Falecido na manhã de sexta-feira, dia 10 de setembro deste
ano de 2021, o antigo Presidente da República Dr. Jorge Sampaio é motivo de
atenções e recordações por estes dias. Vindo assim também a talhe aqui evocar
algo de sua memória, tendo ele sido um dos Presidentes de Portugal que vieram a
Felgueiras em visitas protocolares.
O Dr. Jorge Sampaio, tempos depois de sua primeira eleição,
veio a Felgueiras em visita oficial, a cujo ato esteve também presente o Rancho
Infantil e Juvenil da Casa do Povo da Longra, com as crianças e jovens a
formarem alas por onde ele passou. Havendo inclusive na oportunidade a
representação de meninas e meninos da Casa do Povo da Longra lhe feito entrega
de um ramo de flores e do livro oficial do Festival desse ano, do jovem Rancho
da Longra.
Não vem ao caso qualquer evocação laudatória, ao género de
se falar bem de gente importante à sua morte, nem deixar subentendidas apreciações
político-partidárias ou mesmo de simpatias ou não. Havendo sempre alguma coisa
que não agradou a toda a gente, como no caso do Dr. Sampaio aconteceu com sua
oposição e consequente veto à criação de novos municípios, por exemplo. Apenas
se relembra que aquando de sua reeleição, porque havia antes estado em Felgueiras,
também teve apoio manifesto em Felgueiras, como se pode recordar pelo panfleto
da ocasião eleitoral de sua recandidatura para o segundo e último mandato.
*****A propósito, recorde-se o que está historiado sobre as visitas
oficiais de representantes da nação a Felgueiras – através duma das crónicas do
autor destas linhas, também. Conforme está escrito em artigos publicados
entretanto no Semanário de Felgueiras, e desses textos de há anos se juntou tudo
numa narrativa que tem estado guardada, para outro fim em vista.
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Visitas Reais e Presidenciais a
Felgueiras
No espírito destas anotações, calha vez de lembrar, desta feita, as Presidências que fazem parte da História de Felgueiras. Para remeter recordação às Visitas Presidenciais com que Felgueiras foi presenteada pelos Presidentes da República Portuguesa, supremo ícone social da Nação, como extensivamente por um Primeiro-Ministro, atendendo ser imediata figura política e constitucionalmente responsável governativo do País. E a propósito, recuando no tempo, focar as vindas de Monarcas Reais à terra Felgueirense da origem Sousã.
Tanto o que é do conhecimento histórico, só depois de 1910, com a implantação da República, passou Portugal a ser representado ao mais alto nível por um Presidente. Até aí fora a Monarquia, com quatro dinastias de soberanos, dos quais apenas o último, ao que se sabe, visitou oficialmente Felgueiras. Naturalmente que em eras recuadas outros reis por aqui possam ter passado, a caminho de batalhas ou em viagens pelo reino ou visitas a casas nobres, sabendo-se da importância havida nos alvores da nacionalidade por famílias feudais, como os Sousões, por exemplo. No entanto, do que está documentado, apenas se sabe de D. Afonso Henriques ter pernoitado no Paço do Conde do Unhão, e aí foi intérprete de certa cena menos lícita no relacionamento conjugal do fidalgo anfitrião... Adiante isso, passada toda a Idade Média, chega-se à era contemporânea sem mais novidades, quanto ao tema. Também porque a História de Felgueiras está deveras ofuscada em períodos como os séculos XVIII, XIX e até do XX, ou seja não está completamente estudada e obviamente escrita, não havendo assim muitos informes. Contudo fala-se, de se ouvir a pessoas antigas, que anteriormente, no tempo de D. Carlos, a rainha consorte D. Amélia esteve em Felgueiras. E tambem D. Carlos terá passado e parado numa passagem rumo a Amarante. Mais ao certo e demorada há notícia da vinda do então Príncipe D. Manuel de Bragança que, quando era ainda príncipe segundo na sucessão, esteve no concelho de Felgueiras em 1907 (conforme demos conta no “Memorial Histórico de Rande e Alfozes de Felgueiras”, a propósito da biografia de Guilhermina Mendonça, em cuja festa de debutante esteve o mesmo representante da Coroa, na Casa de Rande). Como depois da sua ascensão ao trono, por morte do pai e do irmão, já como rei D. Manuel II passou por Felgueiras em 4 de Julho de 1909 (aquando duma vinda ao Norte, por motivo de presidir no Porto e Amarante às comemorações do centenário das invasões francesas), tendo-lhe sido prestada recepção no então chamado Largo D. Carlos, na vila de Felgueiras.
Extinta a Monarquia, a República teve os mais diversos Presidentes que ascenderam ao alto cargo superintendente de Portugal, desde Manuel Arriaga, Teófilo Braga, Bernardino Machado, Sidónio Pais, João Canto e Castro, António José de Almeida, Manuel Teixeira Gomes (na I República), Mendes Cabeçadas, Gomes da Costa (durante a ditadura militar saída do 28 de Maio de 1926), Óscar Carmona, Francisco Craveiro Lopes, Américo Tomás (na ditadura do Estado Novo), e (com a instauração da democracia, após o 25 de Abril de 1974) António Spínola, Francisco Costa Gomes, Ramalho Eanes, Mário Soares, Jorge Sampaio, Aníbal Cavaco Silva e Marcelo Rebelo de Sousa, dos quais os cinco mais recentes foram votados em eleições livres – até ao tempo destas anotações.
