É mesmo, sobre identidade perdida e à
espera de reposição, que versa o artigo de opinião do autor, desta feita para publicação no Semanário de Felgueiras, dentro do espaço normal da colaboração do
signatário no mesmo periódico regularmente trimensal de Felgueiras.
Com fundo de cariz histórico, em
virtude de ter subjacente uma apreciação pessoal à mais recente conferência sobre
arqueologia realizada em Felgueiras, o artigo expande a atualidade da
incompreensível aberração das uniões de freguesias que estão a tirar interesse
às populações sobre a coisa pública, à vista do marasmo que se abate com o que
tem feito marcar passo as antigas freguesias. Às quais foi e está sendo imposta
uma gestão totalmente estranha e de interesses sectários. Além de fazer com que
os naturais das mesmas freguesias extintas deixem de ter sua naturalidade normalizada.
Desse artigo, para a memorização do
costume neste espaço, junta-se o texto por
extenso. Com necessária explicação, por surgir no jornal com alguma desatualização, relativa à implícita referência à aproximação do tempo de lembrar os entes queridos, por o artigo ter sido escrito para publicação na edição do SF da sexta-feira dia 26 de outubro (antes portanto dos "Santos", como popularmente é indicada a quadra de Todos os Santos e Fieis Defuntos), correspondendo a solicitação nesse sentido, mas apenas teve lugar já com novembro entrado no calendário.
Eis então o artigo referido, que tem estado para ser publicado no Semanário de Felgueiras:
Arqueologia da Identidade
Caminha o ambiente natural para a
mudança fisionómica da transição anual, entrado o Outono, com a chegada da
época das desfolhadas e aproximação do tempo de lembrar os entes queridos já
desaparecidos, entre tradições e afeições. Tempo que convida à reflexão. Tal
como outrora no fazer do pão era costume assinalar com uma cruz manual as broas
antes de meter ao forno, junto com uma oração popular, e após as colheitas no
encher da abada de feijão e as prateleiras de batatas, no estender do milho na
eira, ao dependurar as cebolas e no tirar o vinho do lagar se louvava a Deus
isso, também no abeirar de nova época seja de celebrar o que de antepassados
tempos vem. No resguardo do aconchego temporal, passada a espuma do tempo
anterior. De modo a haver um sentido mais concludente na vida, perante a roda
do tempo.
Então, de enaltecer tem sido o ciclo de
conferências em marcha sobre temas arqueológicos relacionados com Felgueiras e
sua área envolvente, sob mote da Arqueologia em Terras de Sousa e Tâmega.
Iniciadas as sessões, por ora, com alguns interessantes temas, o mais recente
dos quais evocando o possível conhecimento sobre a defesa do espaço de
fronteira diocesana, quanto à eventual Castelologia de Felgueiras. Embora sem
novidades, obviamente, por não haver vestígios e muito menos certezas, mesmo
porque não é por se ver um penedo que possa ter havido uma fortificação, tal
como não seja certo que a toponímia explique tudo, ainda que os nomes que
perduraram devam ter seu significado. Contudo, interessa, sim, que tais formas
de reflexão comum trazem temáticas que fazem parte da História de todos.
Assim sendo, pela cartografia se pode
refletir sobre diversas possibilidades, ficando ideias nos mapas sobre
fronteiras da região, desde limites da antiga ligação à diocese de Braga e
posteriormente à diocese do Porto. Sem se poder esquecer que pelo meio houve
ainda a diocese de Meinedo, também da área sousã, como de permeio o território
de Anégia primou na zona do atual Vale do Sousa. Enquanto em pleno Entre Douro
e Minho, na zona da antiga Felgaria, propagada na Felgarias Rúbeas e sucessora
Felgerias da área de Felgueiras, já havia há muito povoamento. Entre avanços e
recuos de fixação de povos, levando e trazendo usos e costumes, falares e
crenças da cultura galaico-portuguesa. Ao passo que durante a afirmação
nacional, no alastrar do território sob domínio dos reis portugueses, já havia
paróquias integrantes de Honras, Julgados e Coutos que volvidos tempos se
fundiram na região concelhia, sendo as mais antigas freguesias da parte do
posterior concelho de Felgueiras mencionadas nas Inquirições de 1220 e 1250. Em
cujo decurso também se ia moldando a alma portuguesa e as bases da Pátria.
Portugal nascera como Estado praticamente no Tratado de Zamora, em 1143, mas a
sua independência só foi reconhecida internacionalmente em 1179, pela Bula do
Papa Alexandre III; e as fronteiras, as mais antigas da Europa, apenas foram
definidas em Alcanizes já no ano de 1297. Estes alguns dos fundamentos
históricos da Pátria, de Portugal como Nação. Na qual, como concelho temos
Felgueiras e a freguesia natal nossa terra Mátria. Com matrizes das raízes de
outrora, por entre brumas da memória, de quanto é nossa identidade.
Eis que nos dias que correm, esquecido
tudo isso por quem regeu entretanto a nação e teve o poder de administração na
região, a identidade local e patriota foi mandada às malvas; a ponto de agora,
com a reorganização administrativo-territorial imposta, muita gente ter perdido
sua naturalidade, por freguesias onde tanta gente nasceu terem sido extintas.
Como comunidade, mas com particularidades identificativas, urge pois voltar ao
encanto de todos terem sua identidade reposta. Para que a terra que viu nascer
cada qual possa voltar de novo a ser terra mãe própria de cada um.
ARMANDO PINTO
OBS.: Afinal, contrariamente à informação anteriormente dada ao autor, este artigo ainda não foi publicado no jornal - até à edição do dia 9 de novembro. Talvez por ser incómodo o assunto das freguesias. Mas, por se ter contado com a publicação antes informada, já que o texto aqui ficou, deixa-se mesmo assim, para não se andar mais com outros "tira e põe".
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