Espaço de atividade literária pública e memória cronista

domingo, 22 de maio de 2022

A minha avozinha Júlia de Jesus Pinto – Lembro como sempre… e a propósito relembro à chegada do dia de seu aniversário!

 

Tenho nas memórias mais antigas, das primeiras imagens da vida, a minha avozinha. A minha avó Júlia. Deitada na sua cama, onde estava há anos paralisada, mas sempre bem-disposta, com cara sorridente, dum modo santificadamente marcante. Ficara assim desde que sofreu algo que popularmente diziam ter sido um “ataque”, estando comigo ao colo, tinha eu coisa de quatro meses apenas. A partir dali fui crescendo a querer estar junto a ela e ela a gostar de me ter à sua beira. Ouvindo-a contar-me histórias de fazer sonhar. Lembrando-me bem de suas mãos branquinhas e enrugadas, de pele muito macia, de palavras ternas como réstia duma vida cheia de histórias. Quão me vem à memória que me embalava, com um cordel preso ao berço, conforme soube mais tarde como depois fazia ao meu irmão mais novo. E nós os dois, os rapa-caçoilas da família, ali andávamos junto à sua cama, a querer ouvi-la, entre umas vezes ou outras das vezes em que rezava ou ouvia o terço e as missas no rádio que o meu pai lhe colocara na mesinha de cabeceira. Sempre com muita calma a gerir dentro do possível as brincadeiras dos netos. Era como se no seu regaço eu descansasse desses tempos de infância, dum modo que pela vida adiante sei que me acompanha. Como naquela noite dum conto que conto no meu livro Sorrisos de Pensamento. E tenho bem presente como fazendo parte de minha alma, como sinto num fechar de olhos de pensamentos.

A minha avozinha, nascida em 1884, faleceu em 1969. Em cujos 85 anos seus eu ainda a pude ter comigo alguns anos da minha vida, que então ia em 14 primaveras. Embora na época de seu falecimento eu estivesse deveras longe, por via do percurso estudantil, episodicamente ausente em período formativo num estabelecimento interno nos arredores do Porto. Como também anotei na narrativa do conto daquele livro de descritivas histórias particulares. Lembrando coisas e loisas que me apeteceu contar. Embora pudesse ter contado mais, que não calhou. Como mais tarde calhou, mas aí de viva voz, na confirmação da casa onde nasceu o célebre mestre de música sacra Padre Luís Rodrigues, porque foi na mesma casa onde anos antes ela também nascera, como contava – na Casa da Fonte, do alto de Rande, onde sua mãe fora empregada nesses tempos que se perdem na penumbra das memórias. E está registado, conforme consta na narrativa oficial do seu registo de nascimento, do qual tenho prova na Certidão de Nascimento que guardo.

Assim, como no calor duma vela acesa da lembrança que me vem à ideia, lembro a minha avozinha, ao calhar da passagem do dia de seu nascimento, na passagem da data de seu aniversário natalício. Como que sentindo tê-la à minha beira, a proteger-me, na ternura da infância que quero fazer perdurar no colo de sua recordação.  

A minha avozinha - quando ainda andava a pé...

ARMANDO PINTO
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- Nota de curiosidade: Na fotografia antiga, com marca d' água sobreposta, vê-se por fundo visual a original fábrica MIT do Largo da Longra, estando à esquerda da imagem fotográfica o popular barracão onde funcionavam as oficinas da "fábrica velha" que deu origem à Mit/Metalúrgica da Longra. Cuja extremidade ia até à árvore grande que, após a construção da casa do sr. Verdial e fixação de seu negócio histórico, ficou conhecida por Carvalha da Padaria. (Foto que, de anteriores artigos publicados neste blogue, em 2014 e 2017, foi depois copiada para o livro "Felgueiras: 500 anos de Concelho", à página 150... mas sem a respetiva marca, por certo retirada em arranjo gráfico).

A. P.