Espaço de atividade literária pública e memória cronista

domingo, 29 de junho de 2014

Cortejo das Flores de Felgueiras


O tradicional Cortejo das Flores é o número mais vistoso do programa das Festas do S. Pedro de Felgueiras. Autêntico cabeça de cartaz da Festa do Concelho felgueirense.

De cunho muito antigo, esse desfile realiza-se na manhã do dia principal, em pleno feriado municipal, desde o centro da cidade de Felgueiras em direção ao sobranceiro monte de Santa Quitéria, onde tem lugar o arraial da festividade em apreço, fazendo convergir grande afluência de participantes e assistentes.


Pelo meio da manhã do dia de S. Pedro, lá rumam pela encosta acima, as representações das freguesias, associações e demais coletividades felgarianas, com raparigas jovens, mulheres feitas e até crianças levando molhos de flores em açafates à cabeça e cestas nos braços, junto com seus acompanhantes petizes, jovens e adultos, num colorido festivo. Em filas beirando a íngreme estrada antiga, ziguezagueando, ao som de violas, cavaquinhos, concertinas, férrinhos, pandeiretas, recos e bombos, enquanto as moças cantam à porfia cantigas alusivas ao São Pedro,  pela ancestral via das capelinhas do martírio de Santa Quitéria.


Desse lindo cenário que, todos os anos, passa diante dos olhos e enche a encosta do planalto das maravilhas felgueirenses de lindos matizes, como que atirando tintas diversas à tela dos sentidos, registamos algumas pinceladas captadas na paleta de nossa máquina fotográfica…


Armando Pinto

Nota: A propósito, recorde-se um historial referente à memória dessa tradição, que escrevemos no âmbito dos usos e costumes respeitantes e foi publicado no jornal Semanário de Felgueiras, sob título "Festa do Concelho de Felgueiras".

A.P.

sexta-feira, 27 de junho de 2014

Aniversário eterno de minha Mãe !


Dia 27 de Junho. Passado o dia maior do ano, a 24, dia de S. João do Porto, e entrado o verão, tal qual antes do S. Pedro, 29, data do feriado municipal de Felgueiras, a minha mãe fazia anos, a 27… Ora, hoje, neste dia 27 de Junho de 2014, se a minha mãe fosse viva, fazia 99 anos. Nascida que foi em 1915 (tendo falecido em 1988), recordo. E faz 99 anos, porque continua viva em nosso íntimo, permanecendo em nossa memória mais sentida. 


Passados tantos anos, já, desde o seu desaparecimento físico, a saudade continua. Vêm à memória tempos felizes da sua presença. Como diz a letra duma canção, às vezes no silêncio da noite, eu fico imaginando nós dois, sonhando acordado, juntando o antes, o agora e o depois…


Lembro aqui, nesta efeméride, uma prova do registo civil, através de imagens de seu Bilhete de Identidade, passado então para efeitos do casamento e, como tal, com fotografia ainda de seu tempo de solteira. Documento este que patenteia o modelo usado nessas eras, em género de pequeno livro - que guardamos entre preciosidades documentais e estimativas.


Como diria Pessoa, “o valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis”.


Chegado então este dia, 27 de Junho, entramos assim no ano do centenário natalício de minha mãe. Com o coração sempre cheio de saudade e reconhecimento. Revendo, neste dia de anos, um aniversário eterno!


Armando Pinto

sexta-feira, 20 de junho de 2014

Conselheiro Dr. António de Barbosa Mendonça e o Comboio que passou na Longra...e por Felgueiras e Lixa!


Já dizia Valerio Massimo Manfredi (em “A Última Legião”): «Quando se foge e se deixa tudo para trás, o único tesouro que podemos levar connosco é a memória. A memória das nossas origens, das nossas raízes, da nossa história ancestral. Só a memória pode permitir-nos renascer do nada. Não importa onde, não importa quando, mas se conservarmos a recordação da nossa grandeza de outrora e os motivos pelos quais a perdemos, ressurgiremos.»
~~ * ~~
Na proximidade ao Dia do Concelho, como é o feriado municipal, e no âmbito das comemorações em curso da chegada do comboio a terras de Felgueiras, foi recentemente prestado justo tributo público ao Conselheiro Barbosa Mendonça, pelo importante papel desempenhado nesse desiderato pelo antigo presidente das Câmaras de Barrosas e Felgueiras e ainda Administrador do Concelho, Dr. António Pedro de Barbosa Mendonça Pinto de Magalhães e Alpoim. Também influente cidadão, co-fundador do Sindicato Agrícola de Felgueiras (de que mais tarde resultou o Grémio, hoje associado à Cooperativa Agrícola), tal qual fundador e proprietário do jornal Semana de Felgueiras.

