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sexta-feira, 8 de setembro de 2023

Alberto Baltazar Portela – dado a conhecer e lembrado por merecimento de apreço felgueirense – em artigo no Semanário de Felgueiras Jornal

Artigo escrito pelo autor e publicado no Semanário de Felgueiras Jornal, edição de sexta-feira 08 de setembro de 2023, em sua página 14, espaço de opinião.

Do mesmo, junta-se texto original, ilustrado em modo acrescido com mais imagens. 

Alberto Balthazar Portella: Felgueirense Histórico no Brasil

Olhando para o horizonte, desde o ocidente ao oriente, resplandece pelo mundo fora a gesta da diáspora felgueirense, por onde chegaram felgueirenses que marcaram um rasto de sucesso. Havendo nessa marca assinalável algo de quão se impõe a alma de Felgueiras, pela evidência respeitante à sensibilidade correspondente. Tal qual o caso desta vez a merecer evidência, entre um desses exemplos a enaltecer na perenidade da memória coletiva, conforme merece ser lembrado Baltazar Portela, um Felgueirense que quando demandou a terra do pau vermelho ainda assinava portuguesmente seus apelidos familiares por Balthazar Portella, a seguir a seu primeiro nome, Alberto.

= "Casa Alberto", a empresa de Alberto Balthazar Portella no Rio de Janeiro. Anúncio publicitário.

Ora, Alberto Baltazar Portella emigrou muito jovem para o Brasil, desde o concelho de Felgueiras, saindo de Portugal em demanda de vida melhor na nação brasileira. Depressa alcançando uma situação social importante, a ponto de ter sido um dos pioneiros dirigentes históricos do grande Clube de Regatas Vasco da Gama, do Rio de Janeiro. Ficando na História Vascaína como afamado tesoureiro do clube da cruz maltina, esse que era dono de conhecida loja de uniformes militares, escudos bordados e bandeiras que por muitos anos serviu o seu Vasco juntamente com a família. Além de em Portugal ter ainda tido ação altruísta nalgumas instituições, sendo conhecido seu papel de benfeitor da Escola Primária da Longra, localidade onde tinha raízes familiares, e depois foi dado seu nome ao campo então existente como recinto desportivo da Longra.

Alberto Balthazar Portella nasceu em Margaride-Felgueiras a 1 de novembro de 1881. Era filho único de João Balthazar Portella e Maria Joaquina Fernandes Portella. Foi para o Brasil no início do século XX como pedreiro, mas logo se instalou por sua conta no comércio, tendo comprado a um tio, que já morava no Brasil, uma alfaiataria e fábrica de confeções. Tornando-se então um empresário bem-sucedido. Além de se ter inserido na vida carioca e embrenhado associativamente no inicial período do grande clube desportivo Vasco da Gama, como Tesoureiro responsável. Havendo então, pelos inícios da década dos anos 20, participado como Dirigente durante o período em que o Vasco teve a corajosa decisão de retirar o seu “time” do campeonato carioca por causa de racismo. Evento conhecido como “Resposta Histórica” (brevemente a completar 100 anos, em 2024). Acrescendo aí ter sido ainda Diretor do Departamento de Tiro no clube. Como empresário empregou jogadores no seu próprio estabelecimento, para que tivessem vida compatível com a prática desportiva e sustentassem com dignidade suas famílias. Assim como socialmente teve muita importância, facto deveras revelador por sua vida sociável. Tanto que com sua esposa formava um casal apreciador de festas sociais e todas as vitórias do seu clube eram comemoradas em sua casa juntando atletas e dirigentes. Foi agraciado com o título de Grande Benemérito do clube Cruzmaltino.

=  Cerimónia da «Implantação do Tiro de Guerra no Vasco da Gama: Alberto Balthazar Portella segurando a bandeira e a esposa, D. Avelina, a 1ª da direita para a esquerda, ao lado do pequeno escuteiro.»

A esposa, Avelina Fernandes Portella, sua prima, foi uma grande companheira e igualmente entusiasta do clube. Teve participação na criação do emblema do Clube de Regatas Vasco da Gama e foi ela quem tricotou as toucas utilizadas pelos jogadores no primeiro uniforme de futebol. Foi também Benemérita e tem o título de sócia n.º 1 do clube.

= Casal Alberto e D. Avelina, ainda jovens, com seus símbolos cruzmaltinos...

Igualmente na igreja os dois obtiveram destaque, como membros da Irmandade de Santa Luzia. Tiveram 5 filhos e criaram mais 2 sobrinhos órfãos. 

A filha mais velha, Rosa Fernandes Portella, sócia nº 2, casou-se com um atleta importante do clube, Adão António Brandão, nascido em Penafiel, Portugal (formado no FC Porto e no Brasil campeão em 7 modalidades desportivas, autor do 1.º golo do Vasco; tendo ainda sido um dos “Camisas Negras” na equipa de 1923 que ganhou o 1.º título de futebol carioca.)

