Viveu-se em Felgueiras na tarde do primeiro sábado deste
dezembro algo especial, na Biblioteca Municipal de Felgueiras, com a apresentação
de um livro fora do comum. Tal foi o que aconteceu durante a tarde de sábado, 3
de dezembro, na sessão de apresentação pública do livro intitulado “Feliz na
Escuridão”, da autoria do amigo José Francisco Magalhães Machado, escrito e publicado sob o
pseudónimo de Pepe Guimarães.
Peseudónimo esse, com que assinou a obra, em alusão a ser natural de Guimarães – facto que
me surpreendeu, pois eu pensava que ele nascera na Pedreira, onde viviam seus
pais desde que me lembro e sempre o conheci, aqui por terras de Felgueiras. Para
onde afinal ele veio com cerca de 2 anos e assim sendo por aqui passou a maior
parte de sua vida. Mas mais ainda me surpreendeu tudo o que pude vivenciar em
plena Biblioteca de Felgueiras perante o que ali se ouviu, em momentos tocantes
e mesmo deveras emocionantes, tal a amplitude do que representa o ser do amigo
Machado. Alguém de que todos gostamos, por assim dizer e particularmente sempre
admirei tudo o que nele e dele me surge diante de meu entendimento.
Há muitíssimo tempo que conheço o Zé Francisco Machado, desde criança,
passando a conhecê-lo depois melhor naturalmente quando eramos já adultos, sobretudo depois
que ele regressou de estabelecimentos onde andara e ficou a viver mais pelos meus
lados e a trabalhar na Metalúrgica da Longra, frequentando sítios de andanças comuns pela região. Sentindo grande admiração por ele, mesmo. Havendo tido muitas conversas
com ele sempre que telefonava, de seu posto da Metalúrgica da Longra para o
Posto Médico da Longra, como se dizia então popularmente, para tratar de algum
assunto relacionado com o Centro de Saúde da Longra, pedindo para me chamarem,
se não fosse eu a atender o telefone, e logo aproveitava para puxar temas que
eram de nosso comum apreço. E depois quando comecei a escrever nos jornais de
Felgueiras e mais ainda quando passaram a aparecer os meus livros, sempre
agarrava temas que lhe despertavam atenção. Ficando a sensação de como era
possível tanta vivência, sendo ele invisual, ou seja sem ver como se apercebia e
sabia de tudo.
Este belo livro de José Francisco Machado teve como merecia
uma bela moldura humana, com a sala cheia no auditório da Biblioteca Municipal de
Felgueiras. Havendo a apresentação tido muitíssimo bom desempenho de Arlindo Pinto e José
Quintela; mais testemunhos de diversas pessoas, como também do filho, César Machado; e individualidades da mesa, estando representada a Câmara Municipal pela srª Vereadora da Cultura, Drª Ana Medeiros, e a Junta local pelo Presidente da União das freguesias da cidade e arredores, José Lemos; contando
ainda com a atuação do grupo coral da Universidade Sénior de Felgueiras a
abrilhantar o ato.
Vem então desde tempos distantes o conhecimento que tenho
dele. Tendo-o visto pela primeira vez em criança, tínhamos os dois poucos anos
ainda (pois ele dista de mim apenas alguns meses na idade). Tal foi em certo
dia, teria eu uns 7 ou 8 anos, mais coisa menos coisa (pois já andava na escola e sabia ler, segundo me lembro), em que no Largo da
Longra vi um menino diante de um bom ajunto de pessoas atentas ao que se
passava, estando o pai a mostrar como ele sabia ler com as mãos. Como foi o que
me apercebi e todos estavam admirados. Eu tinha ido fazer um recado a mando de
minha mãe, à loja da Se’ Marquinhas, popularmente chamada loja da Ramadinha,
mesmo no Largo da Longra. E chegado junto do pinheiro do centro desse sítio,
dou de caras com um grande grupo de pessoas em volta de alguém. Como eu era
pequeno não consegui logo ver o que era, mas por isso mesmo meti a cabeça entre
os grandes e lá consegui enfiar-me em posição de também vislumbrar o que era
aquilo. Percebi que o menino tinha vindo, não sei se de férias ou não, de um
colégio onde aprendera a ler assim por não ver. Estando ali seu pai a apresentar
o filho, aquele menino, dizendo que ele sabia ler segundo uma forma
desconhecida para quem ouvia e via aquilo. Fiquei ali especado e pasmado, foi
mesmo assim, tal e qual, vendo-o a ler colocando os dedos sobre um livro que
tinha aberto espalmadamente junto ao peito. E a ler tocando com os dedos no papel, como que a tocar algum instrumento musical. Soube depois e sei agora que aquilo era e
é leitura em Braille, mas na ocasião foi coisa que me espantou e nunca mais me esqueceu.
Pois o amigo Machado publicou agora um livro seu. Um livro
encantador, verdadeiramente atraente em tudo. Contando sua história, algo envolto em género de literatura infantil mas em mensagem adulta, numa
mescla de realidade misturada e escondida em modo de ficção, dando bem para
perceber ali haver muito de si pessoalmente. De forma que quem conheceu seus
pais e sabe os nomes de pessoas e lugares, descobre e discorre da beleza desses
belos nacos autobiográficos. Livro este que de tanto que nos impressiona nem
conseguimos descrever bem como o vemos, apenas sei que gostei, gosto muito e
recomendo muitíssimo.
Por isso, melhor que qualquer explicação de apresentação,
aconselha-se que o melhor é ler, ver e apreciar tudo o que ali encerra esta
bela obra.
Abraço de parabéns amigo sr. José Machado.
Do
Armando Pinto
(Observação: as fotos da sessão de apresentação são, com a devida vénia, retiradas das páginas do
Facebook dos amigos sr. Mário Pereira e Vítor Vasconcelos)
AP