Passado o ambiente Carnavalesco, lembramos a imediata e presente quadra da Quaresma. Após os festejos do Carnaval que tiveram na Longra, mais uma vez, um dos seus expoentes, como é já tradição, realizado que foi desta feita pelo 17º ano consecutivo, como organização oficial do Corso de Carnaval Longrino. Curiosamente com a atual organização a teimar em atrasar um ano as suas contas, sabendo-se que tal desfile começou em 1997 e, como tal, esse primeiro ano também conta na soma das edições entretanto concretizadas. E como, aliás, a ideia e a respetiva concretização dessa 1ª vez foi da mesma autoria das organizações dos pioneiros anos seguintes, nem se entende essa teimosia ou então desconhecimento dos factos históricos.
Posto isso, passamos ao tema da época quaresmal vigente, que serviu de mote a mais um artigo publicista, na crónica que escrevemos e foi publicada no Semanário de Felgueiras. De onde partilhamos aqui a respetiva coluna, do que está no mais recente número do mesmo jornal S F, à página 12 da edição impressa desta sexta-feira 15 de Fevereiro.
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Do mesmo, para mais fácil leitura, colocamos o texto conforme o original:
Na Quaresma do tempo…
Chegado Fevereiro, no mando da tradição com tempo até muito próprio, pois sendo “chuvoso faz o ano formoso”, o ambiente cinzento do panorama ambiental mistura-se com a época de trevas quaresmais, após o Carnaval. Começado que foi o mês logo pela conta das Candeias, na passagem do dia de Nossa Senhora das Candeias. Como tradicionalmente se designa essa data litúrgica da apresentação do Senhor ou da Purificação de Nossa Senhora. Uma época que, devido ao Carnaval ser uma festividade de data móvel, calhando tanto no início, como a meio ou final do mês, se confunde com essa fase, derivada como terá sido de festividades populares de tempos recuados. Sabendo-se disso por se haverem realizado durante a romanização as Lupercais, antes das Calendas de Março, celebradas em honra de Pan, deus dos pastores - relacionando-se a denominação com Lupercus (do latino lobo). Ora esta festa anual estava associada a orgias e outras boémias, durante a quadra do entrudo, pelo que o Papa Gelásio instituiu, em sua substituição, a festa da Purificação ou da Candelária. Não tendo sido, porém, completamente extintos os festejos com os desmandos abusivos do Carnaval, passou depois essa festa religiosa a cingir-se ao dia, como ficou mais conhecido, de Nª Sª das Candeias.
Na importância dada à ocasião, está associado um velho ditote popular, afiançando: Em dia das Candeias “se (havendo dia chuvoso) Nossa Senhora estiver a chorar, está o inverno a acabar; se (perante tempo de sol) estiver a rir, está o inverno p’ra vir”, diz a voz popular. Isto segundo o calendário rifoneiro, das fases descritas através de rifões com que a sabedoria popular impregnou os elementos naturais do quotidiano social.
Passados dias das Candeias e Carnaval, chega o tempo da Quaresma, iniciado na quarta-feira de cinzas. E eis-nos então neste período que, pese tantas transformações operadas na vida normal da sociedade comum e com a religiosidade a ficar algo aquém de antigos hábitos, permanece na memória duma época de afeições, dum tempo romântico aos olhos de nossas recordações. Tal as lembranças que afloram, ao autor destas linhas, sobre tempos da missa das Candeias mais a das Cinzas e, por extensão, do afago de nossa mãe…
Um destes dias, numa daquelas ocasiões em que nos deixamos levar por pensamentos, nas asas do tempo – em devaneios, até que… zás! – demos connosco a pensar em tempos de infância, quando ia pela mão de minha mãe à igreja e à sua beira ficava, lá no meio, enquanto ela me sussurrava ao ouvido orações, que me entravam com encanto no mais íntimo do ser. Ali, com ela a rodear-me em seus braços, enquanto me ensinava a orar – além de assim, também, me ter à sua beira, para não estar junto aos outros moços, alguns por acaso normal sempre com os sentidos noutros lados e modos. E dei comigo a experimentar como sinto falta, agora, de me achar bem junto à minha mãe, de como tenho saudades dela. Já passaram muitos anos, desde que perdemos sua presença física. Mas parece que foi ontem ainda que nos sentíamos abraçados no encosto de seus sussurros carinhosos, ali na igreja, como nos ensinamentos de vida que nos foi dando. E lá veio à mente as missas das candeias e das cinzas, por serem dum tempo marcante, decorrendo o inverno, como agora. Íamos logo pela manhã cedo, com o corpo a tentar espantar o frio, ainda a noite dominava o horizonte de breu, perante o caminho alumiado por lanternas, tal a escuridão (também coisa que volta ao panorama, nos dias que correm com as poupanças atuais em luz pública, enquanto nas altas esferas do poder continua um forrobodó…); e, então naquele tempo, chegados ao templo, resplandecia um ambiente de luz das muitas velas e lâmpadas espalhadas, mais um odor de incenso que se elevava no ar. Ficando-nos, para sempre, na retina memorial, essas manhãs, em tais dias, daqueles que tivemos nossa mãe a envolver-nos… ternamente. E, no caso das Candeias, aflorando o caso do dito popular, até parecendo, apesar da penumbra do alvorecer da manhã, sem ter rompido ainda o sol, que nossa senhora sorria…!
Armando Pinto