Espaço de atividade literária pública e memória cronista

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

"História de Coração"


Neste ano de 2015, conforme ficou referenciado aqui ontem, no “post” publicado neste blogue, em pleno domingo de início de mais um verão outonal da quadra tradicional de São Martinho, tendo havido um aniversário especial, houve uma correspondente  “Prenda” – um livro, de iniciativa pessoal, oferecido pelo autor destas linhas, com uma dedicatória especial.

Porque este livro, de 50 páginas (incluindo sequência de fotos constantes na paginação), teve simplesmente uma edição reduzida, de distribuição restrita como “Presente de Aniversário” oferecido ao segundo meu neto (além de ficar destinado para ser ainda ofertado a familiares próximos, oportunamente), partilhamos do mesmo a mensagem respetiva, através do próprio texto. Só o texto, naturalmente, por motivos óbvios - como edição particular que é.

Ora, em forma narrativa de estilo romântico-realista, eis esse personalizado texto:

Armando Pinto


História de Coração

2015


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Armando Pinto



História de Coração

= Livro dedicado ao Tiago Sampaio Silva Pinto, meu segundo neto e menino que vejo crescer. Numa mistura de crónica e história, com algo de conto sobre ele e a pensar nele, o meu neto Tiago.


2015

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Edição do autor, em tiragem restrita de 15 exemplares, numerados manualmente e autenticados com rubrica autógrafa do autor.

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Ao Tiago!
Quando por estes dias, ainda com raios de sol de princípios de Outono a dar na relva do jardim de nossa casa, jogo com o Gonçalo e o Tiago à bola, em tão bons momentos de me rever nos dois meus netos…  e, então, enquanto o Gonçalo já dá uns toques, estando nos seus cinco anos feitos, o Tiago chuta a bola quando apanha melhor jeito, ao chegar à conta de seus dois anos, salta-me pois no pensamento outro jogo…

Digo assim ao Tiago, escrevendo, para mais tarde ele ler (porque ainda é pequenino) para jogarmos outro jogo. Não à “bó” como agora, nem com ele a agarrar essa mesma bola e fugir a rir, como agora também; mas comigo a escrever-lhe, contando uma história de memória, sobre o que somos enquanto pessoas de nossa terra, família e amigos, valorizando o que é ser português Felgueirense, com sentido no que representamos nós… enquanto meto pelo meio algumas recordações destes dois anos intensamente preenchidos a vê-lo e tê-lo, ao Tiago. Dizendo-lhe, como e para sempre: Gosto muito de ti!

~~ * ~~

Diz a ciência do Universo que o mundo, a Terra, não apenas a que calcamos, mas o nosso planeta em que vivemos, surgiu do chamado Big Bang, ou lá o que é ou foi, qual explosão, esse tal minuto zero há milhões de anos. Isso para explicar o surgimento do Universo, como nos apercebemos, diante do mistério da vida que a inteligência humana não abarca. Contudo, como resultou de energia, vemos que há gravidade terrena, também no sentido que algo nos atrai a este mundo.

Na grandeza física e afetiva do tempo, realmente algo nos arrasta e encanta, havendo princípio e fim, no alfa e ómega de nossa existência. Tal o que nos liga ao futuro, através das gerações vindouras, por meio de nossos descendentes. Ganhando alento em se saber que teremos continuação na terra, quão épico é vermos nossos rebentos a frutificar e expandir nosso sangue, em nossa mesma terra. Até sentirmos nossos netos.
É assim que, agora, meus braços abarcam o mundo, abraçando os dois netos, o Gonçalo e o Tiago, um em cada braço e ambos apertados a meu peito. A partir que chegou o Tiago, a juntar-se ao primo, e a fazer crescer a esperança de vida conjunta – os meus netos, meninos do avô, de mim.

Ora, há sempre um princípio, como também no caso de que resultou esta história. Havia um rapaz e uma rapariga que, aqui há muitos anos já, gostavam muito um do outro e por isso se casaram, resolvendo fazer uma família deles. Desse casamento nasceram duas crianças, um menino e uma menina, que cresceram e depois, da parte deles, também formaram família e tiveram filhos… (Assim contei uma vez ao Gonçalo para o adormecer, e tive de repetir por ele querer ouvir mais, dizendo-lhe, por fim:) e então nasceu um menino, muito bonito, o Gonçalo, de quem gosto muito… (e agora acrescento) Depois veio um outro menino, bonito também, de quem gosto muito igualmente… que é o Tiago! (E ao Tiago não contei isto ao adormecer, entretanto, pois ele para dormir, se estiver para aí virado, só precisa do seu ó-ó e sentir a presença dos avós).

Ora, assim foi!

Sim… Era uma vez e é… chegada que foi a vinda do Tiago ao mundo e ao mundo dos que o esperavam já com amor. E eis que chegou a mim, ao meu ser, também. Desde logo ficando a fazer parte do meu mundo, igualmente. E, na afeição que sinto pelas crianças que são de meu sangue, desde sempre, houve atração mútua. A partir da primeira sensação de o pegar ao colo e o sentir sorrir levemente, num consolo de cumplicidade por estarmos no mundo um do outro.

Na verdade desde os primeiros momentos de vida que houve um clique mútuo, comum. Quanto os meus meninos me prenderam, quão ficamos logo ligados, desde que os vi e eles tiveram primeiras manifestações. Como que sabendo haver ligação umbilical ao correr do sangue nas veias que chegam ao coração e fazem pulsar nossas vidas. As crianças, na sua pureza, sabem por intuição natural do que gostam e não fazem por menos, é ou sim ou sopas... E entendem o que lhes é mais querido. Sabendo perceber algo que tem interesse e valor, em sinceridade pura. Talvez como Jesus disse que deixassem ir até si as criancinhas, ou como terá Deus revelado aos pequeninos os mistérios ocultados aos sábios e entendidos?!

Eis então que chegou o Tiago. Nascido no hospital de Penafiel, numa noite em que seu pai, o meu Nuno, foi o primeiro da família a vê-lo. Depois de algumas horas de espera, até sair do regaço da Lígia, sua mãe. De carinha serena e feição simpática num lindo rosto.

Nasceu em Penafiel, por ter de ser, porque com as políticas de décadas de anos, nos dias que correm, só ocorrem agora partos assistidos em hospitais centrais e assim não há maternidade hospitalar em Felgueiras. Mas o Tiago logo que sua mãe teve alta hospitalar veio para o concelho de Felgueiras, para a sua casa, na Longra. Porque é nosso, sendo também os avós de ambos os lados residentes por estas bandas de Felgueiras.

Nascido ao chegar um fim de semana de Novembro pleno de afeição, já com uma hora decorrida do oitavo dia do mês, o Tiago apareceu aos nossos olhos nessa sexta-feira quando peguei nele ao colo, na hora da visita a que fomos os seus quatro avós. Passadas horas de seu nascimento, ocorrido na madrugada desse dia, após espera desde a passagem de quinta para sexta. E logo no sábado tirei uma foto com os meus dois netos juntos comigo, tendo o Gonçalo vindo de Lisboa com os pais para ver o primo, ainda no quarto do hospital. Para na tarde seguinte de domingo o Tiago ter tido receção em casa, numa festiva convivência familiar.

Podemos depois sentir a boa presença do Tiago na quadra natalícia, indo até vê-lo a casa quando foi feita a decoração da sua primeira árvore de Natal; ao passo que ele assistiu com o Gonçalo ao fazer do presépio de casa do avô Armando, embora naturalmente ainda quase só a olhar por entre o tomar de sabor da chupeta; mas de imediato fazendo ele parte já das poses familiares junto ao mesmo presépio familiar. Como, volvido pouco tempo, andou devidamente figurado pelo Entrudo, vestido com traje de Carnaval junto com os pais, mais o primo e tios, na seguinte época carnavalesca. Até que passou a estar em casa dos avós durante as horas de trabalho dos pais, ficando em dias repartidos quer connosco na Longra, como com os avós residentes na cidade de Felgueiras, por ser querido por todos, por igual.

Começou o Tiago a ser a coqueluche, por assim dizer, da Pastelaria onde a avó Linda ia (e vai) após o receber. E num ápice houve ali afeição comum. O Tiago, que ainda era um menino sossegado e de rir só para quem conhecia (mesmo cauteloso a tocar em qualquer coisa, como fazia primeiro a pôr só um dedo no que ia vendo, para se assegurar do que seria…), depressa se pôs mexido e só estava bem a ir ao colo das amigas da avó, sendo centro das atenções de toda a gente. Mesmo, ganhando confiança, se lançava sobretudo para a Olga e seus filhos, do café, e para a Inês, fotógrafa amiga, com a qual ganhou atração especial. Começando, enfim, a ficar bem sociável e a ser um menino de muita gente simpática consigo.

