Espaço de atividade literária pública e memória cronista

sábado, 25 de junho de 2022

Artigo jornalístico no Semanário de Felgueiras sobre “Tradição das Cascatas dos Santos Populares”

Em plena quadra dos Santos Populares, na proximidade do terceiro dos três e mais chegado à área felgueirense, o São Pedro da festa do concelho de Felgueiras, versa sobre tema relacionado o mais recente artigo da colaboração há muito tida com o jornal que se publica em Felgueiras; em mais uma crónica das de vez em quando escritas aqui pelo autor para o jornal Semanário de Felgueiras; agora com publicação no número desta sexta-feira 24 de junho de 2022. Edição da qual haverá já conhecimento público por quem compra o jornal nos locais de venda, mas não tanto pelos assinantes, visto a distribuição do correio em Felgueiras andar atrasada mais de uma semana, estando a bater recordes de atrasos, no descaminho e sem vergonha que estão a ter certas empresas subsidiadas pelo governo português, desde há tempos a esta parte. Quase a irem ao ar, perante o desinteresse de quem de direito, como balões lançados em noitadas dos Santos Populares.

Ora, então o artigo de opinião historiadora, no Semanário de Felgueiras, desta vez teve e tem como tema a "Tradição das Cascatas dos Santos Populares" (que para aqui se tranporta em recorte do artigo publicado e com o texto original.)


Tradição das Cascatas dos Santos Populares

Na roda do ano, chegada a época de transição final da Primavera para a entrada do Verão, decorre por estes dias da quinzena festiva mais popular as chamadas festas dos Santos Populares. Uma temporada cheia de usos e costumes, com as festas a Santo António, S. João e S. Pedro, a partir dos festejos Antoninos, passando pelas tradições Sanjoaninas até terminar na parte dedicada a S. Pedro, que muito diz ao sentimento felgueirense. Desde a antiga tradição da colocação de vasos em locais públicos, após sua retirada às escondidas de casas de moças solteiras, como era a ideia inicial em tempos idos pelos moços namoradeiros. Até às cascatas feitas em arraiais festivos das festas de S. João, primeiro, e depois S. Pedro, nas mais diversas localidades do entre Douro e Minho (visto ao Santo António ser mais acotiado a edificação de tronos).

Com efeito, entre os aspetos dos certames anuais, havia essa feição das cascatas. Ao jeito de toscas lapinhas enfeitadas. Tal como no Natal é de bom-tom os presépios, dentro de casas de famílias e sítios de confluência pública, já na quadra dos festejos nortenhos dos santos populares primam as cascatas, feitas com elementos da natureza a cobrir o altar improvisado dos santos da afeição popular. Algo que por estas bandas era mais acostumado pelo S. João e por vezes no S. Pedro, embora na sede do concelho de Felgueiras não seja muito usual, mesmo sendo a festa do concelho a do santo da pedra angular da Igreja. Valendo mais na tradição felgueirista o cortejo das flores, que desde a antiga vila e atual cidade de Felgueiras sobe em tons floridos através de cestos, cestas e tudo o que leve flores em mãos e à cabeça do povo felgueirense. Contudo, com a amplitude desse ar alegre das cantorias pela encosta acima, como um suspiro de fragrância natural, até nem ficava mal haver uma cascata grande em sítio central, com S. Pedro a abençoar a mística felgariana, por entre a folhagem e água corredia típica dessa figuração, com arremedos de casario da costeira do monte de Santa Quitéria.

Essa imagem, que passa pelos olhos do imaginário ainda presente na recordação, transporta pois aos tempos em que era acostumado fazer-se as tradicionais cascatas, com musgo de rio a cobrir socalcos, ramalhada a fazer vez de arvoredo, pedrinhas e seixos em fundo e bicas de água a esguichar, ao modo de chafariz, enquanto em torno de lagoas formadas por essa humidade saltitante se espalham figuras de estatuária típica, os chamados bonecos de barro de feição popularucha. Deixando no ambiente e pelo chão a primavera florida, ao passo que as figuras de barro preenchem o cenário em forma humana. E claro, como diz a tradição, qualquer linda Cascata de Santos Populares, à maneira de sempre e que se preze, tem que ter os típicos bonecos de barro a representar festejos, costumes e cenas típicas, os músicos da Banda filarmónica, a igrejinha ao cimo da colina, os vendedores típicos, a mulher da cesta do farnel, o fogueteiro, a lavadeira, etc. etc. e… o "Cagão" (como é chamado, em linguagem vernácula, e não há outra forma de dizer, pois assim é conhecido na gíria do tipicismo coevo). Bonecos esses representativos na fidelidade à ancestral imagem castiça. Quais quadros da realidade de outrora, mas por vezes ainda atual, deixando a bom entendimento o que sai de maneira genuína, no falar verdadeiro. Como quem abre os olhos ao que ressalta do pensamento.

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Observação – em Post-scriptum:

Como quem conhece as tradições e no caso das cascatas tradicionais até entende do assunto, é sabido que numa cascata de jeito, ao sabor popular, não pode faltar a figura do boneco representativo do tal “cagão”, em tom de galhofa… também ultimamente, embora em aspeto menos alegre, se sabe que ultimamente na Longra tem havido um “cagão” que conspurca o lavadouro público. Alguém, que nem é da Longra mas mora nos arredores e na passagem, sem esperar por poder chegar a casa ou pelo menos por dever ser limpo e não sujar o que é de todos, tem andado a emporcalhar aquele local público, deixando assim nauseabundo o ambiente próximo e a provocar doenças públicas por ali… em torno do lavadouro público. Aproveitando o facto desse sítio ser muito esquecido pelas entidades responsáveis oficiais. Algo que demonstra como o conhecimento da história nem é muito do passado, antes faz muito presente a atualidade e o futuro. 

ARMANDO PINTO

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