Nesta fase do ano, vivendo-se o período da Quaresma, era antigamente uso e costume haver, por esta altura do calendário, diversas representações populares de autos da Paixão, num misto de religiosidade e divertimento. E, na proximidade, já com a Primavera a ditar leis, comemora-se neste período, a 27 deste mês de Março, o DIA MUNDIAL
DO TEATRO - criado em 1961 pelo Instituto Internacional do Teatro. Uma dotação artística que tem pergaminhos históricos na Longra - como é exemplo a representação ilustrada na imagem cimeira, reportando uma peça de teatro levada à cena no palco da Casa do Povo da Longra em meados dos anos sessentas.
Tal efeméride, da data dedicada mundialmente ao teatro, mais conhecida nos meios cénicos e entre
interessados na Arte de Talma, é assinalada na ideia de não deixar esmorecer o gosto pela representação, além de promover e reforçar essa arte cultural, que
desde a antiguidade tem forma de expressão.
Na chegada de mais uma ocasião destas, para assinalar o DIA DO TEATRO e, como homenagem a esta arte
que ao longo dos anos tem tido tradição na região que tem a Longra como centro
cultural, evocamos algumas recordações alusivas, na senda do que há alguns anos
aludimos aquando da escrita do livro publicado sobre a história do Teatro da
Casa do Povo da Longra.
Assim, lembrando a obra de muitos e bons personagens que se entregaram e se têm dedicado a tão
nobre causa, eis um breve resumo da memória cénica que ciranda em tablados dos
palcos da Longra, entremeado por entre uma resenha histórica do teatro em Felgueiras, conforme texto escrito pelo autor há já alguns anos e que, agora, aqui se reproduz:
Teatro Amador em Felgueiras
Decorrendo desde 1999, no
Teatro Municipal de Felgueiras, um anual Encontro Teatral da responsabilidade
municipal (na tradicional casa de teatro de Felgueiras, antigo Cine-Teatro
Fonseca Moreira, atualmente chamada Casa da Artes), será pertinente
associarem-se estas anotações revivalistas a alguma tradição da arte dramática
havida nesta região, para mais uma alusão retrospetiva.
Subindo então o pano, em
pancadas de Moliére frisa-se que, no caso, se trata apenas de recordar de
passagem algo do que temos conhecimento relativo a essa arte recreativa, ao
longo dos tempos. Evitando delongas sobre outras “comédias”. Indo ao cerne da
questão, propriamente, vem mesmo de longa data a ligação do povo de Felgueiras
à representação pública, desde remotos tempos em que se realizavam autos
populares ao ar livre, até às récitas de amadores que ainda são recordadas
passados muitos e muitos anos.
Efetivamente realizaram-se
noutros tempos, em diversas freguesias, autos populares de cariz religioso,
sobretudo. Pela falta de outros passatempos, o povo folgava com o que podia e,
assim, eram muito frequentados tais antigos espetáculos, em especial nas
quadras do ano, como autos da Natividade e da Paixão - de que servem de exemplo
pormenores descritos no livro “Memorial Histórico de Rande e Alfozes de
Felgueiras”. No mesmo género, e na freguesia de que temos melhor conhecimento,
obviamente, depois disso também se fizeram ainda autos tradicionais na Casa do
Clube, em Rande. Também no início do século a então vila de Felgueiras
desfrutou da existência da Troupe Dramática Felgueirense (registada no
Dicionário Histórico de Portugal, de 1907). Mais tarde, ainda na primeira
década desse século XX, existiram na zona sul do concelho representações
públicas com fins beneficentes, através de denominado Grupo Dramático-musical
do Instituto Escolar da Longra (de que há, pelo menos, notícia escrita de um
espetáculo realizado em 1918, conforme registamos também no livro referido). Já
nos anos vinte, do mesmo século passado, houve um outro grupo organizado, cujos
ensaios tinham lugar no barracão da fábrica velha do Largo da Longra, com
apresentações em público na mata do Sambeito, chamado Teatro José Xavier.
