Espaço de atividade literária pública e memória cronista

sexta-feira, 12 de maio de 2023

Livro privado "50 ANOS DE NAMORO! – Primavera / Verão de 1973 a 2023"

 

Armando Pinto

 

  

50 ANOS DE NAMORO!

– Primavera / Verão de 1973 a 2023

 

 

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= Edição particular do autor, em tiragem restrita de 20 exemplares, autenticados manualmente, primeiro para oferta de aniversário à namorada desde há 50 anos… e depois para distribuição a familiares. 

 

= 2023 =

 

 

À Linda, minha esposa,

Mãe de meus filhos e Avó de meus netos:

- Dedico e ofereço este livro, pelo teu 68.º aniversário natalício,

evocando o nosso início de namoro, passado meio século de quando há 50 anos tinhas completado 18 anos e ia começar a nossa história conjunta.

Armando

 

Era uma vez… Foi e é… uma história que deu vida a diversas boas histórias. Uma História em que, dessa e desta vez, foi e é personagem protagonista aqui o autor destas lembranças, e como tal também sou narrador, em género de memória personalizada, como parte ativa e co-autor da ação e caráter resultante.

História particular esta, que se recorda agora, em 2023, na passagem de 50 anos desde o começo correspondente. Porque nem só se refere ao respetivo início a sério, mas aos antecedentes à correspondência que possibilitou e facilitou o resultado que leva a isto estar a ser recordado, perante frutos de todo esse trajeto pessoal.

Exatamente. Vindo agora assim a ficar em letra de forma, a ser descrito na primeira pessoa, por passar por estes tempos a bela soma de cinquenta anos do que levou ao namoro que fica aqui lembrado. Na ocasião da comemoração do aniversário natalício deste ano da minha namorada desde há cinquenta anos (motivo desta escrita e sua publicação ser prenda de aniversário!), agora que de sua vida perfaz 68 anos, dos quais 50 já andei com ela, primeiro debaixo de olho e por fim mesmo ao lado dos olhos e de tudo mais, incluindo o coração.

