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Ainda no decurso deste mês de Maria e em período
comemorativo do dia litúrgico dedicado a Santa Quitéria, desfiamos um rosário
evocativo de ligações afetivas ao monte da Santa, como popularmente é conhecido
o planalto sobranceiro à sede do concelho de Felgueiras.
Eis então o que nos veio à memória, em mais uma crónica no
Semanário de Felgueiras. De cujo artigo, aqui e agora, damos à estampa a imagem
da respetiva coluna, publicada na página 10 da edição desta sexta-feira, dia 23.
(((Clicar sobre o recorte digitalizado, para ampliar)))
Desta mesma narrativa, para efeitos de mais fácil acesso à
leitura, publicamos também, de seguida, o original texto datilografado.
Lembranças sobre Santa Quitéria
Desde tenra idade, ainda durante aqueles anos em que vemos
tudo com encanto e curiosidade, me habituei a sentir pelo alto de Santa
Quitéria um fascínio especial. Ouvindo minha avó paterna contar histórias de
seus tempos, quando levava flores para plantar no jardim do monumento da
Virgem, a mando das senhoras de Valdomar, irmãs do Conselheiro Mendonça, aquele
que fora antigo Presidente da Câmara e Administrador do Concelho… ela que
conheceu bem o Padre Henrique Machado, grande amigo e visita regular da Casa de
Valdomar de baixo, em Rande, onde havia oratório doméstico para rezar missa e
se desenrolavam convívios de angariação de verbas para o culto e preservação
das casas, capelas e templo de Santa Quitéria…
Então, em dias de peregrinação anual, depois da chegada da procissão e comido o farnel em família, à sombra do frondoso terreiro, como havia certa atração em fazer um habitual circuito pela igreja, onde estava à entrada um quadro com imagem terrífica mas engraçada do inferno, indo depois ajoelhar ao pé do altar de Santa Quitéria, seguindo-se passagem pela casa das esmolas, perante visão grandiosa de grandes quadros com as caras dos benfeitores do santuário, enquanto se ouviam pessoas idosas a contar a lenda da Santa e seus milagres… até subirmos à torre, de forma a mirar o lindo panorama da paisagem sousã…
E com que encantamento ficamos então quando, um dia, tivemos finalmente em mãos um livro que meu avô materno guardava, um livrinho com alguns desenhos por entre muitas folhas escritas a falar de tudo aquilo do Monte das Maravilhas, que fora escrito precisamente pelo Padre Machado, de que tanto ouvia falar…
Então, em dias de peregrinação anual, depois da chegada da procissão e comido o farnel em família, à sombra do frondoso terreiro, como havia certa atração em fazer um habitual circuito pela igreja, onde estava à entrada um quadro com imagem terrífica mas engraçada do inferno, indo depois ajoelhar ao pé do altar de Santa Quitéria, seguindo-se passagem pela casa das esmolas, perante visão grandiosa de grandes quadros com as caras dos benfeitores do santuário, enquanto se ouviam pessoas idosas a contar a lenda da Santa e seus milagres… até subirmos à torre, de forma a mirar o lindo panorama da paisagem sousã…
E com que encantamento ficamos então quando, um dia, tivemos finalmente em mãos um livro que meu avô materno guardava, um livrinho com alguns desenhos por entre muitas folhas escritas a falar de tudo aquilo do Monte das Maravilhas, que fora escrito precisamente pelo Padre Machado, de que tanto ouvia falar…
Ora, está aí a chegar às nossas mãos mais um livro sobre
Santa Quitéria, publicado por estes dias, cuja apresentação ocorre neste mês de
Nossa Senhora, o Maio das flores e dos amores, por ocasião celebrativa da data
dedicada a Santa Quitéria. Sendo de louvar o seu aparecimento, sabendo-se que
em Felgueiras rareiam obras histórico-literárias e o próprio concelho
felgueirense quase nem está historiado a partir da Idade Média, faltando
documentação publicada da era do concelho perfeito, nomeadamente desde o século
XIX, quando foram extintos antigos Alfozes e os sucessivos concelhos de Unhão e
Barrosas se irmanaram de vez no de Felgueiras. Ainda há pouco tempo, quando
apresentamos o nosso recente livro sobre o autor da Casa das Torres, Luís
Gonçalves, sentimos alguma surpresa em muita gente ao verem o original desenho
do monumento da Imaculada e referência ao mesmo sr. Gonçalves, no caso, como
autor do desenho da respetiva coluna e gradeamento envolvente, como aquilo
estava à época.
Daí nosso apreço pela existência de mais este livro. Ainda
que sobre o tema até haja diverso material, felizmente. Desde a existência de
um ou outro manuscrito setecentista, havendo depois, em 1879, «O Monte Pombeiro
de Felgueiras enobrecido pelo martírio da Virgem Santa Quitéria Bracarense»,
como em 1885 o trabalho «Vida de Santa Quitéria e Monte Pombeiro enobrecido»,
pelo Padre Joaquim Álvares de Moura. E mais, tal como 1903 teve publicação um
livreto da «Reforma dos Estatutos da Confraria do Santíssimo Sacramento erecta
na parochial de Santa Eulália de Margaride concelho de Felgueiras»; enquanto em
1909 teve luz o livro «Vida, Martírio e Milagres da Preclaríssima Virgem e
Mártir Santa Quitéria-Glórias e Maravilhas do Monte Pombeiro», pelo Padre
Henrique Machado - obra que teve 2ª edição em 1947; ainda naquele mesmo ano,
anterior, saiu com data impressa de 1909 um «Relatório/Colégio de Santa
Quitéria Felgueiras», que reflete à posteridade notas de referência informativa
da sua existência e da vivência do santuário. Já em 1983 - embora escrito em
1972 - foi publicado pequeno livro do Padre Pinho Nunes, intitulado «Santa
Quitéria», do qual surgiu em 1991 uma nova edição acrescentada. E no ano 2002
foi publicado um livro intitulado “Monte de Santa Quitéria, Felgueiras”, com o
nome da terra em subtítulo, da autoria do Padre Carlos Moura. Isso tudo além de
um outro recente, em 2010, ao género de ficção infantil (“A cerejeira que
floriu em Maio”) de Nuno Higino e José Emídio.
Os livros são muito mais que simples conjuntos de folhas de
papel, nem sendo simplesmente só páginas com carateres impressos e imagens
fixadas. São fontes de saber e de exprimir sentimentos, em suma. Assim, aí está
mais um, a bem da comunidade, dentro da temática felgueirista, quão importante
será sempre o sentimento felgueirense.
Armando Pinto
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