Espaço de atividade literária pública e memória cronista

sábado, 6 de maio de 2023

Feira de Maio de Felgueiras desde 1901 e memória de diversos parâmetros desse tradicional certame felgueirense

 


Entrado no calendário o mês mais primaveril, por excelência, no encanto da germinação e floração da natureza, aí está mais uma festiva Feira de Maio como é tradição anual em Felgueiras, vinda de há mais de um século, há cento e vinte e tal anos, mais exatamente desde 1901. Cuja realização este ano ocorre no presente fim de semana, desde sexta dia 5, até segunda-feira 8 de Maio.

Na inerência de tudo o que lhe está associado e por quanto significa esta ocorrência concelhia, procuramos dar mais ênfase à mesma festividade, recordando desta vez um artigo jornalístico publicado no jornal Semanário de Felgueiras em 2014, na sequência e complementação de anteriores crónicas sobre o mesmo tema. E extensivamente, além dessa crónica publicada no jornal em que o autor é colaborador desde 1996, se transporta um diferente tema sobre outra vertente histórica da mesma "Feira de Maio" de Felgueiras, puxando memórias de edições antigas. Nesse caso através dum texto já publicado neste blogue e que nesta oportunidade do momento se evoca, reportando ao Circuito de Felgueiras que nos inícios dos anos 50 fez parte do calendário do ciclismo nacional, integrando o cartaz das festas do "Maio de Felgueiras".

Nesse âmbito, recorde-se como enquadramento inicial o artigo publicado no SF a  2 de Maio de 2014:

                                  
Do mesmo texto, para facilitar a leitura, eis a versão escrita original, e de seguida o tema de acréscimo, também :

Secular Feira de Maio

Transmitia em 1901 o jornal Semana de Felgueiras a realização duma interessante feira, criada na sequência de atividades associativas do setor agrícola, de que resultara anteriormente a criação de um sindicato e o surgimento do próprio jornal Semana, como porta-voz informativo dos interesses dessa área extensiva à vida local. Num intuito alastrado a procurar uma maior intensidade dos laços de união histórica.

Com efeito, foi então criada essa mescla de feira festiva por deliberação camarária de Março de 1901, ao tempo também denominada por feira franca e de periodicidade anual, desde logo ficando assente, como era originalmente, que se devia realizar todos os anos no primeiro dia do mês de Maio. Sendo sugerida oficialmente por representantes do sindicato agrícola, teve apoio de comerciantes do concelho, os quais propuseram que a então feira anual de gado cavalar, com lugar a 28 de Junho dentro do programa das festas do concelho, passasse a ser uma realização independente e com fins de mais vasto alcance: pois, além das trocas e vendas de todas as espécies de gado, passou a incluir a generalidade das ofertas constantes do mercado normal de produtos, com laivos de festa e arraial por meio de concursos para o gado em exposição, mais atribuição de prémios para os melhores cavalos, melhor junta de bois e melhor touro. Ao que em anos seguintes foram acrescidas outras valências, como em 1902 foi inserido no cartaz um aliciante popular através dum despique de cantigas ao desafio, sendo instituído um prémio para o melhor par de cantores repentistas da feira. Enquanto, desde esses primeiros tempos, era presença tradicional a Banda do Aniceto a dar toque filarmónico, tão apreciada pelo povo que era a música de banda. E em caso como esse, já que a Feira de Maio depressa ganhou contornos de acontecimento anual; de tal forma que extravasou fama para lá do horizonte regional, chegando a fazer com que acorressem a Felgueiras nessa ocasião muitos feirantes de Trás-os-Montes e das Beiras, como deu conta uma reportagem inserta na revista Ilustração Portuguesa, publicação de grande impacto à época.

Passados esses tempos, manteve-se no decurso de longas décadas, na sede concelhia, essa assim ultra centenária e anual Feira de Maio, em Felgueiras. Com lugar no primeiro domingo e seguinte segunda-feira desse mês. «Importante feira» essa que, segundo registava a referida histórica revista “Ilustração Portugueza”, em sua edição de 2 de Junho de 1919, se realizava «no largo fronteiro» (ao antigo edifício da Câmara Municipal, depois casa do Tribunal). Transformada em certame de enraizado cunho expositor de gado, através de concursos pecuários de criadores agrícolas e competição alargada a corridas de cavalos, além de outros números de lazer. Sabendo-se, conforme referia o jornal Notícias de Felgueiras, anos mais tarde, que constava no rol um desfile etnográfico chamado Cortejo das Lavradeiras; tal como, em diversos anos, incluiu mesmo provas populares de ciclismo.

