Numa abordagem relacionada com a atualidade, escrevemos desta vez, em nossa regular colaboração no jornal Semanário de Felgueiras, um artigo de temática sazonal, quanto à estação festivaleira do ambiente local.
Estando no texto o que realmente é, como se sabe, a pontos de já haver conhecimento de ter merecido leituras de análise – tal o facto de se ter até notado, entretanto, algumas feições de amuos por algumas verdades…
Eis a referida crónica, na respetiva coluna da página 12 da edição impressa do SF de 19 de Julho:
(Clicar sobre o recorte digitalizado, para ampliar)
… E de seguida, para devidos efeitos, aqui está o texto datilografado, também para leitura mais acessível:
Festivais Folclóricos
Quando chega o tempo de sol radioso e ambiente alegre, das férias e de festas, o que acontece mais no Verão, por toda a região de Felgueiras e não só, a época quente é também aproveitada para realizações de festivais de folclore.
Esses saraus, quais encontros de grupos de dança e cantares regionais, resultam num corolário festivo no auge da temporada, ao jeito de mostras do trabalho levado a cabo ao longo do ano por esses agrupamentos de reposição etnográfica, os Ranchos Folclóricos. Manifestações que, como acontecimentos relativamente recentes, servem porém mais de espetáculo e convívio, não tendo a pretensão de caracterizar em demasia antigas folganças, pois que surgiram apenas em meados do século XX, por volta dos anos cinquenta tenuemente e mais vincadamente na década de sessenta, sensivelmente. Sendo antes produto da evolução dos tempos, porque o próprio folclore revivalista também pouco tem a ver, quer se queira ou não, com o que antigamente acontecia. Sendo que a essência do que os Ranchos representam é uma recriação dos usos e costumes populares que chegaram pela transmissão provinda de tempos arquiavós, em épocas que o mundo das pessoas girava quase só em torno de sua visão local. Enquanto os próprios mancebos, que nunca haviam saído da própria terra, ao terem de ir para a tropa se lhes metia na cabeça todo um mundo desconhecido - a pontos, por exemplo, de nesses tempos, em que até havia um quartel não muito longe assim, em Penafiel, os rapazes se despediam a dizer: “Adeus Portugal, que vou pra Penafiel”…
Ora, embora o folclore popularizado seja genericamente recuperação de características da música e danças populares de antanho, tem que se ter em conta que hoje em dia integra sobretudo o cariz de apresentação pública, através de números coreográficos, longe do espírito do passatempo simples de ajunto de pessoas de tempos passados, em que servia de folia, por meio de danças nas eiras, nas encruzilhadas ou largos comunitários e adros. Agora é em palco que acontece, e nem pode ser de outro modo para todos verem, tratando-se de espetáculo para assistências...
De permeio há também natural sensibilidade, sabendo que tem de haver uma ligação realista, de caráter logístico. Para que haja memória e tudo seja contemplado. Não se entendendo que um Festival que já teve diversas edições com Ranchos estrangeiros, como agrupamentos espanhóis, por exemplo também, seja considerado depois, num ano mais presente, considerado 1º Internacional… A não ser que ainda haja por aí quem não saiba que Portugal vai para Norte só até à fronteira com a Galiza e depois é já solo estrangeiro, senão é como antes: Adeus Portugal, que vamos pra Penafiel…
De qualquer forma, os elementos representados, na generalidade, refletem trabalho aplicado sobre a recuperação do estudo da cultura da alma do povo, numa prática etnológica aproximada de reprodução de antigos padrões tradicionais, das gentes dos aglomerados locais, afins à população comum, tendo subjacente quanto possível recolha dessa manifestação remota compartilhada pela gente de territórios definidos, nas suas ligações por laços pessoais de herança cultural. Querendo tudo isto, qual rapsódia, imprimir e exprimir preservação antropológica da rusticidade da terra, numa forma cultural mediática de expressão popular, englobando significado de povo e sua cultura como a própria palavra quer dizer - sendo o termo folclore o aportuguesamento dos vocábulos saxónicos folk (povo) e lore (tradição), aliás composição aproveitada já no século XIX pelo arqueólogo inglês Thoms, em substituição da expressão “antiguidades populares” usada anteriormente em monografias da especialidade.
Graças ao trabalho de reconstituição empreendido pelos Ranchos, tem sobrevivido a memória coletiva das raízes etno-populares, em todo este vasto campo de características genuínas da personalidade, no sentido identificativo, de usos e costumes ancestrais dos nossos antepassados.
Armando Pinto
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