No volume das diversas memórias locais há bom quinhão de
pessoas que foram nossas conhecidas, mas entretanto desaparecidas, sobre as
quais ficaram réstias de admiração conterrânea, no sentido que converte e torna
doce o coração humano. Em acréscimo à memória coletiva, sendo que sem passado
não haveria presente nem futuro e a história é memória identificativa.
Vem assim a talhe lembrar, de tantas e diversas pessoas da Longra que conhecemos, desde tempos da infância (na lembrança pessoal do autor destas linhas escritas), desta vez um senhor que conheci e era pai de amigos de meu tempo de escola, além de outros mais velhos, com quem me relacionei sempre muito bem, com toda a família. Vindo a propósito evocar esse senhor por, na linha de artigos anteriores aqui dedicados à antiga “Liga de Rande”, ele também ter pertencido a essa organização célebre que foi a Liga Eucarística dos Homens de Rande. Tal o caso do senhor Francisco Azevedo, que morava no lugar do Montinho da Longra, na encosta por trás do Correio da Longra. O senhor Francisco que na foto de cima posou em foto estival, com seu semblante alegre, junto à esposa.
Pois, entre a documentação guardada da Liga Eucarística (como
está referido num artigo reportando o caso, de me ter sido dado para guardar o acervo da mesma,
que um dia quero oferecer à paróquia quando houver um arquivo museológico
organizado para exposição pública) consta também um cartão do senhor Francisco.
Com seu nome "Francisco de Azevedo”, mais o sítio da residência, Longra.
Aparecendo em baixo repetido o apelido familiar, talvez por na época das
máquinas de escrever mecânicas ser moroso estar a safar os lapsos. Sendo esse
cartão, que resistiu ao tempo, do ano de 1967. Contendo no verso os respetivos carimbos de sua frequência mensal à comunhão, como fazia parte das atribuições
do grupo.
O senhor Francisco, Francisco de Azevedo, nascido no dia 1
de Novembro de 1914 em Torrados, no lugar de Souto Longal, filho de Joaquim de Azevedo e Leonor Moreira, viera
para a Longra, depois que casou com Maria Faria, em 1937. Sendo ela natural de
Sernande e ele de Torrados. Passando o casal a residir na Longra onde ele trabalhva em seu
mister artesanal, numa oficina caseira de fazer calçado à mão. E onde criaram sua
prole de muitos filhos. Ficando a família com fortes laços entrelaçados na Longra.
Ora o senhor Francisco era um dos antigos personagens locais,
entre figuras públicas da ancestral convivência no Largo da Longra. E sobretudo
era apreciado por sua simpatia, sempre risonho, embora por vezes olhando para
trás a ver se a esposa o não vinha chatear. Sendo ela pessoa de caráter forte e ele
um “bom serás”, como se dizia de pessoas para quem tudo estava bem e não queria
chatices com ninguém. E sobretudo era conhecido por ser adepto do Setúbal, o “Setubre”
como ele dizia, com graça. Sendo simpatizante do clube de futebol Vitória de
Setúbal, desde que num ano, em 1965, o Setúbal ganhou a Taça de Portugal, ao
derrotar o Benfica por 3-1 na final, contra as expetativas. E tal resultado foi do gosto
de muita gente, havendo na Longra muitos portistas e alguns sportinguistas, que
naturalmente gostaram do Benfica perder. Enquanto ele achou muita piada ao caso, a
ponto de passar a gostar do Setúbal. Algo que não esquece por nesse ano eu e
meus colegas de escola primária andarmos em preparação para o exame final da 4.ª Classe
e nas esperas pela professora termos acompanhado isso… Tendo esse jogo da final da Taça sido na
véspera da prova oral de nosso exame. Numa época em que o Futebol Clube de Felgueiras andava
também na disputa do Campeonato Distrital para subir de Divisão (que conseguiria dias depois) e tudo isso
andar ao tempo nas conversas das pessoas que paravam no Largo da Longra. Sendo
o senhor Francisco um caso à parte, pela sua constante boa disposição e, mais raro, como
único adepto na região daquele Vitória de Setúbal do sul do país, o seu “Setubre”!
Como recordar é (re)viver, ilustra-se esta memória com
algumas fotos, que até fazem saudade de tanta gente conhecida, que viveu na Longra
e perdura nas ternas lembranças locais.
O senhor Francisco de Azevedo faleceu na freguesia de Rande, no dia 29 de Novembro de 1977. Descanse em paz!
Armando Pinto
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