Espaço de atividade literária pública e memória cronista

sexta-feira, 14 de outubro de 2016

Vislumbre de memórias da antiguidade felgueirense, na atualidade, em mais um artigo no SF


Presença de antigos povos em Felgueiras

Decorre por estes dias outonais em Felgueiras mais uma feira relacionada com a romanização, que por sítios felgueirenses deixou algumas réstias. Sem contudo haver relação direta com o estilo românico, posterior, que na região teve e tem pendor na atual rota turístico-promocional.

Com efeito, esta área geográfica sentiu através dos tempos as transformações do noroeste minhoto-duriense e viveu também os momentos comuns à grei nacional. Para se não recuar em demasia no tempo, mas avançando cronologicamente numa resenha histórica de visão ampla pela longa existência, pode adiantar-se que após os diversos estádios de povoamento com estadas de diferenciados povos, de que perdurou com maior ênfase sobretudo a génese lusitana e as marcas da romanização, foram porém os Godos que influência mais marcante tiveram na consolidação da identidade profunda, como se comprova pelas réstias toponímicas deixadas, em toponímia geográfica, nos nomes das terras, através das raízes genealógicas dos antepassados destes sítios. São paradigma no caso os topónimos de origem germânica derivados dos primeiros colonos definitivos, fidalgos godos romanizados, que legaram seus nomes às quintas originárias dos primitivos povoados, as “villas” rústicas florescentes da exploração do território, de cujas denominações na evolução através do tempo resultaram nomes de lugares e sucessoras freguesias. Entre o que se nota desse rasto, em variedade de referências provindas de antigas villas romano-godas, que deram origem a nomes próprios de freguesias.

Há depois, entre testemunhos de tempos remotos, a existência da estação arqueológica do Monte do Senhor dos Perdidos, ainda rudimentarmente explorada e entretanto abandonada; tal como o que está soterrado no alto de Cimalhas, na Longra, entre a fronteira de Sernande com Rande e Varziela (cujas escavações, de antigo povoado da Cimalha, tiveram lugar no início do séc. XXI derivado à construção de novos acessos viários, onde se descortinaram vestígios dum antigo caminho divisório das paróquias e foram encontradas parcelas de cerâmica, contudo o resto depois ficou enterrado); como há ainda algo da antiga cidade de Eufrásia em pequenos vestígios de ruínas, em Sendim, com restos de velha villa romana. Existem também pequenos tratos de caminhos romanos em Caramos, Pombeiro e Vila Fria; e uma calçada medieva, numa parte de caminho lajeado medieval, na Calçada de Rande; em todos estes casos de antigo itinerário do Caminho de Santiago para Compostela, que teve assim passagens pelo concelho de Felgueiras. De relembrar ainda a antiga existência de estátua de um guerreiro Lusitano em S. Jorge de Ribavizela. Outros marcos do passado representam diversas casas senhoriais dispersas pelo território concelhio, solares antigos sucedâneos de antanhas villas romanas e ancestrais fortalezas, de que se salientam a Casa de Sergude, em Sendim, a Casa de Simães, em Moure, a Casa de Rande e Casa da Torre, em Rande, a Casa do Coto, em Varziela, a Casa de Junfe, no Unhão, a Casa da Porta, na Pedreira, a Casa do Mosquete, em Lordelo, etc.
E as igrejas românicas, como a de Lordelo (em ruínas, atualmente em vias de preservação da parte resistente), a de Vila Verde (recuperada); e as que restaram sempre eretas, com traços originais desse estilo na região, ou seja as de Unhão, Sousa, Borba de Godim, Airães e Santão; além do pequeno templo de Padroso contendo escassos restos das características do românico rústico, mais a igreja mosteiral de Pombeiro; são exemplares arquitetónicos apenas suplantados em antiguidade por dólmens existentes na Refontoura e em Regilde, mais vestígios de Castros, como os de Caramos e Lagares; por entre apreciável número de valores patrimoniais. E, entre outros possíveis exemplares, algumas construções religiosas como o santuário do Bom Jesus de Barrosas, o Calvário e Capela do Encontro em Caramos e, especialmente, o santuário de Santa Quitéria.

Quanto ao que toca ao tema presente, sobre a romanização, anterior, da civilização romana ficaram por estes lados vestígios, desde epígrafes votivas, como há casos no concelho (e são referidos, por exemplo, em Sá-Vila Fria, registados na revista Portugália em 1908 e no livro Felgerias Rubeas, pelo Dr. Eduardo Freitas) e o facto das moedas e outras peças aparecidas nos Perdidos em 1979, como atestado da razão estratégica derivada de por esta região haver passado a via romana de Braga a Caladuno. Sendo esta de grande importância económica para o povo da região, nesse tempo.

ARMANDO PINTO
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