Numa iniciativa do Município de Lousada, associando-se às "Comemorações dos 50 anos do 25 de Abril", iniciaram-se no domingo, dia 22, as respetivas
comemorações alusivas com programa aberto através de evocação do comício e
posterior carga policial que aconteceu no salão dos Bombeiros locais, em outubro de
1973.
Então, na manhã deste passado domingo outonal, pelas 11h00,
foi descerrada uma placa evocativa, seguida de uma tertúlia com a participação
de alguns dos intervenientes e uma recriação teatral da intervenção da GNR.
Seguindo-se um momento musical protagonizado pelo Bando das Gaitas na sessão
que decorreu no Espaço AJE, ao lado do quartel dos Bombeiros, a assinalar por
parte do Município de Lousada esse evento, assim devidamente comemorado no
âmbito dos 50 anos do 25 de Abril de 1974. Tendo o célebre comício do MDP nos
Bombeiros sido revivido com bastante realismo, perante testemunhos de Berta Granja
e António Silva Mota, que discursaram no comício de 1973. Com a mesa de honra
composta pelo historiador Prof. Luís Ângelo Fernandes, mais o presidente do Município de Lousada, Pedro Machado, e pelos intervenientes. O grupo teatral
Passado Vivo deu um cunho realista ao evento, recriando a invasão da GNR e a forte carga que exerceu sobre os assistentes.
Recorde-se que à época estava-se ainda no tempo em que não
se podia “falar de política” e aliás, derivado aos muitos anos da censura do
Estado Novo, nem se sabia nada disso, a não ser entre alguns mais informados e
franjas de pessoas cultas. Enquanto ainda nesses inícios dos anos 70 reinava total
obscurantismo de muitos anos, apesar de ter havido alguma esperança da “Primavera
Marcelista”, quando Salazar “caiu da cadeira” e entrou Marcelo Caetano para o
Governo, mas depressa tudo voltou à forma antiga.
Nesse ambiente, estando na
ordem do dia a aproximação dumas eleições, coisa quase inédita ao tempo, embora em sufrágio condicionado, quando
se soube da realização desse comício começou a haver algum falatório, nalgumas
conversas de estabelecimentos de ensino e rodas de amigos dos chamados
democratas. Tendo ido lá a Lousada também alguns felgueirenses, com realce para
o Dr. Machado de Matos e alguns seus correligionários, mais alguns estudantes
do ensino noturno, que ao tempo havia na então vila de Felgueiras (de homens feitos e jovens, habitantes de diversas freguesias do concelho de Felgueiras, para
preparação instrutiva com ideia de melhoria de empregos). Esses e outros, que se juntaram aos oriundos de Lousada e de concelhos vizinhos, entre a muita assistência
que assim esteve presente nesse célebre comício do Movimento Democrático
Português, em 24 de outubro de 1973, no salão dos Bombeiros de Lousada, a
abarrotar de gente. Algo que foi um marco histórico da luta contra o antigo regime,
pelos bons e maus motivos.
A propósito, o jornal “O Louzadense” descreve o caso,
relembrando: «Na génese desse comício esteve o Movimento Democrático Português
(que englobava vários partidos clandestinos e tendências ideológicas, onde o
PCP era uma das principais forças). Foi uma das mais importantes organizações
políticas da oposição ao regime do Estado Novo em Portugal até ao 25 de Abril
de 1974. O MDP foi fundado em 1969, atuando através de comissões democráticas
eleitorais para concorrer às eleições legislativas, que o governo totalitário
de Marcelo Caetano prometera realizar para a Assembleia Nacional. Uma dessas
comissões eleitorais reuniu no dito comício em Lousada, facto raro no interior
do país, pois tais eventos tinham sobretudo palco nas grandes cidades. Por ser
uma novidade, as autoridades estiveram mais atentas a este passo do MDP e
destacaram para Lousada um forte contingente policial, vindo do Porto, para
intimidar a participação popular. “Na praça em frente aos Bombeiros instalou-se
um forte contingente de carros militares e até metralhadoras tinham”.» Segundo testemunho
dum participante: “O salão estava cheio”.
«O comício estava marcado para as 22 horas. Porém, atrasou-se
meia hora. A sessão começou com os temas do costume: a carestia da vida, a
horrenda Guerra Colonial, a liberdade de imprensa e a necessidade de mudança de
rumo político. O tom do discurso não poupou a GNR que pretendia intimidar os
presentes». Incomodado assim o sistema fascista, que mobilizou muitos militares e meios
para intimidar e bater, houve então uma fortíssima carga agressiva, batendo em toda a gente presente, a pontos que houve até «quem passasse muito mal, valendo alguém
dos bombeiros ter aberto uma porta que serviu de escapatória para alguns terem
conseguido fugir às bastonadas e coronhadas”».
«Tudo se precipitou quando chegou a meia-noite e o
responsável distrital da GNR deu ordens para que toda a gente se retirasse. E de imediato um
oficial mandou invadir a sala. Várias dezenas de militares que tinham barricado
quase todas as saídas, espancaram as pessoas que tentavam fugir apavoradas. Há
relatos de óculos partidos, calçado deixado para trás e roupas rasgadas. Mas
também de muitos gritos e sangue, cabeças partidas, pânico e correrias
desenfreadas.»
Um dos que sofreu no corpo esse ataque foi o Dr. Machado de
Matos, de Felgueiras, vítimado com algumas costelas amassadas, como se dizia.
Tendo esse facto originado ele ter passado a ter ainda mais admiração entre os
felgueirenses atentos às situações contemporâneas, nesses idos dos inícios da
década dos anos 70, no século XX. Enquanto os estudantes-trabalhadores
felgueirenses que também lá estiveram, depois com vergonha e certo receio de represálias, atendendo ao ambiente da época, não diziam ter
participado, mas sabiam contar o que se passou…
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Como melhor falam as imagens, ficam da ocorrência comemorativa algumas fotos para ilustração narrativa em imagens:
( Fotos, com a devida vénia, de origem do Município de Lousada)
Armando Pinto
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