Fui entretanto notando algumas das suas características e ele habituando-se aos meus beijos e abraços. Deve ter alguma coisa a ver ele também ter as minhas linhas ao sorrir, tal como idêntica maneira de apreciar as coisas. Fazendo apetecer só estarmos bem a beijá-lo, querendo sempre apertá-lo bem a mim.

Ainda eu trabalhava profissionalmente (nesse tempo em Lousada, onde até tinha bom horário mas só saía do emprego pelas cinco e tal da tarde) e, como tal, nos primeiros tempos tinha o Tiago mais no pensamento, também, durante o dia, pois só ao fim da tarde o podia ver, quando ainda chegava a casa a tempo, antes da Lígia o ir buscar. Até que me reformei e, ficando assim em casa todos os dias, passei a vê-lo crescer, efetivamente. E começamos a ser companheiros, sentindo ele ter colo comigo em todos os sentidos.

Parafraseando William Shakespeare, o coração sabe o que quer.

Assim sendo, havia presença física e sentimental. Ao vivo tudo sabe bem melhor. E é bom viver assim!

Na convivência tida, num repente, ainda bebezinho, era já o Tiago figura da terra. Como poderia não ser esta nossa terra também a sua, como já era e é?!

Desse modo, como prenda, para mais tarde recordar (e obviamente seja para ele ler quando entender isto), conto-lhe, desde já, como era esta nossa terra, à vista cronista em tempo de seu nascimento, com algumas extensões de ajuste à situação de tempo e memória.
~~~ - ~~~
Na eventualidade do Tiago poder vir a gostar de história, dentro da disciplina de história pátria e universal, mas sobretudo no campo da história local, e como enquadramento do sítio que é nosso chão pátrio, recuemos a tempos imemoriais para se ver como esta região tem história desde longas eras. (Tendo contudo de recorrer a termos técnicos, por necessidade descritiva, crendo que o Tiago um dia não desgostará disso, também.) Cujo arrazoado será um dia mais para o Tiago, como agora no seu entendimento ele pressente haver qualquer coisa de especial nas estantes de livros do escritório caseiro do avô paterno, que ele fica a olhar sempre que entra ali em tal compartimento.

Como ele gosta de ir ao escritório do avô e fica a admirar aquilo tudo, olhando para as paredes. Mal soube dizer as primeiras palavras já sabia indicar que ali, no que à volta via, aquilo queria dizer “Porto”, como balbuciava a seu jeito, inicialmente “Pô” e depois “Pôto”… Ele bem deve saber que ali à volta há outras coisas, mas sabe que dizendo assim resume tudo o mais importante. Contando que gosta de mexer no que chega seu tamanho e sempre que pode trata de procurar sentir com os dedos o que suas mãos querem ver também.

Chegou-se a pôr no pequeno escritório uma cama para ele dormir as sestas, nos dias que passa em nossa casa (dos avós da Longra) e assim nós o termos perto e nos apercebermos melhor se ele acordar, por ser no andar mais usado da casa. Mas, qual quê, o Tiago prefere adormecer na cama maior do quarto dos avós e, sempre que possível, com os dois à beira. No escritório gosta mas é de tentar mexer no computador ou livros do avô; e se conseguir pegar em objetos da secretária, mais à mão, então é um regalo… A pontos que quando desaparece momentaneamente, e nós nos apressamos a procurar apanhá-lo, o primeiro sítio onde o procuro é no meu escritório. E ele, para disfarçar (sabendo que eu me desfaço logo…), como que a dizer que só está a ver… (quando me vê aparecer) se apressa a levantar os braços e grita: «Pôto»!

Lá virá o tempo em que também se aperceberá como o avô gosta da terra que é a nossa. Tendo natural afeto relacionado através de livros e objetos correspondentes a essa afinidade.

Por isso, segue aqui a colocação duma crónica que lego, sobre história da terra em que também vive o Tiago.

= X =
Foto  18

Panorâmica morfológica e humana do concelho de Felgueiras:
= Visão ligeiramente historiadora, em contexto de leves evocações, como que dando uma vista de olhos, apesar de sucinta, pela ambiência concelhia. =

Felgueiras insere-se na área de afinidades de Entre Douro e Minho, embora administrativamente esteja incluída na Província do Douro Litoral e Distrito do Porto, na sua zona Nordeste, e em plena região do Vale do Sousa, na respetiva parte superior, com ligações à região do Tâmega, conforme (a partir da legislação de fusão regional publicada em 2008 e instalada em 2009, dos novos regimes de quadros legais das associações de municípios), atualmente inclui espaço intermunicipal com denominação de comunidade do Tâmega e Sousa.

Localização esta que se remete numa transição entre o Litoral e o Interior, no limite das áreas distritais de Porto e Braga, qual limiar fronteiriço de Douro e Minho, porém com maior dependência à área metropolitana do Grande Porto. Com raízes e tradições de certa maneira comuns a toda a ampla região do Noroeste de Portugal, bem como em determinadas particularidades à fraternal Galiza, onde demandavam os percursos do Caminho Português de Santiago que por estas bandas deixaram influências da antiga passagem, de que restaram algumas dedicações de paróquias cujo Santo Padroeiro é S. Tiago Maior.

Como “cidade sede de concelho do distrito”, Felgueiras tem seu nome na toponímia da cidade do Porto, constando honrosamente entre as denominações toponímicas do burgo portucalense nas chamadas Rua de Felgueiras e Travessa de Felgueiras, dentro da capital do Distrito. Honra que data desde 1959, ano em que teve lugar a respetiva deliberação, ao tempo a distinguir «o concelho com o mesmo nome, do Distrito do Porto», situando-se as artérias em apreço na portuense freguesia de Ramalde, no BCE (Bairro de Casas Económicas) da Boavista-Vilarinha, sendo arruamentos do interior desse também conhecido por Bairro da Vilarinha, junto à avenida da Boavista.

Quanto à denominação da região genuína do concelho, o nome local da zona, Felgueiras, é derivado do latino “filicarias”, o qual significava terras onde há (havia) fetos, nome esse mais tarde circunscrito à povoação central, de que resultou a vila e posterior cidade, que ficou como sede concelhia, passando posteriormente a ser generalizado ao concelho. Sendo esse termo associado, conforme antigas referências documentais, a Felgarias Rubeas, relativo de terrenos cobertos de fetos que, quando secos, toma(va)m cor avermelhada, rúbea, rubra acastanhada, transformando primitivamente a zona em felga. Evoluindo, no tempo, posterior conhecimento por Felgerias, Felgueyras, até Felgueiras.

Entretanto, passou Felgueiras por diversas fases de constituição de seu território, consoante as alterações administrativas, sabendo-se dos factos históricos noticiosos da existência de antigos Julgados e Concelhos em parcelas depois incluídas na totalidade posterior, passando pela antiga constituição de um próprio concelho do mesmo nome mas de menor tamanho, como ainda inclusão noutro concelho, de permeio, até à fixação em 33 freguesias englobadas com a reforma administrativa acontecida no período liberal. Ora, só em pleno séc. XIX, com a inclusão de freguesias provindas de concelhos extintos, em 1852, como transferências doutros, em 1853, e por fim com a criação da Comarca de Felgueiras, em 1855, o concelho teve limites fixados.

Na atualidade, Felgueiras é um dos 18 municípios do Distrito do Porto, que até 2013 era composto por 32 freguesias (depois que perdeu uma, quase no final do século XX, em 1998, para a criação do novo concelho de Vizela) e no princípio do século XXI com uma população total à volta de cinquenta e oito mil habitantes (mais precisamente 58. 084 habitantes. segundo dados do Instituto Nacional de Estatísticas (INE), pelos Censos de 2011 (notando-se um ligeiro decréscimo nos últimos dez anos, visto o número populacional ter sido de 58. 553 no Censos de 2001), enquanto abarca área de cerca de 116 quilómetros quadrados, num número mais preciso de 115, 7 Km2, pelos números de 2010 do Instituto Geográfico Português (IGP).

Posteriormente, por decisão do governo central do país, “a régua e esquadro” desde Lisboa, sem que os representantes do concelho de Felgueiras (quer o presidente do Município e restantes autarcas locais da Câmara e Assembleia Municipal, quer os das Juntas e Assembleia de Freguesia, desse mandato, gente de diversos partidos e coligações), se manifestassem oficialmente, houve alteração com a junção de diversas freguesias, no chamado reordenamento territorial da reorganização administrativa que criou a chamada União de Freguesias (atualmente ainda com algumas indefinições na legislação institucional), derivando daí que nesta nossa região foi instituída, a partir de 2013, uma apelidada união das freguesias de Pedreira, Rande e Sernande.

