Espaço de atividade literária pública e memória cronista

quinta-feira, 17 de julho de 2025

Lembrança de (mais) um Longrino de tempos idos: o senhor Francisco – adepto do “Setubre"!

No volume das diversas memórias locais há bom quinhão de pessoas que foram nossas conhecidas, mas entretanto desaparecidas, sobre as quais ficaram réstias de admiração conterrânea, no sentido que converte e torna doce o coração humano. Em acréscimo à memória coletiva, sendo que sem passado não haveria presente nem futuro e a história é memória identificativa.

Vem assim a talhe lembrar, de tantas e diversas pessoas da Longra que conhecemos, desde tempos da infância (na lembrança pessoal do autor destas linhas escritas), desta vez um senhor que conheci e era pai de amigos de meu tempo de escola, além de outros mais velhos, com quem me relacionei sempre muito bem, com toda a família. Vindo a propósito evocar esse senhor por, na linha de artigos anteriores aqui dedicados à antiga “Liga de Rande”, ele também ter pertencido a essa organização célebre que foi a Liga Eucarística dos Homens de Rande. Tal o caso do senhor Francisco Azevedo, que morava no lugar do Montinho da Longra, na encosta por trás do Correio da Longra. O senhor Francisco que na foto de cima posou em foto estival, com seu semblante alegre, junto à esposa. 

Pois, entre a documentação guardada da Liga Eucarística (como está referido num artigo reportando o caso, de me ter sido dado para guardar o acervo da mesma, que um dia quero oferecer à paróquia quando houver um arquivo museológico organizado para exposição pública) consta também um cartão do senhor Francisco. Com seu nome "Francisco de Azevedo”, mais o sítio da residência, Longra. Aparecendo em baixo repetido o apelido familiar, talvez por na época das máquinas de escrever mecânicas ser moroso estar a safar os lapsos. Sendo esse cartão, que resistiu ao tempo, do ano de 1967. Contendo no verso os respetivos carimbos de sua frequência mensal à comunhão, como fazia parte das atribuições do grupo.

O senhor Francisco, Francisco de Azevedo, nascido no dia 1 de Novembro de 1914 em Torrados, no lugar de Souto Longal, filho de Joaquim de Azevedo e Leonor Moreira, viera para a Longra, depois que casou com Maria Faria, em 1937. Sendo ela natural de Sernande e ele de Torrados. Passando o casal  a residir na Longra onde ele trabalhva em seu mister artesanal, numa oficina caseira de fazer calçado à mão. E onde criaram sua prole de muitos filhos. Ficando a família com fortes laços entrelaçados na Longra.

= Casal Francisco e Maria Faria com seu filho Anónio, o bairrista sempre referido por enquanto vivo  ter assinalado anualmente o aniversário da Longra com lançamento de bombas-foguetes à hora em que em 2003 houve a aprovação da Vila da Longra... =

Ora o senhor Francisco era um dos antigos personagens locais, entre figuras públicas da ancestral convivência no Largo da Longra. E sobretudo era apreciado por sua simpatia, sempre risonho, embora por vezes olhando para trás a ver se a esposa o não vinha chatear. Sendo ela pessoa de caráter forte e ele um “bom serás”, como se dizia de pessoas para quem tudo estava bem e não queria chatices com ninguém. E sobretudo era conhecido por ser adepto do Setúbal, o “Setubre” como ele dizia, com graça. Sendo simpatizante do clube de futebol Vitória de Setúbal, desde que num ano, em 1965, o Setúbal ganhou a Taça de Portugal, ao derrotar o Benfica por 3-1 na final, contra as expetativas. E tal resultado foi do gosto de muita gente, havendo na Longra muitos portistas e alguns sportinguistas, que naturalmente gostaram do Benfica perder. Enquanto ele achou muita piada ao caso, a ponto de passar a gostar do Setúbal. Algo que não esquece por nesse ano eu e meus colegas de escola primária andarmos em preparação para o exame final da 4.ª Classe e nas esperas pela professora termos acompanhado isso… Tendo esse jogo da final da Taça sido na véspera da prova oral de nosso exame. Numa época em que o Futebol Clube de Felgueiras andava também na disputa do Campeonato Distrital para subir de Divisão (que conseguiria dias depois) e tudo isso andar ao tempo nas conversas das pessoas que paravam no Largo da Longra. Sendo o senhor Francisco um caso à parte, pela sua constante boa disposição e, mais raro, como único adepto na região daquele Vitória de Setúbal do sul do país, o seu “Setubre”!

Como recordar é (re)viver, ilustra-se esta memória com algumas fotos, que até fazem saudade de tanta gente conhecida, que viveu na Longra e perdura nas ternas lembranças locais.

= O senhor Francisco, bem no centro de foto familiar, no casamento de seu filho António e nora Luísa. Numa pose de conjunto com muita gente familiar da Longra desses tempos idos... =

= Pose familiar, com o senhor Francisco e esposa, junto a seu filho António e nora Luísa, mais a sogra do filho, a célebre Quininha que fez partos de muita gente da região... =

O senhor Francisco de Azevedo faleceu na freguesia de Rande, no dia 29 de Novembro de 1977. Descanse em paz!

Armando Pinto

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