 

~~~ ***** ~~~

Já passou meio século. Recuando a 1973, com a Primavera já florida e a juventude a fervilhar em 18 primaveras vividas, pessoalmente.

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Ao tempo, a então povoação da Longra para a parte de cima ia só até onde hoje está o Edifício Vila da Longra. Dali para a frente a estrada nacional era ainda beirada de matas de um lado e do outro, com a iluminação pública também circunscrita até ali, em postes de ferro (de bocados dos railes da antiga linha do comboio que passou no início do século XX pela região). Sendo assim o ambiente noturno deveras escuro como breu fora do centro da Longra. Bem como de dia se ia por lá acima sem ver casas, que não havia ainda por ali, nesse bocado de terreno entre o centro da Longra e arredores, por essa banda. Enquanto nesse mesmo lado, entre a Longra e Cimalhas, nesse mesmo troço de passagem, após a reta imediata e chegada à curva acima, na confluência hoje do ex-Café Juventude e edifício Mira Longra, havia a casa da Louceira com uma ramada de vides à frente e um quintal no flanco; como para o lado, também beirado de mata, era por um caminho estreito e de terra solta que se seguia para o sentido dos lugares da Piedade, Quintela e em direção à igreja de Sernande… E de seguida, acima, passada a curva da estrada nacional, havia então algumas casas, ainda que poucas, entre as quais a casa onde vivia a jovem que veio a ser também protagonista desta história. 

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As estradas nacionais por estes lados eram ainda então de leito algo reduzido, sendo mais estreita (que agora) a via de passagem dos carros e outros veículos, então em alcatrão velho, porque as bermas estavam em terra e cascalho solto, a ocupar as largas margens laterais, ficando a estrada propriamente dita com a parte melhor, embora com piso irregular e estalado, como era alcatroada numa mescla de alcatrão com seixos e pedrinhas à vista. Tal como se via e sentia, no caso em que se encontrava aquela estrada de ligação da Longra para cima, que vem ao caso. Sendo que nesse tempo as estradas eram de vez em quando compostas com piche de alcatrão, lançado por uma escura máquina em ferro, da qual saía borrifado esse líquido pegajoso, depois coberto por camadas de areia lançada a esmo, que se entranhava colando ao pavimento, para no fim ser tudo aquilo calcado com um cilindro grosso e pesado. Maquinetas essas que depois ficavam nalguma das bermas durante largo tempo, à espera de serem levadas para outros sítios a consertar pelos cantoneiros. Mesmo porque esse estado de situação à vista se manteve por mais anos adiante. A ponto que passados anos, numa imagem captada pela minha máquina fotográfica, uma dessas maquinetas pretas de ferro ficou registada à posteridade – e merecerá mais adiante também outra referência.

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Estava-se então ainda em 1973. Assim ainda antes do 25 de Abril, da revolta militar que no ano seguinte levou ao golpe de estado que alterou a sociedade portuguesa, a começar na política, coisa que nesses idos de 1973/74 pouca gente sabia e entendia. Um tempo em que pelas estradas da Longra passavam ainda poucos carros, além das camionetas de carreira e obviamente das bicicletas até então muito usuais, sendo nessa época muito raro o trânsito automóvel, de modo que se podia mesmo jogar à bola por ali, como tantas vezes acontecia. Aliás, nesse tempo, da transição de finais dos anos 60 e princípios dos 70, dos anos antecedentes ao 25 de Abril, é que passaram a aparecer mais veículos de transportes, começado que foi então mais pessoas a terem carros e motos, com o nível de vida social a melhorar.

Foi pois nesse tempo que começou nosso namoro. Em pleno verão. Mas antes começara, no princípio de tudo, ainda pela Primavera. Tinha eu ainda 18 anos de vida e ia nos 19, que completaria já depois de iniciado o namoro, portanto.

Isso assim porque, antes da “oficialização” do namoro, houve naturalmente primeiras vistas de atenção, etc. e tal. Com o processo antecedente, pessoal e intransmissível. 