= Foto do Conselheiro António Mendonça em tempo de sua vida pública – conforme consta em quadro pintado na sala dos benfeitores da Misericórdia do Unhão).=

O Conselheiro de Rande, como normalmente era tratado, foi também ainda benemérito na região, tendo sido grande benfeitor da Misericórdia do Unhão, onde consta em quadro pintado, desde que ali foi homenageado e teve atribuição de seu nome à alameda fronteira à casa, antigo hospital e convento de Nossa Senhora do Rosário. Além de bairrista colaborador na terra natal, tendo contribuído com doações para a paróquia de Rande, derivado sobretudo à tentativa de minorar efeitos da ocorrência das vendas estatais das propriedades da igreja, bem como na parte civil foi doador dos terrenos para a primeira cabine elétrica na Longra e para a construção do edifício-sede da Associação Pró-Longra (onde hoje é a Casa do Povo).

= Fisionomia do Conselheiro de Rande já em idade mais avançada. =

Pois o Conselheiro Dr. António Barbosa Mendonça, encurtando o nome, como o próprio simplificava na sua assinatura, foi um dos principais mentores e inclusive dos acionistas do comboio que em Maio de 1914 chegou pela primeira vez à Longra…

Assim sendo… Até parece que se ouve ainda o silvo do comboio, como era aquilo, no imaginário, do que nos inícios do século passado transportou nossos antepassados…Taf-taf, taf-taf… Hiii…!

O que serviu de tema a mais um artigo jornalístico, com que desta vez prestamos nossa habitual colaboração ao jornal Semanário de Felgueiras – cuja coluna para aqui transpomos, do que foi publicado à página 10 da edição desta sexta-feira, 20 de Junho, no Semanário de Felgueiras.


 Disso, para facilitar a leitura, de seguida, revertemos o texto datilografado, conforme o original.

Conselheiro António Barbosa Mendonça

Pela História, constata-se que uma circunscrição administrativa, como se considera uma freguesia tradicional ou agora a dita união de algumas, consiste em muito mais do que o território, contendo, acima de tudo, a mais-valia de personalidades salientes, que fizeram algo pela sua terra. A juntar às pessoas que na atualidade integram esse conjunto identificativo, entre particularidades que são riqueza maior da comunidade.

Felizmente Felgueiras teve personagens que entretanto da lei da morte se libertaram, como cantou Camões sobre os maiores da nossa Gesta Lusitana, perdurando na memória coletiva, tal qual este torrão Felgariano ainda tem pessoas de mérito. Em afirmação de sermos um concelho uno, mas ao mesmo tempo plural, numa comunidade que se deve afirmar pelo que nos une e não pelas diferenças.

Ora um personagem histórico, desses do passado, foi recentemente recordado, felizmente. Através de singela mas relevante homenagem, com que foi tributado o nome do Conselheiro Dr. António de Barbosa Mendonça, na oportunidade comemorativa da passagem do centenário da chegada do comboio a terras de Felgueiras, para cuja dotação ele foi um dos principais impulsionadores, in illo tempore. Salientando-se o facto, do preito que lhe foi dedicado, por tais reconhecimentos não costumarem ser muito usuais nestas bandas.