Realizavam-se essas festas de ano então ainda no centro da vila, ocupando área do campo da feira e depois outros espaços laterais das ruas, no mesmo centro. Presentemente o seu cunho tradicional tem-se diluído nas constantes mudanças de locais das realizações, indo para espaços vagos ou em obras e depois de estes ocupados para outros, sucessivamente durante anos, até que começou a ser colocada a Feira de Maio dentro da área aberta atrás da Cooperativa Agrícola, e ultimamente na urbanização das Portas da Cidade, enquanto o espaço entre os seus arruamentos tem estado vago, mais como parque de divertimentos anual, na atual cidade. Alternando nalguns anos com um programa abrangente em ideia de promoção da cultura e turismo do concelho, à mistura com animação, espaço de venda de produtos tradicionais, exposições e conferências, ao mesmo tempo que passou a ser apelidada de Feira das Tradições, com inclusão dum cortejo etnográfico e por vezes festivais folclóricos. Contudo a necessitar de reforço do carácter tradicional, esperando-se que ainda lhe seja destinado espaço próprio, um dia, para o efeito.

(© Armando Pinto)
~~~ ***** ~~~
I e II Circuito de Felgueiras (prova de ciclismo nacional) no programa da Feira de Maio em 1950 e 1951

 

Felgueiras já teve em tempos idos uma prova oficial de ciclismo de categoria superior, corrida dentro do perímetro urbano da então vila cabeça do concelho, com a participação de ciclistas do principal escalão, ao tempo chamado de Independentes (mais tarde profissionais e de Elite), em representação das principais equipas portuguesas do Mondego para cima, como se dizia. Prova essa realizada no princípio da lustrosa década dos anos 50, então a fazer parte do programa da tradicional Feira de Maio, quando foi para a estrada em dois anos consecutivos, ao correr de 1950 e 1951, através de valoroso lote de participantes integrando pelotão de nomes famosos do ciclismo português desse tempo.

Ora, esta feira anual que desde 1901 se realiza no primeiro fim de semana de maio na sede do concelho de Felgueiras, por diversas vezes havia tido no seu programa «uma agradável corrida de bicicletas», como por exemplo ocorreu em 1919 e foi presença nos cartazes de outros anos, enquanto corrida de populares, vulgo Amadores. Sendo que então em 1950 e depois repetindo em 1951, foi já de caráter oficial e com ciclistas federados. Havendo sido organizado tal circuito nesses dois anos por grande empenho de um dos membros da Comissão de Festas, Adriano Castro, enquanto esteve na organização desses anos esse felgueirense grande entusiasta de desporto e com contactos desportivos na cidade do Porto. Sendo então a Comissão constituída por Adriano Sampaio e Castro, Daniel Moura, Albano da Costa e Sousa, Joaquim Teixeira Bica, José Alves Cunha Felgueiras e Fernando da Costa e Sousa. Tendo, com o Circuito de Ciclismo de Felgueiras a Feira de Maio, festa e feira franca de concursos pecuários e de divertimentos alargado horizontes, despertando assim muito mais atenção a longa distância e atraindo forasteiros de distantes paragens.

Acrescendo que na mesma realização, "com a colaboração da Associação de Ciclismo do Norte", estiveram em disputa de ambas as vezes a Taça Câmara Municipal de Felgueiras para o vencedor individual, e outra taça para a equipa vencedora da classificação coletiva.

Ora, em 1950 a Feira de Maio de Felgueiras calhou no fim de semana dos dias 6 e 7 de Maio. E em 1951 nos dias 5 e 6 desse mesmo mês das flores e dos amores. A que acorreram mais romeiros que noutros anos, perante o aliciante programa que, além do habitual concurso de expositores de gado, corrida de cavalos e cortejo etnográfico ("Cortejo das Lavradeiras com o carro  da Bicha de sete cabeças"), teve corridas de ciclismo de alto nível com o Circuito de Felgueiras, trazendo à então vila de Felgueiras e para atração popular os ídolos do ciclismo nortenho desse tempo.

Assim sendo, em 1950 no oficial I Circuito de Felgueiras, a 7 de maio, participaram as equipas do FC Porto, Salgueiros, Académico, Sangalhos e Centro Ciclista de Gaia.