Atualmente, a partir de 2013, por ora Felgueiras tem 20 unidades administrativas, entre 8 uniões de freguesias e 12 freguesias separadas (freguesias sem alterações).

Segundo dados no início dos anos 2000, a referida população distribuía-se por escalões etários de modo significativo, demonstrando existir elevado índice de população ativa, cuja ocupação maioritária se divide entre a indústria e a agricultura, além de outros setores em menor escala, com relativa importância de população flutuante derivada à implantação industrial.

O concelho de Felgueiras é limitado a Norte por terras dos concelhos de Fafe e Guimarães, a Sul por terrenos de Lousada e Amarante, a poente por zona de Vizela e a Nascente por parte do concelho de Celorico de Basto. Tem sede concelhia na cidade de Felgueiras, cuja área se alonga pela freguesia de Margaride mas abrange também parcelas das de Várzea, Moure, Sendim, Lagares, Pombeiro e Varziela. Isto como cidade, pois com a união de freguesias, atualmente, a área é ainda maior.

O concelho é constituído por quatro centros urbanos: Além da cidade-sede do concelho, Felgueiras possui outra cidade, a Lixa (que incluía partes de Borba de Godim, Vila Cova da Lixa e Macieira da Lixa, pois com a mudança de 2013 Macieira ficou unida com Caramos); mais duas vilas, a de Barrosas (em parte de Idães, de Felgueiras; e englobando uma parcela de Santo Estêvão de Barrosas, do concelho de Lousada); mais a da Longra (que, além da antiga área mais urbana de Rande, onde se situava a inicial povoação da Longra, como vila incluiu também mais partes das antigas freguesias de Rande, Sernande, Pedreira e Varziela – situação que entretanto ficou indefinida, ou seja deixando a parte de Varziela de ser considerada na área da vila da Longra, sendo agora Varziela unida com Margaride e outras, da União de Freguesias de Margaride, Lagares, Moure, Várzea e Varziela); enquanto crescem áreas urbanas de complemento a zonas rurais por boa parte do restante território.

A área do concelho, em vias de comunicações, é atravessada pela autoestrada A11 e pelas principais Estradas Nacionais números 101 (Guimarães-Felgueiras-Amarante), 101-3 (Felgueiras-Lagares-Vizela), 101-4 (Lixa-Pinheiro), 207 (Agrela/Paços de Ferreira-Lousada-Longra-Felgueiras-Fafe-Póvoa de Lanhoso), 207-2 (Longra-Caíde), Variante à 207 (Longra-Várzea- EN101) e Variante à 101 (exterior à cidade de Felgueiras, até à 101), além de outras de classificação regional e local.

Não será terra de promissão, mas o concelho de Felgueiras é algo especial na capacidade do seu povo e nas potencialidades desenvolvidas. Apesar de em princípios do século XXI, ainda se notar número significativo de iliteracia em parte de sua população, não tanto já num analfabetismo que existiu até anos atrás, mas sensivelmente no espírito de falta de evolução instrutiva, entre factos evidentes em compreensão de análise textual e entendimento auditivo, por exemplo. Contudo supera as insuficiências na sua veia empreendedora, sendo o concelho de Felgueiras saliente pela produção de sensivelmente cinquenta por cento da exportação nacional de calçado, pela produção de um terço dos melhores vinhos verdes da própria região demarcada, pelos atraentes bordados saídos de dotadas mãos, pelo património existente, pelas suas tradições populares e religiosas, como pelo raro encanto de seus recantos paisagísticos.

= X =

Pois sim, isto por ora não diz nada ao Tiago. Pode não parecer, mas não faria falta se não fosse para memória futura. Porque para já seria melhor estar quieto. Coisa que o Tiago não deixa, como gosta de andar agarrado à minha mão, porque sabe que o levo onde ele quer ir. Então se for a garagem…

Ah, a garagem!
(Deve haver qualquer coisa especial nas garagens, pois já o Gonçalo gostava que eu o levasse à garagem. Conquanto que o Gonçalo era mais a ver a porta a abrir, ficando atento às portadas de garagem a abrir; o que acontecia especialmente na do prédio dos avós da Longra, onde eu lhe fazia as vontades… enquanto por sua vez o Tiago, além disso também, gosta de ficar a pôr as mãos em tudo o que pode…)

Ainda se entendia pouco da sua linguagem, ao Tiago, e já eu o percebia. A “aague”, “a gá”… a “gáae”… Aí era e é onde tinha e tem muito que agarrar e brincar. E como me indica o sítio do comando da porta da garagem! E gosta de pressionar o botão para a porta subir, vendo a porta da garagem a abrir… e então depois me manda guardar o comando no meu bolso (indicando, como faz desde pequenino), por já não precisar dele. Então quando o carro do avô está lá, é que é… Lá dentro, sentando-se no banco ao lado do avô, tem de mexer em tudo, como gosta de ouvir o rádio ligado e descobrir aquilo tudo por ali…
Foi assim, ali, que, estando um dia ele a brincar à minha beira dentro do carro, parado na garagem aberta, e abstraindo-me eu a olhar para o ambiente de fora e dentro, enquanto ele dava largas à sua curiosidade, me distraí assobiando baixinho… até que me deparei com ele (tendo pouco mais de ano e meio), a olhar para mim e a assobiar… como eu, imitando-me.

Ora, deixando fazer-se ouvir um silvo do tempo, como que o deixando vasculhar por entre coisas guardadas, retomo a deixa da crónica de fundo histórico:

Antecedentes e Percurso Histórico:

Esta área geográfica sentiu através dos tempos as transformações do noroeste minhoto-duriense e viveu também os momentos comuns à grei nacional. Como passamos a descrever, em leves traços retrospetivos.
Para se não recuar em demasia no tempo, mas avançando cronologicamente nesta resenha histórica uma visão ampla de longa existência, pode adiantar-se que após os diversos estádios de povoamento com estadas de diferenciados povos, de que perdurou com maior ênfase sobretudo a génese lusitana e as marcas da romanização, foram porém os Godos que influência mais marcante tiveram na consolidação da identidade profunda, como se comprova pelas réstias toponímicas deixadas, em toponímia geográfica, nos nomes das terras, através das raízes genealógicas dos antepassados destes sítios.

São paradigma no caso os topónimos de origem germânica derivados dos primeiros colonos definitivos, fidalgos godos romanizados, que legaram seus nomes às quintas originárias dos primitivos povoados, as “villas” rústicas florescentes da exploração do território, de cujas denominações na evolução através do tempo resultaram nomes de lugares e sucessoras freguesias. Entre o que se nota desse rasto, em variedade de referências provindas de antigas villas romano-godas, que deram origem a nomes próprios de atuais freguesias, como Aião, Airães, Friande, Godim, Idães, Margaride, Moure, Rande, Regilde, Revinhade, Santão, Sendim, Sernande, Unhão... Havendo ainda notícias de nomes de primitivas paróquias, de tempos de suevos e visigodos.

Naturalmente que outros nomes tiveram diferentes origens, em diversas peripécias semânticas. Por exemplo, os topónimos (nomes de lugares e / ou freguesias) derivados de pedra são muito frequentes na Galiza e em Portugal. Conforme estudos vários sobre a toponímia galaico-portuguesa, os mais antigos topónimos reportados a pedra, às pedras ou ao carácter pedregoso de um sítio, tal como em Pedreira, foram anteriores ao latim. Ainda pré-latino é o nome de Várzea, provindo do topónimo pré-romano Varcena, com significado a apontar para campina cultivada, em vista do solo fértil que aí campeava. Posteriormente, de afinidade linguisticamente ao latim, houve outros casos pós-latinos (românicos ou medievais, ou já galaico-portugueses e mesmo portugueses), como se nota no nome do lugar de Pedra Maria, que «é um vestígio evidente de um ancestral culto das pedras», alusivo à fé derivada de falado aparecimento de uma imagem num penedo. E em diversas freguesias, nomes de lugares, ainda, indicam uma toponímia antiga a fazer eco de uma atividade, como Vinha, por exemplo. Já Vinhó, diminutivo de Vinha, tem sempre termo de comparação relativamente perto, como acontecia no nome da Fonte da Vinhó que, em tempos passados, existiu em Rande junto a um campo de vinha da Casa da Quinta. E, a calhar a talhe, por se referir o nome Quinta, esse é um nome exemplar de quanto o antigo mundo rural teve peso na toponímia nortenha do país e particularmente nesta região felgueirense, em apreço. Como uma substancial parte dos topónimos se refere a um estilo de vida centrado em atividade agrícola, relacionada a propriedade maioral do sítio respetivo, a antiga quintana, posterior quintaa e depois também Quintã, relacionam importante Quinta, na evolução semântica de lugar assim denominado, na fragmentação em sub-unidades das pioneiras villas.

