In "Sermanário de Felgueiras" Jornal - edição de 14 de fevereiro de 2025, página 9:
NAIA – In Memoriam de António Magalhães
No expirar do passado mês de novembro, em pleno tempo outonal de
ambiente acabrunhado na tela paisagista dos dias, desapareceu do número dos
vivos um artista que sabia dar cor aos dias: o nosso amigo António Magalhães,
felgueirense conhecido pelo seu pseudónimo artístico, Naia. Cuja notícia de seu
falecimento surpreendeu, pela rapidez do desenlace e a surpresa nem deu para
lhe dedicar então umas palavras, como ele merecia. Algo que aqui faço agora,
expressando na primeira pessoa, por ele ser apreciador de tudo o que eu
escrevia. Fazendo isto passado algum tempo, restabelecido o alento da escrita.
O Magalhães da Vinha, como era conhecido quando pelos nossos lados
andava, é o bom amigo que partiu assim de súbito. Conterrâneo comparsa de
juventude também e de gosto pelas artes. Ainda não há muito tempo me voltara a
falar no livro que tinha escrito e queria publicar. Com ideias de o apresentar
depois publicamente onde em tempos viveu, na Pedreira. Sempre com Felgueiras na
cabeça, embora residindo há muito já em Guimarães. E sempre sonhador, quão
tinha idealizado constituir um grupo de dinamização cultural em Felgueiras com
felgueirenses ligados a áreas da cultura, a partir da Biblioteca e Arquivo
Municipal de Felgueiras, instituição com que colaborara entretanto em diversas
exposições, como aconteceu ainda recentemente aquando das comemorações dos 50
anos do 25 de Abril.
Antes, em fevereiro de 2022, teve em exposição no Semanário de
Felgueiras uma sua peça de arte,“Gaibla, o Gato-libélula”. E em maio de 2023
teve na Casa do Pão de Ló de Margaride exposta uma outra obra de arte, essa
intitulada “Tributo aos Ucranianos”. Pois tinha obra vasta e assim honrava
Felgueiras, também. Na linha de, não é novidade nenhuma, Felgueiras sempre ter
gente de valor nos mais variados campos da sociedade e também das artes. Tal o
caso deste natural do concelho, que andava nas telas a expressar-se, mas também
nas letras. Enquanto pelos nossos lados era associado pelo cartão-de-visita familiar,
sendo filho dos históricos professores da Pedreira, D. Joaquina e professor
Luciano. Quando era ainda estudante andava muito pela Longra em convivência com
amigos de livros estudantis, sensivelmente da mesma idade e também da mesma
condição de andarem à boleia e atrás de caras bonitas. Agora e desde há muito
vivia em Guimarães, dedicando-se ao ensino e paralelamente à cultura artística,
como apaixonado por teatro e artista de nome feito no mundo das artes
plásticas.
António Manuel Ribeiro de Magalhães, tal era seu nome completo, nasceu na Pedreira, em 1956 e residia em Guimarães desde 1978. Era multifacetado autor, quer como pintor, artista plástico, escritor e ator de teatro. Em 1967 ingressara no Seminário da Diocese do Porto. Em 1970 passou a frequentar o Externato Infante D. Henrique, em Felgueiras. E logo expôs, com apenas 14 anos, no célebre “Staminé”. Em 1977 concluiu o Curso Complementar de Artes do Fogo (opção pintura), na Escola de Artes Decorativas Soares dos Reis, Porto. Foi professor em 1978/1980 no Colégio Egas Moniz, Guimarães, da disciplina de Trabalhos Oficinais (Mecanotecnia) do 7.º e 8.º anos de escolaridade. Em 2008/2009 frequentou o 3.º ano de Licenciatura de Artes/Desenho na ESAP-Escola Superior Artística do Porto. Em 2019 (com 63 anos) matriculou-se no 1.º ano de Licenciatura de Artes Plásticas e Intermédia na mesma ESAP.
Em 1993 optara pelo óleo sobre tela. E como artista plástico passou a assinar NAIA, desde então. Depois, em 2000 é inscrito associado na ANAP-Associação Nacional dos Artistas Plásticos. Está representado em várias coleções privadas e entretanto foi realizando exposições individuais e coletivas em Portugal e Espanha. Bem como expôs em Felgueiras, na Biblioteca Municipal e no Semanário, Casa do Pão de Ló e Casa de Cultura da Lixa.
De permeio, no Teatro, iniciara-se em 1971, com a
personagem Diabo, da peça “Auto da Barca do Inferno” de Gil Vicente e em 2019
foi convidado a fazer parte do conjunto “Oficina Excêntrica” teatro máscaras e
marionetas, com inauguração da exposição na Casa da Memória Guimarães. Já como
escritor usava o pseudónimo “Berto da Vinha”, desde 1992. Autor de vários
títulos, impressão e ilustração desde 1970, em “A Vergonha do Adolescente”
(diário), “O pincha Malaquias... na décima” (poesia), “A Melodia da
Informação”, “Os Meninos de Novembro” e “Do meu baú troco um poema por um
sorriso teu” (poesia). Em 2016 foi coordenador da publicação do livro com o
título “Memórias de uma Família Os Mendes da Casa da Boavista”. Bem como tinha
para publicar um livro, que (pelo menos quando me referiu isso) pensava intitular “Fragmentos com História”.
Até sempre, amigo!
Belo artigo de homenagem a um teu amigo, cujo texto é bem demonstrativo de quem o conhecia bem. Parabéns pelas tuas palavras assim como o teu amigo bem merecia de as receber. Que descanse em pa o Sr. Magalhães da vinha mais conhecido por NAIA. Abraço.
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