Foi então grande o entusiasmo, da enorme mole humana apinhada nos passeios da vila, a vitoriar os corredores. Tendo vencido individualmente o ciclista Manolo Rodriguez, do Sangalhos e coletivamente o FC Porto. Após ter sido renhidamente disputado o sprint final, no epílogo das várias voltas ao percurso do circuito, com os ciclistas chegados em pelotão à meta, instalada na Avenida Magalhães Lemos, onde o Sangalhense foi seguido em 2º lugar por Onofre Tavares, em 3º Luciano Sá e em 4º Fernando Moreira de Sá, todos do FC Porto, resultando com essa classificação terem os mesmos pontuado para a vitória por equipas. Enquanto assim, com esse triunfo coletivo, o FC Porto conquistou aí a “Taça do I Circuito Ciclista de Felgueiras", de "Maio-1950". Como se pode comprovar por referência no Relatório Anual do FC Porto... 


 ... e por recorte do jornal Notícias de Felgueiras , edição seguinte de 11 de maio de 1950.

No ano seguinte, novamente voltou essa azáfama e entusiasmo a tornar a Festa do Maio de Felgueiras mais badalada. Com a segunda edição do Circuito. 

Então a 6 de maio de 1951 decorreu em Felgueiras, no âmbito da anual Feira de Maio, o II Circuito de Felgueiras. Prova de ciclismo pela segunda vez dentro do programa festivo dessa tradicional festividade concelhia da terra do Pão de Ló de Margaride, a seguir na roda da corrida que já tivera 1ª edição no ano anterior. Estando outra vez em disputa a Taça Câmara Municipal de Felgueiras para o vencedor individual, e outra taça para a equipa vencedora da classificação coletiva.

Ora, nessa prova que dava a volta ao concelho felgueirense, em diversas voltas, com saída e chegada à nesse tempo vila de Felgueiras, por entre alas do povo romeiro dessa festa de grande feira de ano, triunfou então em 1951 o ciclista Aniceto Bruno, do FC Porto. Enquanto na soma classificativa por equipas o FC Porto também venceu coletivamente, repetindo o triunfo por equipas obtido no ano anterior, também

Dessa feita, nos jornais de Felgueiras, embora tendo a festividade merecido registos, não foram mencionadas as classificações. Sabendo-se contudo os resultados mais salientes pelo que consta no relatório Anual do FC Porto. 

Com a dupla vitória em 1951 o FC Porto recebeu a “Taça Câmara Municipal de Felgueiras” do 2º Circuito de Felgueiras (6-5-951) – conforme consta do relatório anual do FC Porto de 1950-1951. No qual estão também registadas as classificações dos restantes ciclistas do FC Porto.

E assim Aniceto Bruno terminava em beleza sua longa carreira, pois desse modo no ano de sua despedida e ainda antes de pousar a bicicleta (que aconteceria após a Volta a Portugal), ele venceu esse 2º Circuito de Felgueiras, na ao tempo ainda vila de Felgueiras, em pleno Douro Litoral e interior do distrito do Porto, ficando marcado em seu percurso de ciclista a data de 6 de maio do ano de 1951.

 Equipa do FC Porto de Ciclismo de 1951, participante na XVIª Volta a Portugal em Bicicleta - da esquerda para a direita: Dias dos Santos, Fernando Moreira de Sá, Luciano Moreira de Sá, Amândio Cardoso, Joaquim Costa, Onofre Tavares, Amândio de Almeida, Aniceto Bruno e Joaquim Sá.

Nas páginas do referido relatório de Gerência do FCP estão também enumeradas as taças que ficaram na posse do clube nesse período, constando os trofeus do Circuito de Felgueiras. Como se pode ver pelos números 788 e 852 da lista respetiva. Além de se poder verificar como na época proliferavam os circuitos realizados por muitas terras do país.





~~~ ***** ~~~

Nota: O conhecimento pessoal deste apontamento sobre o Circuito de Felgueiras, como está subentendido, foi e através da transmissão oral ouvida em tempos idos a pessoas mais velhas, e depois através de pesquisas em jornais antigos de Felgueiras, bem como seguidamente pelo referido Relatório de Gerência de FC Porto de 1950-51, que como tal registava as classificações relativas ao clube. Não constando todavia qualquer imagem fotográfica nos jornais de Felgueiras relativamente a esses I e II Circuito de Felgueiras.

Armando Pinto

((( Clicar sobre as imagens )))