Desses antigos povoamentos dão conta alguns restos encontrados em escavações arqueológicas, sobretudo de antigos povoados de que existem testemunhos por vestígios encontrados, entre outros casos, no monte do Senhor dos Perdidos, em Penacova; no monte de Aparecida, em Pinheiro; no alto de Cimalhas, na fronteira de Sernande, Rande e Varziela, de antigo habitat (cujas réstias estão soterradas, depois de escavações operadas aquando do rasgamento dos acessos à autoestrada A11 e num arruamento do alto da Longra); bem como em Sendim, no monte do Crasto e nas ruínas de antiga villa romana.

Apressando o passo, neste processo noticioso de comunicação resumida do passado identificativo da região, chegara entretanto evolução populacional, em tempo de fixações de propriedades (das petras fixilis e terminus fixus, marcos divisórios do código visigótico, dentro de contexto de delimitação), nas áreas coutadas de privilégios senhoriais e consequentes foreiros dependentes, visando promoção de povoamento e difusão de amanho das terras, por via do desbravamento de montes e vales. Chegando ao desmembramento dos primitivos domínios de explorações e a intensificação do povoamento em herdades parceladas com os então casais derivados das antigas villas, nos entretantos das instituições dos fundamentos regionais. Antecedência de um meio rural, em torno de antiga realidade feudal em transformação evolutiva, de permeio aglutinada em lugarejos, até que no século XII começaram a ser instituídas as paróquias, interligadas às freguesias rurais, desenvolvendo-se diversos ciclos do percurso dos povos locais. História afim a toda a faixa banhada pelos fios de água do Sousa incipiente, rio provindo de veredas dos lados de S. Vicente de Sousa, cuja memória coletiva mesmo que distante no tempo e podendo parecer prosaicamente obscura, sem surrealismo será de apreciar como poema, pois a poesia, ainda que por vezes possa ter pouca clarividência, terá sempre beleza e encantamento na sua verdade, como a cronologia, quando pura e com vigor.

= X =

Anos antes disto, desta descrição e de ter o Tiago, também manifestei ao Gonçalo o meu amor avoengo, num livrinho que lhe quis dedicar. Ao Gonçalo disse e digo, escrevendo sobre a Pátria e história pelo país além, para quando ele entender e um dia recordar, quanto este avô gosta dele, tanto ou mais como daqui até Lisboa e de Lisboa até aqui. Agora que há também o Tiago, escrevo ao Tiago sobre Felgueiras, onde vivemos, mas querendo dizer que gosto muito dele, tanto ou mais para lá do Porto, capital do nosso distrito, gostando de estar com ele na Longra.

Obviamente, tenho de repetir, ele ainda não entende mas virá depois a perceber. Ainda que já saiba olhar ao que o rodeia, dando atenção a programas de desenhos animados que lhe despertem atenção diante da televisão, parando qualquer brincadeira sempre que ouve músicas mais chamativas ou anúncios (reclames) que lhe prendam os olhos.

Contudo o que o prende mais é a brincadeira com quem gosta, como com o Leandro e a Lara, na Pastelaria. E com o Miguel. Amigos que o fazem sentir-se bem e gostam de o ver evoluir. Enquanto ele, sempre que pode, vai dentro do balcão da pastelaria chamar pela “Óga”, de permeio com andar por entre os clientes mais usuais dali, tudo gente sua amiga e seus admiradores.

Passou assim o Tiago a ser mais um ente querido das pessoas que vão à pastelaria tomar o pequeno almoço e dar duas de conversa, pela manhã. Tornado em figura familiar, nos dias em que fica com os avós da Longra e a avó o leva consigo. Sempre obediente à avó, então, em sinal de já entender o que lhe dizem. Mesmo à sua maneira, como quando a avó Linda, indo à farmácia e ali lhe disse para ele não mexer nuns apetrechos que lá estavam, falando que aquilo era só para ver com os olhos… ele, não resistindo, obedeceu, mas, zás, encostou a cabeça naquilo…  para ver bem com os olhos!

Enquanto isso, do que ele não passa é de se lembrar do primo, do Gonçalo. O Guga é referido em tudo, quanto vê o faz lembrar do primo, que só vê de tempos a tempos, quando o Gonçalo vem à Longra. Brincando pelo corredor do prédio da pastelaria, ao olhar para a montra da loja da Inês, vendo as fotos em exposição, logo descobre algumas do Gonçalo, umas vezes, ou parece vê-lo noutras. Chega a casa dos avós e olha para os quadros das paredes e logo aponta onde estão fotografias do Gonçalo. Mas em outras quaisquer situações e sítios onde o Gonçalo brinca com ele, lhe faz vir à boca o nome. Tudo é Guga. E com o Gonçalo presente, gosta bem de andar com ele!

Começando a entender-se melhor ao chegar aos dois anos, no seu falar, porém já antes ia-se fazendo perceber bem, na fala reduzida própria da idade. Indo a correr chegar a mangueira ao “pô”, como dizia em pleno verão (deste ano de 2015), para o Afonso, da “Iinda” (Mindinha) regar o seu quintal, da água de casa dos avós. Curiosamente de forma igual como o Nuno dizia o mesmo nome, muitos anos atrás, quando eramos vizinhos de porta e o Nuno brincava com o Manel e a Emília (tendo ficado famoso, entre amigos e conhecidos… O seu dizer – «o “pô: tatau mané, tatau mila e calou...!»)

= X =

Posto isto, voltando para o Tiago e deixando fora da narração factos mais pormenorizados, acerta-se a crónica (da história a contar, para memória histórica):

… Ainda antes da nacionalidade, toda a região esteve incluída nos vastos domínios da Condessa Mumadona, inventariados por escritura testamentária no ano 1059. Ganhando contornos administrativos no período senhorial dos Sousãos, cujo solar principal estava implantado em terra que por esse motivo manteve a denominação originária na sua toponímia, entre S. Veríssimo e S. Vicente de Sousa. Sendo a família Sousa donatária do vasto território banhado pelo rio Sousa, curso fluvial com nascente precisamente em Sousa, havendo assim recebido o nome original como tal. Nesse período feudal a zona estava administrativamente dividida, havendo terras ligadas à Honra do Unhão e mais tarde ao seu Julgado, outras ao Julgado de Felgueiras, posteriormente transformados em concelhos, como também algumas estiveram adstritas ao Couto de Pombeiro e houve ainda antigo Couto do convento e depois Priorado de Caramos, além de outros Coutos circunscritos a antigos lugares, que deram origens a freguesias.

Em 1836 foram, contudo, os seculares concelhos de Felgueiras e Unhão dissolvidos, e com a sua extinção mudaram suas freguesias, junto com outras de mais concelhos extintos, passando toda a área a ser englobada pelo então novel concelho de Barrosas. Esta transformação foi, porém, pouco duradoura pois, volvidos escassos meses, depressa se separaram algumas freguesias, para reunificação em restaurados concelhos de Felgueiras e Lousada, permanecendo no município de Barrosas até ao seu final, na curta existência de quinze anos, escasso número de freguesias. Passando estas a integrar de vez o concelho de Felgueiras em 1853 (como antes se aflorou), enquanto outras que ainda andaram dispersas algum tempo mais por diferentes administrações foram, depois, unidas a Felgueiras em 1855, com a criação da sua Comarca, quando o concelho de Felgueiras atingiu o máximo de 33 freguesias.

Da união que faz a força, ficando então o concelho íntegro, resultaram diversas manifestações comunitárias reveladoras dos novos laços de unidade, como por exemplo foi instalada a Irmandade da Misericórdia de Felgueiras, tal como houve reestruturação da Irmandade do Imaculado Coração de Maria, com passagem da sua sede para o “Monte das Maravilhas” onde ficou instalada como Confraria do SS Coração de Maria e Santa Quitéria, para cuja solenidade de inauguração da então nova estrada (das capelas, agora tida por antiga, de acesso a pé) foram as representações de todas as paróquias com andores dos respetivos Oragos, mais estandartes e cruzes paroquiais. Bem como, anos mais tarde, em 1898, nasceu a Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Felgueiras.

Tendo o concelho ficado completo em 1855, até aí o dia municipal (na sequência das reformas do período liberal e fases seguintes de reorganização administrativa) ocorria a 14 de Outubro, data da outorga em 1514 do Foral de D. Manuel I a Felgueiras. Como no entanto, a partir de determinada altura, as populações não se reviam totalmente nesta efeméride, pela dispersão antiga das divisões administrativas, lembrando-se que também o antigo concelho do Unhão teve Foral e igualmente o Alfoz do Couto de Pombeiro tivera Carta Régia, além de ter havido uma circunscrição de Caramos, como ainda o efémero concelho de Barrosas, foi mais tarde decidido (aproveitando lei da República, a partir de 1911) que, para todo o concelho de Felgueiras, passasse a ser o dia de S. Pedro, a 29 de Junho, por ser o dia da festa mais antiga tradicionalmente ocorrida na região, desde eras remotas realizada numa ermida que existiu no alto depois passado a ser conhecido por Monte de Santa Quitéria. Para o efeito foi, com efeito, aproveitada lei de 1911, com a entrada da República, estabelecendo que todos os concelhos deveriam ter um feriado municipal, pois, efetivamente, não havia unificação por todos os concelhos (tal como em Felgueiras acontecia ainda com Barrosas, onde era guardado feriado na segunda-feira das festas do Espírito Santo; e em Várzea com a festa do 23 de Abril, por exemplo). Passando assim, desde 1911, a ser Feriado Municipal o 29 de Junho oficialmente em todo o território de Felgueiras.

