Em início de Primavera, quando o
meio envolvente é de exaltação da vida, a alvorada da natureza combina no
rebentar das folhas à alegria de próximo tempo pascal.
Chegando os “Ramos” é vez de
recordarmos, nesta relação de costumes antepassados da nossa terra, algo
relacionado com os costumes do tempo decorrente do Domingo de Ramos.
Assim, a uma semana da Páscoa,
pelos “Ramos” as namoradas punham um ramo de oliveira no bolso de peito do
casaco do conversado, para lhes lembrar a tradição das amêndoas que os
namorados ofereciam às raparigas no domingo de Aleluia. De igual forma
procediam os afilhados, para com os padrinhos e madrinhas a lembrar o folar da
Páscoa – costume que originou, mais tarde, a oferta atual de um ramo de
flores, em brinde antecipado às madrinhas, por parte dos afilhados.
Então a procissão e missa desse
Domingo era coisa falada, pelo ambiente diferente proporcionado pelos ramos
decorados com flores e outros enfeites, acontecendo mesmo que pelo tamanho
desproporcionado de alguns dos mesmos, nesse dia quase que nem se podia ouvir missa, mais
pela distracção da passagem dos rebentos pelas caras ou nucas, a juntar ao
latim do cerimonial...
Contudo, esse espírito depressa
era alterado pois, mal passava o Domingo de Ramos, vinha a Semana Santa, tempo
da via-sacra e demais celebrações da Paixão, incluindo Ofício de trevas,
chegando a época do Tríduo Pascal (que se segue desde a Quinta-feira Santa até
às vésperas da Aleluia, da vigília Pascal).
Ora esse período era vivido muito
nos Calvários, locais existentes nalgumas freguesias onde estavam espaçadamente
implantadas cruzes de pedra, culminando num conjunto de três, geralmente sobre
pequeno outeiro. Do que sabemos, por transmissão de pessoas idosas, existiu
assim um na freguesia de Rande, em monte como tal chamado de calvário; e há
ainda o exemplo de Caramos, em que esse Caminho da Cruz está preservado, tal
como na igreja românica do Unhão resistem, ladeando a porta principal, duas
cruzes desse género. Como recordações de fé e toponímia, aonde acorriam fieis a
recordar as transes da Via Crucis, a via dolorosa até à adoração da cruz. Ali
se representavam também, em determinados casos, os já lembrados Autos da Paixão
perante multidão piedosamente condoída.
Hoje aspetos da vivência dos
confins da memória, alusiva ao alvor da Primavera que representa para os Homens
de Boa Vontade a Paixão vitoriosa na Ressurreição, renovadora da humanidade.
© Armando Pinto
(Texto parcialmente publicado, há alguns anos, no Semanário de Felgueiras; e na totalidade, com mais qualquer coisa... destinado a fim editorial futuro. A P )