De modo algo distante e quase discreto, do que
seria justificável, passou o dia da implantação da Liberdade política e as respetivas
comemorações do 25 de Abril, ao nível nacional. Tendo sido o 40º aniversário dessa data, cuja
ocorrência tanto significou e influenciou a vida portuguesa das últimas quatro
décadas. Enquanto já passaram quarenta anos desde esse dia inesquecível e tempos
seguintes de efusiva juventude nacional… que parece que foi há pouco e até
custa a crer como foi possível tantos recuos nos últimos anos, derivado a
oportunistas que se atrelaram ao poder e, a partir da entrada de Portugal na
moeda única europeia, mais vincadamente, têm prejudicado o país e os
portugueses.
Entretanto, porque o melhor é deixar de lado factos tristes, há que dar a volta e reparar noutros fatores. E, assim, eis que aí está a entrar Maio, mês de características assinaláveis. Dando azo a algumas considerações de índole popular, perante curiosidades da memória etnográfica, na cronologia também histórica.
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Passado Abril, entrados no
Maio Moço do imaginário popular, no subconsciente tradicional desse mês
garrido, vêm à ideia características próprias do tempo, incidindo conceito
público definido no rifoneiro tradicional de que neste mês até nem faz mal
alguma agitação, pois “Maio que não der trovoada não dá coisa estimada”. Isto
no panorama meteorológico, evidentemente, já que no aspeto sentimental esta
quadra, anualmente bem-vinda, é tida por “Mês das Flores, de Maria e dos
Amores”.
Sendo época em que o povo
sempre saiu de casa para conviver, quer através da oração comunitária aos pés
de florido altar da Mãe de Deus, misturando flores com cânticos e preces, ou em
danças de roda no fim das cerimónias, chega o mês das flores a rececionar o dia
da Mãe, atribuído ao primeiro Domingo de Maio.
Antes contudo há ainda a
tradição das “Maias”, com a colocação de ramos de giestas floridas nas portas e
janelas das casas, na noite do último dia de Abril para o 1º de Maio.
Segundo a lenda, ouvida por
estes sítios desde longínquas eras, Herodes (rei conhecido de histórias
bíblicas) ao ouvir novidade de que em Belém da Judeia havia nascido um Menino,
a quem as escrituras sagradas chamavam Rei dos Judeus, mandou matá-LO. Ora,
tendo os seus espiões descoberto de noite onde ficava a casa em que o Menino
Jesus vivia, marcaram-na com um ramo de giestas na porta para na manhã seguinte
irem cumprir a sentença. Só que, por milagre natural (tratando-se do Menino-Deus),
ao alvorecer a madrugada, do primeiro dia de Maio, surgiram todas as habitações
das redondezas assinaladas com giestas floridas nas portas, ficando os súbditos
do monarca confundidos. Facto aproveitado por S. José para fugir dali com a
Sagrada Família, para o Egipto. Então, pela incerteza do seu paradeiro,
calculando que o nascimento de Jesus teria ocorrido há pouco mais de um ano,
Herodes mandou que na região dessa cidade fossem mortas todas as crianças do
sexo masculino com menos de dois anos, para atingir de qualquer forma o Menino
que temia lhe viesse a roubar o trono... dando-se a degola dos Santos
Inocentes, mas ficando Jesus a salvo desse atentado.
Esta lenda, misturada com
factos históricos do Novo Testamento, desde sempre que deteve simpatia popular
nesta região de Entre Douro e Minho para com as giestas, conhecidas por Maias,
associando a sua flor a festas que se realizavam na ocasião. De que em
Felgueiras há tradição remota com a festa da Feira de Maio, no primeiro fim de
semana do mesmo mês – realizada tradicionalmente no primeiro Domingo e
Segunda-feira de Maio, com enraizado cunho de mostra de gado, através de
concursos pecuários a premiar melhores expositores de gado cavalar e bovino,
numa competição alargada a corridas de cavalos, além de outros números de
lazer, que antigamente contavam com um desfile etnográfico chamado Cortejo das
Lavradeiras e, depois, em anos diversos até à década de sessenta do séc. XX,
incluíram provas populares de ciclismo.
Voltando ao rumo descritivo,
é costume, com efeito, na noite da entrada de Maio haver decoração de todas as
portas e janelas exteriores das casas com um ramo dessa planta rústica, quer de
flores brancas ou amarelas, com preferência para estas.
Há um dito popular, ainda,
de que a colocação dessa planta nas entradas das casas tem também ligação com
uma praga de insetos, por via de um bicho conhecido por carrapato, que em tempo
incerto aconteceu, pelo que se associa o costume em ideia de afugentar entrada
nas casas dos tais carrapatos, associados na mente popular também com o demónio
ou espírito mau, associado a um Herodes maléfico.
Em diferente aspeto a data
tem atributo de dia do trabalhador, como festa mundial do trabalho, desde que
houve massacre de operários praticado em 1884 nos Estados Unidos da América.
Tendo sido estabelecido também em Portugal em 1889, com interregno durante a
vigência do Estado Novo até suspensão levantada com o 25 de Abril, sendo a
partir de 1974 feriado nacional.
Mas no que toca ao tema
pitoresco do assunto, a floração operada neste período da natureza tem
correspondência também de fecundidade. Por isso veio a propósito a mudança do dia
da Mãe, que antes ocorria em Dezembro e ainda recentemente passou para Maio - de começo em
Domingos diferentes de um ano para outro, mas ultimamente sempre no primeiro
Domingo do Mês de Maria, como é celebrado pela Igreja católica.
Antigamente tal efeméride ocorria em
Dezembro, com relação ao dia da Imaculada Conceição. O rei D. João IV procedera
à Proclamação Solene de Portugal à Sua protecção, feita no ano de 1646.
Volvidos séculos, o Papa Pio IX instituiu o Mistério da Imaculada Conceição,
altura em que nas terras portuguesas foram construídos diversos monumentos, em
honra da tradição portuguesa de ser Terra de Santa Maria. O que teve sequência local, aqui na região, passados alguns anos, quando no começo do século seguinte também em Felgueiras
foi erigido um alusivo pedestal no Monte de Santa Quitéria. E a importância desses
acontecimentos e associação dessas devoções, ficou bem patente com a
consagração do mundo ao Imaculado Coração de Maria, por meio da Mensagem de
Fátima, em plena segunda década do século XX; bem como em 1946 foi a imagem de
Nª Sª de Fátima coroada, na passagem do tricentenário da eleição da Padroeira
de Portugal.
Como assim, foi o dia da
Imaculada Conceição, a 8 de Dezembro, dedicado às mães durante muitos anos. Em
tempo recente, porém, houve mudança para o mês das cerimónias diárias ao culto
da Mãe de Jesus, por junção de várias razões: a devoção do Mês de Maria, que
começara a praticar-se em 1859, após o dogma referido, mais se enraizou na
ligação a Maio, com reconhecimento episcopal, em 1930, declarando dignas de
crédito as aparições de Fátima, cujo início foi nesse mesmo mês também.
ARMANDO PINTO
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