Espaço de atividade literária pública e memória cronista

sexta-feira, 22 de julho de 2016

Memórias personalizadas à Volta… de afeições – em artigo no SF.


Está quase a ser dada a largada para mais uma Volta a Portugal, a popular corrida de bicicletas que percorre o país de cima a baixo e para os lados, não por todo o lado, por tal não ser possível no limite dos dias em que acontece, mas em parte do território, enquanto desperta atenção de boa parte do povo que segue os acontecimentos públicos. Com gente inrteressada e entusiasta em diversos pontos do país, incluindo Felgueiras. E, dentro dessa proximidade, calha desta vez fazer alusão a algo relacionado, na colaboração normal ao jornal Semanário de Felgueiras.

Disso, que narra de forma mais resumida (por ser em artigo de jornal) uma recordação que em tempos desenvolvemos noutro local, deixamos correr a descrição que anda…

Às voltas da Volta…!

Estamos a chegar ao tempo da Volta a Portugal em bicicleta, no desporto ciclista que este ano detém grandes atenções derivado ao reaparecimento de dois grandes clubes de tradições nacionais. Voltando às estradas todo o colorido e entusiasmo que transportam nos pedais os ciclistas, até diante dos olhos da assistência que acorre às bermas das estradas. Apesar de no nosso caso a prova-rainha do ciclismo português não passar este ano por estes sítios felgueirenses, onde em tempos houve pergaminhos de bom material.

Fazendo ténue travagem no tempo, recuamos a memórias de tempos em que o ciclismo teve impacto na nossa terra, pelos idos anos cinquentas e sessentas do século XX, desde as andanças do felgueirense Artur Coelho com a camisola amarela, por diversas vezes, até ao entusiasmo gerado com a presença de outros conterrâneos na Volta, como foi com Joaquim Luís Costa e Albino Mendes, por exemplo. Mas também com outras cambiantes…

= Os Felgueirenses Artur Coelho, Joaquim Costa e Albino Mendes, que "fizeram" a Volta a Portugal nas equipas do FC Porto e do Académico, respetivamente como se vê pelas camisolas. Artur Coelho desde 1955 até 1961, Joaquim Costa em 1961 e 1962, e Albino Mendes em 1964 =

Então, chegado o pino do Verão, quando os dias se tornam calorentos na pachorra estival, por norma é tempo de Volta a Portugal em bicicleta, passando o país a ser percorrido pela prova ciclista que se tornou conhecida e apreciada, saindo o povo às estradas para ver passar os corredores, naquela correria que por estes dias tem espaço nos meios de comunicação social. Sendo em época veraneante a popular Volta um corolário da temporada desportiva, enquanto o futebol não volta. E estando-se então neste coincidente período, a memória pessoal recua a tempos de esplendor dessas corridas. Qual passarinho batendo asas e levando-nos a tempos de outrora, sem sairmos da frente do teclado em que damos largas a estas memorizações. Vindo a calhar recordar um caso personalizado, mas propício. Sobre um tio que era um caso à parte nessas coisas, apaixonado pelas corridas de ciclismo. Um tio com quem sempre mantive uma proximidade interessante, acabando por sempre vir à baila o tema do ciclismo, comigo, um dos seus sobrinhos mais novos, em conversas que andavam para trás e para a frente, sem muito saírem do mesmo, que era ele recordar o Fernando Moreira, o seu grande ídolo de todos os tempos, e puxar pelo que eu sabia, interessado por tudo o que fosse assunto desportivo… do clube que também nos unia. Mesmo sem eu ser desse tempo, de antigamente, como ele dizia, mas por aqui quem recorda estas facetas gostar de andar a par de tudo, para não jurar nada falso.

Fernando Moreira era o grande ciclista que em finais da década dos anos quarenta encantava o país, havendo em 1948 vencido a Volta a Portugal, com uma perna às costas, no dizer do meu tio. E só não ganhara mais Voltas por azares, nuns casos, e noutros por ausência, devido a ter corrido pelo estrangeiro, no Brasil e Marrocos, especialmente, por esses tempos. Mas vencera ainda algumas clássicas e outras provas do calendário do ciclismo português. E esse meu tio idolatrava o Fernando Moreira sem nunca o ter visto de perto e julgo que nem de muito longe, ao certo. Ele era um acérrimo admirador desse corredor que apaixonava multidões, nesses tempos de outrora e como tal era figura pública que gerava entusiasmo por todos os lados. Contando meu tio peripécias que ouvira sobre ele e pelo que andava em romances de cordel, duns panfletos que em tempos antigos se vendiam nas feiras. Nutrindo aquele meu tio uma grande simpatia por esse nome sagrado, como entusiasta de suas façanhas. À maneira do que hoje se considera no conceito de fã, aportuguesando o inglesismo fan, admirador do Fernando Moreira como era aquele meu tio.

Pois com ele, era sempre o Fernando Moreira isto e o Fernando Moreira mais aquilo, apesar dele ter deixado de correr há muito, já nesse tempo. Mas, mesmo assim, quando passavam corridas de bicicletas por aqui, à nossa porta ou perto, onde víssemos, ele, que não faltava nunca e postando-se à minha beira, incentivava os corredores gritando pelo Fernando Moreira… como se esse fosse um grito de guerra, seu talismã.

ARMANDO PINTO

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