O Dr. António Barbosa Mendonça, popularmente mais conhecido por Conselheiro de Rande, em alusão ao seu primado da casa solarenga desse nome, foi efetivamente um senhor muito importante e respeitado na região. Nascido na freguesia com o mesmo nome, Rande, em pleno concelho de Felgueiras, onde veio a ser Administrador do Concelho e Presidente da Câmara Municipal, tendo ainda representado a mesma área como deputado nacional, em tempo de regime monárquico. Sendo daquelas pessoas cujo percurso curricular não se pode resumir em poucas palavras, para não se pecar por limitação redutora. Aliás a sua biografia está desenvolvidamente exposta no livro Memorial Histórico de Rande e Alfozes de Felgueiras. Passando à posteridade como homem de letras, muito culto e bairrista, fundador do jornal Semana de Felgueiras, que, qual lança metida em África, teve então influência deveras instrutiva perante a pacatez local, por esses tempos de transição entre os séculos XIX e XX. Além de sua participação na fundação do Sindicato Agrícola, que corporizou união dos agentes da lavoura, em seu tempo, na linha da instalação de interessante produção agrária, de cereais, vinho e de lacticínios, com que se distinguiu em avançado empreendimento. Dentro da sua bonomia característica, com que era respeitado, a pontos de não precisar de ir ao lugar da estação da Longra, onde paravam os comboios, pois esperava ao fundo da avenida de acesso à sua Casa de Rande e bastava levantar a bengala para o maquinista interromper a marcha do comboio, para ele entrar. Bem como, em sinal respeitoso, todos os domingos e dias santos de guarda, a missa paroquial de Rande nunca começava sem o Conselheiro chegar à igreja, pois só eram dadas as três (como se chamava ao terceiro e final toque dos sinos, de anúncio ao começo da cerimónia dominical) quando se avistasse o carro do Conselheiro a aparecer, acercando-se ao limiar do templo. Tal qual, pela muita consideração com que era tido, ao passear pela povoação da Longra e na então vila de Felgueiras, sítios onde mais se deslocava a pé, costumar ir de chapéu na mão (sabendo-se que nessas eras o uso de chapéus fazia parte da indumentária e se cumprimentavam as pessoas tirando o chapéu), por quase não ter tempo de o recolocar na cabeça, para corresponder às constantes saudações de todo o povo que o via e assim cumprimentava. Chegando, mais tarde, ele que fora chefe monárquico da zona, volvidos muitos anos já, depois das transformações políticas, a ser convidado para presidir a atos solenes de apreço a personalidades de convicções políticas republicanas.

= Conjunto de imagens respeitantes à solarenga Casa de Rande e anexa sua quinta agrícola, reportando à antiga exploração da mesma, também conhecida popularmente por quinta da vacaria.=

Nunca é de mais lembrar pessoas assim, cujo perfil memorial os Felgueirenses devem conhecer e Felgueiras se orgulhar. Embora não conste na toponímia da cidade sede do concelho, aonde foi um dos mais importantes rostos municipais.

Ouve-se de novo o silvo do comboio, no imaginário, do que nos inícios do século passado transportou nossos antepassados…Taf-taf, taf-taf… Hiii…! Ainda, na proximidade ao Dia do Concelho, igualmente mais que simples feriado municipal, em que se comemora a unidade em torno do concelho e identidade concelhia, mas, também, como se pode dizer em tais ocasiões especiais, celebramos um povo, o nosso – o povo felgueirense.

Armando Pinto

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domingo, 15 de junho de 2014

Apresentação pública do livro “Os Restos da Alma” de Rui Noronha e Sousa, da Longra.


Decorreu no passado sábado, dia 14 deste mês dos Santos Populares, a sessão de lançamento de um novo livro de mais um autor da Longra, o amigo Rui Noronha e Sousa, conhecido elemento da prole sucessora do saudoso sr. Luís Sousa Gonçalves, da IMO. Tendo essa apresentação pública do livro “Os Restos da Alma”, decorrido na Biblioteca Municipal Dr. Miguel Mota em Felgueiras, perante interessada assistência de admiradores, amigos e familiares, naturalmente.

Dotado para as letras e empreendedorismo, ao correr-lhe nas veias a seiva literária de sua mãe, como se sabe a professora D. Maria Amélia Noronha, e no sangue a veia empreendedora do grande industrial sr. Luís Sousa, o Rui Noronha e Sousa deu então asas à publicação do seu segundo livro, na linha do que nos habituou, com mais um romance escrito com alma descritiva e engenho literário. Contendo um enredo que cativa e leva a uma leitura de enfiada, para quem se interessa por valias do espírito e arte narrativa.


Tendo o autor destas linhas podido estar presente, tecemos aqui esta sucinta alusão ao ato, diante da apreciação que sempre é haver conterrâneos com tais predicados. E porque por norma as imagens transmitem mais e melhor que quaisquer palavras, ilustramos esta transmissão juntando alguns instantâneos retratados, graças ao labor fotográfico da Professora D. Armanda Sousa (de cuja página sua, com a devida vénia, são recolhidas as fotos).


Saudamos assim a existência de mais uma obra literária, a preencher a vivência Longrino-Felgueirense, na comunhão cultural de todos os amigos e conhecidos que se associam ao valor do entendimento.


Em suma, foi um fim de tarde de sábado bem passado, entre amigos e interessados pelas mesmas notas musicais da escrita, numa resistência ao calor e convite a descanso ao ar condicionado duma sombra da natureza. Tudo em sintonia de encontros, a honrar a função da casa dos saberes, por quanto guarda a Biblioteca Municipal de Felgueiras, daqui em diante com mais um livro de lavra felgueirense.

Armando Pinto