Na proximidade da realização da Volta a Portugal em bicicleta, prova desportiva de atração popular, este ano com início
a 1 de Agosto; e perante o facto de Felgueiras ser meta de partida para a
penúltima etapa da mesma grande prova, no dia 11; merece tal ocorrência uma
rememoração pública sobre as ligações de Felgueiras ao ciclismo competitivo e
particularmente em haver inclusive tradições na Volta a Portugal, quer
em passagens, como em chegadas e partidas de etapas, na antiga vila e atual
cidade sede do concelho felgueirense, do distrito do Porto e província do Douro
Litoral – como o autor procurou recordar em artigo escrito para publicação no atualmente
único jornal concelhio com edição impressa. De cuja crónica, reportada a esse
tema, se transpõe para aqui o respetivo texto, ilustrado com imagem da coluna
publicada na edição de sexta-feira 20 de julho, no Semanário de Felgueiras.
Felgueiras na Volta a Portugal
Aí vêm eles (i bem’ eles – na fala popular) ouvia-se de
repente, cortando espera ansiosa; e um movimento de cabeças, a par de imediato
bruaá, dava movimento a clamor da multidão expetante. E logo se inclinavam os
dorsos, para melhor ver os corredores, pondo olhos e sentidos à direção em que
os ciclistas vinham. Era assim na espera e por fim passagem repentina dos
ciclistas da Volta a Portugal em bicicleta, a grande corrida nacional que
levava o povo à rua para ver os ciclistas. Coisa que em Felgueiras, por tempos
passados, se revelava algo social, num misto de festa popular com momentos de
contemplação, pelo deslumbramento de ver, ainda que num repente, os homens dos
nomes ouvidos na rádio, mais caras vislumbradas nos jornais. Como ficou na
tradição oral um ano em que Fernando Moreira, ao tempo grande ídolo dos adeptos
da modalidade, venceu a meta volante instalada no centro da então vila de
Felgueiras, em etapa vinda da Póvoa em direção ao Porto, no ano em que venceu a
Volta, em 1948 – facto perpetuado com alusiva foto que veio na revista lisboeta
Stadium. Pois, durante muitos anos a caravana voltista passou em Felgueiras,
mas não parava. Quer na sede do concelho, como noutras localidades concelhias.
Até que lá veio tempo em que parou mesmo e de permeio a terra felgariana teve
direito a ver de perto os ciclistas antes de iniciarem novo percurso, rumo à
glorificação triunfante.
O ciclismo é um desporto tornado espetáculo apreciado até
por gente que nem costuma andar de bicicleta, sendo antes fenómeno de apreço ao
esforço e destreza, na vertente de valorização da heroicidade. Porque o
ciclismo competitivo é uma máquina de heróis que em cima das máquinas de rodas
dão asas aos anseios de vitórias conseguidas pelos músculos. Valorizando como
tal atenção a que Felgueiras não foge à regra, com gosto de ver. Conforme
tradição enraizada, desde tempos de admiração por antigos ídolos dos pedais,
como no tempo do nortenho Fernando Moreira, até à existência de conterrâneos
salientes sobre as bicicletas de corrida, como foram Artur Coelho, que em
diversos anos chegou a andar com a camisola amarela da Volta, mais Joaquim
Costa, Albino Mendes e Miguel Magalhães. Nas afinidades ao ciclismo, constando
protagonismo felgueirense através daqueles conterrâneos que participaram entre
os concorrentes (conforme já aludimos em anteriores artigos), mais acréscimo de
ter existido a equipa Zala e mais tarde a equipa W52-Quintanilha-Felgueiras,
com sede em Felgueiras e que ostentava camisola com as cores municipais com o
símbolo do concelho. Enquanto este ano volta a ser realidade o facto da cidade
de Felgueiras ser ponto de partida duma etapa da Volta a Portugal, por sinal de
início à tirada mais apreciada da edição atual, voltando assim a ser ponto de
referência, depois de em anos recuados já ter sido local de relacionamento com
a mesma Grandíssima.
Com efeito, Felgueiras foi já sítio de finais de etapas
algumas vezes e dessas coincidindo numa a meta final com o próprio fim da
Volta; assim como teve entretanto também anteriormente um início de etapa, cuja
experiência se irá repetir agora em agosto. Fazendo parte da história da
ligação felgueirense com a popular Volta que em 1992 terminou na cidade de
Felgueiras a etapa Mondim-Felgueiras; assim como em 2006, em meta instalada no
cimo do monte de Santa Quitéria, terminou a então etapa que ligou Gondomar a
Felgueiras; tal como em 2008 a 70.ª Volta a Portugal acabou com um
contrarrelógio de Penafiel até ao Monte de Santa Quitéria; ao passo que na
volta de 2009 teve largada de Felgueiras a 5ª etapa, de ligação entre
Felgueiras-Fafe. Festivo início este ano reeditado no penúltimo dia da
competição, abrindo alas à sempre difícil etapa para a Senhora da Graça.
Eis assim uma leve memoração, na apropriação afetiva a tal
vera ligação desta região a que a natureza dotou de vivas cores. Vestindo
Felgueiras condizente camisola multicolor de festiva ocasião.
ARMANDO PINTO
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