Na Primavera de 1969 ainda eu estava a frequentar um
estabelecimento de ensino interno deveras longe da região, estando então nos Capuchinhos
em Gondomar, quando em março desse mesmo ano ocorreu a passagem das bodas de
prata de casamento da D. Amália Castro e do sr. Verdial Moura, o simpático e
inesquecível casal dos senhores da Casa da Padaria da Longra. Algum tempo antes,
eu tinha vindo à Longra, em fevereiro, para o funeral da minha saudosa avozinha
Júlia de Jesus Pinto, que me acompanhara desde os primeiros meses de vida até aos
princípios de minha adolescência, desde sua cama de paralisia, e então no
acompanhamento à sua urna senti o sr. Verdial a dar-me apoio. Depois, ainda por
esse tempo, pouco depois disso, mas antes ainda da comemorativa passagem dos 25
anos de seu casamento, eu havia escrito uma carta ao sr. Verdial, porque num
dia de mais saudades da terra me lembrei dele e como gostava do que ele
representava na minha imagem do imaginário local. Tendo ele ficado surpreendido
e então me escreveu uma carta de resposta muito sentida, a agradecer e a
demonstrar o quanto também me tinha na sua consideração, além de sobre mim deter
então algumas esperanças de me ver como desejava, num futuro que ainda antevia.
Não mais esquecendo como ele referiu que gostou de ver que eu sabia redigir bem
uma carta, já, estava eu nos meus 14 anos. Tenho pena de não ter ficado com
essa carta, pois como ao tempo, no local de ensino e formação onde eu estava, à
época, havia certo controle da chegada e leitura da correspondência, a carta
chegou e depressa desapareceu. Mas tudo ficou gravado dentro de mim. Tendo
entretanto passado mais algum tempo, sido surpreendido com a notícia do
falecimento do sr. Verdial, em junho seguinte. Estava eu ainda fora da minha
terra, por essa altura, como acabei por estar por pouco mais tempo. Não tendo,
por isso, tido oportunidade de acompanhar e viver mais tudo o que se passou.
Mas soube depois, quando vim de férias e por fim não retornei ao estabelecimento
onde estivera, que o sr. Verdial e a D. Amália ofereceram a meus pais uma foto
do dia de suas Bodas de Prata, para que eu visse.
Passados anos, logo que pude, em todas as ocasiões
possíveis, o sr. Verdial Horácio de Moura foi motivo de eu o tentar homenagear,
pela admiração que sempre tive por ele e pela esposa, Dona Amália, aproveitando
para o caso qualquer mote, como foi dele ter tido influência na vida local e a
nível concelhio haver sido o fundador do original e histórico Futebol Clube de
Felgueiras. Quão consta honrosamente no livro “Memorial Histórico de Rande e
Alfozes de Felgueiras”, publicado em 1997, e no livro da “Elevação da Longra a
Vila”, saído a público poucos dias após tal aprovação oficial, em 2003. Bem como consegui fazer valer que fosse dado seu nome a uma rua da Longra e outra na área citadina de Felgueiras, tendo felizmente esse sido um dos casos salvos, de ideia que vingou felizmente (porque outros foram alterados na aprovação oficial).
Pode-se dizer quase que pessoas destas não morrem, enquanto
têm quem as lembre, pois foram pessoas inesquecíveis do ambiente da Longra e de
Felgueiras, dos tempos marcantes da infância e juventude de quem os tem como
seus também, para sempre.
Armando Pinto
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