Espaço de atividade literária pública e memória cronista

quarta-feira, 1 de abril de 2020

Primavera enganada



Todos os anos o mês de Abril começa com o considerado dia dos enganos. Pelo menos na nossa era, pois em tempos remotos isso terá começado quando houve alteração no ano civil do antigo calendário. Quando o ano começava a 21 de Março, ou seja com o equinócio da Primavera, ocorrendo na ocasião festividades extensíveis até 1 de Abril. Assim, com a adoção de nova contagem anual, mediante o calendário gregoriano, transferido que foi o Ano Novo para o dia da circuncisão de Jesus, no 1º de Janeiro, a data anterior transformou-se em ano falso, ou seja dia de presentes fingidos. Como tal, porque se manteve alguma confusão na cabeça das pessoas, o antigo início do calendário passou a ser visto como dia de engano para os que não assimilaram logo os novos hábitos, pelo que na evolução temporal ficou a simbolizar data de mentiras, derivando costumes de brincadeiras propositadas.

Pois então, no tema do 1º de Abril, do Dia dos Enganos, desde remotos tempos que há costume de se pregar partidas e mentiras brincalhonas nesta data da fase revigorante do ano, ao nível do povo ou até no aspeto mediático, sobretudo por via da comunicação social, de onde partiram famosas mentiras que induziram engraçados logros em muita gente, agora com menor impacto por sobreaviso escaldado.

Ora, este ano, com a pandemia que está a alterar a vida das pessoas, não parece ser só este mesmo dia a enganar alguém, ou tudo e todos, porque com toda a gente confinada ao recolhimento caseiro é um tempo algo inédito de coisas completamente desconhecidas. Porém, como é dito num célebre poema, aparece isto em tempo primaveril mas a Primavera como não sabia nem sabe continua a rejuvenescer a natureza, enquanto o pessoal fica em casa, na esperança de não deixar alastrar a doentia fase do Coronavírus, à espera de melhores dias.

Surge este malfadado vírus passados cerca de 102 anos depois duma anterior virologia que deixou marcas na vida antepassada, como foi com a Pneumónica, a chamada gripe espanhola que grassou em 1918. Algo nefasto que tanto alterou o panorama e mesmo a história, como pode voltar a suceder. Tema que bem poderá dar para uma crónica a desenvolver, também, por exemplo nalgum espaço de colaboração publicista.  

Entretanto, no próprio dia e seguintes tempos, a Primavera está enganada mesmo e até a Páscoa deve passar como se não fosse em tempo Pascal. Até que, como também se diz, depois dos tempos virão outros tempos.

Armando Pinto