= Adão António Brandão, craque da equipa carioca nos anos 20 e tais, junto ao símbolo do clube, com outros colegas de bons momentos cruzmaltinos de seu tempo.

Alberto Baltazar Portela faleceu a 25 de agosto de 1962, em sua casa, no bairro de Ipanema, Rio de Janeiro. Tendo legado a seus descendentes valores originários de Felgueiras-Portugal e gosto adocicado pela terra do Pão de Ló de Margaride.

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Posto isto, porque num artigo de jornal há que respeitar o espaço destinado e assim não se deve alongar demasiado o texto, há algo a acrescentar, aqui e agora, como explicação e conclusão.

O Tema desta vez contido no artigo, em mais uma crónica da colaboração pessoal ao SF, trata de lembrar (e dar a conhecer a muita gente, por certo) a figura de Alberto Baltazar Portela, um felgueirense de outros tempos. Cujo nome há anos chegou ao conhecimento do autor pela popular transmissão oral, visto em tempos, pelos anos 1930 do séc. XX, ele ter sido benfeitor da Escola Primária da Longra, tendo em sua homenagem sido dado seu nome a um campo desportivo de basquetebol aqui da então Povoação da Longra. Aliás sempre que vinha a Portugal de férias ele era visita oficial a essa escola. Tanto que, sobre o mesmo e reportando esses casos, há devidas referências no livro grande que escrevi e foi publicado em 1997, “Memorial Histórico de Rande e Alfozes de Felgueiras”, versando a história daqui da região sul-felgueirense. Livro há muito esgotado, mas sobre o qual, e mesmo de extensivos assuntos, há diversos artigos entretanto explícitos neste meu blogue “Longra Histórico-Literária”.

Longra – Anos 30 – Século XX. Alunos da antiga Escola Primária da Longra (concelho de Felgueiras), em pose de conjunto com sua professora e um benemérito, no espaço do recreio da escola (edifício de pedra no caminho de ligação ao cruzamento das quatro barrocas, caminho esse que hoje tem o nome de Rua das Alminhas). Em dia de festa pela visita do Benfeitor sr. Alberto Baltazar Portela, que sempre que vinha do Brasil visitava a escola que cumulava com sua ação de bem-fazer bairrista. Para quem conheceu o local, ao tempo da captação fotográfica estava ajardinado em canteiros rústicos, algo que depois se modificou, sendo onde mais tarde os rapazes jogavam à bola.

(Foto constante dos livros “Memorial Histórico de Rande e Alfozes de Felgueiras”, publicado em 1997; “Elevação da Longra a Vila”, pub. em 2003; e “Luís de Sousa Gonçalves – o Senhor Sousa da IMO”, pub. em 2019.)

Quanto ao que foi escrito no artigo, há um caso que merece anotação, para salvaguarda. Tendo sido indicado que o genro de Alberto Portela, o Adão Brandão, era natural de Penafiel, conforme consta na literatura historiadora do próprio Clube de Regatas Vasco da Gama e inclusive teve também entretanto referências em jornais e livros penafidelenses. Contudo há uma versão familiar referindo ele ter nascido em Paredes, como se sabe concelho vizinho de Penafiel. Terras essas da região do Vale do Sousa, as duas, como também Felgueiras, por aqui todas próximas e comuns nas mais variadas tradições e potencialidades. Já quanto ao patriarca da família, Alberto Baltazar Portela, não há dúvidas, pois sabe-se ao certo que nasceu em Margaride-Felgueiras, conforme consta de sua documentação, identificando-o documentalmente ainda como Alberto Balthazar Portella.

= Pose histórica de Alberto Baltazar Portella junto à entrada e montra de sua loja.

Com este artigo, além da rememoração sobre o ilustre felgueirense Alberto Baltazar Portela, vem agarrado o tema do seu clube, o "Club de Regatas Vasco da Gama", vulgarmente chamado em Portugal por Vasco da Gama do Brasil. Como em gaipas de uvas, neste tempo de vindimas do vinho verde da região do Douro Litoral, em Portugal, também sobe na ideia “engaipilhado” (quão se refere aos cachos de uvas e suas ramificações, no regionalismo de Entre Douro e  Minho). Vindo assim ligado o Vasco da Gama, um clube da simpatia, por assim dizer, de muitos adeptos portugueses, ou não seja um clube que foi fundado outrora por portugueses. Podendo mesmo dizer-se que, entre Lusos seguidores do futebol, não haverá português ou luso-brasileiro que não simpatize de certa forma com este glorioso clube, com a caravela do tempo do nauta descobridor Vasco da Gama e a cruz das caravelas, também chamada Cruz de Cristo, vulgo Cruz de Malta, no seu emblema.

