Andando no ar sonoridades tradicionais da época natalícia,
quer dos sons lançados por músicas gravadas através dos altifalantes espalhados
por ruas urbanas, como também pelo que permanece nos ouvidos da recordação,
este é um tempo de melodias do Natal. Tal como o cheiro a canela nos remete ao
sabor da quadra, também a harmonia sonora nos transporta nos pensamentos
derivados de tempos de felizes festas, com o Natal associado à
lembrança da criança que fomos, e em que nos revemos nos filhos e netos que estreitam
à sucessão da vida.
Ora, se na sonoridade natalícia predominam melodias de longo alcance, como o histórico "Adeste Fidélis" e o tradicional cântico "Noite Feliz", outros cantos e cânticos afloram ao nosso pensamento, em afetivo sentimento. Desde o "Vamos ao Presépio, vamos a Belém", da autoria do felgueirense Padre Luís Rodrigues (célebre reitor da Lapa do Porto), como também o popular "Anjos cantai"… Este um canto e cântico, que começa com a estrofe “Oh anjos cantai comigo…” e tem versões popular e religiosa, diferenciadas no ritmo mas com a mesma letra.
Retrato do Padre Luís Rodrigues exposto no interior da igreja da Lapa, Porto |
Pois esse é um caso genuíno de ligação da religiosidade
popular. Sendo como era cantado pelo povo em noites de convívios natalícios
extensivos aos cantos das Janeiras, entoado em modo folclórico. Enquanto com
características de cântico, como era cantado nas igrejas, tinha caracter sacro
de acompanhamento musical ao momento de adoração do Santíssimo. Como me lembro
bem, do tempo da reza do terço nas tardes de domingos na igreja de Rande em que, era
eu criança, gostava bem de ouvir a minha mãe a cantar junto com quem estava
ali, após o Padre João deitar o começo em voz meiga, logo seguido em vozes
baixas e altas pelas mulheres espalhadas pela igreja.
Isso tudo, nessas melodias que ficaram na cabeça, de uns
modos e doutros entranhados no sortilégio natalício.
« Oh, anjos cantai comigo,
ó anjos louvai sem fim,
dar graças eu não consigo,
ó anjos dai-as por mim.
Canta serena minha alma
bela jóia em Ti reluz.
Já colheste a rica palma,
já nasceu em mim Jesus.
Ó Jesus que amor tão terno
Ó Jesus que amor o Teu,
deixas o trono supremo
vens fazer da terra o céu.»
Armando Pinto