No balanceamento do
ciclismo, como que sentindo aragem veloz da corrida de bicicletas, a aferição de músculos, destreza e arte sobre pedais ressalta em descrição pelas letras, pela narrativa tendente à valorização do que, sobre isso, merece memorização.
Foi assim a ideia de mais um artigo sobre o ciclismo que desperta
entusiasmo, desta vez na junção do interesse sobre valimento local, procurando
elevar a tradição ciclista felgueirense a um lugar de destaque no pódio desse
desporto tão popular.
Eis então o artigo escrito para o jornal Semanário de
Felgueiras, por ocasião da aproximação da etapa que se inicia sábado na cidade
de Felgueiras e publicado de véspera, sexta-feira – do qual se junta o texto
correspondente, ilustrado com imagem da coluna respetiva, da edição do SF de 10
de agosto:
Refrescadela Rúbea
É useiro dizer-se que não se deve falar a quente, na
expressão de acontecer com o ânimo em ebulição, mas com o calor da época não
haverá volta a dar, no caso. Tal tem sido interessante Felgueiras andar por
estes dias em lugar de destaque: Quer com a possibilidade de, assim como há
mais de um século nossos antepassados ouviram o silvo do comboio, também as
gerações atuais e futuras poderem beneficiar da passagem duma linha férrea no
concelho; bem como com a estada da Volta a Portugal em bicicleta advém algum
repor de atenções nacionais ao rincão do pão de ló.
Ora, de tanto se falar, contando o tempo instável que se ia
verificando, o calor apareceu mesmo. Enquanto a temperatura elevada provoca
bagas de suor natural, também o ardor da atualidade foi despertando opiniões.
Algo que faz bem ao desenvolvimento, por deixar de haver monotonia e
acomodação. Para depois, ao jeito como se aplaude o esforço dos ciclistas, se
apreciar devidamente o que possa advir.
Chegada a presença do ciclismo, na atualidade do início da
mítica etapa Felgueiras-Mondim, rumo ao alto do Monte Farinha, aplauso merece
na memória coletiva o facto de Felgueiras ter tido noutros tempos um natural do
concelho que foi saliente ciclista, o famoso Artur Coelho. Um autêntico ás do
pedal, entre heróis da estrada, que por diversas vezes foi primeiro
classificado e camisola amarela da Volta, além de internacionalmente ter
vencido em 1957 a clássica prova 9 de Julho de São Paulo, no Brasil, e ter sido
segundo na clássica francesa Paris-Evreux, atingindo ponto alto como integrante
da seleção nacional que participou na Volta a Espanha de 1957 e 1958. Tendo em
Portugal sido conhecido por “papa etapas”, tantas as corridas que venceu. E se
então era assim a correr pelo país e pelo mundo além, em Felgueiras já antes
era apreciado o seu manejo sobre a bicicleta. Tanto que ficou na transmissão
popular sua destreza de na juventude ter sido vezeiro a fazer em marcha atrás a
ingreme subida de Santa Quitéria.
Pois Artur Coelho, natural de Felgueiras, onde residiu nos
Carvalhinhos até à juventude, tendo dado nas vistas em provas populares, por
esses tempos de inícios da década de cinquenta foi para o FC Porto através de
conhecimento dado pelo também felgueirense Adriano Castro, da Longra, ao tempo
com contactos no clube das Antas. Havendo mais tarde Coelho passado a residir
em Vizela, para cuja vila das termas seu pai se mudara com sua garagem de
bicicletas, ramo de negócio familiar que era ganha pão do agregado e durante
muito tempo teve em Felgueiras ao lado da antiga tasca do pilo, como era
chamada e deu origem ao nome da velha fonte ali vizinha. E com a camisola do FC
Porto, Artur Coelho participou na Volta a Portugal entre 1955 a 1961. Com
sucessivos êxitos (já enumerados aqui e noutras publicações, em anteriores
oportunidades), a pontos de ser incluído em álbuns de histórias aos quadradinhos,
sobre a Volta a Portugal, como grande interveniente na maior corrida desportiva
do país. Com suor e esforço. Como naturalmente refrescadelas de água que tão
bem sabia quando calhava a vencer o calor e progredindo estrada além. Entre os
melhores no pelotão da corrida em seu tempo.
Pois bem: Antigamente era costume por esta região
“refrescar” as casas, como popularmente se dizia, com uma caiadela, à maneira
de recuperação e conservação progressiva, através de pintura com cal. Ao passo
que, tal como o nome de Felgueiras deriva de em tempos remotos ter predominado
muita felga por estes sítios, quão eram os terrenos cobertos de fetos de cor
rúbea, também na duração dos tempos as existências subjacentes foram tomando
tonalidades associadas. E assim volta a ser tempo dum refrescar de mentalidade,
na possível tendência de progresso. No rubor dos anseios.
~~ * ~~
Obs. : As imagens fotográficas e a gravura desenhada reportam a Artur Coelho: Em cima a vencer uma etapa da Volta a Portugal; depois (de camisola do FC Porto com dístico Portugal) a ser vitoriado pela colónia portuguesa no triunfo da Clássica 9 de Julho/Volta de S. Paulo, no Brasil; e ainda um quadro do álbum de banda desenhada "Heróis da Estrada".
Aditamento:
A propósito de Artur Coelho, recorde-se um dos artigos
anteriormente publicados, como se pode rever (clicando no link), em
ARMANDO PINTO
((( Clicar sobre as imagens, para ampliar )))