João Sarmento Pimentel foi um famoso lutador republicano que esteve em diversos combates pela Liberdade. Ainda como Cadete da Escola do Exército (um dos famosos “Cadetes da Rotunda”, onde se deram os principais atos dessa ação) esteve na revolução do 5 de outubro, que em 1910 instaurou a República em Portugal. Mais tarde, em 1919, já quando Capitão de Cavalaria e era Comandante do Quartel o Carmo, no Porto, foi autor do golpe militar que derrubou o efémero estado da Monarquia do Norte, implantado um mês antes, e desse modo restaurou a República – movimento que corporizou a partir do Carmo (razão de nesse aquartelamento histórico da GNR haver uma sala com seu nome, com um quadro com seu retrato da época, em lugar de destaque, além de imagens e documentos expostos). Depois, por motivos políticos, após participação na tentativa revolucionária de 1927, contra o regime imposto um ano antes, teve de fugir do país (disfarçado de padre, com roupa emprestada por seu amigo Padre Albino do Unhão) e se fixou no Brasil, durante a Ditadura em Portugal, como exilado político. Tendo entretanto, devido a ser opositor do regime fascista de Salazar, sido vítima também de mitos e lendas que se levantaram contra sua pessoa (inclusive tentando ligar a morte de dois padres, em Lisboa, quando nessa ocasião João Sarmento Pimentel nem se encontrava lá, conforme há testemunhos escritos). Acabando depois por se radicar na nação brasileira, onde sua prole familiar se fixou e passou a viver e a crescer. Após o 25 de abril de 1974, veio temporariamente a Portugal e foi reabilitado com o posto de General que há muito lhe era devido.
De nome completo João Maria Ferreira Sarmento Pimentel, conhecido
popularmente por “João da Torre”, aludindo a ser da Casa da Torre, da freguesia de Rande, concelho de Felgueiras, embora nascido em Trás-os-Montes, no concelho de Mirandela, onde viveu pouco
tempo e tinha afeição natural, mas de ligação e afetividade familiar
felgueirense. Tendo passado sua infância e boa parte da juventude no concelho
de Felgueiras, na casa-mãe da sua família, sita na freguesia de Rande e
inclusive estudado na fase de primeiros estudos em Felgueiras, no antigo
Colégio de Santa Quitéria. Sendo desta região do Douro Litoral a maior e melhor
parte de suas recordações, bem descritas no seu afamado livro “Memórias do Capitão”. Em cujas páginas tem também um terno capítulo dedicado à Menina de Rande, Guilhermina. Além de ter casado em Felgueiras, sendo sua esposa da família Seara Cardoso da Casa de Pedra Maria, da freguesia de Varziela, concelho de Felgueiras.
Ora, no âmbito comemorativo dos 50 anos do 25 DE ABRIL, decorre neste início de 2024 (desde a passada sexta-feira, dia 19 de janeiro) uma exposição em sua homenagem na sede do seu concelho natal, Mirandela. Com o espólio de Sarmento Pimentel, «a exposição Sarmento Pimentel – Rua Itacolomi, 258, apresenta-se como o eixo central das celebrações dos 50 anos do 25 de Abril em Mirandela. »
«Trata-se de prestar
homenagem a esta figura que, para além de ser o patrono da Biblioteca
Municipal de Mirandela, que guarda o seu espólio, foi também o decano maior e líder da
oposição à ditadura portuguesa no Brasil, a partir de 1927.» Fazendo assim «coincidir
um conjunto de atividades que enalteçam este exilado político, festejando
também a liberdade e a cultura para a democracia.» Sendo esta uma «exposição
documental sob o signo da resistência à ditadura portuguesa do mirandelense
João Sarmento Pimentel. Sob curadoria de Júlia Rocha, esta mostra está patente
no Museu Municipal Armindo Teixeira Lopes até 31 de maio de 2024.» De referir
que o título de “Rua Itacolomi, 258” remete à sua residência em São Paulo, onde
viveu no Brasil.
Do mesmo João Sarmento Pimentel consta sua biografia no
livro “Memorial Histórico de Rande e Alfozes de Felgueiras”, publicado em 1997,
além de diversas outras publicações. E ao longo dos anos foram-lhe feitas
referências várias e em diversos artigos em jornais de Felgueiras aqui pelo
autor, além do mais também por ter sido seu amigo, assim como de seu irmão
Francisco (o aviador da 1.ª travessia aérea de Portugal à Índia), esse nascido mesmo em
Felgueiras, na Casa da Torre, em Rande. Tendo, por via disso, diverso material
guardado em arquivo pessoal, incluindo diversas fotografias originais, oferecidas
pelo próprio.
Assim sendo, neste tempo de comemoração da passagem de 50
anos sobre o “25 de abril de 1974”, vem a propósito evocar esta figura
histórica desse antigo militar português condecorado, além da Torre e Espada,
em seu tempo de Comandante das forças republicanas, também depois com a comenda da Ordem da Liberdade, já
durante a democracia recuperada.
Em 1974, no fim de seu exílio forçado, tendo vindo à Pátria após o 25 de abril, foi recebido em Felgueiras na Câmara Municipal, ao tempo da presidência do Dr Machado de Matos à frente da ainda Comissão Administrativa nomeada depois da mudança de regime político nacional. Homenageado então que foi o ainda Capitão João Sarmento Pimentel com efusiva manifestação pública. tendo tido receção à chegada, com autêntico banho de multidão, subindo depois ao salão nobre, onde desde a varanda proclamou um vibrante discurso.
= Instantâneo fotográfico da chegada do então ainda Capitão João Sarmento Pimentel à receção oficial que lhe foi prestada no Município de Felgueiras, na Primavera de 1974, no seu regresso vitorioso à Pátria em liberdade depois de 47 anos de exílio político, após o 25 de abril em 1974. Na foto: Ao subir as escadas nobres de entrada nos Paços do Concelho, recebido e acompanhado pelo então Presidente da Comissão Administrativa Municipal, Dr. Machado de Matos, mais por seu sobrinho Engenheiro António Pimentel, ao tempo proprietário da Casa da Torre, e por um político amigo. (De notar uma visão saudosista desse antigo escadario nobre da entrada interior no edifício dos Paços do Concelho, com o seu característico gradeamento de corrimão em ferro forjado clássico, destruído e desaparecido com obras de transformação operadas nos inícios do século XXI, ao tempo da presidência municipal da Drª Fátima Felgueiras)…
* Foto de arquivo do sr. Mário Pereira.
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Com respetivas referências aos dois irmãos sempre unidos, João e a Francisco Pimentel, sendo que foram os dois que celebrizaram o nome Sarmento Pimentel: Joâo Maria, natural de Mirandela mas residente em Felgueiras e Porto (enquanto esteve em Portugal) e Francisco, natural de Rande-Felgueiras, terra de implantação da casa-mãe de sua família, como irmãos que viveram unidos pela vida adiante, mesmo no exílio político em que tiveram de enfrentar duradoura ausência da pátria e de suas raízes por motivos políticos.
Sobre João Sarmento Pimentel, para efeito de o lembrar aqui,
também, ilustra-se esta memorização com imagens fotográficas e documentais de
arquivo pessoal.
= Pose da família Sarmento Pimentel, na Casa da Torre, em 1905. Estando João em cima, à esquerda da fotografia, ao lado do pai, Leopoldo Pimentel, estando do outro lado o irmão mais velho, e a meio a mãe e as irmãs, enquanto em baixo está o irmão mais novo, Francisco.
Armando Pinto
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