Com a aproximação das festas de ano há muitas recordações a
virem acima das lembranças, como calha a todos, por certo. Quantas vezes, como
suor que vem à flor da pele, fazendo surgir algo a turvar a vista, quando nos lembramos
de nossos ente queridos que em alturas destas nos lembram mais.
Assim, estando-se na época da Páscoa, em que pela região nortenha
o pão de ló ocupa lugar de destaque nos sentidos apaladados e na nossa terra
felgueirense é mesmo cartaz de afetos, vem então à tona das recordações
pessoais temas de antanho relacionados com o Pão de Ló de Margaride. Fazendo
parte das memórias do autor destas linhas um caso que dá para outro tema… Como
me lembro da vez em que pela primeira vez o meu pai foi comprar uma rosca de
pão de ló a Felgueiras no dia de Páscoa. Sabendo-se que antigamente o pão de ló
não entrava muito em casas de pessoas comuns, sendo mais de pessoas de posses,
por assim dizer. A vida era diferente de hoje, em tudo praticamente, para não dizer
mais (e estar para aqui a desenrolar o novelo das memórias com temas paralelos,
sem virem ao caso).
Pois então, num belo dia de Páscoa, estava-se a meio dos
anos sessentas, em que nesse ano tínhamos em nossa casa uma prima de longe; e, por isso, a minha mãe disse a meu pai que era melhor ele ir à vila
buscar um pão de ló, em honra da visita dessa sobrinha. Parecendo que ainda
estou a ver o meu pai a chegar na sua motazinha com a rosca…
(Convém explicar à saciedade e sociedade que a sede do concelho era ainda vila. Só muito mais tarde passaria a cidade, oficialmente.)
Então nesse ano o assado de forno teve por fim sobremesa mais doce, pois no final das batatas assadas com galo e coelho a barriga ainda aguentou mais uma fatia daquele pão de ló. A ponto que no fim ainda se rapou com a faca o que ficara no papel da forma!
(Convém explicar à saciedade e sociedade que a sede do concelho era ainda vila. Só muito mais tarde passaria a cidade, oficialmente.)
Então nesse ano o assado de forno teve por fim sobremesa mais doce, pois no final das batatas assadas com galo e coelho a barriga ainda aguentou mais uma fatia daquele pão de ló. A ponto que no fim ainda se rapou com a faca o que ficara no papel da forma!
Ora, essa lembrança traz então à flor da pele sentimental a
recordação também dessa mota, como lhe chamávamos. Tratando-se duma motorizada
Sachs Minor, que popularmente referíamos por Mini, de mudanças automáticas que meu pai teve muitos anos e era uma das
suas imagens de marca. Conhecendo-se de passagem pelo trabalhar do pequeno motor,
assim como era familiar sua imagem quando ia ou vinha em cima dela. Era o senhor Joaquim Pinto a passar, nessa motazinha azul, com pára-brisas acompanhado de resguardo de guarda-vento, à frente (como até temos registado
em fotografia desses tempos, dos anos sessentas) que guardamos na memória… e ainda rapamos do que temos na cabeça.
Armando Pinto
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