Foi em 1898, no Rio de Janeiro, que foi fundado originariamente o mesmo clube, em homenagem ao quarto centenário do feito do navegador Vasco da Gama, que descobriu o caminho marítimo para a Índia. Então por iniciativa de alguns rapazes remadores, todos portugueses ou filhos de portugueses, resolvidos a criar um clube de regatas. Assim, nasceu o Club de Regatas Vasco da Gama, inicialmente de desportos náuticos, de água, mas depois já incluindo desportos normais, de terra, também. Mais tarde, para agregar diversos clubes de portugueses e desse modo formar uma união da colónia portuguesa, em torno do clube, criando assim uma enorme “torcida cruzmaltina”, houve associação mais vincada com um desses clubes, o Lusitânia, inserindo o departamento de futebol do Lusitânia Sport Club. Passando, com tal fusão, o Vasco a partir de 1915 a ter também secção de futebol, incorporando o desporto-rei entre o ecletismo clubista já com diversas modalidades. Sendo o Vasco da Gama do Brasil, daí em diante, um dos grandes clubes de futebol brasileiro, com uma história grandiosa desportiva e socialmente. Tendo até sido o primeiro clube brasileiro a ter homens de cor negra nos seus quadros diretivos e inclusive no seu plantel também jogadores negros, o que lhe causou alguns dissabores à época e depois foi deveras apreciado. Havendo em 1916 o Vasco estreado a sua equipa de futebol na terceira divisão do campeonato carioca, enquanto em 1923 já figurava na divisão principal, e sido campeão. Mas isso é outra história, a própria história desse eclético clube desportivo.

Ora, no que interessa mais aqui para o caso em apreço, que é de interesse felgueirense, é que um dos principais Diretores dos tempos iniciais do futebol no Clube Vasco da Gama, além de também Dirigente e impulsionador da modalidade de Tiro, como sobretudo Tesoureiro da Direção do clube, e mais tarde membro do Conselho Deliberativo também do mesmo clube, do qual chegou a ser Presidente nos anos 50, foi um felgueirense, Alberto Baltazar Portela. Mas além disso, ainda mais se junta a curiosidade de seu genro, Adão António Brandão, também português, oriundo igualmente do Vale do Sousa, área a que pertencem os concelhos de Felgueiras, Penafiel e Paredes, ter sido o desportista mais eclético do clube da Cruz de Malta, considerado o maior atleta da história do Vasco da Gama, tendo conquistado medalhas e troféus em sete modalidades, incluindo ser o autor do primeiro golo do Vasco, no primeiro jogo disputado por uma equipa de futebol do Vasco da Gama.

= Equipa Vascaína com Adão Brandão, apresentando-se com casacos sobre o equipamento (como era uso, ao tempo, antes dos jogos, ao género dos fatos de treino ou blusões atuais). Estando os jogadores com as toucas tricotadas por D. Avelina, esposa de Alberto Portela.

= Adão António Brandão

Já sobre a esposa de Alberto, Avelina Fernandes Portella (sua prima em primeiro grau), além das alusões referidas, acresce que foi também ela que bordou a primeira bandeira do clube, segundo consta em testemunhos escritos pela história vascaína. Tendo, durante a vida do marido, e até mesmo depois do falecimento de seu estimado cônjuge, estado presente a diversas homenagens como representante de toda essa ligação familiar ao Vasco da Gama do Rio de janeiro.

= «Batismo do barco "Manuel Costa" pela Ex.ma Sra Alberto Balthazar Portella, em 16 de novembro de 1952.» Conforme consta de legenda de foto do clube. Estando D. Avelina à frente de Rafael Veri, treinador do Remo do Vasco.

Sobejam ainda mais algumas outras curiosidades, quão de importância é de referir que muito do que foi possível descobrir, sobre o mesmo tema, se deve a uma bisneta do casal Alberto Balthazar Portella e neta da filha mais velha do casal Rosa Fernandes Portella Brandão, casada com Adão Brandão – a D. Ana Beatriz, que confidenciou aqui ao interlocutor dos inerentes contactos e autor destas linhas: «- Aprendi a amar Portugal através dos meus avós, minha bisavó e meus pais. (Meu avô paterno, por coincidência, também era de Felgueiras). Tento passar para meus filhos o enorme respeito e admiração que tenho por esta linda terra.»

*****

Alberto Balthazar Portella, nascido em Margaride-Felgueiras, Portugal, a 1 de novembro de 1881, faleceu a 25 de agosto de 1962, no Rio de Janeiro, Brasil. Tendo então sido escrito numa coluna jornalística a enternecedora reportagem que se guarda à posteridade:

Agradecimento: Além das pesquisas efetuadas para o efeito, em buscas possíveis ao longo de alguns anos, para melhor conhecimento da antiga existência deste felgueirense saliente do Vasco da Gama, clube importante do futebol brasileiro, foi através de informações da bisneta de Alberto Baltazar Portela, D. Ana Beatriz Nogueira, que se tornou possível acelerar o estudo. A quem, D. Bea, bisneta deste felgueirense Alberto, e neta de seu genro Adão Brandão, residente no Brasil, agradeço a correspondente partilha informativa e o respetivo envio das fotos. Através de cujo material se fica a conhecer melhor os dois ilustres naturais da área portuguesa do Vale do Sousa, do Distrito do Porto, deste nosso Norte de Portugal. 

Armando Pinto

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