Em 1998 o território concelhio foi encurtado, porque então Felgueiras perdeu a freguesia de Santo Adrião de Vizela, para a criação do novo concelho de Vizela (mantendo-se, contudo, de Felgueiras as de S. Jorge de Vizela e Santa Comba de Regilde, que inicialmente estiveram na proposta da mesma aprovação da Assembleia da República).

De relevo na vivência comunitária, entre diversas realidades, existem algumas agremiações cativantes no sentimento coletivo Felgueirense, de que servem de exemplo as seculares instituições criadas nos tempos da junção das freguesias, como se aludiu anteriormente, e também outras mais recentes. Nos tempos que correm, enquanto o clube mais representativo, o Futebol Clube de Felgueiras, depois de especial carreira fulgurante, passou por fase obscura até que foi extinto, no início deste século XXI, ao passo que o clube sucessor, denominado Clube Académico de Felgueiras, inicialmente assim chamado, voltou depois a ter o nome antigo, com um pequeno acrescento, ficando a ser “Futebol Clube de Felgueiras 1932”, em homenagem referencial ao ano de início do futebol em Felgueiras, passando a angariar coletivamente o carisma do antigo; e, enquanto e além disso, não abundando grupos culturais e recreativos de âmbito concelhio; o trabalho associativo ganhou algum fôlego no surgimento, por exemplo, do Rotary Clube de Felgueiras, a ação social pôs-se mais em campo através da ramificação das Conferências Vicentinas, e, felizmente, nalgumas freguesias distinguem-se Associações de carisma.

Em diferente aspeto justifica retenção de mais-valia o caso de que está instalada no concelho a Comunidade das Irmãs Vicentinas, mais propriamente chamadas Filhas de Caridade da Ordem de S. Vicente de Paulo distribuídas por dois conventos, dos quais ainda existe e elas permanecem presentemente no monte de Santa Quitéria, enquanto na casa da Misericórdia do Unhão estiveram entre 1933 até 2015. Onde as mesmas exerceram e têm funções de educação dirigindo externatos com infantário, pré-escolar e escolas de ensino básico, além de apoio sócio-caritativo à comunidade da região. Assim como presentemente há a casa dos também Vicentinos Padres Lazaristas da Congregação da Missão junto ao santuário de Santa Quitéria, depois de longas décadas de frutuoso labor em caminho vivido por Pombeiro e Lagares. E em Lordelo, na Casa da Mata, existe também a Comunidade dos Padres Carmelitas Calçados, da Ordem de N.ª S.ª do Carmo, que prestam relevantes serviços pastorais na região, incluindo administração paroquial nalgumas freguesias.

= X =

Foi nas “Freiras do Unhão”, no Jardim infantil pré-primário e escola primária ao tempo existente na casa conventual da Misericórdia do Unhão, a cargo das Irmãs Vicentinas, que o Nuno e a Clara andaram, ali tendo o pai e a tia do Tiago feito o ensino básico, da aprendizagem escolar. Onde eu os levava e ia buscar, antes e depois do emprego (como durante muitos anos era e foi, no Posto Médico da Casa do Povo da Longra). De mão na mão e sorrisos no pensamento. Como agora passo os dias, mas sempre presente, quando o tenho comigo, sempre que o Tiago passa o dia em nossa casa. Pequenino ainda, mas muito gostando de estar connosco.

Contudo tendo de estar os dois para ele se sentir melhor, quando lhe damos de comer, quando conversamos com ele, enquanto andamos no jardim ou nos arredores circundantes da casa e ele anda por ali junto a nós, como quando o vemos brincar, a não ser quando o puxo nas andanças de triciclo e só um serve. Já a jogar à bola também é comigo, que o amparo nos remates, porque por vezes ainda vai pisando a bola e pode cair, ou a bola gira mais depressa que o seu pé alcança… E quando vimos para casa ou vamos a qualquer sítio, destes por aqui, em caminhadas de pouca monta, gosta de dar a mão aos dois, de ir no meio e se possível ir sendo levantado. Como, de mão agarrada a nós, ir saltando sobre as bolas de ferro do passeio do Largo da Longra. E ao chegarmos a casa, antes ainda, costuma dizer querer ir ao Quim (nome que sempre disse bem, assim), para ver a oficina, e depois ir ter com a (tia) Rosa, fazendo-se entender (ao balbuciar, desde pequeno: Gá) para ver os gatos e as galinhas. Porém de preferência anda mais ao colo do avô, aqui na Longra, e de quando em vez também de quem o quiser levantar.

No caso, falando eu, ao escrever, do que se passa quando está comigo e do que sei ir acontecendo, presencialmente.

Como o Tiago gosta de ter alguém de quem goste perto de si e tendo muitos amigos, nesta terra, como tudo o que é belo e ternurento tem graça, vem a talhe (dando vez à continuação da narrativa histórica), de deixar umas referências alusivas. Inclusive, tendo o avô materno, o amigo e sr. Prof. Edgar Silva, sido Vereador Municipal da Câmara de Felgueiras entre finais do século XX até início do século XXI; e (embora, noutro aspeto, aqui mais para nós) também o avô paterno tenha entretanto escrito alguns livros sobre história de sítios e gentes de Felgueiras. Pois… como não ser o Tiago alguém, quando nesta nossa terra sempre houve gente saliente?!

Senão, ora atente-se em como Felgueiras tem Pessoas importantes.

Personagens Felgueirenses Ilustres:

Da grande família Sousa, importante e dominante da região nos tempos próximos à fundação do país, foi descendente o Sousão D. Gomes Aciegas, possível fundador do Mosteiro de Pombeiro. Outro, considerado como Felgueirense, por ser oriundo da original família da Casa de Sergude de Sendim, tem sido associado localmente o navegador quinhentista Nicolau Coelho, comandante da Nau Bérrio, uma das embarcações da armada de Vasco da Gama que descobriu a rota marítima para a Índia, sendo mais tarde Nicolau Coelho um dos capitães da frota de Pedro Álvares Cabral que descobriu o Brasil. Felgueirense de certidão, natural de Pombeiro, foi o escritor e historiador do séc. XVII Manuel Faria e Sousa, que viveu na corte espanhola do reinado Filipino. Da antiga Honra do Unhão era toda a genealogia dos Condes primitivos da família Sousã, iniciada com D. Gonçalo de Sousa (no tempo de quem foi construída e sagrada a igreja românica do Unhão, em 1165 da era romana). De Rande e naturalmente também de Felgueiras é o aviador Francisco Sarmento Pimentel, participante do derrube da Monarquia do Norte, em 1919, mas conhecido sobretudo por ter efetuado a primeira travessia aérea de Portugal à Índia, em 1930. Tal qual Felgueiras se honra do eminente psiquiatra Dr. António Magalhães Lemos, natural de Margaride. De Lixa-Felgueiras era o Dr. Eduardo Freitas, autor da primeira monografia histórica escrita sobre o concelho de Felgueiras. Nasceu igualmente na Lixa e no concelho, mais propriamente em Borba de Godim, uma das freguesias da então povoação (depois vila e por fim cidade) da Lixa, o filósofo Dr. Leonardo Coimbra, que foi ministro da Primeira República. De Rande, também o celebrizado mestre de canto gregoriano e compositor de música litúrgica, Padre Luís Rodrigues. Como, de Varziela, Lucas Teixeira, antigo Religioso Beneditino, célebre executor de iluminuras de vulto e depois poeta secular, de grande engenho reconhecido internacionalmente. E, fazendo jus a enfileirarem com os mais ilustres Filhos de Felgueiras, contam-se ainda outros nomes dignos de menção, como o antigo Par do Reino que foi Rebelo de Carvalho; o célebre lutador pela criação da Comarca Dr. Costa Guimarães; o Conselheiro Dr. António Mendonça, antigo e prestigiado Presidente da Câmara Municipal de Felgueiras, deputado monárquico e ilustre homem de Letras proprietário do jornal “Semana de Felgueiras; Guilhermina Mendonça, conhecida por “Menina de Rande”, considerada popularmente como santa logo à sua morte em 1912 (cuja biografia narramos no “Memorial Histórico de Rande e Alfozes de Felgueiras”); mais os grandes beneméritos que foram Agostinho Ribeiro e António Fonseca Moreira; o Dr. Luís Gonzaga da Fonseca Moreira, marcante Presidente da Câmara, empreendedor de obras municipais de apreciável alcance; Dr. Miguel Costa Santos, Lente da Escola Médico-cirúrgica do Porto; Dr. António Costa Santos, Desembargador e Presidente da Câmara de Deputados; Dr. Alexandre