Artigo a evocar um destacável felgueirense do passado, publicado no Semanário de Felgueiras, na edição de 5 de abril. Desta feita sobre mais um ilustre conterrâneo, no espaço habitual de temas felgueirenses:
Luís Teixeira da Quinta
A eternidade pode ser um canto mavioso dum pássaro a encantar na absorção da vida, como na famosa lenda do frade e do passarinho, aos olhos de uma fé superior; mas sobretudo é algo que não cabe bem no entendimento humano. Contudo, pode também parecer eternidade a espera de qualquer aspiração ou presença desejada. Sendo que, de qualquer forma, o facto de alguém poder ser lembrado para além do seu tempo, por se ter salientado em vida, será uma boa forma de fazer eternizar boas causas e vontades, em apreço a quem passou pelo mundo com boas ideias e ações.
Vêm a propósito estas considerações pelo mote desta feita a considerar, em notas de temas felgueirenses. Para evocar mais um personagem saliente, entre pessoas dignas de memorização, podendo passar à eternidade da memória coletiva, enquanto houver lembrança alusiva. Sendo de lembrar um ilustre personagem do meio felgueirense de tempos idos, como foi Luís de Sousa Teixeira, benemérito famoso da Misericórdia do Unhão e pessoa de cidadania ativa noutras feições na freguesia de Rande, onde era abastado proprietário da Casa da Quinta. Personagem marcante de seu tempo, porém não lembrado em livros oficiais de edições municipais, mas que foi de ação marcante para a existência institucional da Misericórdia de Nª Sª do Rosário. Em cuja sede ficou registado seu labor através duma lápide colocada na frontaria do antigo edifício hospitalar e conventual, assim como está patente seu retrato pintado na galeria de quadros dos beneméritos.
Não sendo lembrado na literatura municipal, até agora, nem tendo sido honrado com atribuição de seu nome a alguma rua da freguesia onde viveu… Luís de Sousa Teixeira foi contudo memorizado no livro historiador da sua região, estando registado seu pecúlio de ação social no “Memorial Histórico de Rande e Alfozes de Felgueiras”. Motivo de tornar desnecessário aqui enumerar seu currículo de boas obras e atividade cívica, ele que em Rande fazia parte de quase todas as comissões formadas em seu tempo, quer de âmbito paroquial como ao nível de freguesia civil. Incluindo tomar a seu encargo a organização da festa paroquial, como festeiro da festividade em honra do orago S. Tiago (como está narrado no livro “Memórias do Capitão”, de João Sarmento Pimentel).
Luís de Sousa Teixeira, que no Brasil ganhara fortuna bem aplicada em Portugal, fixando residência na sua Casa da Quinta, foi dono do primeiro automóvel aparecido na região, dizendo-se nessa altura que foi a Casa da Quinta que teve o primeiro carro das freguesias em redor (um mercedes original do princípio do século XX, com rodas de raios de madeira e ignição de “dar à manivela”, como se ilustra com a imagem junta). Isto para se ver de sua proeminência, à época.
Ora, Luís Teixeira, além de Mesário e durante anos saliente Provedor da Misericórdia do Unhão, teve comparticipação na evolução social da sua região, havendo sido por bons ofícios dele, enquanto responsável daquela instituição, que logo nos anos do princípio da República houve ensino noturno escolar no Unhão e em Rande. Tal como foi um dos subscritores que tornaram possível a chegada da luz elétrica, então ainda apenas para “distribuição domiciliária”, às freguesias de Rande, Sernande, Lordelo e Unhão.
À época, depois da pioneira iluminação pública a carboneto surgida em 1910 na Longra, em postes com gasómetros (primeira série formal no concelho); e posterior luz elétrica implantada em Felgueiras em 1917, a corrente elétrica chegaria à Longra e zonas envolventes pouco depois também, em 1919, graças a uma subscrição particular efetuada em 1918. De cujo acréscimo social (a que não era estranho a passagem do comboio da região, circulado com paragens na Longra entre 1914 a 1926, embora os trilhos apenas tenham sido retirados já pelos anos 30), passara a haver luz normal que chegava às casas à noite. Tendo, para o efeito, sido formada uma sociedade por cotas, com participação da distribuidora Companhia “Eletro-Industria do Norte” e alguns subscritores, em cujo grupo esteve Luís Teixeira, com uma «sua cota com que subscreveu para ampliar a montagem da rêde de distribuição de energia eléctrica nas freguesias de Rande, Sernande, Lordelo e Unhão, como consta da escritura efectuada no escritório do notário Dr. José de Castro Leal de Faria, em vinte e três de Dezembro de 1918».
Estava então a chegar o natal e a preparar-se uma boa prenda futura às casas da área sul felgueirense.
ARMANDO PINTO
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