Espaço de atividade literária pública e memória cronista

sexta-feira, 23 de junho de 2017

Coisas... que têm de ser ditas (escritas) - em "artigo de opinião" no Semanário de Felgueiras


Perante o ambiente vivido e sentido pelo país em tempo de calor e consequentes efeitos dos incêndios, mais as asneiras ambientais que têm sido e continuam a ser permitidas no panorama da nossa região felgueirense, no caso vertente, saiu da escrita do autor um texto relacionado, procurando chamar à razão quem de direito, enquanto é tempo e antes que haja qualquer coisa mais negativa... que para memória presente e futura inclui espaço habitual de opinião pessoal, a pensar no coletivo, com lugar no interior do jornal Semanário de Felgueiras.

Dessa crónica, vinda a público na edição do SF desta sexta-feita  23 de junho, véspera de São João e de chegada da respetiva noitada festiva, partilhamos aqui o respetivo conteúdo. Registando assim o artigo desta semana, do qual, por via das orvalhadas da memória, colocamos imagem da própria coluna impressa na página 10 do SF e, para efeitos devidos, reproduzimos o texto:
   
Cá umas Coisas…

Na língua tradicional portuguesa há um termo, coisa, que define diversificadas existências e realidades, costumando-se generalizar os mais variados temas como coisa, assim. Dependendo e simplificando. O que é preciso é ter jeito para a coisa, entre diversas coisas. Desde a chamada coisa pública até qualquer coisa.

Ora, entre muitas coisas há que ter em atenção a responsabilidade pública. Algo que vem à tona das atenções sempre que surge qualquer coisa, qual ocorrência mais tocante. Como ainda por estes dias recentes aconteceu com a catástrofe de Pedrógão, pela zona de Leiria, num pavoroso incêndio que atingiu vasta área florestal e urbana dos concelhos vizinhos, resultando em tragédia que ceifou dezenas de vidas e matou a vida de diversas localidades. Apesar das costumadas desculpas de causas naturais e ações humanas, por entre aparecimento de figuras públicas a lamentar o sucedido e manifestações de solidariedade que são apenas o que são, sem que haja um rastreio ao fundo das questões. Vindo então à ideia o que tem acontecido em décadas de anos recentes, com a profusa plantação de árvores que não trazem benefícios, como as vagas de eucaliptos que espalham suas raízes e secam tudo em redor, altaneiros entre pares erguidos por certos interesses, e de modo particular aquelas árvores esguias que espalham pelo ar uma espécie de pó saído de camadas de algodão desfeito, aquando da florescência, que têm sido plantadas através de fundos da CEE. Arvoredo que, em linguagem direta e sem necessidade de indicação de respetivos programas de dinheiros provindos da política da comunidade europeia, estão a alterar o meio ambiente natural e a colocar em risco a vida tradicional.

Como é possível que tenha havido aprovação e continue a ser autorizada a existência de manchas de árvores de grande porte entre casas, no meio de áreas urbanas, como até pelo concelho de Felgueiras existe, inclusive em território duma vila, pelo menos?!  O que aconteceu e está diante dos olhos e dos sentidos, a troco de umas notas para quem interessam tais proventos, das plantações em moda, que alteram a fisionomia desta zona verdejante de Entre Douro e Minho, na área do Douro Litoral que agora está a ser retirada mais para o interior do país na chamada zona de Tâmega e Sousa das modernas classificações de siglas Nuts.

Mas, assim sendo, já houve quem meditasse que pode haver uma catástrofe resultante de tal implantação desse arvoredo tipo selva, em falso núcleo frondoso no meio de localidades populosas? E caso aconteça qualquer catástrofe, quem será responsabilizado, se só os proprietários dos terrenos, obviamente quem tem grande lucro com esses fundos, ou também quem aprovou e quem deixa estar aquilo, na tão célebre política de "laissez faire laissez passer"… corporizando mau grado uma nefasta simbolização do liberalismo económico, em versão mercantilista do capitalismo de mercado europeu chegado aos mais recônditos sítios do interior profundo de Portugal.

Hoje em dia, com a informatização de tudo, não é difícil saber quem é quem e quem teve interferência ou influência, como quem são os donos das terras e os autores e mediadores dos projetos.

Antigamente nos dias de Santos Populares era um regalo de alma as edificações das cascatas sanjoaninas, de ilustração sentimental aos folguedos, levando o povo a deitar nos arremedados lagos das viçosas cascatas umas respetivas moedinhas da sorte, para bom augúrio, entre festanças dos saltos das fogueiras e danças de roda, enquanto se cheiravam ramos de hortelã e cidreira colhidas nas noites de São João e São Pedro. Ao passo que nos dias que correm, com o arvoredo dos dinheiros da CEE, nem se conseguem já vislumbrar as cascatas de casas que encostas acima embelezavam os cenários de nossas vilas e povoações. Obviamente com imputações, havendo sempre responsabilidades, pois tudo tem retaguarda, tal como o vinagre vem de vinho que foi bom.

ARMANDO PINTO