Mendonça, Juiz Conselheiro do Supremo Tribunal de Justiça; José Xavier, pioneiro da indústria concelhia, além de empreendedor de realizações associativas; Dr. João Brandão, presidente da Câmara de Felgueiras do período de implantação da República e deputado republicano; o missionário Padre António Correia dos Reis Coelho, antigo procurador do Arcebispo de Goa, na então Índia portuguesa; também Manuel Sampaio, autor de alguns estudos monográficos de história local antiga; Américo Martins, protótipo de empresário de sucesso em tempos idos; o fundador do Futebol Clube de Felgueiras, Verdial Horácio de Moura; o famoso ciclista Artur Coelho que, correndo pelo Futebol Clube do Porto, foi vencedor em 1957 de importante prova ciclista chamada 9 de Julho, também conhecida por Volta a São Paulo (Brasil) e integrou a seleção portuguesa de ciclismo participante na Volta a Espanha em 1957 e 1958; o atleta Sampaio Peixoto, o qual, correndo pelo Académico do Porto, alcançou marca de recordista ibérico de atletismo, em 1945; D. Armindo Lopes Coelho, anterior Bispo Diocesano do Porto; D. João Miranda Teixeira, querido vulto de Bispo-Auxiliar do Porto e entretanto temporariamente Administrador Apostólico da Diocese; assim como, apesar de não ser natural do concelho mas sim Felgueirense de coração, o paradigmático Autarca Dr. Machado de Matos – entre muitos outros personagens distintos.

= X =

Neste percurso, entretanto, com toda a ligação que existe, o Tiago foi batizado em terra de Felgueiras, tendo recebido o batismo cristão na igreja paroquial de S. Tiago de Rande, matriz da paróquia da nossa e sua residência. Onde teve lugar essa cerimónia tradicional, dentro de tal templo antigo, erigido pelo ano de 1730. Tratando-se de igreja de estilo simples, da arquitetura das igrejas rústicas que foram construídas em tempo de ampliação das comunidades rurais, normalmente a substituir capelas ou igrejas mais pequenas, ao tempo. No caso de Rande, como é referido no livro “Memorial Histórico de Rande e Alfozes de Felgueiras”, até esta igreja foi edificada em sítio onde houvera uma mais antiga e que ruiu, sendo por isso necessário ter sido feito uma nova escritura eclesiástica sobre os bens pertencentes à paróquia, conforme ficou escrito no novo Tombo, escriturado em 1743…

Neste ponto, entre igrejas e outras construções, pode dizer-se que há deveras pela região felgueirense diversos casos de realce, neste campo:

Foto  37

Monumentos e Valores Artísticos

Há espalhados pelo concelho diversos testemunhos do passado, consubstanciados em monumentos e outros valores artísticos.

Salienta-se contudo dos demais o beneditino Mosteiro de Santa Maria de Pombeiro, do qual se salienta a igreja de valiosa traça, embora com aposição misturada de diversos estilos pelas alterações sofridas ao longo dos séculos. Há depois, como antes se referiu noutro prisma, a estação arqueológica do Monte do Senhor dos Perdidos, ainda rudimentarmente explorada e entretanto abandonada; tal como o que está soterrado no alto de Cimalhas, na fronteira de Sernande com Rande e Varziela (cujas escavações, de antigo povoado da Cimalha, tiveram lugar no início do séc. XXI derivado à construção de novos acessos viários, onde se descortinaram vestígios dum antigo caminho divisório das paróquias e foram encontradas parcelas de cerâmica, contudo o resto depois ficou enterrado); como há ainda algo da antiga cidade de Eufrásia em pequenos vestígios de ruínas, em Sendim, com restos de velha villa romana. Existem também pequenos tratos de caminhos romanos em Caramos, Pombeiro e Vila Fria; e uma calçada medieva, numa parte de caminho lajeado medieval, na Calçada de Rande; em todos estes casos de antigo itinerário do Caminho de Santiago para Compostela, que teve assim passagens pelo concelho de Felgueiras. De relembrar ainda a antiga existência de estátua de um guerreiro Lusitano em S. Jorge de Riba-Vizela.

Outros marcos do passado representam diversas casas senhoriais dispersas pelo território concelhio, solares antigos sucedâneos de antanhas villas romanas e ancestrais fortalezas, de que se salientam a Casa de Sergude, em Sendim, a Casa de Simães, em Moure, a Casa de Rande e Casa da Torre, em Rande, a Casa do Coto, em Varziela, a Casa de Junfe, no Unhão, a Casa da Porta, na Pedreira, a Casa do Mosquete, em Lordelo, etc.

E as igrejas românicas, como a de Lordelo (em ruínas), a de Vila Verde (recuperada); e as que restaram sempre eretas, com traços originais desse estilo na região, ou seja as de Unhão, Sousa, Borba de Godim, Airães e Santão; além do pequeno templo de Padroso contendo escassos restos das características do românico rústico; são exemplares arquitetónicos apenas suplantados em antiguidade por dólmens existentes na Refontoura e em Regilde, mais vestígios de Castros, como os de Caramos e Lagares; por entre apreciável número de valores patrimoniais. E, entre outros possíveis exemplares, algumas construções religiosas como o santuário do Bom Jesus de Barrosas, o Calvário e Capela do Encontro em Caramos e, especialmente, o santuário de Santa Quitéria. Além de nichos de Alminhas em sítios estratégicos de diversas freguesias, bem como posteriores nichos monumentais de dedicação a Nossa Senhora, mais os cruzeiros paroquiais.

Lenda de Santa Quitéria:

Em diferente feição, mas antiga por demais, há a lenda de Santa Quitéria, martirizada e sepultada em planalto que ganhou seu nome posteriormente. Segundo tradição milenar foi morta no Monte Pombeiro, como aquele ermo era antigamente chamado. Onde séculos mais tarde foram descobertos restos mortais que poderão ser da santa e de seus companheiros de martírio. Em cujo local foi então erigida a igreja em honra de Santa Quitéria, substituindo antiga ermida dedicada a S. Pedro. E, pelos milagres ali operados, o lugar passou a ser também conhecido por Monte das Maravilhas. Sintomático desta lenda é o facto de no sítio onde parou de rolar a cabeça da santa, depois de degolada, ter jorrado uma fonte, desde eras remotas conhecida por Fonte de Santa Quitéria, cuja água começou a ser tida como milagrosa (ainda que na transição do século XX para o XXI tivesse, por vezes, ficado imprópria para consumo, por erros humanos).
Pela proximidade desse fontanário a uma das vias concelhias dos Caminhos de S. Tiago, no caso o itinerário que passava em Sendim (motivo revelador da dedicação daquela freguesia a S. Tiago, tal como se verifica noutros pontos, como por exemplo em Rande onde a origem da proteção do Orago é similar), realizando-se antigamente à beira dessa fonte do sopé do monte de Santa Quitéria uma festa em honra de S. Tiago, a mesma bica de água chegou a ser conhecida também por esse nome, como fonte de S. Tiago; tendo no entanto com o decurso do tempo perdurado o nome original de Fonte da Santa. Diz o povo, na sabedoria popular, que quem dela beber jamais deixará Felgueiras, apaixonando-se por esta terra.

Segundo ideias eruditas, a local lenda de Santa Quitéria poderá ser derivada ao género de cristianização dos montes, cabeças e cabeços, relacionando-se o facto da mesma “santa da cabeça”, decapitada, ter sido sepultada no lugar da “cabeça da santa”, estando no monte, cabeço ou cabeça. Importa que perdurou e tem mística. E, como é por demais sabido, a tradição tem muita força. Pois, como dizia S. Crisóstomo, onde há tradição não se procure mais provas!

= X =

Ao Tiago, digo agora, para ele um dia saber como era aqui esta nossa região, mais qualquer coisa que deixo escrito, na atenção que lhe merecem certas ocorrências, olhando concentrado e aninhado em seus pensamentos, como o Tiago se gosta de se pôr a seu jeito quando está a brincar ou a fazer qualquer coisa de que gosta. Ainda não andava bem mas, enquanto se mexia, e gostava de se sentar sobre uma perna, até que agora ao chegar aos dois anos já se ajoelha à frente do que quer ver, apoiado sobre as duas pernas. Assim, também naquele seu jeito, ficam diante de si algumas outras considerações.

Outras curiosidades Felgueirenses:

O nome de Felgueiras tem sido conhecido desde longas eras pelo fabrico tradicional de um doce regional típico, o Pão-de-ló de Margaride. A fama desta especialidade de doçaria antiga, que data de meados do século XIX, pelo menos, desde que foi expandida por Leonor Rosa da Silva, fez com que a principal casa doceira de Felgueiras fosse oficialmente nomeada como fornecedora da Casa Real, por uma carta dos Duques de Bragança em 1888 e posterior Alvará do rei D. Carlos em 1893. Tendo depois surgido outras pequenas fábricas derivadas, algumas de nomeada, por sinal.

