Espaço de atividade literária pública e memória cronista

terça-feira, 15 de outubro de 2024

Foral de Felgueiras - na efeméride da outorga da Carta Régia de D, Manuel I às terras do antigo Alfoz felgueirense

 

Salvé 15 de Outubro !

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Transposta a fase das vindimas, ao chegar a faina das desfolhadas pode também, por analogia figurativa, desfolhar-se algumas folhas de história coletiva.

É que é nessa época que efetivamente, em pleno Outubro, entrado já o Outono no dia-a-dia, ocorre o aniversário da outorga do Foral Manuelino a Felgueiras, carta régia concedida por D. Manuel I a 15 de Outubro de 1514. Uma significativa numeração na simbologia local, apesar de essa vetusta alforria não abarcar ao tempo toda a região que, séculos mais tarde, se irmanou em concelho.

Desde os primórdios da História Portuguesa, após as conquistas de terras, que o poder real concedia cartas de foral a estabelecer direitos e deveres dos habitantes dessas terras, englobando condições nas concessões de propriedades, para atrair moradores e servidores em vista ao desenvolvimento local e, mais tarde, para definir posições bem como obrigações dos proprietários dos prédios reguengos.

Na tradição, segundo alguns textos escritos, parece ter havido possibilidade de antigas concessões a Felgueiras de cartas régias, porém sem fundo documental comprovativo desses factos. Certezas há quanto ao foral quinhentista, concedido pelo monarca venturoso dos Descobrimentos.

Os forais novos, como o de Felgueiras, eram cartas régias que passaram a ser documentos de reconhecimento de usos antigos de uma circunscrição, confirmando anteriores ordenações, ancestrais costumes bons, direitos e liberdades, incluindo os bens pagos aos senhores das terras, que de orais ficavam lavrados por escrito. Forais que eram assim atribuídos a oficializar categoria jurisdicional e a ordenar de vez segundo a lei do tempo, legitimando as formas de organização social dessa era.

No caso, reportava-se a concessão do rei venturoso, naquela época medieval, apenas a 21 freguesias englobadas no concelho, cujo tombo portanto não continha ainda as freguesias a sul de Margaride, ou seja as terras do Julgado do Unhão - as quais aliás foram também atombadas de seguida, volvidos cinco meses na régia reforma então empreendida. Sendo o território do Julgado do Unhão também dotado com reconhecimento através de foral, que determinou nova categoria administrativa local, por meio evolutivo da passagem do aludido Julgado ao coevo concelho do Unhão, criado pela Carta de Foral de 20 de Março de 1515 (que teve primeiro estudo no “Memorial Histórico de Rande e Alfozes de Felgueiras”, como vem transcrito aliás no referido volume).

Ora, verificadas ao longo dos tempos diversas transformações administrativas nas áreas dos antigos concelhos de Felgueiras e Unhão, mais dos longínquos Alfozes dos Coutos de Pombeiro e Caramos, um Couto do lugar de Brolhães, que daria depois vez à freguesia de Aião, além do muito posterior e fugaz concelho de Barrosas, como depois todas essas partes foram reunidas em torno de um só concelho, composto nesse tempo de trinta e três freguesias, é de significado amplo a atribuição de 15 de Outubro à terra que se tornou sede de toda a zona, de confirmação de direitos e deveres antigos.

= Oficial postal comemorativo

A data em apreço chegou, inclusive, a ser pensada para ser Dia do Concelho. Porém porque a partir de determinada altura, verificando-se que as populações não se reviam totalmente nesta efeméride, pela dispersão antiga das diversas divisões administrativas, como se aflorou, foi mais tarde decidido que passasse a ser o dia de S. Pedro, a 29 de Junho, derivado a ser o da festa mais antiga realizada na área. Evento que ainda é, no mesmo sentido, referência comum às atuais freguesias da presente unidade concelhia, mais as recentes uniões impostas a régua e esquadro… nos gabinetes políticos, contra a vontade das populações.

(Artigo em tempos publicado no Semanário de Felgueiras, há uns anos já, com excertos dum outro texto, da mesma autoria, aqui do autor deste blogue...)

ARMANDO PINTO

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domingo, 13 de outubro de 2024

Esclarecimento – para não haver confusões.

Este Grupo, criado com esta página, foi originariamente concebido para partilha de memórias comuns, da chamada memória coletiva. E por acréscimo, atendendo ao desejo de alguns amigos, também como espécie de motor de arranque para um grupo de convívio que resultasse num almoço ou jantar de amigos e conhecidos. Mas como ninguém se predispôs, a isso, essa intenção subjacente foi ficando de lado e permaneceu apenas a partilha de memórias, normalmente através de publicações do autor e administrador. Entretanto houve conhecimento dum almoço que anteriormente já havia sido realizado, em 2019, de alguns amigos, a maior parte dos quais não pertencentes ao grupo desta página. Entre os quais eu (Armando Pinto) não estava incluído, pois também não tivera conhecimento nem tinha sido convidado. Grupo esse que entretanto não havia tido continuidade por via do período de confinamento social derivado do Covid. Este ano, porque alguns dos amigos do primeiro almoço foram sendo adicionados a este grupo, passou a haver conhecimento do caso e houve o almoço já realizado em setembro, deste ano de 2024, com convites extensivos a quem os da organização conseguiram contactar. Mas, frise-se, sem eu estar na organização. Tendo participado como convidado, com muito gosto. Agora, para futuro, passei a fazer parte da próxima dupla encarregada da realização do almoço agendado para 2025. E naturalmente criou-se um grupo de WhatsApp, que é um meio mais rápido de contacto por ser direto pela via de telemóvel. Assim sendo (não haja confusões!) este grupo mantém-se como era e está, com vias de acesso pela Internet chegada ao telemóvel ou computador; e o outro apenas de telemóvel. Um completando o outro, embora havendo membros que estão num e não no outro. Mas que, todos, podem estar, se assim o desejarem, como já foi explicado em anteriores notas informativas publicadas no blogue "Longra Histórico-Literária" e que aqui aparecem no grupo.

