No livro “Futebol de Felgueiras - Nas Fintas do Tempo”, publicado em 2007, deixamos exarado, quanto a esse período da história felgueirense:
«… Decorrendo o tempo, com o desporto local quase limitado
ao futebol a nível distrital, no ambiente da vila de então passaram-se anos de
discreta pacatez, embora prenhes de entusiasmo interno. Na conta corrente
desportiva inicial, contou tempo em que o clube participou despretensiosamente,
durante algumas épocas, na 3.ª Divisão Distrital, à compita com equipas de
terras e concelhos vizinhos, com os quais disputava renhidos “derbies”
regionais, em jogos que movimentavam grandes molduras assistentes e despertavam
bairrismos. Contudo sem grandes veleidades aos lugares de promoção, que outros
clubes de zonas mais desenvolvidas e maior poderio disputavam.
Até que chegaram épocas gravadas na memória local,
conseguido que foi formar conjunto valioso de atletas, através de jogos feitos
por nomes celebrizados a nível caseiro, entre os quais o famoso avançado Sabú e
seus companheiros Monteiro (guarda-redes principal), Cardoso, Mário, Mendes,
Mamede, Pacheco, Estebaínha, Pimenta, Zezinho, Roda, José Manuel, José Carlos
(guarda-redes suplente) e outros, em 1964/1965, seguindo-se depois em 1965/66 o
célebre Caiçara, acompanhado também por Pimenta como alguns outros
sobreviventes e mais uns Fernando Mesquita, Loureiro, Augusto, Franquelim,
Pereirinha, Moura, o guarda-redes Jorge, etc. Épocas em que as carreiras da
equipa atraíram grande mole de acompanhantes, tendo então sido frequente irem
em autocarros fretados, para o efeito, diversas excursões de adeptos para
assistirem aos jogos, disputados na área do distrito, bem como nos prélios
disputados em Felgueiras havia quase sempre casa cheia.
O rectângulo de jogo era então vedado a tubos de ferro,
suportados por mecos de cimento, sendo esses ferros pintados a intervalos de
azul e vermelho, enquanto o espaço do público se quedava em terra rampeada,
albergando numerosa assistência, com o recinto fechado por muros de blocos de
cimento.
Efectivamente o primeiro grande momento deu-se quando, em
1964/65, aconteceu a primeira subida na história do clube. Depois de se ter
classificado em segundo no respectivo campeonato (em que subia apenas o primeiro
automaticamente, nesse ano o Gondomar, que superou o despique final à
tangente), o Felgueiras ascendeu enfim à 2.ª Distrital, graças a memorável jogo
de “tira-teimas”, numa finalíssima disputada em campo neutro, em Amarante, no
começo do Verão de 1965 – entre o vice-campeão da 3ª Divisão Distrital
(Felgueiras) e o clube da 2ª (Lixa) classificado acima do que ficara
despromovido da mesma divisão superior. Estava assim em jogo a promoção do
Felgueiras ou a permanência do Lixa, nessa categoria. Nos jogos a duas mãos,
verificaram-se vitórias das equipas da casa, à vez, tornando necessário um
desempate. Então, apesar de ser um dia de semana, Felgueiras esteve em peso
nessa tarde no campo de Amarante, diante do F. C. da Lixa. Nesse ano era a
equipa de Felgueiras treinada por Nelo Barros, enquanto na formação sobressaía
Sabú, autor dos dois golos com que foi selada tão eufórica vitória, por 2-0.
Ficou na memória local o regresso dos heróis, que resultou
numa autêntica romaria popular, vindo em ruidosa caravana os atletas e demais
componentes da equipa, bem seguidos por delirante falange de adeptos, dos que
estiveram no campo, em longa fila por meio de tudo quanto era transporte, desde
motorizadas, motões, velhas carrinhas fechadas e de caixa aberta, camionetas de
excursão e carros, como até bicicletas (embora estas levassem mais tempo
naturalmente, acrescendo nalguns casos o ciclista condutor levar mesmo um
acompanhante no quadro). Curiosamente, para evitar passagem na Lixa, o cortejo
veio pela Serrinha e, via Aparecida, passou na Longra, onde se deu um dos
maiores banhos de multidão de que há recordação, recebida a vitoriosa embaixada
ao toque de bombos, latas e o mais que fazia barulho, indo por fim, tudo e
todos, em demanda da vila de Felgueiras, em cujo centro urbano a festa durou
até às tantas...»
Do acontecimento, a propósito e como recordação, juntamos
recorte coevo dum jornal local, dando nota do que ao tempo ficou registado no “Notícias
de Felgueiras”:
Armando Pinto
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