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terça-feira, 13 de março de 2018

Vestígios histórico-literários de festividades tradicionais felgueirenses - Do Festival do Pão de Ló ao São Pedro!


A propósito da realização do já tradicional Festival do Pão de Ló, no Mosteiro de Pombeiro, aproximando-se a época da Páscoa em que esse doce leve e fofo faz parte da mesa familiar e da espera ao Compasso… bem como da seguinte Feira de Maio de lugar histórico no centro da antiga vila e atual cidade de Felgueiras… mais a festa religiosa de Margaride, o popular Corpo de Deus... e ainda a campanha em marcha para a continuidade da enraizada festividade do São Pedro, secular festa do concelho desde longos tempos no monte de Santa Quitéria, onde existiu a ermida dedicada ao patriarca da Igreja… damos desta feita uns relances por alguns dos testemunhos histórico-literários atinentes ao caso, em aspeto afetivo que vem de longe.  Entre afinidades enlaçadas ao sabor mítico do pão de ló da receita felgariana. 


Assim sendo,  numa olhadela ao Minho Pitoresco, obra de José Augusto Vieira, coloca-se o olhar da tradição no capítulo sobre Felgueiras, onde, nesse volume publicado em 1886 (quando a região de Felgueiras ainda pertencia à província do Minho) se pode ler algo que ganhou foros na tendência felgueirense.



Também dessa festividade que atraía gente "até de muito distante" ao monte da Santa, a antiga festa do terreiro de Santa Quitéria era noticiada na imprensa concelhia, como, volvidos anos, foi então relatada no Jornal de Felgueiras a 15 de Junho de 1912...


... bem como também n' O Jornal de Felgueiras de  20 de junho de 1914


Passando à festa paroquial de Margaride, o Corpo de Deus (que também tem tradição noutras freguesias, sobretudo na paróquia do Unhão), retemos uma nota noticiosa respeitante à festividade religiosa da sede do concelho, conforme publicação no jornal Semana de Felgueiras de 13 de junho de 1897:


Dando vez nas atenções Felgueirenses à Feira de Maio, iniciada em 1901 por iniciativa do Sindicato Agrícola, com aderência da Câmara Municipal e agentes do comércio local, essa foi norteada como grande festa do centro urbano, perante realização na então vila-sede do concelho. Criada na sequência de atividades associativas do setor agrícola, de que resultara anteriormente a criação de um sindicato e o surgimento do próprio jornal Semana de Felgueiras, como porta-voz informativo dos interesses dessa área extensiva à vida local. Num intuito alastrado a procurar uma maior intensidade dos laços de união histórica. Ou seja para ficar "o São Pedro" no alto de Santa Quitéria e "o Maio" na baixa do centro da então vila de Felgueiras.

Com efeito, foi então criada essa mescla de feira festiva por deliberação camarária de Março de 1901, ao tempo também denominada por feira franca e de periodicidade anual, desde logo ficando assente, como era originalmente, que se devia realizar todos os anos no primeiro dia do mês de Maio. Sendo sugerida oficialmente por representantes do sindicato agrícola, teve apoio de comerciantes do concelho, os quais propuseram que a então feira anual de gado cavalar, com lugar a 28 de Junho dentro do programa das festas do concelho, passasse a ser uma realização independente, no centro da vila sede do concelho, e com fins de mais vasto alcance: pois, além das trocas e vendas de todas as espécies de gado, passou a incluir a generalidade das ofertas constantes do mercado normal de produtos, com laivos de festa e arraial por meio de concursos para o gado em exposição, mais atribuição de prémios para os melhores cavalos, melhor junta de bois e melhor touro. Ao que em anos seguintes foram acrescidas outras valências, como em 1902 foi inserido no cartaz um aliciante popular através dum despique de cantigas ao desafio, sendo instituído um prémio para o melhor par de cantores repentistas da feira. Enquanto, desde esses primeiros tempos, era presença tradicional a Banda do Aniceto a dar toque filarmónico, tão apreciada pelo povo que era a música de banda. E em caso como esse, já que a Feira de Maio depressa ganhou contornos de acontecimento anual; de tal forma que extravasou fama para lá do horizonte regional, chegando a fazer com que acorressem a Felgueiras nessa ocasião muitos feirantes de Trás-os-Montes e das Beiras, como deu conta uma reportagem inserta na revista Ilustração Portuguesa, publicação de grande impacto à época.


Passados esses tempos, manteve-se no decurso de longas décadas, na sede concelhia, essa assim ultra centenária e anual Feira de Maio, em Felgueiras. Com lugar no primeiro domingo e seguinte segunda-feira desse mês. «Importante feira» essa que, segundo registava a referida histórica revista “Ilustração Portugueza”, em sua edição de 2 de Junho de 1919, se realizava «no largo fronteiro» (ao antigo edifício da Câmara Municipal, depois casa do Tribunal). Transformada em certame de enraizado cunho expositor de gado, através de concursos pecuários de criadores agrícolas e competição alargada a corridas de cavalos, além de outros números de lazer. Sabendo-se, conforme referia o jornal Notícias de Felgueiras, anos mais tarde, que constava no rol um desfile etnográfico chamado Cortejo das Lavradeiras; tal como, em diversos anos, incluiu mesmo provas populares de ciclismo.

Desse certame concelhio registamos uma noticia de 1944 inserta no jornal Notícias de Felgueiras, em sua edição de 11 de Maio desse ano.


Por fim, como no fim o evangelho coloca primazia, eleva-se doce recordação duma ocorrência respeitante ao afamado pão de ló, segundo notícia difundidada ao tempo no Semana de Felgueiras de 24 de dezembro de 1904   em época natalícia, quando o doce felgueirense sempre dividiu toalhas, também, com a tradicional doçaria da época:


Armando Pinto
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