No último quartel do século XX, porém, o nome do concelho de Felgueiras passou a ser também conhecido como zona portuguesa mais industrial do fabrico de calçado. Este sector industrial suplantou de facto as anteriores ocupações fabris locais, iniciadas com a metalo-mecânica na Longra em princípios do século XX, quando as bases agrícolas começaram a ter alternativa com aquela ocupação, que desempenhou importante papel na economia da comunidade Felgueirense. Instalação industrial depois seguida pela indústria têxtil implantada a meio do mesmo século nos arredores da então vila de Felgueiras, além de outras de menor consistência produtiva. Assim como Torrados e Lagares foram centro da produção de calçado mecanizado, a partir que começou a ser feito em série; embora antes, quando o fabrico era manual, houvesse mestres abancados por quase todo o concelho.

Sintomático da importância de fabrico do calçado, atendendo a que antigamente a zona com mais fábricas desse sector era São João da Madeira, enquanto depois Felgueiras passou a ombrear com essa zona da Beira Litoral e acabou por a suplantar, as duas cidades foram geminadas, por esse facto, em acordo celebrado entre ambas as respetivas autarquias, em 1996.

Também, pelas ligações de Felgueiras ao mundo, através dos laços de união mantidos pelas gentes Felgueirenses com outros povos, houve já alguns compromissos selados entre Felgueiras e algumas cidades estrangeiras, para favorecer possível intercâmbio de solidariedade e ações de âmbito cultural e social, como foram os casos entretanto acontecidos de geminações entre a Câmara Municipal de Felgueiras com Point Saint Maxence (França) em 1993, Boa Vista (Cabo Verde) e Santa Cruz de Cabrália (Brasil) em 1996 e S. Vicente (Cabo Verde) em 1998. Além de pré-acordos, ao que aconteceu em 1988 com Porto Seguro, do Brasil; e com Nueil-les-Aubiers, de França, em 2007.

Em questão de vizinhança, estreitando laços mais ao perto, Felgueiras está incluída na Comunidade Intermunicipal do Tâmega e Sousa, junto com Lousada, Paços de Ferreira, Paredes, Penafiel, Castelo de Paiva, Amarante, Baião, Celorico de Basto, Marco de Canavezes, Cinfães e Resende, emparceirando assim nessa atual comunidade urbana, composta pela união dos municípios das antigas associações do Vale do Sousa, do Tâmega e do Douro Sul, numa fusão de proximidade entre concelhos, com relativas ligações ambientais e patrimoniais de tal conjunto destes 12 municípios do verdejante interior nortenho.

Enfraqueceu porém a importância de Felgueiras no ponto de vista de serviços públicos, quanto a casos como a justiça (tribunal) e sobretudo a parte de fornecimento elétrico (EDP) e a saúde, passando nuns casos a depender de Penafiel, noutros de Amarante e até de Lousada na saúde, pois, com o Agrupamento de Centros de Saúde (ACES) de Támega e Sousa, ficou a sede em Lousada, presentemente, nos tempos que correm dos anos deste início do século XXI.

Saliente contudo, na vida local, para a riqueza transformadora necessária ao quotidiano regional, em Felgueiras, houve sempre a agricultura, de cujas colheitas viveram as pessoas toda uma vida em sucessivas gerações, agora em vias de transformação. Nesta área salienta-se a cultura do vinho verde por todo o concelho, néctar característico desta terra inserida na sua região demarcada. De cuja associação é derivada a criação de instituições representativas, como a AFAVI e a Confraria do Vinho Verde.

= X =

Por isso tudo o que fica subjacente, percorre este texto a visão que o Tiago nos dá, num toque afetivo que ao vê-lo, sempre, é como manhã de sol que se nos depara. Como quem ao acordar vem à janela e vê um lindo dia a surgir. Sendo que esse pedaço de alegria faz parte do nosso viver, aqui onde estamos. E Felgueiras nestes dias, para constar ao porvir, pode definir-se doutro modo:

Caracterização Geral de Felgueiras

O concelho de Felgueiras, com efeito, expande características de área de transição Minhota-Duriense, bem patentes no verde dos terrenos, predominando ruralidade, e, derivado às amenas condições de clima normalmente temperado e húmido, também na produção do vinho verde, em cuja demarcação Felgueiras está interligada.

Se em eras recuadas era essencialmente agrícola a laboração das gentes Felgueirenses, a partir de determinada época passou a sentir efeitos da industrialização, sem contudo perder dependência assinalável da lavoura. Foi nos anos vinte, do século XX, que Felgueiras teve inicial acesso à chamada revolução industrial, através das primeiras oficinas de ferraria e serralharia nascidas na antiga povoação da Longra, atualmente centro da vila da Longra; onde igualmente começou o fabrico de panificação em série, e se instalou a metalurgia como bandeira concelhia; chegando depois a Margaride a tecelagem, cerca da década de quarenta; até que nos anos cinquenta houve iniciação da confeção mecanizada de calçado, sector que estava distribuído pelo concelho nos antigos moldes artesanais e, então, passou a ser industrializado nas zonas de Torrados e Lagares, sobretudo; expandindo-se posteriormente a todo o concelho por fábricas de pequena e média expressão, tornando Felgueiras um pólo expoente desse ramo económico. De cunho tradicional existe também o ramo produtivo dos bordados da Lixa, oriundo de trabalhos manuais dos bordos espalhados desde a Serrinha a Airães, e as rendas riquíssimas da Trofa-Pombeiro, sendo estas duma tradição antiquíssima estarem expostas às portas das casas ao correr da estrada.

Esse potencial humano, que identifica os genes de Felgueiras, provém de tempos remotos, entretanto identificados, sendo a região habitada pelos povos antigos que desenvolveram a região nortenha do País. Porém os nomes que perduraram nas terras locais derivam dos tempos da Reconquista Cristã, dependendo dos Godos e descendentes germânicos que fundaram as originais propriedades senhoriais, através das quais se expandiram as freguesias e paróquias. Eram na época diversas as famílias feudais que originaram o povoamento das terras de Felgueiras, com destaque para a família Sousa, os Sousões de que falam os velhos alfarrábios e acompanharam o nosso primeiro rei, D. Afonso Henriques; como também os Monizes Coelhos, descendentes do aio Egas Moniz, tendo a região fortes vínculos à célebre Condessa Mumadona, senhora de grande parcela do Condado Portucalense.

Ao longo dos tempos, mergulhando na memória, Felgueiras teve particularidades que marcaram o seu percurso. Digna de ser preservada toda uma retaguarda histórica como a de Felgueiras, a sua herança espiritual está guardada em diversas publicações, mais por iniciativas particulares, que, felizmente, e na inversa de outras facetas culturais, servem de legado à posteridade.

Testemunham esse longínquo passado uma série de construções antigas, passando pelos solares senhoriais, e especialmente nas igrejas românicas ancestrais.

Pelo prisma da humanização, relatam usos e costumes as tradições populares, evidentes nas festas populares e paroquiais que abundam ainda, como também e sobremaneira no folclore, através de reconstituições efetuadas por Ranchos Folclóricos, agrupamentos vocacionados a servir de guarida à transmissão de tudo o que fez parte das tradições populares, embora geralmente mais usuais em danças e cantares, sem esquecer a área museológica ambiental de outros tempos.

Em estado ambiental o clima regional mais acentuado é do tipo temperado e de amplitude moderada, em região sob influência dum clima do tipo chuvoso em períodos húmidos de Outono/Inverno e com mais curta época de períodos secos de Primavera/Verão. Clima temperado que propicia boas condições para crescimento de espécies vegetais, de repercussão no próprio relevo acidentado, pontuado por montes e vales, arborizado e afrutado por plantações florestais, de pomares e sobretudo vinhas, numa ocupação de encosta e cumeada. Como ainda, no panorama físico, em termos geológicos, a sua área, alternando com destacáveis parcelas de solo arável e terreno bravio, é constituída essencialmente por formações de natureza granítica, mas também de outras, mais pequenas, como xistos e sítios de coberturas menos antigas.

Felgueiras, espalmando-se no genuíno vale dos cursos de água do rio Sousa, sob manto vivo de cores da natureza, onde o verde é vivo e o azul celeste mais azul, através de paisagem verdejante a refulgir radiação do azul do céu, reflete uma maneira de viver que tem características genuínas, de gente que vive no seu mundo, que não o mundo todo mas sem perder noção do universo em redor.

*

Proclamam os “slogans”, conforme reza a literatura de promoção, que «Felgueiras é capital do calçado e solar do vinho verde». Será isso mas ainda mais, na realidade, pois a sua essência, com efeito, resulta num encontro com a história e a natureza.

