Na linha já habitual, mais uma
evocação teve lugar na crónica usual escrita pelo autor para o Semanário de
Felgueiras. Tendo então surgido agora vez de lembrar o antigo guardião José Carlos Silva,
referência histórica felgueirense dos
tempos de campo de jogo ainda em terra - com a indicação do sobrenome português,
aqui, para distinguir de outro mais novo, o guarda-redes brasileiro do mesmo nome que,
mais tarde, defendeu também a baliza felgueirense, esse na época da estada do
FCF na 1ª Divisão Nacional.
Desta recordação no firmamento
felgariano damos nota com o correspondente texto, acompanhando a coluna
respetiva publicada na página 12 da edição do jornal Semanário de
Felgueiras desta sexta dia 22 de Maio.
Recordando Zé Carlos - o “Mãos
de Ferro” Felgueirense
Estamos em tempo de cerejas, numa
época primaveril abençoada na alegria dos dias de fulgor da natureza. Período
que, como aquele fruto rosáceo que surge aos magotes, também tem motivos que
vêm uns atrás dos outros.
Era assim há coisa de cinquenta
anos, cinco décadas atrás no tempo, quando o futebol dava um ambiente suculento
em terras de Felgueiras, perante a caminhada da equipa do Futebol Clube de
Felgueiras rumo à então primeira subida de divisão. A pontos que, nas segundas
feiras de manhã, depois de mais um jogo domingueiro da carreira da equipa
azul-grená que ia dando maiores esperanças e provocava entusiasmo no ambiente
pacato da vila dessas eras, havia alegria popular a saudar alguns jogadores do
Felgueiras, dos que podiam passear pela feira semanal, por entre o muito povo
entusiasta. Num colorido vivo como o apetite provocado pelas cerejas nesse
tempo vendidas já nas tendas dos produtos campestres. Sendo admirados os
futebolistas por uma grande franja da população local e graúdos e miúdos
conheciam os nomes e fisionomias desses ídolos locais, à dimensão desse tempo.
Alguns deles provindos doutras terras, mas depressa arreigados a Felgueiras.
Homens que até se fixaram profissionalmente na região, como acontecia com o
Pimenta, por exemplo, que viera dos lados de Resende, e o Zé Carlos, oriundo de
Fafe, os quais entraram ao serviço da importante fábrica Metalúrgica da Longra
e passaram a fazer parte da vida felgueirense.
Ora, o Zé Carlos – nome desta vez
a merecer rememoração nestas deambulações memoriais – viera para Felgueiras
defender a baliza da equipa felgueirense e era conhecido por “Mãos de Ferro”,
devido ao seu valor se assemelhar, na ideia popular, ao antigo guarda-redes
Barrigana que enchia a baliza do Futebol Clube do Porto com mãos seguras e,
como tal, assim costumava ser referido por toda a gente do mundo da bola
nacional. Derivado ao Barrigana ter vindo jogar ao campo do Felgueiras com a
equipa do F C Porto, em jogo amigável, e aí ter sido cabeça de cartaz dos que
viram o encontro apinhados contra os ferros dos lados do campo ou
encarrapitados sobre as árvores ao redor.
O Zé Carlos, de nome oficial e
completo José Carlos Rodrigues da Silva, começara a jogar nas camadas jovens do
clube da Associação Desportiva de Fafe na década de cinquenta, onde atingiu
notoriedade ao subir ao escalão sénior, depressa chamando as atenções de outros
lados, acabando por vir para Felgueiras. Ainda o clube com o nome do concelho
de Felgueiras não lograra ascender a um estatuto maior, quedando-se pela
manutenção costumeira na divisão distrital mais baixa, ao tempo a 3ª Divisão da
Associação de Futebol do Porto. De permeio passou a ombrear com Barnabé,
guarda-redes famoso da história do futebol felgueirense. Até que na época em
que se veio a dar a primeira subida de divisão, em 1964/1965, Zé Carlos teve
como colega da baliza o guarda-redes Monteiro, enquanto na temporada seguinte,
da segunda e consecutiva subida de divisão, o lugar defensor das redes foi
também preenchido por Jorge, um bracarense conterrâneo do avançado Pacheco, o
“careca King”. Tudo gente que jogou ao lado do célebre Sabú, primeiro, e
Caiçara, depois.
Enquanto isso, Zé Carlos foi
fazendo parte da mobília da casa, como figura familiar no Felgueiras e em
Felgueiras. Acabando, após pendurar as luvas e as chuteiras, por ter ficado
como treinador das camadas de formação do F C Felgueiras. Em cujas funções,
entretanto, foi reconhecido oficialmente, sendo-lhe prestada uma festa de
homenagem, a 3 de Julho de 1977, numa bela jornada desportiva cujo programa
meteu jogos do Felgueiras e do Fafe, em Juniores e Seniores, incluindo a
entrega da taça distrital e medalhas pela conquista respetiva da sua equipa de
Juniores na época de 1975/76. E, ficou entre referências que perduram na
memória coletiva, onde haverá sempre nomes merecedores de apreço, como Zé
Carlos, o Mãos de Ferro de Felgueiras, que com brio e afeição defendeu as cores
do histórico F C Felgueiras.
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