Espaço de atividade literária pública e memória cronista

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Artigo sobre “Antecedentes Históricos Felgueirenses”, no jornal Semanário de Felgueiras


De mais uma crónica publicada no Semanário de Felgueiras, eis aqui, de seguida, o recorte da respetiva coluna incluída na página 12 da edição impressa do SF desta sexta-feira 14 de Dezembro.

(Clicar sobre este recorte digitalizado, para ampliar e ler) 

Do mesmo, para mais fácil leitura, colocamos o texto revertido conforme o original datilografado: 

Antecedentes Históricos Felgueirenses 

Em época presente de indefinição, estando na baila a agregação de freguesias, vem a propósito uma vista por algumas das peripécias que fizeram memória no percurso histórico de ligação. Quanto a área geográfica em que se situa Felgueiras sentiu através dos tempos as transformações do noroeste minhoto-duriense e viveu também momentos comuns à grei nacional. Como passamos a descrever, em leves traços retrospetivos. 

Para se não recuar em demasia no tempo, mas avançando cronologicamente em resenha histórica uma visão ampla de longa existência, pode adiantar-se que após os diversos estádios de povoamento com estadas de diferenciados povos, de que perdurou com maior ênfase sobretudo a génese lusitana e as marcas da romanização, foram porém os Godos que influência mais marcante tiveram na consolidação da identidade profunda, como se comprova pelas réstias toponímicas deixadas, em denominação geográfica, nos nomes das terras, através das raízes genealógicas dos antepassados destes sítios. 

São paradigma no caso os topónimos de origem germânica derivados dos primeiros colonos definitivos, fidalgos godos romanizados, que legaram seus nomes às quintas originárias dos primitivos povoados, as “villas” rústicas florescentes da exploração do território, de cujas denominações na evolução através do tempo resultaram nomes de lugares e sucessoras freguesias. Entre o que se nota desse rasto, em variedade de referências provindas de antigas villas romano-godas, que deram origem a nomes próprios de atuais freguesias, como Aião, Airães, Friande, Godim, Idães, Margaride, Moure, Rande, Regilde, Revinhade, Santão, Sendim, Sernande, Unhão... Havendo ainda notícias de nomes de primitivas paróquias, de tempos de suevos e visigodos. 

Naturalmente que outros nomes tiveram diferentes origens, em diversas peripécias semânticas. Por exemplo, os topónimos (nomes de lugares e/ou freguesias) derivados de pedra são muito frequentes na Galiza e em Portugal. Conforme estudos vários sobre a toponímia galaico-portuguesa, os mais antigos topónimos reportados a pedra, às pedras ou ao carácter pedregoso de um sítio, tal como Pedreira, foram anteriores ao latim. Ainda pré-latino é o nome de Várzea, provindo do topónimo pré-romano Varcena, com significado a apontar para campina cultivada, em vista do solo fértil que aí campeava. Posteriormente, de afinidade linguisticamente ao latim, houve outros casos pós-latinos (românicos ou medievais, ou já galaico-portugueses e mesmo portugueses), como se nota no nome do lugar de Pedra Maria, que «é um vestígio evidente de um ancestral culto das pedras», alusivo à fé derivada de falado aparecimento de uma imagem num penedo. E em diversas freguesias, nomes de lugares, ainda, indicam uma toponímia antiga a fazer eco de uma atividade, como Vinha, por exemplo. Já Vinhó, diminutivo de Vinha, tem sempre termo de comparação relativamente perto, como acontecia no nome da Fonte da Vinhó que, em tempos passados, existiu em Rande junto a um campo de vinha da Casa da Quinta. E, a calhar a talhe, por se referir o nome Quinta, esse é um nome exemplar de quanto o antigo mundo rural teve peso na toponímia nortenha do país e particularmente nesta região felgueirense, em apreço. Como uma substancial parte dos topónimos se refere a um estilo de vida centrado em atividade agrícola, relacionada a propriedade maioral do sítio respetivo, a antiga quintana, posterior quintaa e depois também quintã, relacionam importante quinta, na evolução semântica de lugar assim denominado, na fragmentação em sub-unidades das pioneiras villas. 

Desses antigos povoamentos dão conta alguns restos encontrados em escavações arqueológicas, sobretudo de antigos povoados de que existem testemunhos por vestígios encontrados, entre outros casos, no monte do Senhor dos Perdidos, em Penacova; no monte de Aparecida, em Pinheiro; no alto de Cimalhas, na fronteira de Sernande, Rande e Varziela, de antigo habitat; e em Sendim, no monte do Crasto e nas ruínas de antiga villa romana. 

© Armando Pinto