Espaço de atividade literária pública e memória cronista

segunda-feira, 9 de maio de 2016

Artigo no SF, sobre pingos, em tempo de pingantes.


Caiem agora pingas de chuva, em plena primavera do calendário deste ano; e, na colaboração normalmente prestada ao Semanário de Felgueiras, pela escrita do autor destas linhas, escorrem também impressos pingos de memória histórica… na edição desta sexta-feira primeira de Maio:


Pingos de Memória

Pode conceber-se o valor duma terra pela fasquia a que se eleva a saliência humana. Numa perspetiva de identidade, em relação enobrecida perante existência de pessoas e factos marcantes.

Nesse sentido causa sentimento contrário quando o panorama enfraquece. Como se nota desde há anos nesta região do interior do Vale do Sousa, perante o facto de alguns concelhos estarem a distanciar-se dos vizinhos que tomaram a dianteira, com Felgueiras a ficar aquém do que devia ser e estar. A pontos que tem corrido nalgumas difusões noticiosas um estudo conclusivo sobre Felgueiras estar a perder importância na região agora chamada de Tâmega e Sousa. Sem ser novidade, tal o que se sabe e sente, com noção que urge alterar a situação e algo deve ser feito. Qual o acaso da reforma administrativa ter sido levada a efeito a régua e esquadro por quem decidiu nos gabinetes e assim ter começado a perca de identidade na maioria do território concelhio, no que vem ao caso. Tal como se vai vendo no tema do tribunal, etc. e tal. Numa corrente que vem fazendo emergir o caso de presentemente mais parecer não haver por cá, dentre os diversos quadrantes políticos, quem consiga ter influência nos meios que fazem mover as respetivas forças motrizes. Como em tempos houve e merece ser sempre lembrado. Conforme ocorreu na existência do Dr. Costa Guimarães, um felgueirense ilustre que, cá longe, desde a sua terra, conseguiu que em Lisboa fosse Felgueiras defendida, em tempo de reorganização judicial do país, coincidindo com parte administrativa dos concelhos, a meio do século XIX. Tendo então o Dr. José Joaquim Teixeira da Costa Guimarães, com intercessão de amigos e conhecidos, como está devidamente historiado, conseguido fazer valer os interesses felgueirenses, contribuindo sobremaneira para a criação da Comarca de Felgueiras, decretada em 1855, quando então Felgueiras ficou como concelho íntegro, ao tempo.

Não será necessário puxar agora borlas biográficas para enaltecer mais a importância que esse Dr. Costa Guimarães teve para Felgueiras, quão deve continuar a merecer na memória coletiva felgueirense. Bastando dizer que não era qualquer um, com direito a ficar para sempre no santuário de carisma concelhio, havendo ele ficado sepultado no interior da igreja de Santa Quitéria, honrado pelo seu valor comunitário quando faleceu em 1866. Tal como foi dos primeiros vultos da história felgueirense com nome dado a uma rua da cabeça do concelho.

Ora, estando Maio a refletir suas tonalidades ambientais, vem a talhe relembrar este célebre personagem da história das terras e gentes de Felgueiras, em pleno mês de seu aniversário natalício, nascido que foi em Margaride aos vinte e três dias do mês de maio de 1807. No auge também do mês da festa de Santa Quitéria, em cujo templo jaz seu corpo, com autorização eclesiástica superior (com licença dada pelo Arcebispo de Braga, arquidiocese a que a região pertencia à época), quando já não era permitido haver enterramentos dentro das igrejas, desde o decreto monárquico de 1835 que levou ao surgimento dos cemitérios paroquiais. Circunstância deveras sintomática de seu valor e sobretudo do apreço com que era reconhecido.

O tempo passou. Santa Quitéria foi degolada nesta região por conceito de fé, onde, monte abaixo, rolou sua cabeça até jorrar uma fonte miraculosa. Ao longe, séculos depois, o patriota Febo Moniz puxou as barbas em desespero diante dum crucifixo, como protesto pela conduta pública que levou à perda da independência nacional. Há sempre uns pingos de história que farão memória. 

ARMANDO PINTO

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