Espaço de atividade literária pública e memória cronista

sexta-feira, 31 de agosto de 2018

Recordando… Valentim Sousa, desenhador do cabeçalho do antigo Boletim MIT, a propósito de lembrança do jornal da Metalúrgica da Longra e extensivamente outras curiosidades …


O título, encimando este artigo, nem será título à maneira dos cânones publicistas, mas na sua extensão peca até por não conseguir abarcar o que se pretende referir, desta feita. Tais os temas e apêndices que vêm a propósito, na ideia de evocar o antigo jornal Boletim MIT, relacionando com o próprio mote outros motivos a arrolar positivamente. Tudo a propósito, afinal, de um assunto que gera diversa matéria extensiva.  Algo que daria um bom artigo para o género de crónicas jornalísticas com que de quando em vez se procura enaltecer pessoas e razões felgueirenses, mas que não dará para encurtar num espaço normal de artigos de jornal, cabendo melhor neste espaço que dá mais para tudo.

Assim, vem desta vez à ideia de recordação, no sentido de lembrar factos e raridades de conhecimento de outras eras, a existência do jornal da fábrica Metalúrgica da Longra, e na linha da grelha recordatória advindo também o nome do desenhador do cabeçalho do mesmo boletim, um jovem desse tempo, que entre toda a gente das redondezas era conhecido como Valentim da Metalúrgica.
= Valentim Sousa – ao tempo de suas funções de desenhador na Metalúrgica da Longra – com a família. É o mais alto. Enquanto o irmão mais novo, o agora Dr. António Carlos, na foto ficou a coçar a vista…

Então, era o autor destas linhas ainda criança, mas (passando a descrever na primeira pessoa) lembro-me desses tempos em que a vida daquela grande fábrica tinha impacto em toda a região e o seu ambiente social fazia parte do quotidiano das pessoas e mesmo da localidade, mais cercanias. Sendo então uma honra pertencer a essa casa, que todos consideravam escola, e um orgulho lá ter alguém, se mais não fosse para termos entrada nas festas que por vezes havia ali, além de sessões de cinema com que a fábrica grande alternava com passagens de fitas também na vizinha Casa do Povo da Longra. E eu andava atento ao que por lá se vivia, como o meu pai, Joaquim Pinto, era o responsável pela parte elétrica da empresa, além de ter sido o criador da famosa “sirene da Longra”, de sinal para as entradas e saídas do pessoal trabalhador, cujo potente som era ouvido a largas distâncias. Acrescendo ser por lá muito respeitado, ao tempo, pela atenção derivada de ter feito por sua cabeça diversa maquinaria original para laboração da fábrica e inclusive protótipos dos móveis metálicos da empresa, em miniaturas, para as exposições nacionais e internacionais, tendo sido agraciado com o Prémio da Associação Industrial Portuense de 1959, recebido em 1960.

Com imagem já diluída pelo tempo, tenho ideia de muita gente que por tal época pertencia à empresa da Longra, entre os quais esse então jovem Valentim. Que tinha uma lambreta que era famosa, vendo-se a passar à Longra na sua postura de juventude. Tão conhecida era ela, e era ele nela, que até interferia por vezes nas imagens da televisão da Casa do Povo (dos poucos televisores que havia pela região circundante, metendo muita gente a ir ver isso à agremiação popular), de tal forma que quando a imagem do ecrã começava a fugir e o vidro do aparelho ficava com riscas intermitentes e ziguezagueadas, logo o pessoal dizia que ia o Valentim a passar…

= Fotografia atual de família

Pois o Valentim, que conheci, era eu criança em idade de escola primária, lembro-me dele assim rapaz e homem ainda muito jovem. Era nesse tempo chefe da sala de desenho da Metalúrgica da Longra, tendo frequência do Curso Industrial, que depois concluiu até enquanto trabalhava na mesma firma. E como encarregado do setor de desenho da empresa, foi quem fez o desenho que serviu de logotipo para o cabeçalho do Boletim MIT, jornal interno com que a gerência da empresa deu um impulso ao crescimento fabril, então notório, que se fazia sentir. Sendo que esse jornal, feito em equipa por diversos desenhadores da fábrica, entre os quais o sr. Gois e o Matos, dos quais me lembro também, teve primeiro número (Ano I – Nº 1) em Novembro de 1962. Como se pode ver pela imagem cimeira deste artigo.

Vem assim a talhe lembrar algo dessa colaboração, pois no mesmo também ficaram diversos escritos de Valentim Sousa nas páginas do Boletim Mit, conforme se recolhe e reproduz passagens de alguns dos exemplares da sua coleção – mais concretamente das edições nº 2 de Dezembro de 1962, nº 3 de Janeiro/Fevereiro de 1963 e nº 5 de Maio/Outubro de 1963.


Além disso, como mostra das afinidades que havia, era tal a interligação do pessoal da empresa com a vida local que, por exemplo, o mesmo Valentim Fonseca de Sousa pertencia ao então existente Grupo de Teatro da Casa do Povo da Longra (como ficou a constar, por entre a descrição historiadora da atividade teatral desses idos anos sessentas, com referência ao elenco e outros registos, no livro “Memorial Histórico de Rande e Alfozes de Felgueiras”, publicado em 1997 com patrocínio do Semanário de Felgueiras). Ressaltando também da sua produção literária inserta no Boletim Mit um artigo sobre Teatro, fruto do entusiasmo que se respirava na Longra nessa vitalidade cultural, perante o que representava a arte de Talma na convivência alargada.