Nota: A foto é apenas de e para ilustração, surgida dum instantâneo ocorrido já há alguns meses entre alguns amigos, de cá e não só. Mas sem nada ter a ver com o caso presente. Apenas, na ocasião, se falava de anseios e promessas, entretanto ainda em espera... e que foram lembradas nas conversas durante o recente convívio de amigos de cá.

Armando Pinto

segunda-feira, 7 de outubro de 2024

Memórias de tempos idos… comuns a muito boa gente… entre bons amigos feitos na convivência da Longra!

Por estes dias esteve presente, no quotidiano de quem tem filhos e netos nas escolas, sobretudo, as greves de professores e funcionários dos estabelecimentos públicos de ensino. A dar algumas folgas às crianças e jovens, quão mais se fez sentir, fora o resto que pode ou não resultar. Ora, essa realidade atual fez disparar algumas recordações de antigamente, remontando mais ao tempo da escola primária, quando nós, alunos da escola em tempos idos, estávamos à espera de ver se a nossa professora não aparecia, mas por motivos mais a ver com o que era usual por esses tempos, nas idas eras da escolaridade de antigamente.

Pois então, para quem andou na escola pelos anos das décadas de cinquenta e sessenta, pelo menos, sabe-se que na escola primária desses tempos o ambiente era tudo menos atrativo, sendo uma obrigação algo desoladora. A pontos que os alunos, fossem bons ou não, geralmente levavam pela mesma medida, como se diz. E normalmente “levavam”, como se dizia de apanharem os chamados bolos nas mãos, de reguadas, além de canadas, com canas na cabeça, quando não de outros modos, de qualquer forma, ou nuns dias ou noutros, numas situações ou noutras. E quem ia ao quadro, como se dizia de ir à frente e ficar em pé junto ao quadro de ardósia, cravado na parede, e correspondendo ao chamamento ter de fazer com o giz à frente de toda a gente os problemas (contas de aritmética – pois ainda se não falava nem era conhecida a palavra matemática!) ou responder a perguntas orais, por exemplo, era certo e sabido que se levava que contar de qualquer jeito. Como ainda todos lembramos e se pode contar. Assim sendo não admira que por norma ninguém gostasse do tempo que se passava na escola. No meu caso eu gostava das perguntas de história e das redações que se faziam e cópias por textos de português. Além de desenho (tendo ficado na memória o caso da professora ter querido que eu fizesse os desenhos nas provas de todos os colegas, no exame final da Quarta, como se fazia a decorar o cimo de cada folha em provas oficiais...). Mas não gostava das contas e quanto ao resto, durante o tempo normal, pouco ficou nas boas memórias, fora as brincadeiras no recreio, especialmente a jogar à bola. E logo pela manhã, quando se chegava à escola, enquanto se esperava pela chegada da professora, havia certo nervosismo miudinho perante o que se podia esperar. Daí que enquanto a professora não chegava havia ansiedade, mas depois logo que se sabia que não vinha era um alívio. Mas, ao invés, quando chegava era uma desilusão. Então quando se ouvia alguém a dizer “dentro”, para todos entrarem… Mas, claro que dependendo de certas ”coisas”. Como durante a minha 1.ª Classe, com a D. Candidinha, era e foi um regalo. Então eu gostei bem de ir e estar na escola. Mas depois, a partir da 2ª Classe, eu e todos, com a professora que se seguiu na sala de aula dos rapazes (que foi a realidade que conheci melhor, naturalmente…) já foi diferente. Recordo-me que quando ela demorava mais um pouco, íamos até ao Largo da Longra, porque ela vinha de cima do lado da vila de Felgueiras, e não tirávamos os olhos desses lados, na esperança dela não aparecer…

Obviamente que também ficaram boas ou ao menos curiosas memórias. Como ainda no encontro de amigos, recentemente efetuado, houve oportunidade de recordar. Tendo um lembrado uma palavra que a D. Fernanda dizia aos alunos mais velhos, os da 4.ª Classe, quando eu e colegas da mesma igualha ainda estávamos na 2.ª e olhávamos os outros com os olhos dessas idades. Assim como todos ficamos a olhar uns para os outros quando ela, enquanto se enervava, começou a chamar a alguns de “imbecis”… coisa que nunca tínhamos ouvido e nem sabíamos o que ela queria dizer, qual o seu significado. Pudera, ainda nem tínhamos dicionário…!

Outros tempos. Que não voltam, mas também não esquecem.

Armando Pinto