Tempos depois essa “veia” teve sequência no Grupo Cénico da Associação
Pró-Longra, com a integração do antigo agrupamento na então novel coletividade
criada em 1928. Entretanto surgira um grupo na vila de Felgueiras, liderado por
António José da Fonseca Moreira após o seu regresso do Brasil. Aliás a Casa de
Teatro de Felgueiras inclusive foi inaugurada, em 1921, com peça teatral
“Feitiço contra feiticeiro” da autoria do próprio Fonseca Moreira.
Entre diversas experiências
teatrais posteriores, houve também na área sul do concelho um denominado Grupo
Dramático Amigos da Longra, em 1933/34, e o Grupo Cénico Amador Amigos da
Longra, este desde 1943. Tudo experiências em que se salientou sempre o cunho
artístico de José Xavier, quer como ator ou no comando das operações, em que se
salientaram entre essas diferentes gerações alguns bons exemplos de
representação em palco, como o Dr. Alexandre Abreu e Adriano Castro.
= Aspeto parcial da assistência, com crianças de idade escolar, à época, em sessão de teatro dedicada às crianças das escolas da região da Longra, englobando as freguesias de Rande, Sernande, Pedreira, Varziela, Unhão, Lordelo e Airães, na antiga sala de espetáculos da mesma casa.
Em 1949 houve em Jugueiros
um Grupo Cénico integrante da respetiva Casa do Povo, que durou algum tempo.
Também por esse tempo, de finais dos anos quarenta a princípios da década de
cinquenta, havia na Lixa o Grupo Cénico dos Bombeiros Voluntários da Lixa (como
secção pertencente a essa associação, junto com uma filarmónica adstrita à
mesma Corporação), grupo esse conterrâneo de um outro grupo cénico, existente
também desde finais da década de quarenta a princípios dos anos cinquenta, o
Melodramático Lixense Club, que realizou récitas na Lixa, em Felgueiras e na
Longra. Bem como, em meados da mesma década dos anos cinquenta, houve uma episódica existência teatral no Unhão, por meio de cenas representadas em palcos montados ao ar livre no terreiro do antigo Hospital da Misericórdia do Unhão. E em finais da mesma década de cinquenta novo movimento se gerou novamente na então Povoação da Longra, por meio de famoso Grupo Cénico da Casa do Povo da Longra,
o qual se veio a desfazer sensivelmente em 1964. Contemporâneo de grupo ligado
à Comunidade Vicentina de Santa Quitéria, o qual por essa época realizou espetáculos
em Felgueiras e na Longra. Ainda na década de cinquenta exibiu-se o Grupo
Cénico do Centro de Recreio Popular de Barrosas, numa atividade resistente de
alguns anos. Outrotanto, mais para finais da década de sessenta, existiu na
sede do concelho o Grupo de Amadores de Felgueiras, a que ficou sobretudo
ligado o cunho de Fernando Lira, na linha hereditária de seu pai, já que,
anteriormente, esse sempre recordado Constantino Lira fora um “mestre” da Arte
de Talma que fez escola na vila de décadas passadas. De tempos menos distantes
há que registar existência de curta duração de grupo de teatro em Airães, nos
inícios da década de 70; e novo ciclo Longrino com o “Haver” do Centro Cultural
e Recreativo da Longra, existente na prática de 1977 a 80, embora ainda não
dissolvido oficialmente (mantendo-se em vigor os estatutos escriturados e
faltando prestação de contas, para a natural dissolução, ultrapassados tantos
anos...). Passada uma década foi a vez do Grupo Infanto-juvenil de Teatro do
Futebol Clube da Longra, surgido em sequência de Programa de Apoio ao
Associativismo Jovem na Ocupação de Férias, em 1990. Seguiu-se o Grupo Infantil
de Teatro da Casa do Povo da Longra, em 1995, depois suspenso e fundido volvido
um ano como Grupo de Teatro da Associação da Casa do Povo da Longra, instituído
em Junho de 1996, o qual integrando jovens e adultos teve a sua estreia em espetáculo
de 14 de Dezembro do mesmo ano, mantendo-se presentemente em atividade regular.