Sem passado não poderia haver futuro, e uma terra que tenha alma, com gente que valorize a História, terá de ter quem saiba honrar a sua memória, para conhecer as verdadeiras potencialidades e possuir identidade.


Chegado assim a este ponto, como o Tiago diz: Pumba…! (pronto, já está, acabou). Aportando o fim da história circundante à verdadeira história, que é a do Tiago.

= X =

Em Felgueiras da atualidade, cá estamos, em família, a que pertencemos nós e o Tiago. Tendo agora eu dois netos. Dois netos, como antes tive dois filhos, tenho hoje esses dois filhos e mais dois acompanhantes de vida, seus companheiro e companheira. Em verdade, duas e duas, mais duas sorveduras de fresca água pura, na torrente da vida. Tendo agora nos dois netos, mais dois amores.

Enquanto isso, o Tiago agarra o mundo, seu e nosso. Como gosta de agarrar qualquer objeto com um alicate, como vê o pai a fazer em casa, ou com alguma outra ferramenta, como vê o tio Quim na oficina. Tanto como… ele que é atraído a olhar para o ar sempre que vê passar um avião, quantas vezes, devido ao barulho dos aviões, mas também avionetas e até helicópteros, gostando muito de ver os aviões a riscar com fumo branco o azul do céu… um dia, tendo um alicate nas mãos, ao ver um avião a passar lá no cimo, abriu o alicate para cima, em direção ao ar celeste (como numa perspetiva de visão), com cara franzida de determinação e olhos atentos, a tentar agarrar o avião… com o alicate de sua vontade!

Esse querer é por assim dizer o mesmo de quando mostra personalidade e faz impor seu desejo, com decisão. Como quando quer qualquer coisa e eu o tento contrariar, mas ele, está boa a vida, parece nem ouvir o que se lhe diz e resiste ao que e a quem se opõe ao que quer. Até que, quando lhe faço a vontade, ele logo transforma o semblante em sorriso prazenteiro, de felicidade contagiante. Na sua radiosa força de viver, pujante de energia e querer.

- Se quer ir à garagem, por mais colo que se lhe dê e o tente distrair, pois é para o comando da garagem que ele aponta, indicando o sitio das chaves, a mostrar o que quer, e depois toca a andar para o fundo das escadas do jardim e… é para ali… vamos à garagem! Se o incomoda a babete de plástico, para aparar a comida que cai ao meter-se-lhe à boca… e ele diz tira… pois ainda se consegue levá-lo de conversa algum tempo, mas é para tirar mesmo e tira-se… acaba-se por a retirar, pois acabou a refeição. E quando a avó lhe está a dar banho, por entre as chuveiradas que lhe fazem impressão, sempre tem de agarrar o raro do chuveiro para fazer à sua maneira. Quão sabe fazer valer sua ideia, quando fica farto de andar sentado no carrinho das compras, e abre os braços a querer colo, enquanto vai connosco ao supermercado… e então posso entretê-lo um bocado com outras coisas, sobretudo a levá-lo a ver as portadas de subir (do armazém do “Continente”), ficando quase absorto a ver aquilo a levantar depressa, mas, depois sempre acaba a rir-se para mim… quando pego nele ao colo!

É com essa convicção que, quando o trazemos, vindo nós desde a zona de sua casa, do Edifício Vila da Longra, para a nossa vivenda, antes ainda, ao transpor o passeio do Café Longra, o Tiago quer sempre ver os peixinhos, e o levamos a ver o pequeno aquário de fibra a servir de lagozito onde deslizam peixes pequenitos, junto à loja de ferragens (do Quim da “Casa Agrícola Vila da Longra”). Entre cuja rede de proteção ao mesmo recipiente, ele sempre mete um dedo para ver os peixes virem acima e acha graça a isso. Tal como do outro lado da rua, ao passarmos no Largo da Longra, em frente ao Centro Comercial da Dores, o Tiago sempre quer subir às bolas de ferro do passeio. E de seguida prefere ir ao meu colo, aproveitando ocasião para atravessarmos a estrada, agarrando-se e abraçando-me. Porque a vida é mesmo assim, para ser vivida. E eu estou a gostar bem de atravessar com ele esta fase terna da vida.

Como remate (sabendo como o Tiago já gosta de bola, de agarrar e chutar as bolas que vê por perto, nestes seus primeiros anos, quando escrevo isto), lhe dou esta prenda, deixada numa terna oferta, como será este livro específico, em forma narrativa de estilo romântico-realista, com dedicatória especial:

Quando o Tiago está com dois anos (precisamente ao completar os correspondentes 24 meses de vida), e bem dentro da fase enternecedora da infância, quando tudo nele tem graça, ofereço-lhe este livrinho, composto de pequeno texto, mas de tamanho elevado. Para ele obviamente entender e apreciar mais tarde, no belo caminhar pela evolução da idade. Guardado que fica assim em livrinho feito expressamente para o efeito. Com amor de avô, em sentido supremo. Procurando fixar a grata existência que é o Tiago em nossas vidas. Qual impressão sempre viva, numa ideia de perpetuar momentos de vida, como quem capta fotografias através de letras escritas com o coração.

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Escrito no Outono e colocado como prenda de Aniversário (dos 2 anos).

Longra - Felgueiras, Novembro de 2015.

ARMANDO PINTO




DO AUTOR (além de artigos em jornais e revistas)

Obras publicadas:

- Livro (volume monográfico) «Memorial Histórico de Rande e Alfozes de Felgueiras»; publicado em Novembro de 1997. Edição patrocinada pelo Semanário de Felgueiras.
- Livro (de contos realistas) «Sorrisos de Pensamento» – Colectânea de Lembranças Dispersas; publicado em Outubro de 2001. Edição do autor.
- Livro (alusivo da) «Elevação da Longra a Vila» - Julho de 2003. Edição do autor.
- Livro (cronista do) «Monumento do Nicho Nas Mais-Valias de Rande» – Dezembro de 2003 (oferecido à Comissão Fabriqueira paroquial, destinando receita a reverter para obras na igreja). Edição do autor.
- Livro «Padre Luís Rodrigues: Uma Vida de Prece Melodiosa» – Na passagem de 25 anos de seu falecimento; publicado em Novembro de 2004. Edição do autor.
- Livro «S. Jorge de Várzea-História e Devoção», publicado em Abril de 2006. Edição da Paróquia de Várzea.
- Livro «Futebol de Felgueiras-Nas Fintas do Tempo» (sobre Relance Histórico do F. C. Felgueiras e Panorâmica Memorial do Futebol Concelhio, mais Primeiros Passos e Êxitos do Clube Académico de Felgueiras) – pub. Setembro de 2007. Edição do autor.
- Livro "Destino de Menino" (conto personalizado - dedicado ao 1º neto) - Dezembro de 2012, em edição restrita de autor, numerada e autenticada pessoalmente.
- Livro "Luís Gonçalves: Amanuense-Engenheiro da Casa das Torres", patrocinado pela fábrica IMO da Longra - biografia de homenagem ao Arquiteto do palacete das Torres, de Felgueiras - Janeiro de 2014.

Livros oficiais (alusivos a realizações de eventos), entretanto também publicados:

- «1ª Mostra Filatélica e Exposição Museológico-Postal da Casa do Povo da Longra» (relativa a Semana Cultural de abrangência comemorativa do centenário de Francisco Sarmento Pimentel e octogenário do Correio da Longra - Julho de 1995).
- «1º Festival Nacional de Folclore “Longra/97”» (englobando partes historiadoras e galeria diretiva da Associação - Maio de 1997).
- «2º Festival de Folclore do Rancho da Casa do Povo da Longra» (contendo Lendas e Narrações das freguesias da área da instituição - Setembro de 1998).
- «Associação Casa do Povo da Longra-60 Anos ao Serviço do Povo» (alusivo ao respetivo sexagenário, contendo a História da instituição - Abril de 1999).
- «3º Festival de Folclore da Longra-Memória etnográfica do sul Felgueirense e afinidades concelhias» (Julho de 1999).
- «4º Festival de Folclore da Longra-Celebração Folclórica do sul Felgueirense» (Julho de 2000).
- «Evocações da Festa Paroquial de S. Tiago de Rande» (Julho de 2000 - de promoção à festa desse ano, por solicitação da respetiva comissão organizadora, traçando panorâmica das festas antigas.)
- «Rancho da Casa do Povo da Longra-Sete anos depois... em idade de razões» (Maio de 2001 – livro comemorativo do 7º aniversário do mesmo agrupamento e também alusivo ao 5º Festival de Folclore da Longra, de Julho seguinte – incluindo texto de fundo narrativo do “Conto de um Rancho Amoroso”, sobre a história do grupo em questão.)
- «6.º Festival do Rancho da Casa do Povo da Longra – Desfile de Oito Anos de Vida» (Junho de 2002).
- «7.º Festival da Associação Casa do Povo da Longra – Danças Mil em Nove Anos de Folclore» (Junho de 2003).
- «Grupo de Teatro da Casa do Povo da Longra – Sete Anos na Arte de Talma Associativa» (Outubro de 2003 – Primeiro livro historiador do respetivo agrupamento, em tempo do seu sétimo aniversário).
- «8.º Festival da Associação Casa do Povo da Longra – Alcance duma Década Etno-partilhada» (Junho de 2004).
- «9.º Festival da Associação Casa do Povo da Longra – Comunhão de Tradição Associativa» (Junho de 2005).


ARMANDO PINTO