A Longra era o centro urbano de região. E o Largo da Longra a zona histórica da localidade. Com o sítio de confluência das estradas (das direções de e para Felgueiras, Lousada e Caíde) a dar no chamado Largo, ao centro do qual havia o triângulo divisório, ao género de placa central de delimitar a parte rodoviária da área de estar, por assim dizer, onde costumavam estar as pessoas que por ali paravam e passavam tempos livres, incluindo uso social de conversação e poiso de diversos hábitos. Como por exemplo ali abancavam engraxas, ou seja rapazes com caixas de engraxar, sendo acotiado ali se engraxar os sapatos domingueiros e calçado de dias melhores. Cujo centro, naquele triângulo central bordejado por limites de fiadas de cimento pintado às tiras, era rematado ao meio por uma árvore de bom porte, o chamado pinheiro do Largo da Longra. Estando ao lado a Loja da Ramadinha, que fora da Se’ Marquinhas e naquele tempo estava já nas mãos do senhor Roberto, típica taberna com uma ramada na frente a cobrir um retiro meio empedrado lateral à estrada. E em frente, do outro lado, havia a casa que muito antes foi da antiga fábrica de Móveis de Ferro da Longra, da “fábrica velha” da MIT/Metalúrgica da Longra, antecessora da “fábrica nova” da Metalúrgica entretanto mudada para a reta da Arrancada. Edifício esse onde pelos inícios dessa década dos anos setenta estava instalada uma fabriqueta, a fábrica de calçado de Alexandre Sampaio, onde trabalhava também a sua filha Deolinda… e daí ficar tudo dito. Vendo-a quase todos os dias por ali, os olhos foram-se afeiçoando ao que viam.

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Os olhos da recordação reveem mentalmente esses tempos, quão permanece tudo na retina da memória. Bastando isso, aqui, porque teria de se pedir emprestadas muitas e boas palavras para conseguir descrever tão linda memória pessoal.

O certo é que foi sendo amassada dentro da cabeça a idealização, que tardou a passar do coração para a ação. Apesar de haver a ideia, mas durante tempos foi assim, sem andar decisivamente. Pois se nunca tínhamos sequer falado pessoalmente e apenas nos víamos. O círculo das amizades era então ainda muito circunscrito a quem conhecíamos melhor, com quem convivíamos anos a fio. Enquanto no Café da Longra era passado muito desse tempo.

Havia já então esse que era conhecido por Café do senhor Manel das Mobílias, embora mais gerido pela esposa, a Isaurinha. Estabelecimento que viera dar outro ar à povoação, pois até ali como ponto de encontro havia só o bar da Casa do Povo da Longra, como vinha desde há muitos anos. Apenas havia na terra e em diversas outras terras as típicas tabernas, popularmente conhecidas por lojas de vinhos e petiscos. Mas quanto a casas de café, então conhecidos por “senéque bares “ (de “snack-bar”), eram então coisa pouca e situados apenas em centros urbanos mais desenvoltos, por norma. Tanto assim que o Café Longra passou a ser sítio de convivência de muita gente da área e redondezas, pois entre Lousada e Felgueiras não havia outro, a não ser lá em cima na então vila os típicos Café Jardim do Albano, mais o Belém, o Popular e o Cari, além do efémero Staminé do Dr. Hermínio, e da Pastelaria Moderna, que aparecera pouco antes também e dera para começar em Felgueiras a ver-se mulheres irem ao café.

Ora o Café Longra, além de local de estar e conviver lá dentro, dava também para se estar fora, à porta ou junto à parede da frente a ver os andamentos e o mundo a andar, como tudo e toda a gente que por ali passava.

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Estava eu então no vai que vai ou não vai e espera a ver. Com algumas particularidades de permeio, que fazem parte das lembranças. Sabendo contudo bem quem queria ter para namorada.

Até que houve coragem pessoal e já que não havia oportunidade de falar pessoalmente, foi por carta. Que chegou ao destino, apesar de nesse tempo nem saber sequer o seu nome completo. Era ainda tempo de cartas de amor. Coisas simples e banais, mas muito amorosas. E as nossas ficaram bem no nosso íntimo. 

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Essas peripécias recordamo-las e temo-las connosco. Como a lembrança de que, afinal, resultou.

Passada a Primavera e entrado o Verão começou o namoro a sério. Marcado encontro para o fim da missa de domingo, naquela manhã de domingo de nossas vidas, começou por fim o namoro de falar pessoalmente, frente a frente. Realizando anseios e cumprindo nosso destino.

E cá andamos, com filhos e netos a abraçar-nos à vida. Agora já no Outono da nossa vida, mas com raízes profundas a toda essa vida vivida, da nossa história e das histórias nascidas e decorridas nas gerações sucessivas, até onde chega o que resulta de nosso namoro de há cinquenta anos, que aqui e agora pulsa na nossa memorização.  

