Passa na atualidade a data comemorativa de 500 anos desde que no tempo do rei D. Manuel I foi dado Foral ao antigo concelho do Unhão. Cuja evocação tem lugar este fim de semana, na sede da Misericórdia do Unhão (antigo Paço dos Condes) e na igreja paroquial de São Salvador de Unhão, à área atual da União de Freguesias de Unhão e Lordelo, através de programa organizado pela Câmara Municipal de Felgueiras - segundo convite oficialmente distribuído pela população concelhia - num cartaz com números distribuídos por organizações públicas a ocorrer desde sexta-feira até domimgo, de 20 a 22 de Março do corrente ano de 2015.
Associando-nos a tal acontecimento, escrevemos um pequeno texto alusivo, dentro da habitual colaboração publicista colocada normalmente ao dispor do interesse geral, através de crónica tendente a motivar a mística felgueirense.
Assim sendo, desta vez, a tónica regular desenrola-se no àmbito da mesma ocorrência, conforme o artigo desta feita publicado no jornal Semanário de Felgueiras:
Gado de Vento e o meu Avô da Quinta…
Está na ordem do dia a comemoração da outorga do Foral Manuelino ao antigo concelho de Unhão, cuja carta régia foi passada por D. Manuel I, o rei venturoso português, está a fazer agora quinhentos anos.
Sendo que sobre isso muito está escrito e, por certo, nesta ocasião, muito será referido do que tem sido redigido, ao longo dos tempos, afloramos acrescento de algo relacionado ao tema, por quanto esse facto histórico nos toca, nos trilhos da história calcorreada por nossos antepassados. Na sequência do que publicamos no livro “Memorial Histórico de Rande e Alfozes de Felgueiras”, editado em 1997, no qual desenrolamos um capítulo sobre a Honra, Julgado e posterior Concelho do Unhão, entre os antigos Alfozes da organização regional. Tendo aí sido estudado, e pela primeira vez publicado, um princípio de apreciação pública sobre o referido documento. Estudo esse que, mais tarde, serviu de achega contributiva à monografia de Cepães, por exemplo, conforme pudemos ajudar o seu autor, entre diversos casos. Sabendo-se que o Foral do Unhão contemplava outros parâmetros, como terras jurisdicionais de antigas circunscrições de Cepães, de Fafe, Meinedo, de Lousada, etc.
Ora no Foral do Unhão, entre a matéria medieval ali contida, há uma expressão deveras interessante. A nomeação de um tal “gado de vento”, do que havia pela região. Tanto quanto sabemos, dava-se este nome nalguns forais, e mais papéis antigos, ao gado de toda a espécie que era encontrado sem dono. Tratando-se de uma expressão muito antiga, quase sempre usada nos documentos do género, com o sentido coletivo, para designar alguns animais extraviados, isto é, de que não se conhecia dono, mais precisamente que andava a monte, bravio. Esta expressão já aparecia no Código Visigótico. Chegando a ser referenciada nalgumas Ordenações do Reino. Contudo, também por quanto pudemos saber, localmente esta denominação era dirigida aos enxames de abelhas, sabendo-se que, em caso de abespinhamento, uma comunidade dessas podia sair de uma colmeia e acabar por pousar em local indeterminado. Havendo inclusive regras de honra quanto a essa realidade, respeitando o poiso escolhido por um enxame que mudasse de sítio, passando a ser de quem o conseguisse atrair a um cortiço seu… Sendo, como era, a região deveras atrita à lavra das abelhas, como mais tarde ficou nas armas heráldicas felgueirenses, na identificação concelhia que vingou.
De tenra idade ouvi essas dicas de meu avô materno, um expert famoso na região, em seus tempos, de tudo o que respeitava à criação de abelhas e derivado mel. O meu avô da Quinta, como era mais conhecido o avozinho António, tal o seu nome de baptismo, António da Costa conforme o registo lavrado na repartição de Felgueiras. Um senhor de respeito nos idílicos tempos da monarquia, oriundo de família respeitada, como filho de fora de uma família fidalga da zona, precisamente do Unhão, com um rosário de tradições, que se fez à vida e era uma espécie de feitor na Casa da Quinta, de Rande. Proprietário, com uma moradia na Longra comprada através duma tença recebida de seu pai, e sobretudo pessoa culta, que guardava muita literatura de seus tempos, de cujo rol um neto ainda conseguiu salvar alguns romances de cordel, desse tempo, como a história do Zé do Telhado em verso… e outro neto herdou o gosto pela apicultura.
= O meu "Avô da Quinta", em pose normal numa idade mais jovem e depois junto às suas colmeias, num dos quintais da Casa da Quinta =
Pois o Avô da Quinta falava muito sobre esse tal gado de vento. Ele que nos quintais da Casa da Quinta muito mel tirou de suas abelhas. Curiosamente nessa mesma Casa da Quinta onde era o remanso dum grande benfeitor da Misericórdia do Unhão, o senhor Luís Teixeira, recordado perenamente numa lápide da frontaria e num quadro do mesmo solar condal e conventual do Unhão. Enquanto ele, o meu avô materno, estava horas à beira das suas abelhas, sabendo de tudo o que elas precisavam e faziam, como convivendo com sua existência ao vento, a dar às asas da vida a leveza de seu voo existencial.
= O acima referido senhor Luís de Sousa Teixeira em quadro constante da galeria dos beneméritos da Misericórdia do Unhão - em panorâmica de quadros reportados ao então Capitão João Sarmento Pimentel, à época autor de importante verba estatal atribuída oficialmente à instituição (sendo ele nesse tempo chefe de gabinete dum ministério governamental); seguindo-se quadro do mesário e provedor Luís Teixeira, homenageado também com uma lâpide na frontaria da casa; mais D. Carolina Mendonça, que tomou a seu cargo a edificação da capela privativa do hospital e convento; e ainda o Dr. António Barbosa Mendonça, Conselheiro de Rande, que custeou as obras de remodelação do edifício da Misericóridia, sob projeto de seu amigo sr. Luís Gonçalves... (conforme registamos no livro "Luís Gonçalves: Emanuense-Engenheiro da Casa das Torres"). =
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