Grupo que a partir de 2004 passou a organizar, por norma de dois em dois anos,
o Encontro de Teatro da Associação Casa do Povo da Longra (embora em 2008, pelo
menos, devido a desentendidos da Direção da Associação nessa época, a
realização não contasse com a participação do grupo da casa, sendo presidido
pela referida mesa diretiva da Casa do Povo). Entretanto surgira com vínculo
municipal o Teatro-Oficina Fonseca Moreira, em 1998, no qual se salientou Fernando Maia. Através do qual a Câmara Municipal, desde 1999, foi realizando o
anual Encontro de Teatro de Felgueiras (como se referiu, logo no início desta
crónica). E posteriormente, em 2002, com a abertura do Centro Paroquial respetivo,
também, o Grupo de Teatro da Pedreira apareceu em cena. Como em 2004 se estreou
na ribalta de Felgueiras o Grupo de Teatro Pés na Lua, por via do entusiasmo de
Cristiana Rodrigues. Assim como em 2008, graças à iniciativa do P.e Benjamim e
ao empenho do escritor Nuno Higino, nas suas vertentes de autor e encenador
teatral, foi criado o Teatro Infantil Maçã Vermelha, ligado à Paróquia de
Margaride. Até que, no mesmo ano, surgiu o Grupo de Teatro MacPiremo, das
paróquias de Macieira da Lixa, Pinheiro, Moure e Refontoura.
= Elementos do Grupo de Teatro da Casa do Povo da Longra em desfile de Halloween pelas ruas da Longra, nos inícios da organização genuína da Noite das Bruxas que se enraizou mais tarde noutros moldes.=
Há assim, com efeito,
tradição da arte dramática nesta região felgueirense, podendo até ter
eventualmente havido mais casos - de que não chegaram ao nosso conhecimento
notícias escritas ou por via oral. Importa contudo vincar a apetência
conterrânea por esta diversão artística sempre muito apreciada localmente,
entre outros valores culturais dignos de nota. Que, como tal, se procura
memorizar neste espaço de evocações, pois tudo o que tenha feito parte e seja
da habituação do povo será sempre de recordar. Contando que isto de tradições
vai muito para lá de usos e costumes com sabor popular de eras distantes por
demais.
Animação Cultural da Longra
Na comédia da vida, em busca
da defesa de tradições e afeições, ainda vai havendo movimentos associativos
vocacionados a catalisar dedicação a causas públicas, visando uma maior união
em torno de valores próprios da identidade de uma região, a propósito de
passatempo e enriquecimento cultural da população em geral.
É o que se passa na Longra,
antiga povoação e atual centro da vila de seu nome, de tradições culturais individuais
e coletivas, onde emerge a Associação da Casa do Povo da Longra – que, através
das suas secções de Folclore, Teatro e Cicloturismo, dá mais vida à área de ação
em que se revêm as terras circunvizinhas.
= Presépio monumental, construído na Casa do Povo da Longra durante a quadra de Natal de 1999, através de mais uma organização do Grupo de Teatro da instituição-sede. Na imagem vêm-se os autores, também, da respetiva edificação artística. =
Ora, tendo a Longra, centro
da região sul do concelho, conhecidas tradições de animação social desde tempos
remotos, sentiu de há anos a esta parte tentativas de revitalização desses
pergaminhos, após tempos de estagnação coletiva. De que resultou, na esteira de
agrupamentos antepassados, após reabertura acontecida em 1994, existirem
presentemente na Casa do Povo da Longra, no âmbito da animação cultural, o
Rancho Infantil e Juvenil e sua extensão do Grupo de Cavaquinhos, mais o Grupo
de Teatro, nessa senda.
O Grupo de Teatro da Casa do Povo da Longra pode até
vangloriar-se de ser o agrupamento cénico mais antigo do concelho, pese a sua
relativamente curta existência na atual fase organizativa. Com efeito, desde Junho
de 1996 que se mantém a atividade do atual agrupamento comediante, na mais recente
versão da atividade dramática que deu sequência a anteriores coletividades do
mesmo ramo artístico, juntando naipe de jovens e elementos adultos, através de
cuja união se formou um conjunto coeso no mesmo denominador comum da arte de
Talma.
= Uma das actuações do
Grupo de Teatro da Associação Casa do Povo da Longra, no momento de
representação no âmbito do programa comemorativo dos 60 anos da
instituição-sede, em 1999. =
Armando Pinto
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