Entre particularidades da História Local, convirá deter
alguma importância a quaisquer minudências de destaque, pois que em qualquer
pormenor se pode rever o passado. Nesse aspeto, as curiosidades de uma primeira
vez em que algo se estreou, de qualquer acontecimento ou ocorrências, quiçá as
primeiras de que é possível colher conhecimentos, proporcionam efetivo
interesse à posteridade – quais histórias marcantes de uma primeira vez.
(Assim sendo, vamos aqui recordar um tema que constou no meu
anterior blogue – um que desapareceu da Internet por artes de “hackers”, talvez políticos ou alguém sem gosto por verdades, há uns
anos, e então levou depois à criação deste sucessor com mais proteção…)
Ora, quanto ao tema que vem ao caso, entre curiosidades locais:
Porque não é viável estender o alcance, neste caso, cingimo-nos a demarcar um
exemplo, do que nos foi possível estudar (por ser naturalmente da zona que
melhor conhecemos, em particular), anotando então caso que anotamos como
“Curiosidades de Rande – Felgueiras”, a propósito da abertura da capela
mortuária da freguesia referida, em 2008, até tempos passados do surgimento do
cemitério paroquial da mesma, benzido e estreado em 1885, então com 123 anos de
distância entre ambas as ocorrências. Agora já 140 anos desde a abertura do cemitério
paroquial de Rande e 17 da inauguração da Capela da Ressurreição de Rande,
vulgo mortuária (na conta de agora, em 2025).
Direcionando pois as atenções para temas que despertem
particular curiosidade, desta feita apraz incidir fixação e alguma recordação
sobre esses dois factos que se interligam na distância de mais de um século, desde há
cento e tal anos. Quanto aconteceu e sucede com dois marcos memoriais da
paróquia e freguesia de S. Tiago de Rande, como foi antigamente na abertura do
cemitério paroquial, em 1885, e ultimamente com a entrada em funcionamento da
capela mortuária da freguesia, em 2008. Duas efemérides merecedoras de mais um
relance sobre factos históricos da memória coletiva.
Interesse, este, que revela quão significativo se torna o
registo de curiosidades assim, qual interessante resultado deriva do
conhecimento das veras notícias de alcance à posteridade, que fazem situar algo
no tempo e transportam significado aos vindouros… Pelo menos, para quem tem
raízes familiares e afetivas nas freguesias, a quem a terra natal e / ou de
residência diz muito, senão alguma coisa porventura.
Não vamos recuar aos antecedentes, escusado que será
rememorar o que decorreu nos tempos em que os enterramentos eram feitos no
interior e nos adros das igrejas, em todas as freguesias, até que foram sendo
feitos os chamados campos santos, que no caso de Rande foi em 1885 que foi
concluído o cemitério paroquial – conforme registamos no livro que narra a
história da região, o “Memorial Histórico de Rande e Alfozes de Felgueiras”
(escrito durante vários anos e editado em 1997). Relembramos apenas, aqui, que
nesse mesmo volume referimos o nome da primeira pessoa que foi sepultada no
cemitério de Rande: «Rosa, da Longra – acaso conhecido por ser madrinha da avó
materna do autor, a quem sua mãe contou tal curiosidade…» (conf. página 177, do
referido livro). Podendo, agora, acrescentar-se mais dados relativos,
descortinado que foi o respetivo registo no arquivo distrital, como prova de
que a transmissão oral conta muito e a tradição vale mesmo.
Importará, para enquadramento, relembrar alguma ligação de
certas famílias pioneiras e nomes sempre familiares, conforme descrevemos num
conto colocado no livro “Elevação da Longra a Vila” (ed. 2003).
Ora, com essa retaguarda do passado, atente-se no que ficou
anotado no inicial registo do Livro de Óbitos (contendo termo de abertura
assinado pelo Vigário da Vara, desse tempo), que fixou o primeiro enterramento
no cemitério paroquial de Rande, relatando o falecimento do dia anterior (com
grafia da época): «Aos dezanove dias do mês de Agosto do anno de mil oito
centos e oitenta e cinco, às oito horas da noite, no lugar da Longra desta
freguezia de Sam Thiago de Rande, Concelho de Felgueiras, Dioceze do Porto,
falleceu, tendo recebido os sacramentos da Santa Madre Egreja, um indeviduo do
sexo femenino por nome Roza Moreira de Sampaio, da idade de trinta e três
annos, solteira, fiadeira, natural desta freguezia, filha legitima de António
Cardoso de Sampaio, recobeiro, natural da freguezia de Sam Verissimo de
Lagares, e de Mattilde Moreira de Amorim, lavradeira, natural também desta
freguezia de Rande, a qual foi sepultada no Cemiterio desta freguezia. E para
constar lavrei em duplicado este assento, que assigno. Era ut supra. O Parocho,
(P.e) António Dias Peixoto d’Azevedo.»
= Cópias, em dois fragmentos (do mesmo) referido registo, do
falecimento da pessoa que primeiro foi sepultada no cemitério de Rande, em
Agosto de 1885 (falecida a 19 e naturalmente sepultada no seguinte dia 20 desse
mês e ano).
Descrevemos o caso, e nomeadamente personalizou-se o apontamento, por ter passado todos esses anos já e não haver familiares diretos, da pessoa em apreço. Embora naturalmente haja descendentes em graus seguintes.
Na atualidade, sabendo-se que a capela mortuária foi benzida
solenemente no dia 18 de Maio de 2008, é do conhecimento público que teve
serventia pela primeira vez, como deposição funerária, ainda no mesmo ano, nos
dias 6 e 7 do mês de Setembro (obviamente, dias do falecimento e do funeral
respetivo).
Pela proximidade evita-se referir mais detalhes
personalizados, mas para que se saiba à posteridade, sendo público o referente
passamento, é justo que também se registe os respetivos dados, para constar
historicamente. Tendo a dita Capela da Ressurreição de Rande sido usada pela
primeira vez com o velório do sr. António Ribeiro, de 82 anos incompletos
(14-09-1926 / 06-09-2008) e pessoa muito respeitada, inclusive muito
interessado nos assuntos da terra (e que, como tal, chegou a oferecer
apreciável material para o museu original da Casa do Povo), o qual viveu
durante anos no lugar das Alminhas, da povoação da Longra, e faleceu em sua
casa do lugar da Figueira (depois classificada oficialmente por Travessa com o
mesmo nome), da atual vila da Longra.
Posto isto, em suma, e tomando o todo pela parte (podendo
cada qual fixar as curiosidades das suas próprias freguesias), lega-se ao
conhecimento e se preserva assim, nestas anotações, mais umas mercês das
particularidades da terra de todos nós, do concelho de Felgueiras.
Obs.: Veio à ideia procurar e recolocar este artigo, escrito
há já uns anos, por aqui ainda recentemente esse caso da primeira pessoa
sepultada no cemitério de Rande ter dado azo á descoberta de dados familiares. A
propósito de contactos tidos com um amigo que me contactou e encontrou por andar
a fazer pesquisas sobre sua família, de antepassados que no princípio do século
XX tinham ido para o Brasil, e daí o caso em referência ter proporcionado
outras extensões familiares. Outra história que um dia merecerá também
referências.
Armando Pinto
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