Perante o ambiente vivido e sentido pelo país em tempo de calor e consequentes efeitos dos incêndios, mais as asneiras ambientais que têm sido e continuam a ser permitidas no panorama da nossa região felgueirense, no caso vertente, saiu da escrita do autor um texto relacionado, procurando chamar à razão quem de direito, enquanto é tempo e antes que haja qualquer coisa mais negativa... que para memória presente e futura inclui espaço habitual de opinião pessoal, a pensar no coletivo, com lugar no interior do jornal Semanário de Felgueiras.
Dessa crónica, vinda a público na edição do SF desta sexta-feita 23 de junho, véspera de São João e de chegada da respetiva noitada festiva, partilhamos aqui o respetivo conteúdo. Registando assim o artigo desta semana, do qual, por via das orvalhadas da memória, colocamos imagem da própria coluna impressa na página 10 do SF e, para efeitos devidos, reproduzimos o texto:
Cá umas Coisas…
Na língua tradicional portuguesa há um
termo, coisa, que define diversificadas existências e realidades, costumando-se
generalizar os mais variados temas como coisa, assim. Dependendo e
simplificando. O que é preciso é ter jeito para a coisa, entre diversas coisas.
Desde a chamada coisa pública até qualquer coisa.
Ora, entre muitas coisas há que ter em
atenção a responsabilidade pública. Algo que vem à tona das atenções sempre que
surge qualquer coisa, qual ocorrência mais tocante. Como ainda por estes dias
recentes aconteceu com a catástrofe de Pedrógão, pela zona de Leiria, num
pavoroso incêndio que atingiu vasta área florestal e urbana dos concelhos
vizinhos, resultando em tragédia que ceifou dezenas de vidas e matou a vida de
diversas localidades. Apesar das costumadas desculpas de causas naturais e
ações humanas, por entre aparecimento de figuras públicas a lamentar o sucedido
e manifestações de solidariedade que são apenas o que são, sem que haja um
rastreio ao fundo das questões. Vindo então à ideia o que tem acontecido em
décadas de anos recentes, com a profusa plantação de árvores que não trazem
benefícios, como as vagas de eucaliptos que espalham suas raízes e secam tudo
em redor, altaneiros entre pares erguidos por certos interesses, e de modo
particular aquelas árvores esguias que espalham pelo ar uma espécie de pó saído
de camadas de algodão desfeito, aquando da florescência, que têm sido plantadas
através de fundos da CEE. Arvoredo que, em linguagem direta e sem necessidade
de indicação de respetivos programas de dinheiros provindos da política da
comunidade europeia, estão a alterar o meio ambiente natural e a colocar em
risco a vida tradicional.
Como é possível que tenha havido
aprovação e continue a ser autorizada a existência de manchas de árvores de
grande porte entre casas, no meio de áreas urbanas, como até pelo concelho de
Felgueiras existe, inclusive em território duma vila, pelo menos?! O que aconteceu e está diante dos olhos e dos
sentidos, a troco de umas notas para quem interessam tais proventos, das
plantações em moda, que alteram a fisionomia desta zona verdejante de Entre
Douro e Minho, na área do Douro Litoral que agora está a ser retirada mais para
o interior do país na chamada zona de Tâmega e Sousa das modernas
classificações de siglas Nuts.
Mas, assim sendo, já houve quem
meditasse que pode haver uma catástrofe resultante de tal implantação desse
arvoredo tipo selva, em falso núcleo frondoso no meio de localidades populosas?
E caso aconteça qualquer catástrofe, quem será responsabilizado, se só os
proprietários dos terrenos, obviamente quem tem grande lucro com esses fundos,
ou também quem aprovou e quem deixa estar aquilo, na tão célebre política de "laissez faire laissez passer"… corporizando mau grado uma nefasta simbolização
do liberalismo económico, em versão mercantilista do capitalismo de mercado
europeu chegado aos mais recônditos sítios do interior profundo de Portugal.
Hoje em dia, com a informatização de
tudo, não é difícil saber quem é quem e quem teve interferência ou influência,
como quem são os donos das terras e os autores e mediadores dos projetos.
Antigamente nos dias de Santos Populares
era um regalo de alma as edificações das cascatas sanjoaninas, de ilustração
sentimental aos folguedos, levando o povo a deitar nos arremedados lagos das
viçosas cascatas umas respetivas moedinhas da sorte, para bom augúrio, entre
festanças dos saltos das fogueiras e danças de roda, enquanto se cheiravam
ramos de hortelã e cidreira colhidas nas noites de São João e São Pedro. Ao
passo que nos dias que correm, com o arvoredo dos dinheiros da CEE, nem se
conseguem já vislumbrar as cascatas de casas que encostas acima embelezavam os
cenários de nossas vilas e povoações. Obviamente com imputações, havendo sempre
responsabilidades, pois tudo tem retaguarda, tal como o vinagre vem de vinho
que foi bom.
ARMANDO PINTO