Ora, entre os momentos cíclicos do exercício da cidadania nacional, também os Felgueirenses obviamente têm tido oportunidade de participar na escolha da personalidade que corporiza o simbolismo da representatividade portuguesa, ou seja as eleições presidenciais, como naturalmente nas eleições legislativas para formação dos Governos constitucionais, entre outros actos eleitorais do calendário político-partidário português. Nessa quota-parte de responsabilidade e dever, há também natural afinidade a tal ícone da Pátria, que é o lugar da Presidência da República. Atento ao facto, e porque importa focar todos os assuntos possíveis de memorizar, nos fastos e datas festivas da mística Felgariana, apraz aqui recordar algo relacionado. Recuando às Presidências de Honra que Felgueiras recebeu de alguns dos sucessivos Presidentes, como Chefes de Estado do nosso País. Com ressalva de que, para o caso, não contam obviamente as passagens acontecidas em campanhas eleitorais dos candidatos, presidenciáveis ou não, ao longo dos tempos.
Não há informes de visitas a Felgueiras dos primeiros Presidentes que assumiram o mais alto cargo do país. Aliás esta região nunca teve grande peso no panorama político luso, daí que mesmo depois, com os que se seguiram, as deslocações desses magistrados supremos, em visitas oficiais, se possam contar pelos dedos de uma só mão, tão poucas foram essas ocasiões.
Assim (salvo remota possibilidade de poder ter havido qualquer outra, que possa ter ficado desconhecida da generalidade, ao que tem sido possível estudar), a primeira estada de um Presidente da República Portuguesa em Felgueiras, de que temos notícia, ocorreu em 1918, aquando da visita do Presidente Sidónio Pais. Para a qual o Presidente da Câmara de Felgueiras, ao tempo, solicitou a colaboração do então Capitão (e mais tarde General) João Sarmento Pimentel, figura importante da época nos meios político-militares, para que o «acompanhasse na recepção que desejavam dispensar ao Presidente da República». Sidónio viera em périplo pela região, por causa do surto da pneumónica ("Gripe Espanhola") que na época grassou no norte do país – porque «andava a visitar os hospitais para tomar conhecimento da extensão do desastre e de algum modo confortar os doentes» (conforme é narrado no livro “Sarmento Pimentel ou Uma Geração Traída”, de Norberto Lopes).
= Aquando da vinda do Presidente Américo Tomás a Felgueiras: Na receção oficial, em frente aos Paços do Concelho, com raparigas e rapazes da Longra na representatividade concelhia (do Rancho formado anualmente nesses tempos para a Festa do S. João da Longra e do S. Pedro de Felgueiras, como todos os anos acontecia)!
Depois disso, já com o Estado Novo há muito instalado, o então Presidente Craveiro Lopes esteve para vir efectuar a inauguração do novo (e ainda actual) edifício da Câmara Municipal, mas (por estar quase de saída do cargo, pois estava-se em período de eleições, quando surgiu a campanha de Humberto Delgado, sendo nomeado por Salazar como candidato da situação o almirante Américo Tomás), tal cerimónia em Felgueiras acabou por ser presidida pelo Ministro da tutela das Obras Públicas, Eng.º Arantes de Oliveira, que teve a honra do corte da fita inaugurativa dos Paços do Concelho, nessa festiva data de 1 de Junho de 1958. Como, ainda nessa tarde, o mesmo titular inaugurou o depósito das águas de abastecimento à vila, na encosta do monte de Santa Quitéria, e dois postos de energia eléctrica. No mesmo dia, por fim, o Ministro da Justiça, Dr. Antunes Varela, inaugurou o então novo Tribunal Judicial da Comarca local. Felgueiras teve, mais tarde, a dita de compensação do Presidente Américo Tomás se ter deslocado a este concelho, em Junho de 1959, para visita em que foi recebido numa apoteose popular, por meio de grupos etnográficos representativos.
= Chegada do Presidente da República General Eanes – Receção oficial, em frente aos Paços do Concelho, ladeado pelo Dr. Machado de Matos, então Presidente da CMF.
De permeio, passaram-se as eras das chamadas primeiras Presidências Abertas, sem que Felgueiras fosse contemplada. Intervalo tal apenas mediado no tempo com a vinda do Primeiro-Ministro, ao tempo, Aníbal Cavaco Silva, na primeira visita oficial de um Chefe do Governo ao concelho de Felgueiras, acontecida em 21 de Maio de 1989. Visita essa realizada numa tarde, em que o mesmo permaneceu algumas horas na cidade de Felgueiras e na então vila da Lixa.
Até que, por fim, volvidos mais uns quantos pares de anos, voltou a acontecer uma visita presidencial, com a vinda até Felgueiras de Jorge Sampaio, no papel de máximo representante nacional. Ampliando enfim esses honrosos momentos com sua estada protocolar na terra do pão-de-ló e do calçado, em visita oficial efectuada a 28 de Novembro de 1998, em cuja manhã desse sábado teve lugar a recepção oficial de boas vindas (depois de chegada de véspera, para um jantar de encontro com empresários locais). Sobressaindo, no decurso de sua permanência nestas paragens, o contacto havido com a população, na deslocação do Presidente Sampaio para a piscina municipal, que contou sobretudo pelo simbolismo da presença de representações de colectividades do concelho, ao longo do percurso.
= Capa do boletim “Felgueiras Municipal”, retrospectivo à visita em apreço
Refeita a recordação, sobre esses breves instantes de calorosa honraria, já passada, fica sintetizada uma galeria a merecer ser guardada na retina historiadora dessas horas, em seu tempo vividas pelas gentes de Felgueiras.
ARMANDO PINTO
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