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domingo, 15 de junho de 2025

Curiosidades Históricas Locais: Primeira pessoa sepultada no Cemitério Paroquial (no séc. XlX) e primeira na deposição de abertura (no séc. XXl) da Capela da Ressurreição de Rande

 

Entre particularidades da História Local, convirá deter alguma importância a quaisquer minudências de destaque, pois que em qualquer pormenor se pode rever o passado. Nesse aspeto, as curiosidades de uma primeira vez em que algo se estreou, de qualquer acontecimento ou ocorrências, quiçá as primeiras de que é possível colher conhecimentos, proporcionam efetivo interesse à posteridade – quais histórias marcantes de uma primeira vez.

(Assim sendo, vamos aqui recordar um tema que constou no meu anterior blogue – um que desapareceu da Internet por artes de “hackers”, talvez políticos ou alguém sem gosto por verdades, há uns anos, e então levou depois à criação deste sucessor com mais proteção…)

Ora, quanto ao tema que vem ao caso, entre curiosidades locais: Porque não é viável estender o alcance, neste caso, cingimo-nos a demarcar um exemplo, do que nos foi possível estudar (por ser naturalmente da zona que melhor conhecemos, em particular), anotando então caso que anotamos como “Curiosidades de Rande – Felgueiras”, a propósito da abertura da capela mortuária da freguesia referida, em 2008, até tempos passados do surgimento do cemitério paroquial da mesma, benzido e estreado em 1885, então com 123 anos de distância entre ambas as ocorrências. Agora já 140 anos desde a abertura do cemitério paroquial de Rande e 17 da inauguração da Capela da Ressurreição de Rande, vulgo mortuária (na conta de agora, em 2025).

Direcionando pois as atenções para temas que despertem particular curiosidade, desta feita apraz incidir fixação e alguma recordação sobre esses dois factos que se interligam na distância de mais de um século, desde há cento e tal anos. Quanto aconteceu e sucede com dois marcos memoriais da paróquia e freguesia de S. Tiago de Rande, como foi antigamente na abertura do cemitério paroquial, em 1885, e ultimamente com a entrada em funcionamento da capela mortuária da freguesia, em 2008. Duas efemérides merecedoras de mais um relance sobre factos históricos da memória coletiva.

Interesse, este, que revela quão significativo se torna o registo de curiosidades assim, qual interessante resultado deriva do conhecimento das veras notícias de alcance à posteridade, que fazem situar algo no tempo e transportam significado aos vindouros… Pelo menos, para quem tem raízes familiares e afetivas nas freguesias, a quem a terra natal e / ou de residência diz muito, senão alguma coisa porventura.

Não vamos recuar aos antecedentes, escusado que será rememorar o que decorreu nos tempos em que os enterramentos eram feitos no interior e nos adros das igrejas, em todas as freguesias, até que foram sendo feitos os chamados campos santos, que no caso de Rande foi em 1885 que foi concluído o cemitério paroquial – conforme registamos no livro que narra a história da região, o “Memorial Histórico de Rande e Alfozes de Felgueiras” (escrito durante vários anos e editado em 1997). Relembramos apenas, aqui, que nesse mesmo volume referimos o nome da primeira pessoa que foi sepultada no cemitério de Rande: «Rosa, da Longra – acaso conhecido por ser madrinha da avó materna do autor, a quem sua mãe contou tal curiosidade…» (conf. página 177, do referido livro). Podendo, agora, acrescentar-se mais dados relativos, descortinado que foi o respetivo registo no arquivo distrital, como prova de que a transmissão oral conta muito e a tradição vale mesmo.

Importará, para enquadramento, relembrar alguma ligação de certas famílias pioneiras e nomes sempre familiares, conforme descrevemos num conto colocado no livro “Elevação da Longra a Vila” (ed. 2003).

Ora, com essa retaguarda do passado, atente-se no que ficou anotado no inicial registo do Livro de Óbitos (contendo termo de abertura assinado pelo Vigário da Vara, desse tempo), que fixou o primeiro enterramento no cemitério paroquial de Rande, relatando o falecimento do dia anterior (com grafia da época): «Aos dezanove dias do mês de Agosto do anno de mil oito centos e oitenta e cinco, às oito horas da noite, no lugar da Longra desta freguezia de Sam Thiago de Rande, Concelho de Felgueiras, Dioceze do Porto, falleceu, tendo recebido os sacramentos da Santa Madre Egreja, um indeviduo do sexo femenino por nome Roza Moreira de Sampaio, da idade de trinta e três annos, solteira, fiadeira, natural desta freguezia, filha legitima de António Cardoso de Sampaio, recobeiro, natural da freguezia de Sam Verissimo de Lagares, e de Mattilde Moreira de Amorim, lavradeira, natural também desta freguezia de Rande, a qual foi sepultada no Cemiterio desta freguezia. E para constar lavrei em duplicado este assento, que assigno. Era ut supra. O Parocho, (P.e) António Dias Peixoto d’Azevedo.»

= Cópias, em dois fragmentos (do mesmo) referido registo, do falecimento da pessoa que primeiro foi sepultada no cemitério de Rande, em Agosto de 1885 (falecida a 19 e naturalmente sepultada no seguinte dia 20 desse mês e ano).

Descrevemos o caso, e nomeadamente personalizou-se o apontamento, por ter passado todos esses anos já e não haver familiares diretos, da pessoa em apreço. Embora naturalmente haja descendentes em graus seguintes.

Na atualidade, sabendo-se que a capela mortuária foi benzida solenemente no dia 18 de Maio de 2008, é do conhecimento público que teve serventia pela primeira vez, como deposição funerária, ainda no mesmo ano, nos dias 6 e 7 do mês de Setembro (obviamente, dias do falecimento e do funeral respetivo).

Pela proximidade evita-se referir mais detalhes personalizados, mas para que se saiba à posteridade, sendo público o referente passamento, é justo que também se registe os respetivos dados, para constar historicamente. Tendo a dita Capela da Ressurreição de Rande sido usada pela primeira vez com o velório do sr. António Ribeiro, de 82 anos incompletos (14-09-1926 / 06-09-2008) e pessoa muito respeitada, inclusive muito interessado nos assuntos da terra (e que, como tal, chegou a oferecer apreciável material para o museu original da Casa do Povo), o qual viveu durante anos no lugar das Alminhas, da povoação da Longra, e faleceu em sua casa do lugar da Figueira (depois classificada oficialmente por Travessa com o mesmo nome), da atual vila da Longra.

Posto isto, em suma, e tomando o todo pela parte (podendo cada qual fixar as curiosidades das suas próprias freguesias), lega-se ao conhecimento e se preserva assim, nestas anotações, mais umas mercês das particularidades da terra de todos nós, do concelho de Felgueiras.

Obs.: Veio à ideia procurar e recolocar este artigo, escrito há já uns anos, por aqui ainda recentemente esse caso da primeira pessoa sepultada no cemitério de Rande ter dado azo á descoberta de dados familiares. A propósito de contactos tidos com um amigo que me contactou e encontrou por andar a fazer pesquisas sobre sua família, de antepassados que no princípio do século XX tinham ido para o Brasil, e daí o caso em referência ter proporcionado outras extensões familiares. Outra história que um dia merecerá também referências.

Armando Pinto

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