Assim como há sinais que refletem indicações relacionadas com
a evolução de determinada época e marcas que delimitam e distinguem alguma
relação derivada, houve certos estabelecimentos de convívio público que
assinalaram um tempo e modo na sua marca existencial. Como foi com os chamados
cafés, que por estes lados do território felgueirense se associam a tempos de transformação
social, revezando hábitos que provinham de antigas tascas e lojas de comes e
bebes, ao jeito de lojas mistas.
= Exemplo de ancestrais valências em Felgueiras: - Um aspeto do hospital Agostinho Ribeiro, do lado de trás duma das enfermarias... (Foto do livro “Memorial Histórico de Rande e Alfozes de Felgueiras”, publicado em 1997)
Ora, num tempo como o atual, em que também a época do
confinamento provocado pela pandemia do Coronavírus/Covid-19 marca diferenças
de hábitos e feições, tendo-se feito sentir a diferença de convivência e
comunicação no episódico encerramento dos cafés… e agora que começa a haver
algum desconfinamento com a retoma que reabre esses e outros locais públicos…
vem a talhe uma rememoração evocativa também sobre esses mesmos
estabelecimentos de cafetaria, alguns dos quais ficaram na memória histórica como
elementos de progresso social, quais substitutos das antigas lojas de serviços
diversificados.
= Imagem do exterior do café Jardim, já em inícios do século
XXI e antes da última remodelação (de fotos que circulam na Internet).
Recuando aos anos de transição dos anos sessenta para
setenta, quando mais se fez sentir uma rápida evolução em muitos setores
sociais, e naturalmente incidindo no que o autor conheceu e se recorda (o que
não invalida outros casos, dos quais quem se lembrar e conheça pode também
narrar por sua vez e autoria), havia na então vila de Felgueiras o Café Albano
como principal referência (existente já desde uns bons anos antes), quase a par com o Café Belém, em cada caso com
clientela especial; e depois apareceu o Café Popular, que como o nome indicava
passou a ser frequentado pelo pessoal mais diverso. Assim como depois ainda o
café Cari, com o nome do prédio em que se inseria. Ainda os cafés eram sítios
de homens apenas, não sendo habitual e muito menos normal ver mulheres casadas
e raparigas solteiras a acompanharem maridos e namorados. Algo que mudou depois
com o surgimento da Moderna, como era chamado o café da Pastelaria Moderna, na
rua de entrada (e mais tarde conhecida por rua velha, após o rasgamento da
avenida nova…). E especialmente houve um café mais especial, para a rapaziada
nova e juventude estudantil, como depois ficou também a ser frequentado por
gente mais seleta, por assim dizer, que foi o Staminé, do Doutor Hermínio.
= Aspeto interior do Staminé. Foto de postal da época (em
cujo verso constava a legenda anexa).
Era a então vila de Felgueiras um ponto de passagem nos
itinerários do interior do Douro Litoral, mas sem nada de especial a fazer
paragem aos viajantes. Num limbo de simplicidade e ainda antiguidade, como se
notava em edifícios com marcas temporais, por exemplo.
= Um aspeto de algo característico da vila de Felgueiras de
inícios dos anos 70: Quartel antigo da GNR, em frente aos
Bombeiros, ao tempo de chefia do sr. Cabo Pinto.
Enquanto isso, na Longra abria também o Café Longra, junto
ao Largo da Longra. Obra do sr. “Manuel das Mobílias”, como era localmente
conhecido o amigo sr. Manuel Marinho Silva. Sendo de notar que nesse tempo na
estrada nacional de ligação de Lousada para Felgueiras, por exemplo, dentro do
espaço concelhio de Felgueiras apenas havia algumas tabernas a beirar a estrada,
bem como lojas de mercearia com serviço também de tasquinhas, as populares
“vendas” de vinhos e petiscos. Havendo na Longra, já na estrada para Caíde mas
logo a seguir ao Largo, a Casa do Povo desde 1939 com seu bar (mais sala de
espetáculos e cinema, além do Posto Médico), funcionando ali de noite e em
horas de espetáculos um centro de convívio ao jeito de café, que até ao final
dos anos da década de 60 era único sítio do género nas redondezas.
= Imagens duma loja de venda diversificada na Longra, que em
tempos também serviu de taberna, mas por fim, com o último “vendeiro”, o sr.
Fernando Machado, se dedicou à especialidade de mercearia (Fotos do livro
“Memorial Histórico de Rande e Alfozes de Felgueiras”, publicado em 1997).
Deparando-se
então em inícios de 1970 a mudança com a abertura do café da Longra (inicialmente
aberto em finais de 1969, e definitivamente ao início de 1970).
= Imagem de tempo inicial do Café Longra, com aspeto
clássico de seu interior à época da fundação, em 1969/1970. (Foto do livro “Memorial
Histórico de Rande e Alfozes de Felgueiras”, publicado em 1997).
Pois também em 1970 abriu o Sataminé em Felgueiras. De nome
oficial Staminé Relax-Bar, era então uma espécie de salão de chá, com serviço
de restaurante “snack-bar”, funcionando também como discoteca. Uma casa que
orgulhava Felgueiras, ao tempo uma pacata vila quase desconhecida do Norte, na fronteira do Distrito do Porto com as províncias vizinhas, que
com aquela porta aberta passou a ser visitada por pessoas de vilas e cidades
das redondezas, à vista da iniciativa do Dr. Hermínio Martins (farmacêutico e
também professor do Ciclo Preparatório em Felgueiras, bem como tido por pessoa
muito culta, como alguém avançado para a época no ambiente felgueirense).
= Imagem com o “Spot” publicitário da casa, constante das
bases de copos (colocadas nas mesas para proteção e embelezamento), à época.
Entretanto pelo concelho depressa foram alastrando novos cafés,
que entretanto ganharam estatuto e ainda fazem parte da memória de muitas
localidades e suas gentes.
= Panorâmica do Largo da Longra nos últimos tempos da “Loja da Ramadinha” (Foto do livro “Memorial Histórico de Rande e Alfozes de Felgueiras”, publicado
em 1997).
Claro que continuava e bem o Café Albano, nome popular do
Café Jardim, mais a Pensão Albano com serviço de restaurante e cave com
tradicionais petiscos, a marcar sua presença na sede concelhia. Sendo aliás o
Café Jardim o mais emblemático da cabeça do concelho, desde que foi criado em
1948 pelo famoso senhor Albano, Albano Costa e Sousa (ao qual o autor destas
linhas dedicou um artigo no Semanário de Felgueiras, há alguns anos já, cuja
narrativa também foi partilhada neste blogue). Tudo em ambiente social de
permeio reforçado com os restantes cafés. Como depois foi aumentando a chamada
concorrência, na expansão que ao longo dos anos foi ampliando os locais de
convívio.
= Sequência de imagens com o Café Longra em tempos diferentes
(Fotos do livro “Memorial Histórico de Rande e Alfozes de Felgueiras”, publicado
em 1997).
Passado já meio século (quando se escreve isto) são muitas
as diferenças daqueles tempos de transição social e ambiental. Algo a merecer
atenção, nas marcas do tempo.
Armando Pinto
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