Na proximidade da data da efeméride respetiva do seu falecimento, atendendo à ocasião da publicação da edição do jornal SF, foi em devido tempo enviado e estava para publicação no Semanário de Felgueiras Jornal um artigo evocativo da vida memoranda de Américo Teixeira Martins, o histórico industrial fundador da MIT-Metalúrgica da Longra. Em género de crónica, embora resumida, algo complementar a outros artigos anteriores já publicados pelo autor, também. Além de sua biografia e referências em diversas página do livro "Memorial Histórico de Rande e Alfozes de Felgueiras, publicado em 1997, mais em passagens no livro "Sorrisos de Pensamento", publicado em 2001, e ainda no livro "Elevação da Longra a Vila", publicado em 2003.
Como afinal o artigo não chegou a ser publicado, e porque havia pessoas que sabiam e esperavam o mesmo, aqui fica o texto conforme foi enviado para o Semanário de Felgueiras:
Américo Teixeira Martins (1893-1967)
Passando por estes dias o aniversário da
morte do histórico industrial felgueirense Américo Teixeira Martins, falecido a
31 de janeiro de 1967, vem a talhe uma evocação escrita desse grande senhor da
afamada fábrica MIT-Metalúrgica da Longra. Em mais uma oportunidade de lembrar tão
importante personagem criador de muitos empregos, nos inícios da
industrialização na região.
Américo Teixeira Martins, nascido em
Airães, onde viviam seus pais, e residente na Longra a maior parte de sua vida,
ficou por fim sepultado na Pedreira, freguesia de sua mãe. De permeio com
grande atividade industrial, mas também cívica, tendo desempenhado lugares de
Regedor na Longra e membro da Junta de Freguesia de Rande, além de ter
pertencido ao grupo de Forças Vivas de cujo labor resultou a Associação
Pró-Longra, antecessora da Casa do Povo da Longra. Enquanto na mesma então
povoação da Longra deu largas a seu espírito empreendedor, com a fundação de
sucessivas empresas, até à versão maior da Metalúrgica da Longra.
Teve uma vida saliente, nos seus 74 anos de
existência, num percurso alongado na atenção memorial, cujo currículo aqui,
desta feita, se tem de resumir para não abusar do espaço: Nasceu no Fojo de
Santo Amaro, em Airães, a 7 de Abril de 1893. Filho de António Teixeira Martins
e Rosa Dias da Costa. Frequentou a antiga escola primária em Airães e na
Pedreira, até que passou a trabalhar numa pequena oficina de serralharia de seu
pai, e aí depressa ficou a ser o responsável, ainda muito jovem, com a
colaboração dos irmãos mais novos. Chegada a idade militar, como era normal,
assentou praça em 1914, incorporado no Regimento de Infantaria de Guimarães. Por
alterações desse tempo teve diversas fases, desde a patente de 1.º cabo, até
2.º Sargento. E depois rumou para a guerra das trincheiras, no Corpo
Expedicionário Português na I Grande Guerra Mundial, sendo distinguido com um
louvor «por zelo e dedicação». Em Dezembro de 1917, sob fogo de combate, vítima
de bombardeamento, foi ferido nos ouvidos. Seguindo-se em Abril de 1918, na
sequência da batalha de La Lys, ser dado livre do serviço militar, regressando
a Portugal. Alguns anos depois na Reserva, em 1925, foi ainda promovido «por
distinção» à patente de Alferes. Enquanto na ficha militar ficaram a constar as
suas medalhas de cobre comemorativas das Expedições “Sul de Angola-1914/15”, de
“França 1917/18” e “Medalha da Victória-1920”.
Entretanto, quando regressou à Pátria em
1918, chegado à terra natal voltou à oficina do seu pai. Contudo, depressa
resolveu estabelecer-se por conta própria. E em Outubro de 1920 criava na
Longra, juntamente com seu irmão mais novo, a sociedade Martins & Irmão. Estabelecendo-se
com arrendamento dum barracão, no Largo da Longra, onde José Xavier, do Outeiro
(de Rande) teve uma inicial oficina de 1910 a 1918. Com a morte do irmão em
1921, já sozinho à frente do negócio, continuou no ramo do fabrico de camas,
fogões e lavatórios metálicos. E por esse tempo, em 1922 casou e constituiu
família, com D. Maria Emília Ribeiro de Faria, com quem teve seus 3 filhos.
Continuando a crescer a empresa fabril. Prosseguindo, em 1924 ampliou as
instalações da empresa, alugando, inclusive, os restantes espaços do barracão.
Nos finais dos anos vinte dedica-se ao fabrico de mobiliário hospitalar,
produzindo a primeira mesa de operações em Portugal. Em 1935, constitui uma
sociedade com membros da família Teixeira da Quinta, a firma Martins &
Irmãos Teixeiras, Lda, daí o nome: MIT. Em 1947, criava em grande, juntamente
com os Laboratórios Sanitas, a Metalúrgica da Longra, que, além de prosseguir o
fabrico de mobiliário médico-cirúrgico, alarga a atividade a equipamentos para
escritório. Depois, com a colaboração de Daciano Costa, no início dos anos 60, alastrou
seu design industrial. Por fim, já com a empresa entregue a seus descendentes e
sócios, Américo Teixeira Martins viria a falecer a 31 de Janeiro de 1967. Em
1990 foi atribuído seu nome a uma das ruas da cidade-sede do concelho. E em
2009 passou também a denominar uma das ruas da Vila da Longra. Como ilustre
felgueirense vivo na memória coletiva.
ARMANDO PINTO