e, derivado às amenas condições de clima normalmente temperado e húmido, também na produção do vinho verde, em cuja demarcação Felgueiras está interligada.

Se em eras recuadas era essencialmente agrícola a laboração das gentes Felgueirenses, a partir de determinada época passou a sentir efeitos da industrialização, sem contudo perder dependência assinalável da lavoura. Foi nos anos vinte, do século XX, que Felgueiras teve inicial acesso à chamada revolução industrial, através das primeiras oficinas de ferraria e serralharia nascidas na antiga povoação da Longra, atualmente centro da vila da Longra; onde igualmente começou o fabrico de panificação em série, e se instalou a metalurgia como bandeira concelhia; chegando depois a Margaride a tecelagem, cerca da década de quarenta; até que nos anos cinquenta houve iniciação da confeção mecanizada de calçado, sector que estava distribuído pelo concelho nos antigos moldes artesanais e, então, passou a ser industrializado nas zonas de Torrados e Lagares, sobretudo; expandindo-se posteriormente a todo o concelho por fábricas de pequena e média expressão, tornando Felgueiras um pólo expoente desse ramo económico. De cunho tradicional existe também o ramo produtivo dos bordados da Lixa, oriundo de trabalhos manuais dos bordos espalhados desde a Serrinha a Airães, e as rendas riquíssimas da Trofa-Pombeiro, sendo estas duma tradição antiquíssima estarem expostas às portas das casas ao correr da estrada.

Esse potencial humano, que identifica os genes de Felgueiras, provém de tempos remotos, entretanto identificados, sendo a região habitada pelos povos antigos que desenvolveram a região nortenha do País. Porém os nomes que perduraram nas terras locais derivam dos tempos da Reconquista Cristã, dependendo dos Godos e descendentes germânicos que fundaram as originais propriedades senhoriais, através das quais se expandiram as freguesias e paróquias. Eram na época diversas as famílias feudais que originaram o povoamento das terras de Felgueiras, com destaque para a família Sousa, os Sousões de que falam os velhos alfarrábios e acompanharam o nosso primeiro rei, D. Afonso Henriques; como também os Monizes Coelhos, descendentes do aio Egas Moniz, tendo a região fortes vínculos à célebre Condessa Mumadona, senhora de grande parcela do Condado Portucalense.

Ao longo dos tempos, mergulhando na memória, Felgueiras teve particularidades que marcaram o seu percurso. Digna de ser preservada toda uma retaguarda histórica como a de Felgueiras, a sua herança espiritual está guardada em diversas publicações, mais por iniciativas particulares, que, felizmente, e na inversa de outras facetas culturais, servem de legado à posteridade.

Testemunham esse longínquo passado uma série de construções antigas, passando pelos solares senhoriais, e especialmente nas igrejas românicas ancestrais.

Pelo prisma da humanização, relatam usos e costumes as tradições populares, evidentes nas festas populares e paroquiais que abundam ainda, como também e sobremaneira no folclore, através de reconstituições efetuadas por Ranchos Folclóricos, agrupamentos vocacionados a servir de guarida à transmissão de tudo o que fez parte das tradições populares, embora geralmente mais usuais em danças e cantares, sem esquecer a área museológica ambiental de outros tempos.

Em estado ambiental o clima regional mais acentuado é do tipo temperado e de amplitude moderada, em região sob influência dum clima do tipo chuvoso em períodos húmidos de Outono/Inverno e com mais curta época de períodos secos de Primavera/Verão. Clima temperado que propicia boas condições para crescimento de espécies vegetais, de repercussão no próprio relevo acidentado, pontuado por montes e vales, arborizado e afrutado por plantações florestais, de pomares e sobretudo vinhas, numa ocupação de encosta e cumeada. Como ainda, no panorama físico, em termos geológicos, a sua área, alternando com destacáveis parcelas de solo arável e terreno bravio, é constituída essencialmente por formações de natureza granítica, mas também de outras, mais pequenas, como xistos e sítios de coberturas menos antigas.

Felgueiras, espalmando-se no genuíno vale dos cursos de água do rio Sousa, sob manto vivo de cores da natureza, onde o verde é vivo e o azul celeste mais azul, através de paisagem verdejante a refulgir radiação do azul do céu, reflete uma maneira de viver que tem características genuínas, de gente que vive no seu mundo, que não o mundo todo mas sem perder noção do universo em redor.

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Proclamam os “slogans”, conforme reza a literatura de promoção, que «Felgueiras é capital do calçado e solar do vinho verde». Será isso mas ainda mais, na realidade, pois a sua essência, com efeito, resulta num encontro com a história e a natureza.

Sem passado não poderia haver futuro, e uma terra que tenha alma, com gente que valorize a História, terá de ter quem saiba honrar a sua memória, para conhecer as verdadeiras potencialidades e possuir identidade.

ARMANDO PINTO

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