Como diz o título, foi e é com esse sentido que escrevemos
mais um artigo para o Semanário de Felgueiras, a calhar na época de Natal,
conforme consta da edição nº 1187 agora nas bancas para o público, já, e nas caixas de correio dos assinantes, antes do Natal.
Na linha das partilhas habituais neste espaço, em ocasiões
destas, colocamos recorte da respetiva coluna e transcrevemos para aqui o texto original:
Espirito Natalício
Ao virar do tempo, na diferença ambiental, entra em cena a
saída de fumo das chaminés, na ascensão provocada pelo calor das lareiras.
Elevando também o ar aquecido dos afetos, nomeadamente associando as chaminés
com os sonhos das crianças, da chegada das prendas natalícias através das
mesmas chaminés. Qual outro fumo, das espirais de incenso das igrejas, onde se
beija o Menino Jesus, entre cânticos ao fascínio do presépio.
Ora, no Natal vem naturalmente à ideia o encantamento da
idade infantil, sendo associado criança com lembrança. Quase desejando nunca se
ter crescido, então, para manter os sonhos de infância. E enrola-se o fumo das
lembranças na convivência da quadra.
Porém a realidade agora é outra, num tempo em que os valores
de antigamente se têm diluído e se foram perdendo. Com algumas sombras da crise
contemporânea a não explicar tudo, embora mostrando efeitos.
Descendo pelas chaminés dos lares as prendas natalícias do
imaginário próprio, qual sortilégio desta quadra, também escorrega alguma
negritude do escurecido panorama dos dias que correm, com a depressão que se
sente nalguns setores da vida e mudanças operadas por alterações político-sociais.
Apesar disso, a época de Natal vem ainda amenizar ao menos por instantes o
horizonte. Como se vê felizmente na amplitude das iluminações natalícias e
presépios grandes e pequenos que se vêm nas vias públicas que receberam luzes e
outros adereços, com realce para o atual embelezamento do jardim central da
cidade de Felgueiras e brilho ainda noutras ruas e árvores decorativas nalgumas
rotundas, pelo concelho. Descontando sítios onde o quadro piorou, pois há
locais também importantes que estão sem nada – como nos estamos a lembrar, por
exemplo, do centro natural da vila da Longra, onde pela primeira vez em muitos
anos (pelo menos desde finais do século XX, dando de barato) não há este ano
qualquer peça alusiva desta vez, por simples que fosse, na confluência do
chamado Largo da Longra.
Ainda assim, perante a existência ou ausência de sinais
demonstrativos, o sentimento natalício sente-se mais no calor da intimidade, de
onde sobe pela chaminé a evaporação da graça que traz o Natal. Havendo alegria
possível na diferença que este tempo provoca, afinal. Os odores fumegantes, o
cheiro e sabor da tradição transportam um bem estar mais sereno, sendo de
harmonia o Natal, com os olhos no presépio familiar e coletivo que deve
identificar a unidade conterrânea, no caso.
Visto assim, como compôs em cântico o mestre de música sacra
Padre Luís Rodrigues, por sinal felgueirense:
“Vamos ao presépio,
vamos a Belém:
louvar o Menino
que
salvar-nos vem”!
ARMANDO PINTO
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