Felgueiras celebra o típico pão de ló com o anual festival alusivo, em fim de semana dos Ramos. Com a companhia de outras representações de mais variantes doceiras do género e com nomes similares.
Por simbiose, porque o doce nunca amargou, sendo Felgueiras terra de tão famoso doce tradicional, como zona portuguesa do pão de ló mais conhecido, e porque o leve pão de ló não engorda (apenas podendo engordar quem o come, se abusar muito, gulosamente!), cairá bem, no caso à barriga da leitura, mais uma alusão sobre esse doce típico, desta feita.
Por simbiose, porque o doce nunca amargou, sendo Felgueiras terra de tão famoso doce tradicional, como zona portuguesa do pão de ló mais conhecido, e porque o leve pão de ló não engorda (apenas podendo engordar quem o come, se abusar muito, gulosamente!), cairá bem, no caso à barriga da leitura, mais uma alusão sobre esse doce típico, desta feita.
Vem assim a propósito passar um naco de prosa descritiva
sobre o tema decorrente, na oportunidade de partilha de mais um artigo do autor
destas linhas, também.
Na rota da tradicional colaboração na imprensa felgueirense,
com apontamentos de temática relacionada com a memória coletiva, há já cerca de
vinte anos no Semanário de Felgueiras (e depois de anteriores dez no Notícias
de Felgueiras, entremeando com algumas episódicas passagens com textozitos do
género por outros periódicos concelhios), mais um artigo segue a mesma linha desta vez, na pertinência atual do certame promocional do pão de ló, que vai ter
lugar este fim de semana, trazendo mais atenções até Felgueiras.
Desse pequeno trabalho juntamos aqui, por conseguinte, o
respetivo texto, junto com imagem da coluna publicista, do que vem a público na
edição do Semanário de Felgueiras desta sexta-feira anterior ao fim de semana
dos Ramos e chegada à semana de entrada na quadra pascal.
Felgueiras: Terra do Pão de Ló
Diz-nos a Bíblia que na terra prometida corria leite e mel.
Tanto como o povo protegido de Deus foi alimentado com o maná caído dos céus
durante o êxodo, na travessia do deserto. Relacionando à crónica após os
acontecimentos que levaram ao fim da escravidão do povo de Israel, derivando
das pragas que não atingiram as casas cujas portas tinham o símbolo pintado com
o sangue do cordeiro, até à caminhada seguidora do bastão de Moisés. Advindo a
comemoração pascal do cordeiro e naturalmente certas relações com o pão, tal a
tradição do folar da Páscoa e até as roscas, de pão de regueifa, das típicas
ofertas aos afilhados, em tempos de outrora pelo menos.
Vem a talhe, então, associar-se também alguma relação com o
facto do pão de ló ser típico da Páscoa, como rosca de pão leve e sobretudo
doce, no tal sentido bíblico do leite e mel, embora no caso com ovos, farinha e
açúcar, mais o que o torna particular em Felgueiras. Pois, como até é
reconhecido, Felgueiras é terra mátria do genuíno pão de ló, em seu nexo de pão
leve e de massa fofa, conforme exprimem os compêndios antigos.
Calha assim a propósito a festa dedicada ao pão de ló,
através do festival respetivo, este ano em sétima edição, cujo certame desde
alguns anos decorre no espaço do beneditino Mosteiro de Pombeiro, em pleno
domingo de Ramos tradicional da entrega da lembrança respetiva dos afilhados
aos padrinhos.
Rico como é o percurso também do povo felgueirense, apesar
do pão de ló, como outras iguarias da vida, não ser um maná para toda a gente,
Felgueiras também se associa ao mel, ou não houvesse abelhas no brasão
municipal felgariano. Aliás já Estrabão e Argote, historiadores de eras
antigas, contaram «coisas deliciosas aqui do nosso Entre Douro e Minho» (como
alude uma pequena reportagem de turismo especial do antigo jornal O Comércio do
Porto, numa edição de 1979, sob título de “Felgueiras A Pátria do genuíno pão
de ló”).
Sem recuar tanto no tempo, por naturalmente a doçaria típica
não ter feito parte dos hábitos dos Calaicos, nem tão pouco dos tempos da
Romanização e mesmo do antigo território ainda coberto de fetos que deu o termo
à felgaria, de que resultou o nome Felgueiras, basta evocar a época do
romantismo clássico, quando o pão de ló de Margaride passou a ir à mesa da
realeza e teve reconhecimento régio. Perpassando pelos tempos adiante como um
produto nacional característico da época pascal. Embora, tal como se diz que o
Natal pode ser sempre quando quisermos, também o pão de ló apetece sempre e se
prolongue a apetência por onde houver possibilidades de ocasião.
Esta especialidade doceira é assim um elemento
identificativo de Felgueiras. Com a virtude de transportar o nome do concelho,
sabendo-se que há outras variedades de pão de ló em diversas regiões, mas logo
se associando a Felgueiras a proveniência do padrão doceiro de tal propriedade.
Sendo o original pão de ló, como está referido no Dicionário Português de 1873
(por Frei Domingos Vieira), «massa de farinha, ovos e açúcar, que fica muito
fofa depois de ir ao forno onde se coze, e talvez se torra, ao de cima, para
ficar com mais dureza».
Assim, de tona pouco dura, como se sente ao cortar mesmo à
mão, mas de duração efetiva, pois que o tradicional dura mais (em melhor
conservação), o pão de ló, levemente seco e macio ao degustar, coroa bem a mesa
da Páscoa, na receção ao Compasso pascal, também usual por esta região onde
corre o sabor laboral dos intentos felgueirenses.
Armando Pinto
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