Caiem agora pingas de chuva, em plena primavera do
calendário deste ano; e, na colaboração normalmente prestada ao Semanário de
Felgueiras, pela escrita do autor destas linhas, escorrem também impressos
pingos de memória histórica… na edição desta sexta-feira primeira de Maio:
Pingos de Memória
Pode conceber-se o valor duma terra pela fasquia a que se
eleva a saliência humana. Numa perspetiva de identidade, em relação enobrecida
perante existência de pessoas e factos marcantes.
Nesse sentido causa sentimento contrário quando o panorama
enfraquece. Como se nota desde há anos nesta região do interior do Vale do
Sousa, perante o facto de alguns concelhos estarem a distanciar-se dos vizinhos
que tomaram a dianteira, com Felgueiras a ficar aquém do que devia ser e estar.
A pontos que tem corrido nalgumas difusões noticiosas um estudo conclusivo
sobre Felgueiras estar a perder importância na região agora chamada de Tâmega e
Sousa. Sem ser novidade, tal o que se sabe e sente, com noção que urge alterar
a situação e algo deve ser feito. Qual o acaso da reforma administrativa ter
sido levada a efeito a régua e esquadro por quem decidiu nos gabinetes e assim
ter começado a perca de identidade na maioria do território concelhio, no que vem
ao caso. Tal como se vai vendo no tema do tribunal, etc. e tal. Numa corrente
que vem fazendo emergir o caso de presentemente mais parecer não haver por cá,
dentre os diversos quadrantes políticos, quem consiga ter influência nos meios
que fazem mover as respetivas forças motrizes. Como em tempos houve e merece
ser sempre lembrado. Conforme ocorreu na existência do Dr. Costa Guimarães, um
felgueirense ilustre que, cá longe, desde a sua terra, conseguiu que em Lisboa
fosse Felgueiras defendida, em tempo de reorganização judicial do país,
coincidindo com parte administrativa dos concelhos, a meio do século XIX. Tendo
então o Dr. José Joaquim Teixeira da Costa Guimarães, com intercessão de amigos
e conhecidos, como está devidamente historiado, conseguido fazer valer os
interesses felgueirenses, contribuindo sobremaneira para a criação da Comarca
de Felgueiras, decretada em 1855, quando então Felgueiras ficou como concelho
íntegro, ao tempo.
Não será necessário puxar agora borlas biográficas para
enaltecer mais a importância que esse Dr. Costa Guimarães teve para Felgueiras,
quão deve continuar a merecer na memória coletiva felgueirense. Bastando dizer
que não era qualquer um, com direito a ficar para sempre no santuário de
carisma concelhio, havendo ele ficado sepultado no interior da igreja de Santa
Quitéria, honrado pelo seu valor comunitário quando faleceu em 1866. Tal como
foi dos primeiros vultos da história felgueirense com nome dado a uma rua da
cabeça do concelho.
Ora, estando Maio a refletir suas tonalidades ambientais,
vem a talhe relembrar este célebre personagem da história das terras e gentes
de Felgueiras, em pleno mês de seu aniversário natalício, nascido que foi em
Margaride aos vinte e três dias do mês de maio de 1807. No auge também do mês da
festa de Santa Quitéria, em cujo templo jaz seu corpo, com autorização
eclesiástica superior (com licença dada pelo Arcebispo de Braga, arquidiocese a
que a região pertencia à época), quando já não era permitido haver
enterramentos dentro das igrejas, desde o decreto monárquico de 1835 que levou
ao surgimento dos cemitérios paroquiais. Circunstância deveras sintomática de
seu valor e sobretudo do apreço com que era reconhecido.
O tempo passou. Santa Quitéria foi degolada nesta região por
conceito de fé, onde, monte abaixo, rolou sua cabeça até jorrar uma fonte
miraculosa. Ao longe, séculos depois, o patriota Febo Moniz puxou as barbas em
desespero diante dum crucifixo, como protesto pela conduta pública que levou à
perda da independência nacional. Há sempre uns pingos de história que farão
memória.
ARMANDO PINTO
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