Era Valentim Sousa residente nesse tempo em Varziela, vindo todos os dias para a Longra na sua lambreta, sendo na Longra muito popular, como tanto ou mais pelo ambiente da então vila de Felgueiras. Oriundo de família de tradições e com valor, de modo que o avô paterno, de Friande, foi mais tarde reconhecido com a atribuição de seu nome a uma artéria da freguesia, a Rua Artur Augusto Teixeira da Costa, em S. Tomé de Friande. E seu pai, Joaquim de Sousa, conhecido por Quinzinho da Quinta da Urtigueira e mais tarde como Sousa da Marfel, era pessoa de respeito. Enquanto a mãe, Francisca, era filha do Sr. Albaninho da Estradinha, dono duma funerária e fabricante de caixões, de nome feito na vida público-social. Havendo a ligação familiar à Marfel, fábrica felgueirense de camisas de grande fama por esse tempo, levado alguma relação ao facto de Valentim, como galã, à época, também ter feito algumas passagens de modelos em sessões publicitárias para a empresa. Enquanto nos seus tempos livres fora do emprego também cantava, como tocava viola e acordeão em récitas e passatempos, com destaque para atuações em saraus e serões de trabalhadores na Metalúrgica e ainda na Casa do Povo da Longra.

Desses tempos ficam assim algumas recordações, na réstia perdurável das lembranças, perante a convivência que havia entre as pessoas, com maior ou menor ligação, servindo sempre o conhecimento de vista como coisa familiar de apreço. Tendo depois, segundo informações, ele ainda ter feito o curso do Instituto de Engenharia, enquanto também se dedicou à Pintura, tendo por esses tempos exposto no Casino do Estoril e no El Corte Inglês em Gaia. Como posteriormente, indo para o Brasil, já na Universidade de Mackenzie S. Paulo fez o curso de Economia.

De família tradicional, é irmão de um outro felgueirense saliente, como é o Dr. António Carlos Sousa, jurista de grande nomeada na cidade do Porto, casado com a Dr.ª Jéni Marques, de Fafe, médica com carreira hospitalar também no Porto.

É o Dr. António Carlos Fonseca de Sousa Comendador da Ordem dos Templários (Universal).

Formado em Direito, pela Universidade do Porto, iniciou estudos liceais no histórico  Externato Infante D. Henrique, em Felgueiras.
= Dr. António Carlos, como Comendador da Ordem dos Templários (Universal). E em pose familiar, com a esposa.

As raízes familiares dos Fonsecas Sousas, de Friande e Varziela, remontam à linhagem do famoso Magriço, o fidalgo Coutinho que foi um dos Doze de Inglaterra cantados n´Os Lusíadas. De laços ancestrais da Casa do Paço de Borba, na Lixa, onde havia o corpo dum santo, S. Bonifácio, que depois foi para a igreja de Borba de Godim. Sendo a dita casa de ramos antigos desses Cunhas Coutinhos e ainda de seguintes rebentos, incluindo fidalgas de Cabeça de Porca, mãe e tias do pai dos atuais irmãos Sousas, cujo patriarca da família Sousa, o pai dos irmãos Valentim e Dr. Carlos Sousa, é primo do Dr. Leonardo Coimbra e da esposa do Pimenta Machado de Guimarães.

= Dr. António Carlos Sousa a segurar na primeira bandeira, do lado direito.

E... ficávamos por aqui a folhear páginas mentais extensivas. Que isto de recordações e memorizações também é como as cerejas, vem umas atrás das outras. Fica pois a recordação de um personagem que faz parte das lembranças felgueirenses e, a propósito disso e toda a envolvência do tema, o que acabou por se deixar expandir por estas linhas de apreço a tudo o que engrandece Felgueiras.

Armando Pinto
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6 comentários:

  1. Magnífica exposição, caro Senhor Armando Pinto, os meus sinceros agradecimentos. António Carlos Fonseca de Sousa

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  2. Sr. Armando Pinto, parabéns pela recensão crítica de apreciação, imparcialidade e clareza da família FONSECA E SOUSA desse nobre concelho de Felgueiras.Que Deus lhe dê sempre a força e a coragem p/ publicar e engrandecer a nossa santa terrinha.
    O Sr ARMANDO PINTO SEMPRE COM FELGUEIRAS E SUAS GENTES no CORAÇÃO 💓

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  3. Bom dia, só uma curiosidade. Estou com o Boletim MIT nas mãos mas tenho alguma dificuldade em identificar o significado da abreviatura MIT (metalúrgica ?). Poderá me esclarecer? Obrigada

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  4. Boa tarde. Tenho muito gosto em correesponder a essa curiosidade. MIT era a sigla da inicial firma "Martins e Irmãos Teixeiras" que deu início à grande empresa Metalúrgica da Longra. Firma que começou em 1920 no Largo da Longra, centro da então povoação desse nome, hoje pequena vila. (E que mais tarde, a partir de 1950, passou para a reta da Arrancada da Longra, ainda dentro da mesma localidade mas já em espaço mais amplo para o cresciemnto necessário). Então, durante anos, com as sucessivas mudanças de gerências, a firma foi também evoluindo no nome, e durante anos foi MIT/ Metalúrgica da Longra, até que ficou só Metalúrgica da Longra e comercialmente com o nome apenas de Longra, que se manteve até ter sido extinta nos anos 80 do séc. XX.

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