~~~ ***** ~~~

Passados anos, já com o namoro transformado no casamento resultante, em 1977, após quatro anos de namoro, vieram os frutos – e que lindos rebentos brotados do enlace! Quão, neste andamento da narrativa, ultrapassando além da história do namoro para os anos seguintes, são os filhos. Do património amoroso alargado ao longo dos anos, dentro de nós a extravasar o que ficou dentro dos álbuns da família. E esses dois rebentos, vem a calhar lembrar, por sinal fotografados duma das vezes entre as sessões fotográficas paternas, já pelos anos da década de oitenta (quando também já tínhamos a nossa casa construída), a terem até ficado mesmo diante de cenário duma máquina de deitar alcatrão às estradas, das tais que testemunharam também os tempos iniciais do namoro.

Passados cinquenta anos, desse tal início, sabe bem recordar isso, ao reviver o que deste modo foi transposto a papel escrito. Tanto que, passados todos estes anos, já tantos, e com a vida entretanto passada, naturalmente com bons e menos bons momentos de diversa ordem, se tivesse que voltar atrás e na vida repetir tudo, voltava obviamente a querer e fazer tudo igual – pois era assim, como foi, que tive a minha família: nós os pais, mais os filhos e netos.

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Como poetou Camões, pondo voz na boca do pastor Jacob, que esperando por sua amada não se importava de passar tudo mais outros tantos anos…: «– Mais servira, se não fora para tão longo amor tão curta a vida!»

Tal qual quando eu gosto de algo é mesmo a valer, quão mais ainda do que abraço nos melhores momentos da minha vida. Como eu gosto do que é meu.

Ora, andando pela vida adiante, ficamos a acariciar tudo o que está percorrido e consubstanciado no quadro da família.

 

Abril de 2023 - Armando Pinto


Viagem no tempo em imagens:

  (fotos - sequência /galeria)

  

Bibliografia DO AUTOR

Obras publicadas:

- Livro (volume monográfico) «Memorial Histórico de Rande e Alfozes de Felgueiras»; publicado em Novembro de 1997. Edição patrocinada pelo Semanário de Felgueiras.

- Livro «Associação Casa do Povo da Longra – 60 Anos ao Serviço do Povo» (alusivo ao respetivo sexagenário, contendo a História da instituição – Abril de 1999).

- Livro (de contos realistas) «Sorrisos de Pensamento» – Colectânea de Lembranças Dispersas; publicado em Outubro de 2001. Edição do autor.

- Livro (alusivo da) «Elevação da Longra a Vila» - Julho de 2003. Edição do autor.

- Livro (cronista do) «Monumento do Nicho Nas Mais-Valias de Rande» – Dezembro de 2003 (oferecido à Comissão Fabriqueira paroquial, destinando receita a reverter para obras na igreja). Edição do autor.

- Livro «Padre Luís Rodrigues: Uma Vida de Prece Melodiosa» – Na passagem de 25 anos de seu falecimento; publicado em Novembro de 2004. Edição do autor.

- Livro «S. Jorge de Várzea-História e Devoção», publicado em Abril de 2006. Edição da Paróquia de Várzea.

- Livro «Futebol de Felgueiras – Nas Fintas do Tempo» (sobre Relance Histórico do F. C. Felgueiras e Panorâmica Memorial do Futebol Concelhio, mais Primeiros Passos e Êxitos do Clube Académico de Felgueiras) – pub. Setembro de 2007. Edição do autor.

- Livro “Destino de Menino” – dedicado ao 1º neto – Dezembro de 2012, em edição restrita do autor, numerada e autenticada pessoalmente.

- Livro “Luís Gonçalves: Amanuense – Engenheiro da Casa das Torres”, patrocinado pela fábrica IMO da Longra – biografia de homenagem ao Arquiteto do palacete das Torres, de Felgueiras – Janeiro de 2014.

- Livro “História de Coração” – dedicado ao 2º neto – Novembro de 2015, em edição restrita do autor, numerada e autenticada pessoalmente.

- Livro “Torrente Escrita – em Contagem Pessoal”, ao género autobiográfico – Dezembro de 2016 – edição restrita do autor, numerada e autenticada pessoalmente (apenas para partilha familiar).

- Livro “História dum Brinquedo que não se pode estragar”, dedicado ao 3º neto – em Fevereiro de 2019, edição restrita do autor, numerada e autenticada pessoalmente.

- Livro “Luís de Sousa Gonçalves O SENHOR SOUSA DA IMO” – Patrocinado pelo IESF-Instituto de Estudos Superiores de Fafe – biografia de homenagem ao fundador da Fábrica IMO da Longra – Novembro de 2019.

- Livro “Ciclistas de Felgueiras” – sobre os homens do ciclismo português naturais de Felgueiras que andaram na Volta a Portugal e provas importantes – publicado pela editora Bubock Publishing S.L. Janeiro de 2020.

- Livro “Um tal Covid na história familiar… num sorriso de vida”, dedicado ao 4.º neto, em Dezembro de 2022, edição restrita do autor, numerada e autenticada pessoalmente.

- (E este) Livro “50 ANOS DE NAMORO! – Primavera / Verão de 1973 a 2023”, dedicado à esposa.

 (Além da autoria de livros oficiais alusivos a realizações de eventos locais, entretanto também publicados.)

= 27 de abril de 2023

AP