Espaço de atividade literária pública e memória cronista

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Uma Foto com História Canónica – Crónica no Semanário de Felgueiras


Escrevemos esta semana para o jornal Semanário de Felgueiras mais um artigo, na colaboração regular a esse periódico da imprensa regional da nossa área de Tâmega e Sousa. Um artigo do qual, pela inerente relação direta com temas locais, aqui colocamos à consideração de eventuais interessados:

(Clicar sobre a coluna digitalizada, para ampliar)

= Dessa coluna, publicada na edição de papel do SF, colocamos também aqui, de seguida, o texto original datilografado, para maior facilidade de leitura:

Uma fotografia com história 

Como numa digressão por temas que falem à sensibilidade de interesse concelhio, no que diz respeito a assuntos da memória coletiva felgueirense, surge sempre qualquer motivo mais ainda não aflorado em memorações recentes. Numa toada com vez para redescobrir histórias, daquelas que até passam despercebidas, por vezes. 

É assim que damos sequência narrativa por curiosidades históricas relacionadas com tais assuntos, através de uma fotografia cuja luz refletida, na gravura, permite ainda vislumbre da captação registada. 

Com efeito uma foto, que sobreviveu e nos chegou às mãos, percorrendo passagens de vidas que sabemos terem existido, permite-nos dar olhos a aspetos de sensação memoranda, na proporção do peso e medida de interesse público. Quão se nos depara na imagem junta, intercalada no texto, a dar conta dum conjunto de condiscípulos de capa e batina, qual pose dum naipe de jovens estudantes do seminário diocesano portucalense em tempos que há muito já lá vão.


Ora, diante da foto em apreço, retratando esse grupo de seminaristas maioristas da década dos anos vinte, do século XX, deparam-se algumas caras que foram depois figuras distintas do clero da diocese do Porto. Pois que a imagem, já com evidentes efeitos do tempo, contém pose fixando alguns nomes importantes a nível nacional e, especialmente, também felgueirense. Tais os casos dos Padres João Ferreira da Silva e Luís de Sousa Rodrigues, ambos naturais do concelho de Felgueiras e inclusive colegas nos primeiros estudos enquanto alunos no antigo Colégio da Longra. Dois importantes sacerdotes felgueirenses, tendo o primeiro, P.e João, natural do Unhão, exercido maior quinhão de seu múnus sacerdotal como pároco de Rande e Sernande, até falecer em Rande corria o último fôlego do ano de 1973; enquanto o P.e Luís, nascido em Rande-Felgueiras, teve destacada ação pastoral na cidade do Porto, como reitor da igreja da Lapa, onde faleceu em 1979, depois de se ter revelado exímio compositor e profícuo estudioso musical, tornado à posteridade como mestre de música sacra. Mas não só, também, porque entre aqueles jovens seminaristas e futuros padres, ao tempo, estão visíveis outras fisionomias de marcantes personalidades, como por exemplo, para não alongar muito a lista, focamos apenas o caso de Francisco Moreira das Neves, natural do vizinho concelho de Paredes: o conhecido Padre Moreira das Neves que mais tarde foi rosto de programas da RTP, voz na Rádio Renascença e diretor do jornal católico Novidades, além de homem de letras com obra literária publicada, tal qual foi conhecido autor de letras de muitos cânticos sempre entoados. Nome ligado à campanha dos cruzeiros da independência e imortalizado como Poeta da Eucaristia. 

Todos eles, em suma, irmanados em equipa então ainda em formação, duma fornada que deu pão bastante para as mesas dos altares. Sabendo que os referidos estudantes seráficos foram também contemporâneos de futuros bispos, como chegaram a ser D. Sebastião Resende, Bispo da Beira, e D. António Ferreira Gomes, mítico Bispo do Porto, os quais com aqueles seus colegas compartilharam espaços formativos em cursos (anos) pouco mais adiantados. Até que, na posterior colheita dos frutos, resultante foi em 1929 a ordenação do P.e João Ferreira da Silva (o 5º da fila do meio, a contar desde a esquerda, na foto anexa) e do seu companheiro Moreira das Neves (3º em primeiro plano, contando da esquerda também), como em 1930 do P.e Luís Rodrigues (último à direita, na primeira fila). 

Propicia assim a imagem que, através dela, se evoquem pessoas que da lei da morte se libertaram pelos tempos fora, na eternidade também derivada de haverem passado pelo mundo deixando rasto de luz cintilante, por via de seu percurso de vida e obra. Grandes homens que conquistaram direito à admiração e eterna recordação. 

© ARMANDO PINTO