Espaço de atividade literária pública e memória cronista

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

O Comboio que passou na Longra...!


Ainda é muito lembrado, na memória transmitida, o comboio do Vale do Sousa que passou por terras do concelho de Felgueiras durante as primeiras décadas do século passado. Tendo sido comemorado também ainda recentemente, ao correr do ano 2014, o centenário da sua chegada ao concelho de Felgueiras, primeiro à Longra, depois à então vila de Felgueiras e por fim à Lixa, em 1914.

Desse facto tivemos agora conhecimento dum poema alusivo, da lavra dum felgueirense nascido em Varziela, que precisamente refere em narrativa poética a passagem desse comboio por esta zona, da Longra para Varziela e vice-versa, naturalmente, nas viagens de e para Felgueiras. Sabendo-se que essa linha férrea vinha, por um lado, desde Penafiel, passando (onde tinha estações) em Lousada, Longra, Felgueiras e Lixa, e do outro lado de Penafiel até Entre os Rios.

Assim, eis aqui o belo poema do Dr. Mendes Gomes:

O comboio da minha aldeia…
Deixou de passar à minha aldeia o comboio…

Fumegava tanto, de contente.
E rugia lá da Longra.
Bebia água, de hora a hora,
Quer de Inverno quer de Verão.

Tinha faróis amarelos.
Rasgavam o nevoeiro.
Alumiavam a escuridão.
Thunca thum!...Thuca thum!...

Era belo. Carregava a vida.
Fazia estrondo.
Era manso e sossegado.

Era classista.
Uma carruagem de primeira.
Com balaústres finos
E assentos de damasco.
Só para os ricos e poderosos.

Tinha a segunda.
Os bancos de madeira envernizada.
Eram duros.
Cheiravam bem.
Eram de pinho.

E na terceira,
Havia galinhas engaioladas.
E cestas de vime
Com dúzias de ovos.
Iam para feira.

Eram a única fonte monetária.
Para o bacalhau e o azeite.
As couves saíam da horta…

O comboio sempre à hora…
Que ia e vinha.
Gente diferente…
Era uma festa em cada dia.

Tudo se foi…
Até as linhas.
E eram de aço.

Berlin, 21 de Setembro de 2015

Jlmg

Joaquim Luís Mendes Gomes

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Armando Pinto